Tuesday, January 17, 2012







Impunidade estimula novas ditaduras


Pedro J. Bondaczuk


Os ditadores, assim que são depostos, raramente permanecem em seus países para responder pelos desmandos que cometeram quando estavam no poder. Ou conseguem fugir, limpando, antes, os cofres públicos, indo viver, no “doce ócio”, em algum dos tantos recantos aprazíveis, destinados aos milionários, que há no mundo. Ou são exilados pelos líderes dos golpes que os depõem, sob o pretexto de que o novo regime instalado não deseja proceder com revanchismo.

De qualquer forma, quase sempre terminam impunes. Não respondem perante Justiça alguma por seus delitos. A razão disso é muito simples. Quase todos eles contam com o respaldo de alguma superpotência para permanecer por tantos anos no poder, em troca de determinados “favores”.

Dessa forma, o caudilhismo, criticado por todos, continua sobrevivendo no mundo, praticamente nos albores de um novo milênio. Jean-Claude Duvallier, em 7 de fevereiro de 1986, conseguiu fugir para a França, onde vive até hoje, sem maiores incômodos. Esboçou-se um arremedo de processo contra ele, objetivando forçar o ditador haitiano a devolver o que teria tirado de seu povo. A alegria e os anos de sofrimento, assim como a vida de seus opositores, obviamente, nem ele e nem ninguém podem jamais devolver. A tentativa de levar Baby Doc à julgamento não deu em nada.

A mesma coisa aconteceu com o filipino Ferdinand Marcos, que caiu, em 26 de fevereiro de 1986. Hoje, sua família luta para conseguir permissão para que esse bandido possa, pelo menos, morrer na terra natal, que ele não soube respeitar enquanto a governou com mão de ferro. O ditador é réu num processo nos Estados Unidos e seus bens estão bloqueados na Suíça.

Mas é muito duvidoso que o governo das Filipinas consiga reaver aquilo que pertence ao seu povo. Ontem, foi a vez de duas advogadas paraguaias entrarem com ação contra o ex-todopoderoso caudilho do Paraguai, general Alfredo Stroessner. Ambas querem que as novas autoridades do país requeiram a extradição do ex-ditador, que goza as delícias do Planalto Central, em Itumbiara, no Estado de Goiás, cumprindo exílio determinado pelo general Andrés Rodriguez, que o depôs.

Como Baby Doc e Ferdinand Marcos, Stroessner também caiu em um mês de fevereiro, fatídico para os cínicos e abjetos “gorilas” que tratam seus respectivos países como propriedade particular, pelo menos nos dois últimos anos.

A exemplo dos ditadores do Haiti e das Filipinas, o do Paraguai também vai acabar, quase que certamente, sendo simplesmente esquecido, como um mau sonho, um pesadelo que se tem e que não se deseja mais nem mesmo lembrar. E, mais uma vez, os crimes, desmandos e atos de corrupção que lhes são atribuídos vão ficar sem nenhuma punição.

Não se reivindica nenhuma espécie de revanchismo, obviamente, mas se quer, simplesmente, que seja feita justiça. Se um cidadão comum que delinqüe tem de se haver com a lei, por que não dar o mesmo tratamento a um governante, que trai a confiança do seu povo?

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 17 de fevereiro de 1989).


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