
Na sucessão dramática dos dias,
das estações, das fases e dos anos,
atônito face à enigmática Esfinge,
adstrito à contundente insignificância,
ouço o repto: “Decifra-me ou o devoro!”
Clone de Perseu, decadente e velho.
Rosário infindável de indagações,
coleção, crescente, de mistérios,
multiplicam-se, abundam questões,
expande-se, veloz, a ignorância
face ao repto: “Decifra-me ou o devoro!”
Aprofundam-se as contradições,
evidenciam-se as incoerências,
ficam obscuras as metáforas,
tornam-se nebulosas as ciências
e ouço, sem cessar: “Decifra-me ou o devoro!”
Busco, em vão, as soluções,
meu tempo mingua, foge, escasseia,
surgem novas, complexíssimas questões,
a dúvida limita-me, me imobiliza
e ouço o repto: “Decifra-me ou o devoro!”
Densas sombras me obscurecem a mente...
Espesso véu de trevas me oprime.
O tempo passa, os dias pingam, escoam,
mas não consigo vislumbrar a verdade
face ao repto: “Decifra-me ou o devoro!”
Luz! Luz!, brada, desesperada,
a razão, que se sente corrompida,
imóvel, presa e manietada.
Corrente de dúvidas e indagações.
Serei devorado! Não consigo decifrar a vida!
(Poema composto em Sumaré, em 10 de outubro de 1974).
No comments:
Post a Comment