Wednesday, May 31, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
O ASSUNTO É A SELEÇÃO
Apesar de termos, ainda, duas rodadas do Campeonato Brasileiro da Série A – uma hoje e outra no fim da semana – e uma da Série B, pela frente, todas as atenções da imprensa esportiva, do Brasil e do mundo, já estão, (e estarão, nos próximos cinqüenta dias ou mais) focadas na Copa da Alemanha. Claro que o meu foco, nesse período, também será esse. Considero a Seleção Brasileira favoritíssima ao hexa. É evidente que ninguém é campeão de véspera, ainda mais num torneio de tiro curto, como este, onde uma única jornada infeliz pode implicar em eliminação e no fim do sonho. Contudo, tecnicamente, não vejo uma única seleção que sequer se aproxime do atual estágio dos comandados de Parreira. Não temo Argentina, França, Itália ou Alemanha, citadas, nesta ordem, como as principais rivais do Brasil. Nossa seleção só perde o título para ela mesma. E não creio que isso vá acontecer.
PÊLO EM CASCA DE OVO
Muitos cronistas esportivos, desses que vivem procurando “pêlo em casca de ovo”, criticaram o fato da Seleção Brasileira ter optado por enfrentar, no penúltimo jogo-treino antes da Copa, um sparring tão fraco, quanto o “catado” de Lucerna. Defendiam que, a exemplo da Argentina, da Alemanha ou da França, escolhesse um adversário de peso, que realmente testasse o seu estágio atual. Discordo de quem pensa assim. Para quê expor nossos principais jogadores ao risco de uma contusão, levando em conta que todos conhecem, de sobejo, as virtudes e os defeitos dos comandados de Parreira? Qual a razão de testar um selecionado que ganhou tudo, absolutamente tudo que disputou? Foi campeão das Eliminatórias e, de lambugem, conquistou as copas América e das Confederações. E tudo isso, sem tempo para treinar. O grupo se reunia no aeroporto e já partia para o jogo. E ganhou tudo!
O QUE VALEU
O que valeu, na goleada de ontem, da Seleção Brasileira, sobre um combinado de Lucerna, por 8 a 0, não foi, evidentemente, o placar. Este foi irrelevante. Valeu o desempenho técnico dos jogadores. Foram pouquíssimos, por exemplo, os erros de passe. É verdade que a defesa ainda claudicou, mas este susto vai nos assombrar a Copa inteira. Outra coisa que ficou evidente foi a alegria de jogar dos atletas. Foi o empenho dos jogadores, mesmo se tratando de mero treino. Foi o entendimento entre as principais peças, principalmente do meio de campo para a frente. Foi ver um Ronaldo Fenômeno motivado e com aquela pontaria que o consagrou em dia. O resultado não teve a mínima importância. Foi 8 a 0, como poderia ser 10, 11, 12 ou os mesmos 13 que a Seleção sapecou nos juniores do Fluminense, no domingo, em Wegis.
“GORDURA” DO FENÔMENO
Continua a polêmica (tola) sobre se Ronaldo, o “Fenômeno”, está ou não gordo. Bobagem. Ou melhor, falta de assunto. Tenho certeza que no dia 13 de junho, quando o Brasil estrear contra a Croácia, em Berlim, nosso goleador estará no peso ideal, pronto para o que der e vier. E mesmo que esteja, digamos, um tanto “rechonchudo”, é o Ronaldo! Dispensa justificativas e apresentações. Não é por acaso que ostenta o status de “fenomenal”. Na goleada de ontem, diante do combinado de Lucerna, fez um gol como nos velhos tempos de Barcelona, numa arrancada espetacular, a partir do nosso meio campo até quase a pequena área adversária. O zagueirão suíço está com a língua de fora, procurando o Fenômeno até agora. Como eu gostaria de ter um centro-avante “gordo” como este no ataque da Ponte Preta!!! Ora, ora, ora, seus críticos azedos, por favor, vão pentear macaco!
META FURADA
O empate de ontem, no Brinco de Ouro, por 0 a 0, com o Atlético Mineiro, pôs por terra a meta do técnico Waguinho Dias, do Guarani, de terminar esta fase do Campeonato Brasileiro da Série B entre os quatro primeiros colocados. Agora isso se tornou, matematicamente, impossível. O quarto colocado, Coritiba, já tem quinze pontos, enquanto o Bugre, se vencer a Lusa no sábado, pode chegar, no máximo, a 14. Mais uma vez, o time mostrou as mesmas deficiências de sempre. Ou seja, um meio de campo sem criatividade, laterais tímidos e que não sabem o que fazer com a bola e um ataque que cisca, cisca, mas tem uma dificuldade monumental de empurrar a bola para o gol.
EXPECTATIVA REALISTA
Não espero grande coisa da Ponte Preta, no jogo desta noite, na fria Caxias do Sul (agora à tarde a temperatura está nos 11ºC), frente ao instável Juventude. Se a defesa não tomar nenhum gol, mesmo que o ataque também não o faça, já me darei por satisfeito. A zagueirada da Macaca tem proporcionado “emoções fortes” (negativas, claro) à torcida. Entre outras burradas, já fez quatro gols contra as próprias redes, para a alegria dos adversários. A expectativa maior fica por conta da volta de Carlinhos, após a delicada cirurgia que sofreu no coração. E, claro, pelo retorno de Luís Mário, que atravessa uma fase péssima e está devendo muito futebol à torcida. Embora em termos de classificação um simples ponto não represente muita coisa, se ele vier, será importante, para elevar o moral do time.
RESPINGOS...
· E a Portuguesa, hein?! Depois do rebaixamento para a Série A-2 do Campeonato Paulista, não conseguiu se recuperar, e segue ladeira abaixo. Ontem tomou uma sapatada de 6 a 2, do Paysandu, em pleno Canindé. Se não se cuidar, vai para a Série C, com certeza!
· A juizada anda cometendo infinitas bobagens também na Série B do Campeonato Brasileiro. O pênalti marcado ontem, em Florianópolis, em favor do Avaí, contra o Santo André, foi um escândalo. Além de ter sido bola na mão e não mão na bola do zagueiro andreense, este estava, nitidamente, fora da área.
· A rodada de ontem, da Série B do Campeonato Brasileiro, foi péssima para os times paulistas. Só o Marília conseguiu um resultado razoável, ao empatar com o Sport, em pleno Recife. Os demais...
· Incrível o gol que o goleiro colombiano, Luiz Martinez, marcou, ontem, no amistoso em que a Colômbia derrotou a Polônia, por 2 a 1. Ao devolver a bola, após fazer uma defesa, deu um chutão para a frente. E o que aconteceu? Isso mesmo, o goleirão polonês estava adiantado e a bola encobriu-o e foi direto para o seu gol.
· O volante Mineiro, ex-Ponte Preta e ex-Guarani, atualmente no São Paulo, ganhou na loteria! Vai disputar sua primeira Copa do Mundo, na vaga de Edmilson, que foi cortado hoje, por causa de uma contusão no joelho. Esse merece!
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
A civilização, em seus aspectos mais nobres, como a ética, o direito, a justiça social e a solidariedade, só evolui quando líderes iluminados e lúcidos conseguem conduzir esse imenso rebanho humano na direção do bem comum. Poucos, porém, são os povos e períodos que contam com essa felicidade. Daí a história apresentar recuos e avanços que se sucedem e se mostram intermináveis através de gerações. As pessoas consideradas "comuns" sequer têm culpa disso. São frutos da educação que recebem, determinada pela elite. Esta é que decide como e "para o quê" os indivíduos devem ser educados. Ou seja, condicionados. Sejamos nós esses líderes lúcidos, inteligentes e competentes que os povos tanto precisam.
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Frankenstein: fruto de uma aposta
Pedro J. Bondaczuk
Não há, certamente, nenhum apreciador de Cinema que não conheça, ou que pelo menos nunca tenha ouvido falar sobre a desengonçada, horripilante e monstruosa figura, criada pelo doutor Viktor Frankenstein, e “batizada” com o nome do seu imaginário criador. O personagem, que ainda hoje mexe com a imaginação das pessoas, foi popularizado em Hollywood por Boris Karloff, embora outros tantos atores o tenham, também, interpretado, posto que não com o mesmo convincente desempenho.
O que quase ninguém sabe, no entanto, é que o “monstro”, que fez gelar o sangue de gerações de cinéfilos, é fruto da imaginação de uma delicada jovem inglesa, que nada tinha de mórbido ou de perverso em suas idéias e atitudes, esposa de um consagrado poeta romântico da Inglaterra do século XIX que, por sua vez, também não era dado a monstruosidades e aberrações em seus poemas, caracterizados pela delicadeza e pelo lirismo.
Tanto a monstruosa figura, pré-fabricada em laboratório com partes de cadáveres roubadas de um cemitério, quanto o imaginário Dr. Viktor Frankenstein, autor da “façanha” científica, de “vitória” sobre a morte, foram “inventados”, apenas, por causa de uma inocente aposta entre amigos.
Sua criadora foi a escritora Mary Shelley, casada com Percy Shelley, que teve morte trágica, já que se afogou, quando velejava na Baía de Spezia, no Mar Tirreno. Em 1816, a romancista inglesa, então com 19 anos de idade, passava uma temporada de férias na Suíça, com o namorado, que viria a ser seu futuro marido, num aconchegante chalé, às margens do Lago Lehman. Certa noite, o casal recebeu duas ilustres visitas: Lorde Byron, amante inveterado de histórias e de assuntos mórbidos, e um médico italiano, conhecido apenas como Dr. Polidori.
Durante horas, não se falou de outra coisa que não fossem fantasmas, almas de outro mundo, evolucionismo e experiências científicas de tentativas de reprodução da vida humana em laboratório. Quando escritores se reúnem, mais cedo ou mais tarde, a conversa acaba descambando, invariavelmente (salvo raríssimas exceções), para a literatura. Foi o que aconteceu na ocasião.
Em determinado momento, Shelley, Byron e Mary fizeram uma aposta sobre quem conseguiria escrever a história mais horripilante, ou mais fantástica, ou mais convincente sobre a criação (ou a reprodução) da vida em laboratório e as possíveis conseqüências desse ato. O normal é que tudo não passasse de uma conversa sem compromisso e sem conseqüência, que no dia seguinte estivesse esquecida. Não foi, no entanto, o que aconteceu. Os três levaram mesmo a sério o desafio e puseram mãos à obra.
Passado algum tempo, estipulado pelos apostadores, o trio confrontou os respectivos textos, tendo o Dr. Polidori como árbitro, para ver qual era o mais assustador. A lógica indicava que o vencedor deveria ser, até sem nenhum esforço, Lorde Byron, que apreciava o gênero e tinha enorme facilidade em escrever sobre o tema. Não foi, todavia, o que ocorreu.
Para surpresa geral, a história escolhida foi a da supostamente frágil e romântica garota inglesa, mal saída da adolescência, cujo enredo, convenhamos, nada tinha de delicado ou de piegas conforme a expectativa dos seus dois adversários. Dessa forma, nascia um clássico da literatura de terror, que teria no norte-americano Edgar Allan Pöe seu expoente maior na literatura mundial.
Em 1818, dois anos após o desafio, Mary resolveu publicar o romance. Byron, tido como mau perdedor, que detestava perder apostas, ainda mais para mulheres, e principalmente quando estas envolviam literatura, desta vez teve que se curvar à imaginação lúgubre e mórbida de uma mocinha.
Em carta escrita ao casal, após a edição do livro, o poeta e aventureiro concluiu: “Trata-se de um excelente trabalho para uma moça de 19 anos”. É mister não se esquecer que os fatos ocorreram em 1816, início do século XIX. Recorde-se que, na época, a mulher estava longe de poder competir, em pé de igualdade, com o homem, fosse no que fosse. Era tida como ser “inferior” e seu papel social restringia-se ao lar, ao cuidado do marido e dos filhos e, quando muito, às fúteis reuniões sociais dos salões da moda.
