Sunday, January 01, 2012







Povo dinâmico e talentoso

Pedro J. Bondaczuk

Os maias, aos quais se atribui uma suposta “profecia” prevendo o fim do mundo para 21 de dezembro de 2012, se constituíram num povo dinâmico e de múltiplos talentos, nas artes, na ciência, na arquitetura e nos mais variados campos de atividade. E isso em uma época em que a maioria, no mundo, mal saía da era da pedra lascada para a de pedra polida, salvo poucas e honrosas exceções. Há quem os considere uma ramificação dos míticos atlântidas ou mesmo os próprios que teriam conseguido escapar da hecatombe do chamado “continente perdido”, que teria sido tragado pelo mar, entre 12.000 e 10.000 AC, ou seja, no final de uma das tantas eras glaciais da Terra.

Foram excepcionais astrônomos. Entre seus vários feitos, cite-se, por exemplo, o desenvolvimento de um sistema de contagem do tempo, isto é, de um calendário, muito mais evoluído do que o criado pela maioria dos povos. Era tão bom (se não melhor) quanto o grego e o romano, criados bem depois do seu. Além do que, os maias dominavam a matemática e faziam cálculos complicadíssimos com seu misterioso esquema de numeração.

Entre seus legados astronômicos, está uma tabela de eclipses lunares e solares que vai até o ano 3.000 da nossa era (o que contradiz com a “profecia” que lhes é atribuída, de que nosso mundo acabaria, ou acabará em 2012). Essa relação é sumamente precisa, como se os cálculos necessários tivessem sido feitos pelos mais modernos e sofisticados supercomputadores da atualidade. Tanto, que os astrônomos atuais não encontraram nela a menor falha. Todos os eclipses previstos, inclusive os mais recentes, os deste ano, ocorreram de fato e nas datas assinaladas.

Ao contrário do que os historiadores (não se sabe baseados no quê), tentam nos passar, ou seja da ideia de um povo supersticioso, ignorante e cruel, os maias eram alegres, cultos e bem informados. Apreciavam o esporte, as artes (principalmente a pintura e a escultura) e tinham uma cultura como poucos tinham naqueles tempos tão remotos e atrasados. Quanto mais pesquiso sobre esse povo, maior é o meu fascínio e espanto. Mas, também, crescem exponencialmente minha admiração e meu espanto pela forma misteriosa como seu império se dissolveu. O que aconteceu? É um mistério intrigante, que dá margem a inúmeras hipóteses e fantasias, sem que haja qualquer evidência concreta a fundamentá-las.

Nas artes, ou seja, na pintura e na escultura, as fontes de inspiração dos artistas maias eram muito diferentes das dos europeus e dos povos da Ásia. Não eram a caça, as guerras ou a natureza. Eram seres fantásticos, oníricos, que eles cultuavam como divindades. Os vestígios que deixaram para a posteridade indicam que eles tinham vida metódica, regrada e tranqüila e sugerem que, se travaram algumas guerras, estas teriam sido raríssimas e de caráter meramente defensivo.

Os pesquisadores localizaram, intactas, sob densa vegetação, centenas de pequenas cidades de pedra dos maias, ao longo de vasta área territorial, notadamente do México, da Guatemala e da antiga Honduras Britânicas, atual Belize. Chama a atenção a perícia de seus arquitetos e, sobretudo, dos seus construtores. As edificações são sólidas, harmoniosas e esteticamente belas.

Uma das obras mais espetaculares que deixaram é a Grande Pirâmide de Kukulcan, em cujo topo ficava o trono do Jaguar Vermelho. Há várias hipóteses sobre esse título honorífico. Alguns entendem que era a forma como o imperador era designado. Outros, que seria a designação do sumo sacerdote. Uma terceira corrente acha que uma só pessoa ocupava essa função, simultaneamente, de caráter tanto político, quanto religioso.

Esse magnífico monumento foi construído na bela cidade maia de Chichen-Itzá, na Península de Yucatã (aquela projeção de terra vizinha da Guatemala e de Belize), no extremo sul do México. Mas os talentos desses magníficos habitantes pré-colombianos das Américas não se restringiam, apenas, à pintura, escultura e arquitetura. Ou à matemática e à astronomia. Por se tratar de um povo agricultor, que plantava seu próprio alimento (em contraposição aos que viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos), tinham um cuidado muito especial com a água, que lhes era crucial.

Os maias desenvolveram sofisticadas técnicas de irrigação em suas lavouras. Construíram aquedutos e canais para transportar o precioso líquido das fontes, não raro muito distantes, até os locais em que era necessário e utilizado.

Para o leitor ter uma idéia quanto à perícia dos seus “engenheiros hidráulicos”, basta dizer que os sistemas de irrigação que criaram estão sendo resgatados há já bom tempo e aplicados por engenheiros-agrônomos das Nações Unidas, com absoluto sucesso, em países de terras áridas, com resultados positivos surpreendentes. São técnicas consideradas inovadoras e revolucionárias, mas que foram desenvolvidas vários séculos antes do nascimento de Cristo e por um povo tido e havido como “selvagem”, supersticioso e ignorante pelas pessoas mal-informadas e/ou alienadas.




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