Sunday, May 21, 2006

Desprezo é como bumerangue


Pedro J. Bondaczuk


Os aposentados, depois de toda uma vida de trabalho e sacrifícios, dando sua inestimável contribuição para o desenvolvimento do País, até hoje, estranhamente, são prejudicados, ao invés de premiados pelo seu esforço e perseverança, assim que se afastam do trabalho.
O tratamento que lhes tem sido dispensado é não somente injusto, como, sobretudo, desumano. A edição, nesta semana, pelo presidente Collor de Mello, de medida provisória alterando o sistema de aposentadoria, pensões e contribuições da Previdência Social, corrige, em parte, essa distorção. Mas ainda está muito distante do ideal.
Aliás, não somente em relação aos aposentados, mas aos idosos em geral, o tratamento que lhes é dispensado pelo homem contemporâneo é estranho e insensato. Comportamentos cristalizam-se através dos tempos e se tornam até mecânicos, automáticos, inconscientes.
O pouco-caso com que as pessoas mais velhas são tratadas pelas mais jovens é, sobretudo, uma armadilha para quem age assim. A juventude eterna não passa de um sonho, de um mito, de um ideal, de uma aspiração. Evidentemente, não existe.
O mesmo tratamento que o cidadão de menor idade dispensar hoje aos anciões voltará para ele próprio, como um bumerangue, quando envelhecer. Afinal, embora óbvio (mas ninguém procura se conscientizar disso, por se tratar de uma idéia assustadora), o envelhecimento é uma fatalidade biológica. Ninguém consegue fugir dele.
As pessoas idosas perdem, evidentemente, com o tempo, o vigor físico. Mas a natureza, em sua sabedoria, confere-lhes algo muito mais precioso, que apenas os anos podem dar: a experiência. Portanto, julgar que alguém, somente pelo fato de ter mais de 65 anos, se tornou inútil; tratar esse ser humano como se ele fosse um estorvo; agir com impaciência em relação a ele é, não somente um ato de desumanidade, mas, sobretudo, de burrice.
É jogar fora um potencial produtivo imenso e que na atual sociedade consumista do “prêt-à-porter”, onde nada ganha durabilidade e permanência, é uma atitude comum. A escritora Margareth Mead escreveu a esse respeito: “Os que negligenciam os velhos, os segregam, são aqueles que morrem de medo de envelhecer – e que viverão dominados pelo pavor da idade e do amadurecimento...Mas será preciso perguntar: se os velhos se repetem, não será por que ninguém os ouve? Se os velhos ficam diante da televisão (a maneira mais rápida e mais tétrica de envelhecer), não será por que ninguém fala com eles?” O importante é que, a menos que tenhamos velhos com que possamos nos identificar positivamente, vamos passar a vida com medo da idade.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de setembro de 1990)

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