Ademais, ninguém poderia imaginar (muito menos Mary Shelley, sua criadora), que um personagem, nascido de uma simples brincadeira, de uma aposta sem maior importância entre amigos, fosse ter o destino que teve. Ou seja, que iria conquistar a imortalidade literária. O romance tornou-se grande clássico – senão o maior –, das histórias de terror. Hoje, rivaliza (supera muitos deles), com os livros do consagrado “pai dos contos de mistério e de terror”, Edgar Allan Pöe. As grandes obras, como se vê, nem sempre são as planejadas nos mínimos detalhes pelos autores. Muitas, como esta, não passam de frutos apenas das circunstâncias e do acaso. Ou, para ser mais específico, de mera aposta.
Tuesday, May 30, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
DE CORAÇÃO NOVO
A melhor notícia de hoje, referente à Ponte Preta, é a da volta do volante Carlinhos, não somente ao time titular, mas ao futebol. Seu valente coração pontepretano está novinho em folha e o jovem atleta, dessa forma, retoma, com a garra que lhe é peculiar, sua curta, mas digna carreira. Se vai jogar bem ou mal, são outros quinhentos. Mas para quem superou um problema tão grave, como o que teve, e em tão pouco tempo, com certeza deverá suprir com muita raça a falta de ritmo de jogo. Tenho certeza de que Carlinhos será uma espécie de talismã da Macaca e que sua volta vai motivar os companheiros a fazerem uma partida memorável, amanhã, em Caxias do Sul, diante do Juventude. Que boa notícia!
FALTA DE ASSUNTO
Prever o rebaixamento do time x, y ou z, a esta altura dos campeonatos brasileiros, quer da Série A, quer da Série B, é de uma inutilidade sem tamanho. As competições atingem, no próximo fim de semana, apenas a décima rodada, de 29 no total. Ou seja, pouco mais de 10%. O fato de Santa Cruz, Palmeiras, Ponte Preta e Vasco da Gama estarem, agora, nas últimas colocações, por exemplo, não quer dizer absolutamente nada. Muita água vai rolar debaixo da ponte. Duas vitórias (tarefa nada impossível), apenas duas, de qualquer um desses quatro, os colocarão no meio da tabela. Essa história de falar de rebaixamento desde a primeira rodada é coisa de plantão esportivo de emissoras de rádio, para terem assunto para preencher o tempo de que dispõem. A permanência na zona de rebaixamento, portanto, passa a ser relevante somente a partir do Segundo Turno. Antes, não passa de histeria. E estamos conversados!
MÁ FASE
A principal estrela do atual time do Guarani, o atacante Edmilson, há já algum tempo está devendo futebol para a torcida. Não sei se o problema é de condicionamento físico, ou de postura tática ou mesmo de deficiência técnica do atleta. É certo que o jogador é o artilheiro do time na temporada. Cerca de metade dos seus gols, porém, foi anotada na cobrança de pênaltis. Claro, isso não é de se desprezar. Na Ponte Preta, por exemplo, o meia Élson caiu em desgraça com a torcida exatamente por haver perdido duas penalidades máximas consecutivas. Mas que Edmilson está devendo bola, ah, isto está! Quem sabe hoje, contra o Atlético Mineiro, que terá o novo técnico, Levir Culpi, apenas observando o time das arquibancadas, o atacante bugrino, finalmente, desencante e volte a mostrar aquele futebol que o tornou ídolo da torcida.
QUESTÃO DE JUSTIÇA
Além da escalação do volante Carlinhos, para o jogo de amanhã, em Caxias do Sul, contra o Juventude, outra decisão que gostei, por parte do técnico Marco Aurélio Moreira, foi a manutenção de Tuto no time titular. Trata-se de questão de justiça, pelo que o atleta fez contra o Paraná Clube. Sempre achei estranha a má-vontade demonstrada pela imprensa de Campinas e por parte da torcida (certamente influenciada pela crônica) em relação ao jogador. Muito medalhão, infinitamente pior do que Tuto, já vestiu a gloriosa camisa da Macaca e não foi tão criticado quanto o esforçado meia-atacante que fez a maior parte da sua carreira no futebol do Japão. O que se exige de um narrador de rádio e, principalmente, de um comentarista esportivo, é objetividade, sem prejulgamentos. Pode até ser que o jogador não faça nada de útil amanhã e até comprometa o time. Se isso acontecer, aí sim darei razão aos críticos. Mas antes?!!! De forma alguma! Afinal, é burrice desvalorizar o patrimônio do próprio clube e, como pontepretano, jamais farei isso.
FALTAM LATERAIS
Um dos problemas enfrentados pelo Guarani, e há já um bom tempo, é a falta de bons laterais, quer na direita, quer na esquerda. Os atuais titulares dessas posições, Mariano e Adílio, ambos pratas da casa, embora revelem potencial, ainda não estão aptos à titularidade. Oscilam demais e alternam boas e péssimas partidas. Os reservas imediatos, Nelsinho e Daniel, já tiveram suas oportunidades e decepcionaram. O primeiro, até que começou bem, mas está atualmente em má fase. Jogou alguma coisa quando o técnico era o Ferreirão. Depois que este saiu... Já Daniel, vive mais no Departamento Médico do que em campo. Desde que chegou ao Brinco de Ouro, fez duas ou três partidas, se tanto e, se não decepcionou, também não entusiasmou ninguém. E pensar que o Bugre já teve laterais como Diogo, Ferrari, Jadilson, Gustavo Nery... e vai por ao afora!
VOLTA ÀS ORIGENS
A Ponte Preta promete, com a recém-anunciada parceria com a CNA, voltar às suas origens de time formador de jogadores. Anuncia-se ampla reformulação nas categorias amadoras e uma vinculação mais estreita entre os juniores e os profissionais. Numa de suas passagens pelo clube, recorde-se, Marco Aurélio Moreira revelou, e projetou para o futebol, entre outros, o zagueiro Fábio Luciano e o atacante Luís Fabiano. Ambos chegaram à Seleção Brasileira, jogam no exterior e são valorizadíssimos por seus respectivos clubes. Creio que, desta vez, Wanderley e Didi (pelo menos eles), vão ter novas chances e irão despontar como craques em potencial que são. Nos juniores, a Ponte também tem bons zagueiros, que não ficam, convenhamos, nada a dever aos atuais titulares, que integram a defesa mais vazada do Campeonato Brasileiro da Série A. Tomara que não se fique apenas no terreno das intenções.
RESPINGOS...
· O Santos deverá crescer muito, tecnicamente, depois da Copa do Mundo. O ponto fraco do time, atualmente, é sua peça ofensiva. Reforços para o setor, no entanto, deverão chegar. E Jonas estará, logo, logo, de volta à equipe.
· Lamentável o desentendimento entre o zagueiro Edmilson e o atacante Adriano. Brigas, como esta, só tendem a estragar o ambiente da Seleção Brasileira, há exatas duas semanas da estréia na Copa do Mundo.
· O clássico entre os tricolores paulista e carioca, São Paulo e Fluminense, promete ser um dos mais interessantes da rodada. Ambos terão a oportunidade de provar se são, de fato, ou não, favoritos à conquista do Campeonato Brasileiro de 2006.
· Kia Joorabchian garante, para quem quiser ouvir, que não irá negociar o passe de Tevez depois da Copa. Será? Ele pagou US$ 20 milhões pelo craque argentino e estaria recusando US$ 60 milhões (300% a mais) para vendê-lo. Conseguirá resistir à tentação?!
· O tenista espanhol, Rafael Nadal, em sua estréia vitoriosa em Roland Garros, entrou para a história do tênis mundial. Tornou-se o recordista de vitórias em piso de saibro de todos os tempos.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
As sociedades humanas, desde tempos imemoriais, sempre precisaram de líderes, de pessoas muito especiais, dotadas de iniciativa, com capacidade inata de comunicação e talento, para guiá-las. Em cima dessa necessidade é que se estruturaram as hierarquias – desde as familiares (nos clãs), às tribais e posteriormente comunitárias e nacionais. Como ocorre com todos os animais, possivelmente até por questões genéticas, alguns indivíduos nascem com aptidões maiores do que outros. São os que normalmente constituem as elites. Quando não, se transformam em rebeldes, em contestadores, em questionadores que não se submetem ao status vigente. São os revolucionários, fatores essenciais de mudanças, para o bem e para o mal. Sejamos líderes na construção de um mundo de justiça e de paz.
Gente humilde
*Pedro J. Bondaczuk
As cidades grandes afastam as pessoas. Muitas vezes vivemos em um bairro durante décadas e sequer chegamos a conhecer nosso vizinho do lado. Cruzamo-nos uma infinidade de vezes e na maioria dos casos, o máximo de relacionamento que nos permitimos é um bom dia ou boa tarde, distraídos, ou mero aceno de cabeça. Ou nem isso. Um passa pelo outro como se passasse diante de um ser inanimado, de um boneco, de um robô, de uma miragem, de uma simples visão.
A luta pela sobrevivência torna a nossa vida uma perpétua correria. Corremos até quando isso não é necessário e temos todo o tempo do mundo para gastar. A violência urbana afasta-nos de estranhos, por uma questão de prudência, para evitar assaltos e outros contratempos. Nem todos, porém, são assim. Há pessoas ingênuas (diria autênticas), vindas, na maioria dos casos, há pouco tempo do interior, que puxam conversa com qualquer um e em qualquer lugar. Lembro-me, a propósito, de um episódio ocorrido comigo no Rio de Janeiro.
Tomei um lotação nas proximidades da estação Dom Pedro II, com destino ao Leblon, onde tinha um compromisso social. Como quisesse rever as belas praias da Zona Sul, saí com bastante tempo, com a intenção de vagar a esmo, até a hora marcada para o encontro. A linha que resolvi tomar era a mais longa, com maior número de paradas e eu sabia disso. Mal o veículo rodou três quarteirões, subiu uma mulata de meia-idade, bonita, mas de uma beleza já gasta pelas dificuldades e sofrimentos, que estavam desenhados em seu rosto. Como o banco do meu lado estava vago, a mulher sentou-se ali. Não tardou para que puxasse conversa.
---"O senhor vai para o Leblon?" – , perguntou, embora parecesse o óbvio.
---"Sim" –, respondi secamente, um tanto distraído, perdido em meus pensamentos e com a atenção concentrada na janela, no movimento das ruas, nos prédios, nas lojas e nas calçadas.
Não estava com disposição para conversar com ninguém, muito menos com uma pessoa estranha.
---"Eu também vou para lá. Trabalho num apartamento, o de dona Mariazinha Moreira, conhece?" – insistiu a mulata, como se me conhecesse de longa data.
--- "Não!" –, respondi, lacônico. –"Não moro no Rio de Janeiro" – acrescentei, à guisa de explicação.
Porque fui responder! A mulher começou a desfiar, primeiro, toda a história da patroa, intercalando elogios à sua condição social, e críticas ao seu "pãodurismo" e severidade. Depois, pôs-se a falar de si, de sua família, de onde e como vivia etc. Lembro-me de poucos detalhes dessa conversa, que começava a me cacetear, já que contrariava a minha intenção de observar o trecho da cidade por onde passávamos, para fixar detalhes na memória. Mas a mulata não parava de matraquear. Disse que vinha de Minas (não me recordo de que cidade). Havia se separado do marido, incorrigível "pé-de-cana", que quando bebia, quebrava tudo o que havia em casa e ainda de sobra espancava a mulher e os filhos.
---"E eu com isso!" –, pensava mal-humorado com os meus botões.
De vez em quando, por uma questão de hábito e para fazer a interlocutora parar de falar, eu fazia uma ou outra observação, torcendo para que o lotação chegasse logo ao meu destino ou, o que seria melhor, ao dela. Sua voz era irritante. Falava alto e quando narrava detalhes das brigas com o marido, poderia parecer aos outros passageiros que estava discutindo comigo. Eu já não sabia onde enfiar a cara de vergonha. E a mulata prosseguia explicando que estava amigada com um bom homem no Rio, que tinha uma filha de 14 anos que fazia admissão (naquele tempo havia uma espécie de vestibular para quem saísse do primário e quisesse cursar o ginásio), que a menina era muito inteligente e esforçada, que também estudava dactilografia, que já era a segunda porta-bandeira da Escola de Samba Império Serrano, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá .
