Thursday, May 18, 2006
Corrida de obstáculos
Pedro J. Bondaczuk
A vida dos mais de seis bilhões de seres humanos que habitam o Planeta é uma corrida de obstáculos, desde o momento da concepção, até a extinção, sem prazo determinado para ocorrer. A morte ronda a cada um de nós, em cada instante e lugar. Pode nos surpreender tanto ainda no útero materno, quanto uma centena de anos, ou mais, após nosso nascimento, e geralmente sem qualquer aviso prévio. A duração da nossa vida, portanto, é como uma roleta não viciada: depende do acaso, das circunstâncias ou do nome que se queira dar.
Muitos dos que vêm ao mundo – certamente a maioria – não conseguem realizar sequer suas potencialidades mínimas, por uma série de razões, que vão desde a inaptidão para até mesmo viver, à falta de oportunidades para se instruir, se adestrar, se desenvolver e poder, assim, realizar alguma coisa que justifique, minimamente, sua vinda a essa perigosa e ao mesmo tempo fascinante aventura.
Há, porém, os que, contrariando toda a lógica, conseguem se superar e marcar sua passagem pela existência com feitos notáveis. Nossa trajetória rumo ao sucesso, em qualquer empreendimento, é uma contínua saga de superação das nossas limitações: físicas, culturais, mentais, sociais, etc. O êxito, em qualquer empreitada, seja de que natureza for, tem sempre um preço, em geral muito maior do que aquele que estamos dispostos a pagar.
Raros têm a felicidade de concretizar, na idade madura, os sonhos dourados da infância. Sem empenho, então...o fracasso é mais do que certo. No jornalismo, ou em qualquer outra atividade, profissional, artística ou social, não basta sonhar, ter um ideal, estabelecer metas, para lograr atingir os objetivos. É preciso correr atrás do que se quer, com organização, empenho, autodisciplina e persistência. Mesmo assim, nunca há a garantia de que iremos conseguir. Não podemos, jamais, ceder ao desânimo diante do primeiro fracasso, ou do centésimo, ou do milésimo ou do bilionésimo. Estes, certamente, virão e em grande quantidade. Mas quem consegue?!
Cito um exemplo pessoal, provavelmente não o mais indicado, ou mais instrutivo, mas com o qual, obviamente, estou familiarizado. Desde criança, acalento o sonho de ser escritor. Não um comum, que se limite a produzir qualquer romance mambembe, ou algum livro de poemas melosos ou em linguagem cifrada que nem mesmo eu saiba o que significa. Aspiro a ser autor de uma obra consistente, duradoura, inteligente, atrativa e atemporal, que sobreviva não só a décadas, mas a séculos, milênios e, quem sabe, à eternidade. Pretensão?! Certamente! Mas só conseguimos o mínimo na vida se aspirarmos ao máximo. E se nos empenharmos a fundo, sem tréguas ou desânimos, para a sua conquista.
Outro dia, comentei a respeito com um amigo jornalista. Perplexo, ele me questionou, até com certa severidade. “Uai, você já não é escritor?”, me perguntou, com seu sotaque mineiro, como que admirado diante do que lhe pareceu um disparate, e dos mais absurdos. “Não!”, foi minha resposta lacônica, seca e peremptória, apesar de, intimamente, me sentir lisonjeado por sua admiração, que me pareceu sincera.
O amigo lembrou-me dos livros que já publiquei que, a rigor, me deixaram frustrado, pois estão longe do padrão de qualidade, em termos de idéias e de linguagem, que pretendi lhes imprimir. Mencionou os outros 17 que escrevi, a que teve acesso, mas que permanecem inéditos. Só o fato deles não haverem interessado a nenhum editor, já depõe contra eles. E, principalmente, contra mim. “E o jornalismo?”, tornou a me questionar, “você já publicou na imprensa mais de oito mil textos!”, observou. “Acho que, ou você é uma pessoa insaciável ou está louco para receber elogios”, arrematou. Pode ser que o amigo tenha razão... E nas duas alternativas!
Continuo, porém, enredado nos inúmeros obstáculos que a vida me impõe, principalmente na necessidade de ganhar dinheiro para satisfazer os compromissos mínimos de subsistência, meus e da minha família, mesmo depois de haver dado a minha parcela de contribuição à sociedade e me aposentado por tempo de serviço. E no jornalismo, o que é uma raridade. Mas...aposentadoria no Brasil?! Não é prêmio, é castigo!
Por isso, como tanta gente melhor do que eu, que não consegue realizar nem uma ínfima parcela do que poderia, não encontro tempo para me dedicar àquilo que de fato gosto e que tanto quero. Enquanto isso, a vida vai se escoando, a conta-gotas, impondo urgência e crescente empenho da minha parte a cada passo que dou. Sinto que se pudesse me dedicar de maneira integral à literatura...Bem que poderia ter uma chance, mesmo que mínima, de atingir meu objetivo. Como não posso...Mas o tempo, implacável, não pára...
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