Tuesday, May 16, 2006

Cultura em festa


Pedro J. Bondaczuk



As artes e a cultura de Campinas estão em festa, em todo este ano, com o cinqüentenário da já tradicional Academia Campinense de Letras, que tenho honra e orgulho de integrar. Uma vasta programação, que vai se estender praticamente por todo 2006, irá marcar o evento, com inúmeras promoções e cerimônias, públicas e privadas que, certamente, contarão com o apoio e com o prestígio dos meios de comunicação da cidade.
A instituição foi fundada em 17 de maio de 1956, em meio a dificuldades de toda a sorte e ao descrédito de alguns pessimistas e derrotistas, que não acreditavam que uma entidade dessa natureza pudesse vingar entre nós. Felizmente vingou.
Alguns contestavam a sua necessidade e tentavam ridicularizar seus integrantes, ou por falta de visão, ou por ignorância, ou por puro despeito, quando não por preconceito. De nada adiantaram essas tentativas para abortar a iniciativa. Superando crises, dificuldades econômicas, falta de visão e outros tantos obstáculos, a Academia se impôs.
Com o tempo, essa obra coletiva consolidou-se, graças à qualidade intelectual, moral e artística de seus membros. Hoje é incontestável referencial na cultura de Campinas, virtual unanimidade, servindo de modelo a inúmeras outras cidades que buscam criar academias iguais.
Falar de um fundador específico seria cometer injustiça com os pioneiros que participaram desse ousado empreendimento. Mas também é injusto deixar de mencionar dois nomes: o do primeiro presidente, Francisco Ribeiro Sampaio e o de Theodoro de Souza Campos Júnior, cuja cadeira, a de número 14, tenho a honra e o orgulho de ocupar.
O comendador Theodorinho, como era chamado carinhosamente pelos seus pares (apesar da sua elevada estatura, tão grande quanto seu generoso coração), cedeu, por muito tempo, a sua residência para a realização das sessões. Essa generosidade foi fundamental e tem que ser sempre lembrada e exaltada.
Outro nome importante na trajetória de quase quatro décadas da Academia é o do ex-prefeito da cidade, Lauro Péricles Gonçalves, que soube ver a importância da instituição e a dotou de sua sede própria, atualmente um cartão de visita de Campinas.
Gosto de escrever sobre a Academia, o que faço sempre que posso. É como falar da minha casa e da minha família. Ou seja, não consigo ser isento e nem esconder o orgulho que tenho de participar desse círculo. Há uma grande desinformação a respeito da instituição. Mas ela tem um papel fundamental na cidade, que é o de preservar sua cultura, em especial sua história e suas letras, valorizando os nossos escritores e impedindo que a falta de memória, característica do brasileiro, faça com que esses artistas do verso e da prosa caiam no esquecimento. Certamente, não cairão.
Escrevi, em várias oportunidades, que esta casa consegue fazer a complicada síntese entre a tradição e a modernidade, conceitos que, ao contrário do que se pensa e que se apregoa, não se excluem, mas se complementam. Princípios e valores universais são preservados e cultuados pelos acadêmicos. Moderna, todavia, é a linguagem, a postura e a comunicação dos membros da instituição. Apesar da escolha para integrar a Academia representar, sobretudo, uma honraria, uma homenagem ao talento e à criatividade, um reconhecimento pelos trabalhos produzidos pelo escolhido, ninguém nela dorme sobre a fama alcançada.
Por se tratar de função vitalícia, até o último sopro da vida, os intelectuais que a integram continuam atuando, em seu âmbito ou fora dela, participando de cursos, palestras e conferências e escrevendo e publicando livros e mais livros para, parodiando Castro Alves, “fazer o povo pensar”.
Até poderiam acomodar-se, se quisessem, e ninguém os condenaria. Afinal, nenhum dos seus membros se tornou acadêmico por acaso. Cada eleito trouxe consigo um extraordinário currículo de realizações. As sessões ordinárias são mensais e as preleções que são feitas nessas oportunidades são preciosas aulas de literatura, muitas vezes inigualáveis.
Os acadêmicos, além de escritores consagrados, são profissionais vencedores em suas respectivas profissões. Há médicos, advogados, juízes, professores universitários, odontólogos, sacerdotes, jornalistas, alguns ex-reitores, muitos ex-secretários municipais, pessoas que, além de grande capacidade de criação e de comunicação, contribuíram, de diversas maneiras, para o engrandecimento da cidade e do País.
Está de parabéns, portanto, a Academia, por completar meio século de vitoriosa trajetória, com muito gás para se tornar centenária e ir além. E está de parabéns, sobretudo, Campinas por contar com uma instituição tão importante, que preserva suas glórias e tradições que, convenhamos, não são poucas.

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