A mulher não parava de falar e nada de chegarmos ao destino (dela ou meu). Em resumo: num trajeto de cerca de meia hora, fiquei conhecendo toda a sua história de vida. Ou pelo menos a versão, um tanto dramatizada, de suas venturas e desventuras. Hoje, passadas três décadas, quando me lembro desse episódio, não consigo deixar de rir e até de sentir uma pontinha de ternura pela mulata. Gente ingênua, como ela, escasseia cada vez mais nas cidades. Até mesmo no Rio.
Mas o pior estava reservado para a minha volta do Leblon. No terceiro ponto, depois que tomei o lotação, quem é que sobe? Exato, a mesma mulher! Toquei a campainha, discretamente, levantei-me e desci na primeira esquina, antes que a mulata tivesse tempo de se sentar ao meu lado. Ela reconheceu-me e deu-me uma piscadela de cumplicidade. Da calçada, ainda pude vê-la conversando com um novo interlocutor. Ou melhor, com o novo ouvinte das venturas e desventuras de um histórico de vida, que trazia na ponta da língua de tanto narrar para os outros, provavelmente com algumas variações em torno de um mesmíssimo tema.
Monday, May 29, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
QUE FIM DE SEMANA!
O esporte campineiro teve um fim de semana de amargar. Os três times profissionais de futebol da cidade perderam. A derrota mais vexatória, óbvio, foi a da Ponte Preta, humilhada, em pleno Majestoso, pelo apenas razoável Paraná Clube, de quem levou uma chinelada de 5 a 2. O Guarani, igualmente, decepcionou sua torcida e perdeu por 1 a 0 para o Marília, embora fora de casa, mas jogando um futebolzinho mixo, mixo. E, finalmente, o Campinas perdeu sua invencibilidade, em Lençóis Paulista, derrotado que foi pela Lençoense por 2 a 0, embora ainda conserve a liderança do grupo (menos mal). Até o bom time de basquete feminino da Ponte Preta perdeu, jogando em seus domínios, para a equipe rival do grupo, a do Ourinhos, por 70 a 53. Resta ao torcedor campineiro apagar da memória esse fim de semana e partir para outra. Que remédio?!
QUEDA DE VADÃO
Conforme todos já intuíam, a goleada que a Ponte Preta sofreu no sábado, diante do Paraná, no Majestoso, por 5 a 2, a segunda consecutiva em apenas quatro dias, trouxe conseqüências. Como sempre, em situações como esta, sobrou para o técnico. E Osvaldo Alvarez, o treinador que até aqui comandou a Macaca por mais jogos em todos os Campeonatos Brasileiros da Série A que o clube disputou, já é personagem do passado. Foi demitido (ou se demitiu, a situação não ficou muito clara) e cedeu lugar a quem? Isso mesmo, a outra figurinha carimbada no Moisés Lucarelli, Marco Aurélio Moreira!! Creio que se Nelsinho Baptista não estivesse empregado no São Caetano, seria ele o novo treinador da Ponte. A pergunta que fica, porém, é: a simples mudança de técnico vai resolver a situação? Acredito que não, embora torça para que resolva. Se nada for feito para arrumar essa defesa, nem Vanderley Luxemburgo conserta esse time. Enfim...
ADVERSÁRIO EM CRISE
O Guarani tem uma grande chance de reabilitação, amanhã, ao enfrentar um potencial concorrente direto a uma das quatro vagas dos que vão retornar à elite do futebol brasileiro no ano que vem: o Atlético Mineiro. Ocorre que o Galo, mal a competição começou, já está em crise. A derrota para o Ituano e o empate com o Vila Nova, ambos no Mineirão, determinaram a queda de Lori Sandri do comando técnico da equipe. Seu substituto, Levir Culpi, andava meio sumido há já algum tempo. Todavia, para se reabilitar, o Bugre terá que jogar muito mais do que jogou em Marília. Se repetir a atuação que teve frente ao Paulista, certamente confirmará os três pontos. Todavia, se tiver a mesma a pífia performance de sábado, vai dar muita dor de cabeça à torcida.
PARCERIA OU ARRENDAMENTO?
A CNA assume o Departamento de Futebol da Ponte Preta, conforme anunciou, hoje de manhã, o presidente pontepretano, Sérgio Carnielli. Resta saber se a empresa está entrando como parceira da Macaca ou sua arrendatária. Pessoalmente, tenho muitas reservas em relação às parcerias. Em geral, funcionam bem por algum tempo, mas acabam muito mal. A mais bem-sucedida, sem dúvida, foi a da Parmalat, no Palmeiras. Contudo, quando terminou, todos sabem o que aconteceu. Hoje, quem vê o Verdão, sente até pena do estado em que ele ficou. O mesmo tende a ocorrer no Corinthians, quando a MSI se desligar do Timão (nada é eterno). Espero, honestamente, estar enganado e ver, ainda neste ano, uma Ponte Preta forte, respeitada e temida pelos adversários, disputando títulos e não a mera fuga do rebaixamento. Tomara que meus temores sejam infundados. Tomara!!!
QUAL SERÁ A REAÇÃO?
Estou curioso para ver qual será a reação do time da Ponte Preta, no jogo depois de amanhã, face à mudança no seu comando técnico. Certamente, Marco Aurélio Moreira não terá tempo sequer de treinar uma única vez a equipe para esse perigoso confronto, na serra gaúcha, diante do sempre perigoso Juventude. Como o elenco vai se comportar em relação ao novo treinador? Qual o esquema tático que será adotado? Quais as mudanças que serão feitas para dar mais proteção à defesa, a pior do campeonato? Notem como o setor defensivo pontepretano vem comprometendo a performance do time: o ataque fez o mesmíssimo número de gols que o líder Fluminense, ou seja, 13. Contudo, enquanto a defesa do tricolor carioca foi vazada apenas seis vezes, a da Ponte o foi 21!! É aí que está o calcanhar de Aquiles da Macaca. A torcida não vai tolerar outra goleada. Chega de humilhação.
ARBITRAGENS CALAMITOSAS
O nível das arbitragens no Campeonato Brasileiro, quer da Série A, quer da B, é calamitoso. Erros os mais absurdos e primários vêm sendo cometidos pelos árbitros, muitos deles bastante experientes, influenciando diretamente nos resultados. O gol anulado do Flamengo, ontem, no Maracanã, no Fla x Flu, foi uma dessas “preciosidades” de incompetência. E o pênalti que o Alicio Pena Junior marcou contra o Corinthians, no clássico de ontem, na Vila Belmiro?! O Rodrigo Tiuí do Santos deu uma furada histórica, na grande área corintiana, e tropeçou nas próprias pernas. O juizão, porém, pessimamente colocado, viu falta no lance, para desespero da Fiel. Na cobrança, o goleiro Sílvio Luiz adiantou-se e defendeu o chute de Kleber Santana. Mas cadê peito do Alicio para mandar voltar o lance, ainda mais sabendo (ou pelo menos intuindo) que a falta máxima não existiu?! Pipocou bonitinho! Se times de tradição são penalizados pelas péssimas arbitragens, imaginem os chamados “pequenos”! No jogo da Ponte Preta com o Paraná, o árbitro deixou de assinalar um pênalti claríssimo sobre o Tuto, quando o jogo ainda estava 2 a 2. Uma lástima!
RESPINGOS...
· Como esperava, o clássico de ontem, entre o Santos e o Corinthians, na Vila Belmiro, teve de tudo, menos técnica. Foi um festival de caneladas de dar dó.
· A Seleção Brasileira enfiou 13 gols (para delírio do coordenador técnico Zagallo) no time sub-20 do Fluminense, que se mostrou um sparring muito fraco para as feras do Parreira. Pelo menos uma coisa, porém, a equipe mostrou: que a pontaria está afiada.
· O zagueiro Lugano, do São Paulo, “trucidou” o Capetinha Edílson, ontem, em São Januário, no empate do São Paulo contra o Vasco, por 1 a 1. E o juizão nem falta marcou. Barbaridade!
· O Palmeiras, do Tite, levou nova chinelada, em pleno Parque Antártica, diante do Grêmio, que jogou a maior parte da partida com dez jogadores. Segue firme e forte rumo à Segunda Divisão.
· O futebol carioca segue a sua rotina de sempre ter algum representante na zona do rebaixamento. Na semana passada, era o Botafogo. Depois, foi a vez do Vasco. Agora, quem está a perigo é o Flamengo. Para compensar, porém, o Fluminense é o líder isolado da competição.
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pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
O homem convive com mistérios, alimenta-se deles, é um mistério... Tenta explicar (em vão) tudo, desde o maior deles, que é o da natureza e finalidade da sua vida, a detalhes corriqueiros do cotidiano, aos quais dá interpretações pessoais, mais ou menos lógicas de acordo com seu preparo intelectual, mas ainda assim empíricas, sujeitas a mudanças ao sabor dos acontecimentos. Temos que construir nossa personalidade. Precisamos compor nossa biografia com atos e fatos, com obras e idéias, com paixão e emoção.
É preciso humanizar o homem
O filósofo Jiddu Krishnamurti, num dos seus livros, destaca que “existe apenas uma revolução fundamental. Nem é uma revolução de idéias nem é baseada num determinado padrão de ação. Ela começa a manifestar-se quando a necessidade de usar os outros termina. É algo que surge espontaneamente quando começamos a entender a natureza profunda dos relacionamentos. Essa revolução pode ser chamada de Amor”. As rápidas e dramáticas transformações deste final de milênio, ideológicas, políticas e sociais, mantêm intocados os verdadeiros problemas que tornam este mundo um lugar tão perigoso para viver.
A ignorância, a prepotência, a cobiça e a exploração do homem pelo homem, permanecem mais presentes do que nunca a atestar que, a despeito do progresso tecnológico, a racionalidade humana não evoluiu um único milímetro nos últimos dois ou três milênios e, ao contrário, pode até ter sofrido uma regressão. Relatórios divulgados amiúde, por diferentes organizações internacionais, mostram que podemos falar de tudo, menos de evolução do espírito.
Os informes dão conta de torturas, assassinatos, “desaparecimentos” de pessoas, privações ilegais da liberdade, truculências e outros crimes hediondos, muitos dos quais praticados por governos ou por regimes políticos. Ou seja, tais delitos são cometidos em nome de princípios nobres – e cada vez mais utópicos – como liberdade, democracia e solidariedade.
O relatório anual da Anistia Internacional referente ao ano de 1992, por exemplo, ao qual tivemos acesso, denuncia e fundamenta em farta documentação violações de direitos humanos em 111 países. E não são apenas as sociedades retrógradas, fartamente conhecidas, que torturam, executam, roubam, estupram e maltratam seus próprios cidadãos. Tais delitos ocorrem, indistintamente, na Europa, nos Estados Unidos e em praticamente todas as partes do mundo. Onde, pois, está a apregoada “nova era”, tão decantada após o fim da Guerra Fria?
Os campos de concentração, ao estilo nazista, que todos julgavam coisa do passado, se espalham por grande parte do território da antiga Iugoslávia, sob os olhares complacentes e atarantados da comunidade internacional. Extermínio de pessoas, por causa dessa estupidez que se convencionou chamar de “raça” – como se no essencial todos os seres humanos não fossem iguais – ocorrem diariamente na Bósnia-Herzegovina, sem que se faça nada para impedir, a não ser utilizar a imprensa para inócuas ameaças e vazias condenações.
Nesse festival de desrespeito aos direitos fundamentais do homem, os mais afetados são, pela ordem, as mulheres, os idosos e as crianças. Ou seja, os desequilibrados da atual geração, que não têm tirocínio para entender que são mortais e vão passar e cair na vala do esquecimento, buscam comprometer o futuro do mundo. E ninguém faz nada para evitar.
A Organização Internacional do Trabalho, por exemplo, lançou, em 1993, um livro sobre a exploração de menores como mão-de-obra escrava ou semi-escrava. Cerca de 200 milhões de meninos e meninas, em todas as partes, estão tendo a sua dignidade desrespeitada, seu desenvolvimento físico e mental mutilado e suas expectativas frustradas. Mas quem se importa? A verdadeira revolução, a da “humanização” do homem, ainda está longe de começar. Tememo-la. Impõe-se, pois, a questão formulada por Max Frish: “Quando se tem mais medo da mudança do que da desgraça, o que é que se faz para evitar a desgraça?”.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 101 e 103, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
Sunday, May 28, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
O BIS DA HUMILHAÇÃO
A manchete do Correio Popular deste domingo diz bem o que foi a tragédia futebolística de ontem à noite, no Moisés Lucarelli: “Ponte é humilhada no Majestoso”. E põe humilhação nisso. Aliás, a de ontem foi até pior do que a sofrida no meio da semana, no Mineirão, quando a Macaca foi goleada pelo Cruzeiro, por 5 a 1. Contra o Paraná Clube, além de sofrer o mesmo número de gols de quarta-feira, houve a agravante da chinelada ter ocorrido em casa, diante da sua humilhada, irritada e (compreensivelmente) impaciente torcida (inclusive, ou principalmente, eu). A diferença é que ontem o ataque pontepretano fez a sua parte, foi mais efetivo e fez dois gols. Aliás, há tempos que o foco das críticas ao time da Ponte Preta é errado. Sempre se criticou os atacantes, pelas más performances do time, quando este, bem ou mal, sempre funcionou. Raros foram os jogos, quer nos campeonatos brasileiros, quer nos paulistas, em que a Macaca deixou de fazer gols. O grande problema, há já três anos, é o setor defensivo, e ninguém vê isso. Bastaram oito rodadas, por exemplo, para que a nossa defesa se constituísse na pior do campeonato. Valha-me Deus! Assim não dá.
VOLTA À ROTINA
Retiro o que escrevi sobre o Guarani, após a vitória de terça-feira, no Brinco de Ouro, diante do Paulista de Jundiaí, por 3 a 1. Cheguei a achar, na oportunidade, que o atual grupo do Bugre era competitivo e poderia aspirar o acesso à elite do futebol brasileiro. Não pode! Leve-se em conta que o Galo do Japi atravessa péssima fase técnica e administrativa, com salários atrasados e o conseqüente descontentamento do plantel, que faz, até, uma “greve de silêncio”, se recusando a falar com a imprensa. Tanto isso é verdade, que na sexta-feira o Paulista perdeu em casa, para o Avaí, que não é nenhum supertime, por 1 a 0. Portanto, aquela vitória do Guarani foi “mentirosa”. Ontem, diante do limitado Marília, o time mostrou sua real fragilidade. Andou em campo, jogou uma partida sofrível e tem que se dar por satisfeito por perder por apenas um gol. Aliás, se bobear...Os bugrinos já viram esse filme, não é mesmo?
SURPRESA POSITIVA
A torcida da Ponte Preta teve pelo menos uma surpresa positiva, em meio a tantas decepções, no jogo de ontem, quando o time deu um macrovexame e foi goleado pelo Paraná, em pleno Majestoso, por 5 a 2. Refiro-me à atuação do meia atacante Tuto, criticado, execrado e ridicularizado quer pela imprensa, quer pelos torcedores, desde que chegou ao Moisés Lucarelli. Sem nenhum exagero, ele foi, no jogo de ontem, o melhor jogador da Macaca em campo. Além de um belo gol, fez a assistência para o segundo, marcado por Almir, correu, lutou, marcou, desarmou, deu passes e batalhou até o último minuto para reverter o resultado. Não adiantou. Uma andorinha só não faz verão. Mas mereceu aplausos das arquibancadas e teve, até, o nome gritado em coro. Pela que o time perdeu, e daquele jeito. Essa foi a primeira vez que Tuto teve a oportunidade de começar jogando e, justiça seja feita, não decepcionou. Pelo contrário, surpreendeu a gregos e troianos. Até então, ele sempre entrava quando as partidas já estavam decididas, em geral a favor dos adversários, e não havia mais nada a fazer. Na pior das hipóteses, ontem, pelo menos, Tuto justificou a sua contratação. Pontos para ele.
NAS DEVIDAS PROPORÇÕES
Torcedores e parte da imprensa campineira vêm fazendo uma comparação que não tem a mínima lógica, entre a Ponte Preta e o Guarani. Dão a entender que o Bugre é melhor e está fazendo mais bonito do que a Macaca. Bobagem! É como tentar misturar óleo e água. Ambos são imiscíveis. Os dois times disputam divisões diferentes, que não comportam comparações. Os bugrinos que me perdoem, mas a lógica diz que o pior dos integrantes da Série A, no caso o Santa Cruz, está em melhor situação do que o melhor da Série B, atualmente o Sport, igualmente do Recife. Afinal, enquanto o rubro-negro luta para ascender à elite, o tricolor pernambucano já está nela. O mesmo raciocínio, claro, vale entre Ponte Preta e Guarani. Que se queira criticar a Macaca, tudo bem, esta merece, e muito, as críticas. Mas fazer esse tipo de comparação! Tenham paciência! Caiam na real!
AFASTAMENTO DE EBERLIM
Não poderia vir em pior hora o afastamento de Marco Antonio Eberlim do comando do Departamento de Futebol da Ponte Preta. Coincidência ou não, o anúncio da sua saída foi sucedido por duas humilhantes goleadas seguidas, sofridas pelo time. Além do atual grupo de jogadores ser um dos piores desde que a Macaca voltou à elite do futebol brasileiro, o ambiente entre os atletas (embora busquem esconder isso da torcida), não poderia ser pior. Não se sabe, por exemplo, se Vadão vai continuar ou não no comando da equipe e se for sair, quem seria seu eventual substituto. Fala-se, também, em lista de dispensas, o que tira, sem dúvida nenhuma, a tranqüilidade dos atletas, que não sabem se amanhã vão estar ou não desempregados. A Ponte Preta, como se vê, está fazendo uma força danada para ser rebaixada. Na zona de rebaixamento já está. Quem está fazendo toda esta marola no clube pode ser tudo, menos pontepretano.
BURRICE DOS CORNETEIROS
Detesto torcedor corneteiro. Não existe bicho mais irritante do que ele. Deixei, aliás, de freqüentar o Majestoso, há já algum tempo, por causa desses chatos, que me tiram o prazer de torcer. Desde o início do Campeonato Paulista, um grupinho expressivo de torcedores vem defendendo a saída de Osvaldo Alvarez do comando do time da Ponte Preta. Muito bem, suponhamos que ele seja demitido. Quem poderia vir para o seu lugar? Não está sobrando treinador no mercado. E muito menos está disponível aquele que tenha o perfil da Ponte Preta. Vadão tem feito milagres com os jogadores que tem e se pararem de encher o saco dele, com certeza vai tirar o time da atual enrascada. Se Corínthians e Palmeiras, por exemplo, tiveram dificuldades imensas para contratar técnicos, imaginem nós! Parem de perturbar ainda mais um ambiente já bastante conturbado, malditos corneteiros! Duvido que vocês sejam, de fato, pontepretanos.
RESPINGOS...
· O clássico de hoje, entre o Santos e o Corinthians, na Vila Belmiro, tem tudo para ser um jogão, principalmente pelas circunstâncias que o cercam. Talvez não seja um primor de técnica, já que nenhum dos dois está jogando nada. Mas a rivalidade entre os alvi-negros é imensa e cresce de ano para ano. Vai daí...
· A Seleção Brasileira treinou bem, anteontem e ontem, na pequenina Wegis. A novidade é que, ao que tudo indica, Rogério Ceni está conquistando a reserva imediata de Dida. E se este não se cuidar...
· Será que o Ricardo Oliveira repete, hoje, contra o Vasco, a excelente atuação que teve na quarta-feira, no clássico com o Palmeiras? Acho que sim! Vamos conferir.
· Tite tem, hoje, a chance de se recuperar da péssima estréia diante do São Paulo. O Palmeiras encara, no Parque Antártica, o apenas esforçado Grêmio. Se perder...
· Schumacher quis dar uma de esperto, na classificação para o Grande Prêmio de Mônaco, e se deu mal. Foi punido pela direção da corrida, largou em último no grid e viu Fernando Alonso se distanciar na pontuação do Mundial de Fórmula 1 deste ano, com uma consagradora vitória. E ainda tem pucha-saco do alemão que insiste em dizer que ele seria melhor do que Senna, se este estivesse vivo. Nunquinha!!!!
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Corman Burke afirmou: "`Progresso' é uma palavra bonita, mas pode ter diversos significados. Será que uma sociedade está progredindo porque adquiriu a capacidade de produzir armas atômicas ou porque suas naves são capazes de chegar ao planeta Marte ou mais longe, ou por que podemos discar diretamente para a Austrália...? As técnicas de guerra podem ter progredido, a velocidade da comunicação intercontinental ou interplanetária pode ter progredido, mas...o homem estará progredindo? Esta é certamente a pergunta fundamental". A resposta às questões levantadas por Burke é, evidentemente, não! Suponhamos, como muitos entendem, que progresso signifique avanço tecnológico, entre outras coisas. Como tudo na vida, tal evolução tem um preço, muitas vezes alto demais, proibitivo e portanto não compensador. É o caso, citado por Burke, da fabricação de armas nucleares.
A vida é o principal dos direitos
Pedro J. Bondaczuk
O comportamento humano não acompanhou, em absoluto, o incrível avanço das ciências físicas e biológicas, em especial após a segunda metade do século passado. Por esta razão, muitas das maravilhas criadas por mentes privilegiadas, que poderiam significar a redenção da humanidade e a melhoria do seu padrão de existência, acabaram transformadas em objetos de tortura, em armas terríveis para que se cometam as mais abjetas ações e heresias que se possa imaginar.
A todo o instante se ouve alguém reivindicar um elenco de direitos, alguns legítimos e outros apenas imaginados. Mas o que todos parecem se esquecer é que estes sempre vêm acompanhados de deveres. Os dois são indissociáveis.
Uma das tarefas básicas do ser humano é a de viver e deixar viver. A ninguém deve, e nem pode, ser concedido o poder de decidir sobre quem continuará existindo e quem não. Qualquer coisa que ao menos lembre este tipo de arbitrariedade é ilegítima, imoral e ilegal.
Contraria a própria lógica. O princípio básico de Justiça, o alicerce que lhe dá sustentação, preceitua que “todos” são iguais perante a lei. O fato dessa igualdade não passar hoje em dia de mera ficção é que impede que no campo do comportamento, a humanidade acompanhe o vertiginoso progresso científico.
O direito mais sagrado e inalienável de qualquer ser é, portanto, o da vida. E quando esta passa a existir de fato? Em que instante mágico e miraculoso se corporifica e se reproduz milhões de vezes por dia, embora cada uma dessas reproduções não deixe de ser um milagre? No instante exato da fecundação!
É perda de tempo teorizar a respeito o sofismar dizendo que o feto disforme, de uma, duas, dez, doze ou catorze semanas, não é um ser humano. É evidente que é. Afirmar, portanto, que impedir que uma mulher grávida cometa o criminoso ato do aborto é tolher seus direitos não passa de uma irresponsabilidade. De cumplicidade num assassinato. Ninguém, mas ninguém mesmo, pode decidir sobre a vida e a morte do próximo, sejam quais forem os motivos. Pessoa alguma, por outra parte, pode tomar decisões absurdas envolvendo um outro ser humano.
“O meu direito começa onde o do próximo termina”. Por esta razão, é ilegítimo, imoral e ilegal apelar-se para meios artificiais de concepção somente para satisfazer a uma vaidade, ou para arranjar companhia futura. Uma decisão desse porte é gravíssima. Se a natureza impediu que certas pessoas tivessem o dom da paternidade ou da maternidade, deve ter tido suas razões.
Nada acontece por acaso no universo. Não são casuais as leis da física, da química, da biologia e da astronomia. Tudo segue a regras fixas, inexoráveis, imutáveis. O mesmo deve valer para o campo da moral.
Que direito um casal tem de se impor a um ser humano como seus pais? O casal, ao tomar tão grave decisão, está consciente do que está fazendo ou está sendo levado apenas pelas emoções? Seus membros têm qualquer condição ou possibilidade de prever o futuro do novo ser, que por meios tão antinaturais (no caso dos bebês de proveta) estarão trazendo ao mundo?
Sabem se ele será feliz? E se não for? Não seria melhor que não tivesse existido? Serão capazes de suprir o amor que lhe faltará no ato inicial da sua concepção? Porque, a menos que se trate de um imbecil, ninguém ama uma proveta, um tubo de ensaio, um recipiente de nitrogênio líquido ou uma seringa.
Mas o mais incompreensível é o fato de alguém “alugar” uma mulher para gerar-lhe um filho. Espezinhar um ser humano, reduzi-lo à condição de fria máquina, que a troco de um metal ou, o que é pior, de um papel impresso chamado dinheiro, deve lhe entregar um “pedaço” do seu ser. Tem a obrigação de gerar em suas entranhas, carregar por nove meses, dar à luz e depois se descartar de uma vida!
Que direito quem age assim tem de proceder dessa maneira? De impor pais aos outros, baseado apenas na própria vontade? De realizar caprichos, explorando o corpo, a mente e a afetividade alheios? Por que tais indivíduos não recorrem à adoção, tentando corrigir uma distorção social já existente, sem criar uma nova?
Elas têm garantias de que o ser que vão gerar dessa forma antinatural será feliz? Têm, elas próprias, felicidade? São capazes de livrar esse alguém a quem darão existência das vicissitudes nefastas de um mundo tão cheio de aberrações? A ciência, portanto, não tem o “direito” de invadir este campo, enquanto estas questões (e tantas outras) não forem respondidas insofismavelmente. Caso contrário, estará compactuando com taras, com horrores e com perversidades.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 11 de março de 1987).
Saturday, May 27, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Todos somos, em princípio, senhores da nossa trajetória pelo mundo. Ocorre que muitos abrem mão dessa prerrogativa, por não saberem fazer uso da consciência de que são dotados. Permitem que ela se atrofie, se esclerose, beire a necrose. São guiados, não guiam. São conduzidos, não conduzem. São influenciados, não influenciam. De tanto fazer concessões, abrem mão da vida, em seu sentido mais elevado: o da dignidade.
Marilynn Monroe
Pedro J. Bondaczuk
Anjo louro que inspira fantasias,
musa de secretos sonhos eróticos,
flor dos pântanos, beleza coroada
de ingente e ingênua ingenuidade.
Dorme o eterno sono dos justos,
fada loura, punida pela solidão.
Incompreendida musa dos sonhos eróticos
de ingente e ingênua ingenuidade.
"Dormir, sonhar, quem sabe".
Dorme em paz Marilynn (Baker?) Monroe
o sono químico dos desesperados,
você, que só buscou compreensão,
de ingente e ingênua ingenuidade.
Anjo louro, que excita nossos instintos,
alva estátua, de estética perfeição,
etérea ninfa e protótipo de mulher
de ingente e ingênua ingenuidade:
viverás, para sempre, em nossos corações.
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 12 de janeiro de 1963).
Friday, May 26, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
JOGO DE RISCO
A Ponte Preta, mesmo jogando em casa (ou, principalmente por isso), tem a obrigação de vencer o Paraná Clube, amanhã, para apagar a má impressão deixada na goleada por 5 a 1 que sofreu diante do Cruzeiro, na quarta-feira, no Mineirão, e para escapar das últimas colocações do campeonato. Após a rodada do meio de semana, a Macaca ficou a apenas duas posições da sempre incômoda zona do rebaixamento. Trata-se, porém, de um jogo de risco. Há já um ano que o time não tem feito apresentações convincentes no Moisés Lucarelli, diante da sua torcida. Deveria, claro, ser o contrário, mas não é. Além disso, o Paraná, embora mal-colocado, é o atual campeão paranaense e certamente conquistou esse título graças aos seus méritos. Está, também, em crise. A torcida, por exemplo, exige a cabeça do técnico Caio Junior, que deve, de fato, receber o clássico bilhete-azul caso não obtenha um bom resultado em Campinas. Certamente, se perder, portanto, o Paraná vai vender muito caro a derrota. A Ponte que se acautele e mostre, pelo menos, a sua principal (e talvez única) virtude, que é a raça. Caso contrário...
ADVERSÁRIO FATALISTA
O Guarani tem, amanhã, tarefa não menos indigesta do que a da Ponte Preta. Enfrenta, em Marília, um adversário que se tem mostrado fatalista de uns tempos para cá. É certo que o ambiente no Brinco de Ouro, nesta semana, é melhor do que no Majestoso, após a convincente vitória obtida na terça-feira diante do Paulista (em crise), por 3 a 1. Mais do que os três pontos, valeu a boa atuação do time, que fez, certamente, a sua melhor partida no atual campeonato da Série B. Se jogar a mesma coisa, trará, com certeza, excelente resultado de Marília e estará muito perto da meta estabelecida pelo técnico Waguinho, de ficar entre os quatro primeiros colocados quando a competição for interrompida para a Copa do Mundo. Complicado? Claro que é! Mas o Guarani mostrou grande evolução de uns jogos para cá, apesar de alguns resultados decepcionantes, como os empates com o Náutico e o Avaí no Brinco de Ouro, enquanto seu adversário faz uma campanha bastante irregular. Com certeza, será um bom jogo.
EXPECTATIVA DE ESTRÉIA
A torcida da Ponte Preta está na expectativa da estréia do atacante Ricardinho no jogo de amanhã. É provável que ela ocorra somente no segundo tempo, embora o time esteja desfalcado de Luís Mário, supostamente a sua maior estrela. Supostamente, porque o futebol que vem apresentando neste Campeonato Brasileiro não condiz, em absoluto, com esse status. Se eu fosse o Vadão, entraria com o Ricardinho desde o início e fazendo dupla com o garoto Wanderley. Sacaria do time o volante Da Silva que, além da má-fase técnica, ainda anda com um azar danado, fazendo gols contra e trazendo instabilidade a toda a defesa. Recuaria Almir para a sua função, já que a Ponte precisa, desesperadamente, de uma vitória e terá a obrigação de atacar o adversário. Não creio que o Vadão vá ter tanta ousadia. Em todo o caso...quem sabe? Mesmo que entre no segundo tempo, porém, como é mais provável, fica a expectativa pela estréia de Ricardinho, mais uma esperança de gols para a torcida.
GRANDE CHANCE
O lateral Daniel, do Guarani, terá, amanhã, em Marília, sua grande chance de conquistar a camisa de titular do time, depois de uma sucessão de contusões que o afastaram por muito tempo dos gramados. O jogador entra no lugar do apenas esforçado Adílio e tem tudo para não sair mais. Trata-se de um ala agressivo, de razoáveis recursos técnicos e é mais rodado do que o garoto com o qual disputa posição. Talvez não tenha condições físicas de atuar os 90 minutos pois, com certeza, lhe falta ritmo de jogo. Aliás, há tempos que um dos maiores problemas do Guarani tem sido a ineficiência dos seus laterais. Mariano, na direita, alterna ótimas e péssimas apresentações. E Adílio, na esquerda, mesmo tendo todas as chances do mundo para se firmar, não perdeu ainda a sua timidez e deixa muito a desejar. Está aí, pois, a grande chance de Daniel de mostrar a que veio.
SÁVIO DE VOLTA
O Flamengo reforça o seu time (que nos jogos que assisti, mostrou enorme evolução em relação à sua performance no Campeonato Carioca de 2006, quando quase foi rebaixado e, principalmente, na comparação com o Brasileirão do ano passado), repatriando um dos maiores ídolos da sua história: o atacante Sávio. Vai dar certo? Provavelmente sim. Ninguém desaprende de jogar. Ademais, o atleta agora está muito mais maduro e experiente do que quando deixou a Gávea para, na oportunidade, se transferir para o Real Madri. Ultimamente, atuava no mediano Zaragoza, onde era a principal estrela. Trata-se de uma atração a mais para uma competição que promete “pegar fogo” depois da Copa do Mundo. O Flamengo tem tudo para fazer uma campanha pelo menos compatível com as suas tradições. Confiram na seqüência.
REESTRÉIA DE MARCELINHO
Uma das atrações da rodada de meio de semana do Campeonato Brasileiro, encerrada ontem, foi a reestréia, no Corinthians, de uma das maiores estrelas de sua história: Marcelinho Carioca. Para um jogador veterano, que estava há muito tempo sem jogar, o atleta teve uma performance de razoável para boa, no jogo em que seu time perdeu para o Internacional, no Morumbi, por 1 a 0. Marcelinho pegou, na verdade, um enorme “rabo de foguete”. O Timão foi a campo desfalcado de vários de seus titulares, principalmente de Nilmar, Rafael Moura e Carlos Alberto. Todavia, o veterano jogador não decepcionou. Correu, lutou, fez algumas jogadas brilhantes, bateu faltas e quase foi premiado com um golaço, evitado somente graças a uma defesa espetacular de Clemer. Apesar da derrota, saiu (justamente) aplaudido pela Fiel. Mostrou que, a despeito da idade, ainda pode ser muito útil ao time que o consagrou.
RESPINGOS...
· Que belo atacante é esse Wagner, do Cruzeiro, atual artilheiro do Campeonato Brasileiro, com oito gols! Segue de perto os passos de Fred, uma das “feras” do Parreira para a conquista do hexa.
· A Seleção Brasileira está encantando a população da pequenina Wegis, na Suíça. Seus treinos contam com um público maior do que o da maioria dos jogos do Campeonato Brasileiro.
· Dodô desencantou, na goleada do Botafogo sobre o Vasco por 4 a 1, e voltou a visitar as redes do adversário. E não somente uma vez, mas logo três, para quebrar, em definitivo, seu longo jejum de gols.
· Vanderley Luxemburgo deve estar uma fera com os jogadores do Santos. Dos seis pontos disputados em quatro dias no Maracanã, trouxe apenas um, no empate de 2 a 2 com o Flamengo, quando estava vencendo por 2 a 0. O outro resultado, claro, foi a derrota, no domingo, para o Fluminense, por 1 a 0.
· Diana dos Santos merece, de fato, o apelido de “a pequena notável”. Hoje, em Moscou, a gauchinha conquistou a medalha de ouro nos exercícios de solo, na etapa moscovita da Copa do Mundo de Ginástica. Quem é rainha nunca perde a majestade!.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Por pior que um indivíduo seja, rufião, assassino, ladrão, ou tenha o defeito que tiver, esse desajustado sabe o mal que está praticando, embora tente se justificar diante de si e dos outros. Quando tais pessoas são punidas, o que acontece com grande freqüência, afirmam que foram injustiçadas. Culpam os pais, as más companhias, a sociedade etc., por sua estupidez. Mas no íntimo, no fundo da sua mente, sabem que são sociopatas, quando não psicopatas. O desajustado está consciente do seu desajuste. O que não tem é vontade, ou competência, ou ambos para se ajustar. É um indivíduo que não cultivou a pequena consciência que tem e esta se atrofiou.
À procura de Deus
Pedro J. Bondaczuk
A existência e natureza de Deus têm sido preocupação constante do homem, desde que tomou consciência de si e do mundo que o cercava. O ser primitivo das cavernas, em determinado momento (impossível de ser determinado quando), intuiu que foi "criado" por "alguém" ou por alguma "força poderosa", que extrapolava sua restritíssima compreensão, responsável também por tudo o que havia ao seu redor, onde os seus sentidos alcançavam e muito além desse alcance.
Surgiu então, absolutamente disforme, a primeira idéia de "divindade". Originalmente, esse humanóide, até por instinto, apenas temia esse "desconhecido" tão poderoso. Não lhe passava pela cabeça que pudesse ter qualquer espécie de contato com Ele ou rogar por uma proteção, no ambiente hostil, inóspito e perigoso que o cercava.
Tudo era um mistério. Desde o fenômeno hoje considerado mais simples e trivial, entendido por qualquer criança que recém tenha aprendido a falar, até o mais complexo e inexplicável, que o homem contemporâneo não consegue explicar, com todo o instrumental de que dispõe.
Tanto o nascimento, quanto a morte, quer de semelhantes, quer de outros animais e vegetais, tinha para esse ser rústico e deslumbrado um aspecto de magia. Despertava milhares de indagações, que ainda não podia racionalizar, sem que atinasse com qualquer resposta.
Em um outro estágio, projetou esse "Deus" intuído em suas "manifestações", pluralizando, por conseqüência, a divindade. Esta não seria única. Haveria muitos "deuses", como o Sol, a Lua, as estrelas, as chuvas, os trovões, as tempestades, etc. Os indígenas ainda são assim. O passo seguinte foi o de tentar algum tipo de contato com essas "entidades superiores".
Homens muito especiais, pelo seu poder de concentração e raciocínio, e principalmente de convencimento, acreditaram que podiam "conversar" com os deuses e obter seus favores. Criam que caça abundante, por exemplo, era conseqüência do atendimento de seus pedidos para que isso ocorresse. Ou que quando esta escasseava, era por causa de algum deslize ou afronta às divindades, que exigiriam reparação. Convenceram suas comunidades de que só eles tinham esse poder. Surgiu, assim, a classe dos sacerdotes e com ela a religião (de "religare", religação com Deus) institucionalizada.
As pessoas convencidas pelos "intermediários" entre os deuses e os homens, não questionavam seus ensinamentos. Limitavam-se a acreditar. Tinham "fé". Ou seja, criam no incrível, sem a mínima sombra de dúvida, mesmo que a crença contrariasse toda e qualquer lógica. Alguns tornavam-se fanáticos e queriam impor aos outros, não raras vezes de maneira violenta, aquilo que lhes fora ensinado pelos sacerdotes. Muito sangue foi (e continua sendo) derramado em nome da religião.
Com o passar do tempo, a natureza dessa entidade misteriosa e apenas intuída ou idealizada, Deus, mudou, de acordo com os vários povos e seus estágios de civilização. Surgiram os deuses antropomórficos dos gregos e romanos, por exemplo, com características, vícios e paixões humanos. Ou os mágicos indianos. Ou o Deus único dos judeus, também sujeito a iras, rompantes, dúvidas e erros, como os homens, mas com poder absoluto.
Dele, derivou o dos cristãos, o do "três em um". Quem está certo? Quem não está? As igrejas são o único meio válido para que o homem se aproxime de seu Criador? É possível "conversar" com Deus? Há, de fato, outra vida, invisível, espiritual, além desta? Em caso afirmativo, existem, de fato, requisitos para nos credenciar a ela? Ninguém sabe, embora haja tantos que se arroguem em doutores nessa matéria. O que existe são especulações e nada além delas. Apenas uma certeza subsiste, que ciência alguma ou qualquer espécie de racionalização conseguiu derrubar: Deus existe!.
Como ele é, quais suas manifestações, qual o alcance de seu poder, sua eternidade, etc, escapam ao entendimento humano. Tudo isso que nos cerca não pode, e certamente não é, fruto do "acaso". E se for, essa casualidade seria Deus, dada sua perfeição. O importante não é o nome que se lhe dá. E muito menos as explicações e tentativas de racionalização feitas pela instituição "religião". Trata-se de um conceito muito íntimo de cada um.
Provavelmente, não há duas pessoas, mesmo que supostamente seguidoras da mesma fé, que entendam Deus exatamente da mesma forma. Os cristãos, ao longo dos quase dois milênios de sua vinda, desumanizaram Jesus Cristo. Tiraram a sua grandeza. Não entenderam a sua mensagem. Não desvendaram (e sequer tentaram) seu mistério. Comercializaram sua imagem. E em seu nome, muitos praticam exatamente tudo o que Ele condenou.
A humanidade, em termos de especulação no campo religioso, teve inegável evolução, pelo simples fato de hoje ser possível externar idéias diferentes dos dogmas das igrejas institucionalizadas. Há somente dois séculos, isso poderia equivaler ao suicídio. A simples menção do assunto, que não fosse de conformidade com os cânones do Vaticano, valeria uma condenação por heresia por tribunais da "Santa Inquisição". O incauto estaria sujeito à fogueira ou, na melhor das hipóteses, à masmorra, para "reeducação".
Thursday, May 25, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
FIASCO NO MINEIRÃO
Hoje não é o dia mais indicado para redigir esta coluna, sem periodicidade fixa, depois do fiasco da minha Ponte Preta no Mineirão, com a goleada que sofreu diante do Cruzeiro por 5 a 1. O preocupante não é sequer o placar elástico, que refletiu bem o andamento do jogo (nem sempre reflete). O que preocupa é o futebolzinho da Macaca, que não mostrou poder de reação e que, depois do terceiro gol cruzeirense, ficou perdida em campo, sem a mínima inspiração e sem que os jogadores soubessem o que fazer com a bola. Pelas circunstâncias, até que o resultado foi pequeno. Preocupa, também, o fato do atual plantel ser nitidamente inferior ao do ano passado, que já não era a maravilha das maravilhas e que escapou do rebaixamento apenas na última rodada. Ainda há tempo para reverter a situação e evitar a catástrofe. Mas a diretoria não pode continuar dormindo de touca, achando que esse grupo vai “quebrar o galho”. Com certeza não vai.
FORÇA JOVEM
Quem está no caminho certo, embora muitos contestem, é o Guarani, que resolveu apostar, premido pelas circunstâncias, na força jovem. Tanto a imprensa da cidade, quanto parte considerável da torcida, defendem contratações, para a montagem de um time irresistível que leve o Bugre de volta à elite do futebol brasileiro. Mas como fazer isso? Primeiro, não é segredo para ninguém que o clube atravessa a pior crise financeira da sua história. Segundo, não há jogador de qualidade dando sopa por aí no mercado. Os que valeria a pena contratar estão no Exterior, e seus salários estão muito além da realidade dos clubes brasileiros, em especial os de porte médio, como o verdão campineiro. Terceiro, a Série B não tem nenhum bicho-papão que esteja jogando o suprassumo do futebol. O time caseiro do Guarani, com atletas em início de carreira (salvo Sandro e Edmilson, que já são bastante rodados), dá para o gasto. Tão logo esteja entrosado (e caminha para isso), tem plenas condições de fazer o que certamente os tais medalhões, “bois cansados” sem comprometimento pessoal com o clube, não fariam.
RICARDINHO VEM AÍ
Não sei qual é o atual estágio físico e técnico do meia-atacante Ricardinho, recém-contratado pela Ponte Preta. Todavia, se jogar apenas um pouquinho do que jogava há algum tempo no Marília (onde era conhecido como “o rei do drible”) e no time do Atlético Paranaense, quando este era comandado pelo Vadão, vai resolver o problema do ataque da Ponte Preta, que sequer é muito grande, já que os gols estão saindo. Mas Luís Mário (em péssima fase) ou Almir (muito útil, mas que deveria ser recuado e ocupar a vaga do Danilo) vão dançar. Contudo, os resultados mostram que a principal deficiência da Macaca não está no setor ofensivo. Está, isto sim, tanto no meio de campo, quanto (e principalmente) na defesa. Dos três volantes, por exemplo, só Ricardo Conceição merece a camisa de titular. Da Silva e André Silva deixam muito, muitíssimo a desejar. Certamente, na seqüência do Campeonato, ambos vão perder seus lugares para o Carlinhos (que, felizmente, após a cirurgia cardíaca a que foi submetido, já voltou a treinar, com o coração “novinho em folha”) e para o Emerson, que sabe sair jogando e é bom finalizador. O que precisa ser mudado, e urgentemente, no time da Ponte Preta, é a sua zaga, já apelidada de “a mãe do ano”. Na derrota de 5 a 1 para o Cruzeiro, voltou a tomar gols bestas, como os que já havia tomado, aliás, contra o Grêmio, contra o Vasco, contra o Corinthians, contra o Palmeiras e, principalmente, contra o Santos. É muita bobagem seguida!
JOVEM TALENTO
Na vitória do Guarani sobre o Paulista de Jundiaí, na terça-feira, no Brinco de Ouro, por 3 a 1, a grata surpresa foi a atuação do armador Rivaldo, jovem jogador vindo das categorias de base do Santos. Pelo que jogou, fez jus ao nome. Além de fazer um belo gol, o garoto marcou, lançou, driblou e infernizou a defesa do Galo do Japi. Caso mantenha a mesma atuação nos próximos jogos – contra o Marilia, fora de casa, no próximo sábado, e contra o Atlético Mineiro, em Campinas – vai ganhar, de vez, a condição de titular absoluto, para não mais sair. O grande problema do Bugre, até então, vinha sendo exatamente o setor de armação. Gustavo é um bom jogador, mas bastante irregular. Faz uma jogada brilhante e, na seqüência, comete dez bobagens seguidas. Rivaldo, sobretudo, deu velocidade ao ataque, com toques rápidos, precisos e inteligentes. Tomara que não coloque uma máscara do tamanho do Brinco de Ouro. Se não o fizer, tem tudo para ser o destaque desse time na seqüência do campeonato.
SERÁ QUE AGORA VAI?
O Campinas, a exemplo dos dois anos anteriores, começou de forma arrasadora o atual campeonato da Segunda Divisão paulista, dando esperanças à sua torcida de que, finalmente, vai ascender à Série A-3 no ano que vem. Sábado passado, no Majestoso, deu um vareio de bola no fraco Sumaré, aplicando um contundente 8 a 0 no atarantado adversário. Resta saber se o time vai manter a mesma performance na fase seguinte. No ano passado, o Águia decepcionou na reta final, quando tinha tudo para ficar entre os quatro que ascenderam de divisão. Creio que a torcida precisa dar maior apoio ao time. Afinal, o Campinas é o segunda opção de torcida de todos os campineiros, quer sejam pontepretanos, quer sejam bugrinos. Vamos apoiar, gente!!! E que a direção do clube faça um bom trabalho psicológico com os atletas, para que mantenham a concentração, não deixem a peteca cair e não morram na praia, após nadar de braçada ao longo da competição.
DOR DE CABEÇA
O técnico Tite arrumou uma baita dor de cabeça na sua carreira, ao aceitar o desafio de recuperar o fraco Palmeiras. Com esse time que aí está, já vai ser uma grande façanha se conseguir evitar que o Verdão seja mais uma vez rebaixado para a Série B. Ontem, no Morumbi, o São Paulo passeou em campo. Fez 4 a 1, como poderia fazer cinco, seis ou mais. Essa história de “bom e barato” não existe no futebol ou, se existir, é uma coisa muito rara. O time tem graves deficiências em todos os compartimentos, defesa, meio de campo e ataque. E o pior é que a diretoria não dá a menor indicação de que vá abrir os cofres para trazer reforços. E assim não vai dar. Tite é um bom técnico e já provou isso em sua já razoável carreira. Todavia... não é um mágico! Não tem o poder de transformar pedregulhos em pepitas de ouro. Vai daí...
MUITA BADALAÇÃO
Preocupa-me muito a badalação em torno da Seleção Brasileira, nesta fase de treinamento em Wegis, na Suíça. Caso esteja bem condicionada, fisicamente, e absolutamente concentrada, não vai ter para ninguém. É, disparada, a melhor do mundo, e nem seria necessário repetir isso. Basta atentar para os jogadores que a compõem, na maioria, campeões em seus respectivos clubes, na Alemanha, França e Espanha. Os dois únicos que jogam no Brasil, Rogério Ceni e Ricardinho, são, respectivamente, campeão do mundo interclubes e campeão brasileiro da Série A. É pouco?!! Considero o Brasil favoritíssimo ao hexa e acho que a Seleção vai, de fato, confirmar esse título. Isso, se os jogadores não vestirem a máscara, não jogarem de salto alto (e, pelo contrário, “calçarem as sandálias da humildade”) e levarem a sério a Copa do Mundo. Caso contrário...Nem é bom pensar!
CUIDADO COM O FLU
O Fluminense não tem um supertime (ninguém tem atualmente), mas conta com um bom grupo, bem treinado, bastante entrosado e condicionado, e que costuma “comer pelas beiradas”. Quietinho, sem muito alarde, o tricolor carioca vem somando preciosos pontos na tabela e já disputa a liderança com o instável Cruzeiro (perde para a equipe mineira apenas nos critérios de desempate). Num campeonato de pontos corridos, como é o Brasileiro, a regularidade é fundamental. Não vi ainda ninguém dar favoritismo ao Fluminense para a conquista do título. Observando, porém, as sete rodadas já disputadas, não tenho dúvidas em apontar o Tricolor das Laranjeiras como um dos que podem papar esse campeonato. Olho no Flu!!!
RESPINGOS...
· Que partidão jogou o Ricardo Oliveira, na goleada do São Paulo sobre o Palmeiras, por 4 a 1, no Morumbi! Aliás, já havia mostrado, contra o São Caetano, que está completamente recuperado da contusão que o afastou da Copa do Mundo.
· Tenho observado, há já alguns jogos, o meia Walter Minhoca, que o Flamengo foi buscar no Ipatinga e, cada vez mais, me encanto com o seu futebol. Creio que o garoto vai longe!
· Outro que confirma sua competência (embora a direção do Real Madri não a tenha enxergado) é Vanderley Luxemburgo. Ele vem tirando água de pedra desse time apenas esforçado do Santos. Se bobearem, papa mais um título.
· Marcelinho Carioca reestréia, hoje, no Corinthians, no clássico diante do Internacional de Porto Alegre, no Morumbi. Não tenho dúvidas que logo, logo será titular do Timão...
· Outro time que me surpreendeu, pela aplicação, foi o Vasco. A derrota de domingo passado, por 4 a 2, em São Januário, para o Corinthians, de virada, foi “mentirosa”, pois não refletiu o que foi o jogo. Cuidado, também, com o Vascão!
* E fim de papo por hoje. Entre em contato para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
REFLEXÃO DO DIA
Conheço muitos "doutores" que acumularam em suas mentes e são capazes de reproduzir na ponta da língua um volume enorme de informações e que no entanto não dispõem de clarividência, de intuição, de criatividade. Em resumo, não sabem o que fazer com tantos dados. No outro extremo, convivo com pessoas de pouca ou nenhuma leitura. Algumas, até mesmo, são absolutamente analfabetas. Contudo, são das tais de quem se diz que "enxergam longe". Sabem como aproveitar o pouco que conhecem e aproveitam muito bem. As primeiras, embora gozem de fama, de prestígio e de privilegiada posição social, são apenas “informadas”. As segundas, tratadas, muitas vezes, com menosprezo e até de forma desrespeitosa, são “sábias”.
Sementes ao acaso
O homem evoluído, aquele que tem consciência do seu papel no mundo e se empenha na sua realização (raridade em todos os tempos), sem esperar qualquer vantagem material, é, sobretudo, generoso. A evolução da espécie humana deve tudo a essas pessoas abnegadas, que surgem, em maior ou menor número, a cada geração, determinando saltos evolutivos desse estranho e precioso animal que pensa (ou pelo menos conta com essa capacidade), mas que nem sempre dá um sentido positivo ao pensamento.
Esses indivíduos são os responsáveis pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes, pela Justiça, pela organização política e social, pelos sistemas econômicos e pela geração e veiculação de idéias, entre outras coisas. Sua característica marcante é a generosidade. Semeiam inteligência e princípios incansavelmente, sem sequer atentar para o "solo" onde as sementes irão cair. Dão oportunidade a todos os que queiram usufruir de sua ação, sem nenhuma espécie de preconceito ou discriminação.
A propósito desses abnegados semeadores de ideais, que raramente (ou nunca) colhem aquilo que semearam, e se o fazem, jamais é em proveito próprio, o padre Antônio Vieira (um desses seres raros e preciosos que iluminaram os caminhos da humanidade) fez uma profunda reflexão, em um dos seus inesquecíveis sermões, que atravessaram três séculos, por sua forma e conteúdo serem primorosos. Constata o erudito sacerdote: "Nas outras artes, tudo é arte; na música tudo se faz por compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geografia tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte: caia onde cair".
Por isso, os homens criativos, que têm algo a acrescentar às suas comunidades, desde o seu restrito e particular núcleo familiar, à própria e gigantesca família humana, precisam contar não com uma, duas, cinco, dez ou cem "sementes". Devem ter milhares delas, para espalhar por todas as partes.
Jesus Cristo, em uma de suas mais profundas parábolas, tratou desse tema. Destacou as dificuldades das mensagens espalhadas frutificarem, em virtude do "solo" (no caso a mente das pessoas que são alvos do que se pretende semear) muitas vezes não ser propício.
Os tíbios, os egoístas e os acomodados, mesmo que semeiem ideais, quase sempre fracassam. E o insucesso deve-se à insuficiência de sementes. Basta que estas caiam em lugar errado para que seu empenho acabe sendo vão. Desistem. Ou querem colher frutos pessoais mesmo onde estes não existam e sejam impossíveis de existir. Dão-se por satisfeitos em semear ao léu, mesmo na ausência de resultados, como se desempenhassem uma obrigação e não se tratasse de uma dádiva espontânea ao mundo.
O semeador, da parábola de Cristo, lançou primeiro sua semente por entre as pedras. Mesmo tendo germinado, a planta embrionária não tinha como fixar raízes, dada a rigidez do solo. Não havia humus. Inexistia a umidade. Faltavam, portanto, o alimento e a água. Dessa forma, ou os pássaros devoraram o que foi semeado, ou o sol crestou a semente, a inutilizando.
A segunda foi lançada sobre a areia, em meio a urzes. Germinou, fixou raízes, mas estas não tinham firmeza. Um simples vento arrancou a planta em formação, matando-a ou as ervas daninhas sufocaram-na. A terceira semente, no entanto, caiu em terra fértil. Germinou, radicou-se, desenvolveu-se, cresceu e frutificou.
Assim são as mensagens espalhadas pelos idealistas. Têm que ser múltiplas e semeadas incansavelmente. Mesmo assim há riscos de nenhuma delas vingar. Compete ao semeador tentar, tentar e tentar indefinidamente, enquanto viver. Persistir na persistência. Nunca se fazer de difícil ou se deixar cegar pela vaidade. Não se prender a idéias preconcebidas ou a dogmas cristalizados. Precisa exercitar, sem cessar, a liberdade de pensar e de expressar seus pensamentos. Tem que proceder a constante autocrítica e saber mudar de rumo ao constatar equívocos.
O físico Albert Einstein afirmou, em seu livro "Como Vejo o Mundo": "É a pessoa humana, livre, criadora e sensível que modela o belo e exalta o sublime, ao passo que as massas continuam arrastadas por uma dança infernal de imbecilidade e embrutecimento". Sua condição é tão abjeta por ausência de líderes esclarecidos, de semeadores persistentes, de mestres perseverantes. A espécie carece de um número maior de pessoas "boas", altruístas, perspicazes e sobretudo abnegadas.
Platão, em seus "Diálogos", enfatizou: "O bem não é essência, mas excede em muito a essência em dignidade e poder". Não são os aparentemente poderosos que a humanidade reverencia através dos séculos. Guerreiros como Alexandre, Júlio César, Átila ou Napoleão são lembrados, é verdade, mas apenas pelo terror e morte que espalharam. A reverência, no entanto, é destinada a humildes semeadores. Como Sidarta Gauthama... Como Jesus Cristo... Como Maomé... Como São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Madre Teresa de Calcutá, entre outros...
Wednesday, May 24, 2006
T O Q U E D E L E T R A
Pedro J. Bondaczuk
Guerreiro alado
Garrincha, pequeno pássaro encantado,
alado guerreiro, ingênuo e inocente,
que faz desfilar, no presente, galhardia,
e humor e graça, as sementes do amanhã,
e que alimenta nossa fragílima fantasia
no palco grandioso do Maracanã.
Mameluco cavaleiro do sonho,
de auriverde manto sagrado,
corcel veloz, galopa e voa
a felicidade perfeita dos simples
nos gramados da América e Europa.
Pés alados. Pés de anjo. Pés calçados
de couro e poesia, de poder e magia,
na luta heróica, com espírito lúdico,
faz acenos familiares à glória
e, em danças, coreografias, corrupios,
bêbedo de luz, sorve o vinho da vitória.
Líder nato, sem bazófia ou arrogância,
dançando, com dez exímios bailarinos,
tece, com os pés, o painel encantado da vida
no teatro, dramática arena dos bravos,
do Estádio Nacional de Santiago.
A fama é tênue e pesa toneladas.
Heróis despencam no esquecimento
vítimas da ingratidão covarde e infeliz.
Mas Garrincha voa, flutua, ganha alento
e, com arte, com magia e encantamento
desperta, orgulha e enaltece um país.
NOTA: Poema em homenagem a Garricha, que liderou a seleção brasileira de futebol na conquista do bicampeonato mundial, disputado no Chile, em 1962.
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 22 de abril de 1963).
Imparcialidade? Nem tanto!
Com o poema acima, em homenagem ao segundo jogador de futebol mais genial que já vi jogar, reinauguro uma das três colunas de esporte que mais prazer me deram de escrever. As outras duas, que pretendo ressuscitar oportunamente, são a “Arquibancada” e “De primeira” (este nome é anterior ao site homônimo, nada a ver com ele e também não é plágio, pois o antecedeu). Muitos, certamente, vão contestar minha imparcialidade, já que sou “réu confesso” de ser apaixonado torcedor da Ponte Preta. Bobagem! Primeiro, nenhum colunista é absolutamente isento, por mais que jure ser. Segundo, como jornalista com muuuuuiiiita janela, sei distinguir senso crítico de paixão (pelo menos acho que sei). O que pode ocorrer, isto sim, é eu ser mais severo e até intransigente do que o normal com o meu time do coração, do qual sempre irei exigir nada menos do que a perfeição. No mais...
Por que aqui?
Meus poucos leitores do blog podem indagar, surpresos (se é que vão notar): “Uai, este espaço não é voltado à literatura?”. É, mas não exclusivamente a ela. Propõe-se a ser um espaço onde pretendo (e vou) mostrar tudo o que já escrevi ao longo dos meus quase 45 anos de carreira. E o que vier a escrever por muitos anos, claro! Nesse contexto, tenho planos de, eventualmente, resgatar, por exemplo, também uma das tantas colunas de televisão que já redigi. Talvez resgate a que durou mais anos, publicada (sem assinatura) no Correio Popular, entre 1983 e 1986.
E as regras, quais serão?
Quais serão as regras da coluna? Serão como tudo aqui no “O Escrevinhador”. Ou seja, não haverá regras. Farei o que, quando e como melhor me aprouver. Esta é a prerrogativa de ser dono de um blog. Ele só tem razão de existir se for livre, se eu não se tiver que dar satisfações a ninguém, se a criatividade não vier a ser engessada por quem ou pelo o que quer que for. Creio que os que freqüentarem este espaço vão gostar (como os que leram a coluna, num passado ainda recente, em jornais parecem ter gostado, a julgar por suas espontâneas manifestações por e-mail). Quanto à periodicidade... Bem, ainda não decidi qual será. A intenção é fazer uma coluna diária de esportes e não somente informativa, mas, sobretudo, crítica. Inicialmente, talvez esta seção seja, apenas, eventual, ou semanal, ou mensal, sei lá. E talvez não seja.
Reprodução liberada
Por que resgatar o “Toque de Letra” aqui no “O Escrevinhador” e não a publicar em jornais, como fiz por muito tempo? Por vários motivos. Um deles é que optei, há já dois anos, por me afastar da mídia impressa, que me deu baixíssimo retorno na carreira. O público que atinjo num único dia internet, sem nenhum exagero, é muito maior do que aquele que atingia em dez anos (leitores somados nesse período) no Correio Popular! Outra razão é que nenhum jornal se interessou em publicar a coluna, depois que aqueles que a publicavam deixaram de circular. Jornalismo (como ademais quase tudo na vida) é prática, é constância, é exercício. E não vejo sentido em desperdiçar um talento que desenvolvi, por tanto tempo, apenas porque, por enquanto, ninguém está disposto a me ceder uma “vitrine”. Isso contraria o meu senso de lógica e meu temperamento prático. Ora, se eu tenho a minha própria mídia, sem precisar dar satisfações para ninguém, por que não a usar? É o que farei! Se, eventualmente, algum jornal, site ou blog se interessarem em reproduzir o “Toque de Letra”, não haverá nenhum problema. Bastará que seus responsáveis entrem em contato comigo (e respeitem, logicamente, os direitos autorais) que, prazerosamente, darei meu consentimento, sem nenhuma formalidade ou frescura.
REFLEXÃO DO DIA
Uma descoberta, que é complicada, por ferir nosso amor próprio, é a das nossas limitações. Mas ela é importante. Se quisermos empreender conquistas, é indispensável sabermos onde estamos, o que somos e o que queremos, para que possamos escolher a estratégia e os meios para a nossa evolução. Não é necessário alardear nossas deficiências. Mas é indispensável que as identifiquemos e nos disponhamos a corrigir o que estiver incorreto. O dramaturgo Auguste Strindberg sintetiza essa postura: "Para mim, a alegria de viver está na dura e cruel luta pela vida. O aprender algo é para mim uma alegria". Para mim também!
Explosão de luz
Pedro J. Bondaczuk
A arte precisa ser instintiva, natural, selvagem e espontânea na sua concepção (claro que não na técnica) para merecer essa designação. Trata-se da única forma de sermos autênticos, sem representações e nem dissimulações. É a nossa carta de alforria, nossa absoluta e irrestrita liberdade. Ninguém é forçado a ser artista: músico, escritor, pintor, escultor, poeta... É uma escolha pessoal. Ou se é ou não se é. É o modo de que cada um dispõe para ser livre, para impor sua personalidade, para deixar sua marca no mundo. A aceitação ou não do que o artista produzir vai depender de critérios subjetivos de apreciação e de avaliação dos destinatários das obras produzidas. A arte, contudo, é o nosso "ADN"! É o nosso ser! É a nossa vez! É a nossa voz...e única...
Todos somos artistas potenciais, embora muitas vezes não pareça que seja assim. Ocorre que alguns (senão a maioria) sufocam esse pendor natural, voltados que estão para coisas aparentemente mais “importantes”, mais "sérias" e que, na verdade, quando submetidas a uma análise lógica mínima, se revelam supérfluas, triviais, fantasiosas e absolutamente dispensáveis. Só a arte dá dimensões divinas ao ser humano. É por seu intermédio que ele verdadeiramente se revela em toda a sua grandeza e transcendência. É a linguagem “dos anjos”, de que nos fala São Paulo, em uma de suas inspiradas cartas apostólicas.
A principal característica dos bons escritores (a arte que abracei) é a sua capacidade de observação. Ou seja, é o talento, desenvolvido com a prática e a disciplina, para captar todas as nuances da realidade e fazer delas matérias-primas de suas obras (poesia, conto, romance, crônica, não importa), conferindo-lhes a desejável verossimilhança.
Claro que o escritor deve dominar o idioma (exigência mínima, lógica, básica, óbvia e até primária), além de ser emérito comunicador. Tem que ser, sobretudo claro e inteligível, se possível para qualquer pessoa, mesmo que esta não tenha qualquer cultura. Quem escreve complicado é porque não tem, de fato, o que dizer. A beleza e a simplicidade andam sempre de mãos dadas.
Paulo Mendes Campos constatou que “o escritor, ao contrário da caneta-tinteiro, carrega-se devagar e se esvazia depressa”. Ou seja, despende muito mais tempo no estudo, na pesquisa, na observação, de tudo e de todos que o cercam, do que na redação dos seus textos, que fluem (se de fato tiver competência para a atividade) espontâneos e inteligíveis, sem maiores esforços.
Só a arte tem o condão de revelar a genuína grandeza do ser humano (em termos potenciais), a transcendência da vida e a beleza em toda a sua majestade e magnitude. Por meio dela, com a sua linguagem simbólica, realçada pelo talento, é que expressamos, sem enganos, dissimulações ou temores, os grandiosos ideais, tanto os individuais, quanto os coletivos (os da humanidade), esquecidos no dia-a-dia. Aqueles mesmos que nos empolgaram um dia, na juventude, mas que, na luta feroz do cotidiano, pelo pão nosso de cada dia, na batalha inglória pela sobrevivência, deixamos, pouco a pouco, se esvair e se perder no meio do caminho, em algum segmento do tempo.
Perguntam-me, amiúde, qual é minha fonte de inspiração. Ela é, confesso, a natural. É espontânea e, felizmente, freqüente. Gosto de dias quentes e ensolarados, de céu completamente azul, e cheios de luz. Um cenário radioso, como esse, faz com que eu releve meus problemas e os coloque em suas mesquinhas dimensões, para valorizar a vida no que ela tem de belo, transcendente e único. Ela é a matéria-prima dos textos que produzo.
Não nascemos, convenhamos, para desperdiçar nossas melhores energias com isso que aí está. Ou seja, com a luta mesquinha e desesperada por bens materiais que nada nos acrescentam, em detrimento do que nos é oferecido de graça pela natureza. Temos uma oportunidade única, que é o privilégio de viver, à qual não damos o devido valor. Transformamos, com nossa cobiça e intolerância, o paraíso num inferno.
Marc Chagall confessou, certa feita: “Em Paris a luz explodiu em mim como uma centelha de liberdade, de revolução”. Essa luz, essa centelha de liberdade e de revolução, essa veneração pela beleza explode em meu peito todas as manhãs, ao meu redor e ao redor de todas as pessoas que, no entanto, raramente se dão conta desse privilégio. Vêem mas não enxergam. Apostam na infelicidade e acabam, de fato, infelizes.
Uma das minhas maiores satisfações, físicas e espirituais, é o contato com a natureza. É, por exemplo, um passeio despreocupado por um bosque, com todos os sentidos alertas, usufruindo o aroma das flores, o canto dos pássaros, o frescor da sombra e o sabor exótico dos frutos silvestres. Ou é a caminhada preguiçosa e sem rumo por um jardim florido, com a explosão de cores, em cada canteiro, ao meu redor. Essa é a minha fonte de inspiração.
Claro que aquilo que tenho para expressar está em mim, adormecido no fundo da memória, pronto para ser despertado. E é a beleza o despertador da minha sensibilidade. Concordo com Le Corbusier quando diz: “A poesia está no coração dos homens; por isso, é preciso se abrir para as alegrias da natureza”. Temos que cuidar dela. Infelizmente, quase nunca fazemos isso. A natureza é, cada vez mais e há tanto tempo, extremamente agredida e muito judiada pela insensatez e pela cobiça dos estúpidos! Somos, porém, suas partes integrantes. Procedemos dela e a ela retornaremos.
Sem a natureza (se isso fosse possível), ou com ela devastada (o que ocorre há tanto tempo), certamente não sobreviveríamos (e não sobreviveremos). Morreríamos sufocados, esturricados e de inanição! Seria nossa inexorável extinção, tanto a física, quanto a espiritual (ambas, claro, definitivas). E, neste último caso, perderíamos o que de mais nobre e elevado temos e raramente exercitamos. Ou seja, a fome imensa, permanente e insaciável de beleza. Esta é a morte que luto, com todas as forças, para evitar! Daí apostar todas as “fichas” que a vida me deu na arte!
Tuesday, May 23, 2006
REFLEXÃO DO DIA
Criar, seja o que for, também é descobrir. É, sobretudo, ousar. É ter coragem para aceitar o risco do ridículo. É desafiar o sistema vigente com alguma novidade. É enriquecer o patrimônio da própria humanidade. É colher os frutos desse supremo ato com humildade. O norte-americano Michael Drury diz o seguinte a respeito: "A grande verdade, a verdade transformadora, é que ser criativo constitui uma descoberta – a descoberta de nós mesmos, de nossa maneira própria de reagir diante da vida. E descoberta é aquilo que ninguém sabia antes. É algo que se faz só, como nascer ou morrer".
Nosso lado Wong
Pedro J. Bondaczuk
O homem – embora busque, no correr de sua curta vida, estabelecer uma diferenciação em relação aos semelhantes, para marcar sua presença como ímpar e para impor seu "eu" – não tem, a rigor, individualidade. Pode parecer paradoxal, quando se sabe que nenhum indivíduo é exatamente igual a outro, nem mesmo os chamados gêmeos univitelinos. As diferenças, contudo, são incidentais. Estão em detalhes: físicos, psicológicos ou morais, entre outros. Cada pessoa é uma reprodução, em termos de raciocínio, de percepção do mundo e de reação a estímulos, dos ancestrais. Agregada à nossa memória individual temos a coletiva. Possuímos desejos, sensações e emoções que milhares, quiçá milhões já tiveram algum dia, em algum lugar.
Todos temos, dentro de nós, convivendo (nem sempre harmoniosamente) múltiplas personalidades, cada qual diferente da auto-imagem que procuramos passar ao próximo no convívio social. Há nas artes, e mais especificamente em literatura, o caso do escritor Fernando Pessoa, que levou ao extremo essa multiplicidade, com seus heterônimos. Propôs-se a ser "vários", com estilos, temas e até nomes diferentes, ao ponto de no início da carreira ser confundido com muitas pessoas. Não se concebia que uma obra tão heterogênea saísse de uma única cabeça. Mas saiu.
Mário Quintana, no livro "Sapato florido", aborda esse tema de forma saborosa em um texto intitulado "O estranho caso de mister Wong". Escreve: "Além do controlado Dr. Jekyll e do desrrecalcado Mister Hyde (em referência ao personagem de dupla personalidade de Robert Louis Stevenson em "O médico e o monstro"), há também um chinês dentro de nós: Mister Wong. Nem bom, nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo, neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekyll, muito compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca o olho e a alma no decote da senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na platéia...Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!"
Sequer é necessária a exortação. Todos damos espaço, em vários momentos de cada dia, ao inconseqüente chinês que trazemos dentro de nós, sem que nos apercebamos ou admitamos. A maior parte do nosso lazer no que consiste? E as coleções, seja lá do que for (caixas de fósforo, maços de cigarros vazios, selos, latas de cerveja, etc.), não significam o nosso Mister Wong em ação? Em um engarrafamento de trânsito, rotina em qualquer grande cidade, enquanto o Dr. Jekyll procura estudar caminhos alternativos, e Mister Hyde tem ímpetos de passar por cima do "flanelinha" que lhe lambuza o pára-brisas, o distraído chinês conta as placas dos carros vindos de outras localidades. Não é uma ação boa e nem ruim. É inócua. É gratuita. É desnecessária. É inconseqüente.
Mesmo que não nos apercebamos, é esse o nosso lado mais apreciado pelos que nos cercam, que inconscientemente se identificam como também sendo os seus. No entanto, por vaidade, presunção ou tolice, procuramos escondê-lo ou pelo menos disfarçá-lo ou inibi-lo. Somos, sobretudo, ambíguos. No fundo sabemos que nossa aparente seriedade nos confere um aspecto ridículo. No entanto, teimamos em conservá-la como fachada. Gilberto de Mello Kujawski, em um artigo publicado no "Caderno de Sábado" do "Jornal da Tarde", escreveu a respeito: "A condição humana se edifica sob o signo da ambigüidade. O homem não tem identidade. Mas seria caso de indagar se a ambigüidade não representa no homem o que ele tem de divino. Porque os deuses, tampouco, têm identidade".
Somos pessoas do nosso tempo e de nossa comunidade. Podemos adquirir até relativa notoriedade, não importa por qual razão, em nosso âmbito restrito. No plano mundial, pouquíssimos conseguem. Destes, menos ainda logram sobreviver a, digamos, uma década após sua morte. Aparência não conta, já que muda de um ano para o outro, quando não diariamente. Nome? Menos ainda. Não serve para caracterizar uma identidade. Somos incapazes de saber, entre nossos parentes próximos (e mais ainda remotos), quantos indivíduos se chamaram exatamente como nós. E até entre os que não possuem o mínimo parentesco. No Brasil há uma infinidade de pessoas com o nome José da Silva, entre outros. Na impossibilidade de estabelecer uma genuína identidade, que tal cultivarmos nosso lado moleque, nem bom e nem mau, mas só gratuito: o nosso Mister Wong?!
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