Gosto não se discute
Pedro J. Bondaczuk
Os critérios de avaliação de uma obra artística (qualquer uma) – e no caso que nos interessa, literária – são, sobretudo, subjetivos. A menos, claro, que esta se enquadre em um dos extremos. Que seja ou nitidamente patética, eivada de erros, quer formais – de grafia, concordância ou qualquer outra violação do idioma, no caso de se tratar de um texto ou de um livro – quer, e principalmente, conceituais, mais difíceis de serem detectados, contudo mais comprometedores, por induzirem leitores ao erro.
Ou, então – e as obras que se enquadram nesse caso são muito mais raras – que beirem à perfeição e obtenham o quase impossível consenso. As demais... Bem, dependem do gosto dos críticos e dos destinatários, na verdade “consumidores” do produto intelectual e/ou estético. E este, como a sabedoria popular propala, é coisa que não se discute.
Já li críticas acerbas, odiosas, ferozes e injustas sobre livros ostensivamente bem escritos, diria “quase” perfeitos – já que a perfeição em qualquer coisa nos é interdita – e até bem fundamentadas. Quais as razões desse tipo destrutivo, diria arrasador, de “avaliação”? Vá saber! Talvez apenas esses críticos pudessem explicar seus motivos (ou não). Em contrapartida, também já me caíram em mãos análises bastante elogiosas, de obras nitidamente patéticas, não raro ate ridículas, que me deixaram a impressão de que, quem as fez, não as leu, mas se limitou a passar os olhos pelos prefácios ou pelas “orelhas” dos volumes que tinham em mãos. Isso é mais comum do que se pensa.
Por essa razão, não compro livros (nem outros objetos de arte, como pinturas, esculturas, CDs, DVDs etc.) com base em avaliações alheias. Deixo-me guiar pela intuição. Quando errar, prefiro errar sozinho. Nas raras vezes que comprei baseado em opiniões dos outros, me decepcionei (quando as críticas eram elogiosas) ou me surpreendi (quando negativas).
Meus livros receberam avaliações (poucas) nos dois extremos. Algumas deram a entender que eram obras de um rematado boçal, escrevendo baboseiras atrás de baboseiras que, no entanto, não apontavam quais eram. Outras, davam a entender que beiravam à genialidade.
Com quem está a verdade? Com nenhum deles! “Nem tanto ao céu e nem tanto à terra”. Fosse importar-me com a crítica (que não a minha, certamente mais severa do que as dos mais severos entre os severos), jamais me arriscaria a redigir qualquer texto. Nem mesmo um reles bilhete de recado eu escreveria. O escritor precisa, acima de tudo, confiar no que faz, desde que, óbvio, tenha se preparado devidamente para exercer essa atividade. Caso contrário... Corra para se preparar.
A criatividade é algo muito sutil. Escrevi, certa feita, em uma crônica o seguinte a esse propósito: “Criar, seja o que for, também é descobrir. É, sobretudo, ousar. É ter coragem para aceitar o risco do ridículo. É desafiar o sistema vigente com alguma novidade. É enriquecer o patrimônio da própria humanidade. É colher os frutos desse supremo ato com humildade. O norte-americano Michael Drury diz o seguinte a respeito: ‘A grande verdade, a verdade transformadora, é que ser criativo constitui uma descoberta – a descoberta de nós mesmos, de nossa maneira própria de reagir diante da vida. E descoberta é aquilo que ninguém sabia antes. É algo que se faz só, como nascer ou morrer’. Mantenho hoje a mesma opinião.
Tempos depois, voltei ao tema (e voltarei quantas vezes julgar necessário para firmar minha posição a propósito). E escrevi, em outra crônica: “O processo de criação literária e, principalmente, o teor do que é criado, dependem muito de cada escritor. Têm a ver com sua cultura, sua vivência, sua autodisciplina, seu talento e com os ambientes que freqüentou, as pessoas que conheceu e seu grau de observação, além do óbvio: sua técnica, seu estilo, seu domínio do idioma e sua visão de vida”. Estou errado? Creio que não!
Arrematei da seguinte forma esse texto: “... cada gênero (poesia, crônica, ensaio, conto, novela e romance) tem seus próprios macetes, suas peculiaridades, suas regras características. O que deve prevalecer, acima de tudo, é o bom gosto. Para ter sucesso, é necessário que a obra literária tenha a capacidade natural de prender a atenção do leitor. E, mais do que isso, fazer dele um cúmplice, uma espécie de parceiro do ato criativo, o que é muito mais difícil do que parece, porém é compensador”.
Convenhamos, por mais genial e preparado que determinado escritor seja, jamais conseguirá ser criativo o tempo todo. Quando não se sentir assim, o que deve fazer? Parar de escrever? Não, não e não. É nessas ocasiões que deve exercitar à exaustão a redação de textos. Só que não precisa divulgá-los. Se o fizer, desde que não sejam eivados de erros, formais e/ou conceituais, é possível, até, que encontre receptividade. Afinal, “gosto não se discute” e nem todos os leitores são preparados para avaliar com isenção e correção o que lêem. Mas estará se expondo sem necessidade e poderá macular um prestígio, uma imagem, uma posição conquistados, quase sempre, a duras (quando não duríssimas) penas.
Caso eu fosse um sujeito suscetível a críticas, jamais escreveria, por exemplo, estas reflexões de hoje. Tão certo quanto dois mais dois são quatro, muitos acharão este texto detestável, pedante, arrogante e uma baboseira só. Em contrapartida, tenho a mesma certeza que haverá quem “ame” de paixão o que escrevi. Quem estará certo? Talvez as duas partes, cada qual com a sua ótica. O critério, no final das contas, será o que prevalece na avaliação de qualquer obra artística: na base do “gostei” e do “não gostei”. E, para o bem e para o mal, “gosto não se discute”.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Os critérios de avaliação de uma obra artística (qualquer uma) – e no caso que nos interessa, literária – são, sobretudo, subjetivos. A menos, claro, que esta se enquadre em um dos extremos. Que seja ou nitidamente patética, eivada de erros, quer formais – de grafia, concordância ou qualquer outra violação do idioma, no caso de se tratar de um texto ou de um livro – quer, e principalmente, conceituais, mais difíceis de serem detectados, contudo mais comprometedores, por induzirem leitores ao erro.
Ou, então – e as obras que se enquadram nesse caso são muito mais raras – que beirem à perfeição e obtenham o quase impossível consenso. As demais... Bem, dependem do gosto dos críticos e dos destinatários, na verdade “consumidores” do produto intelectual e/ou estético. E este, como a sabedoria popular propala, é coisa que não se discute.
Já li críticas acerbas, odiosas, ferozes e injustas sobre livros ostensivamente bem escritos, diria “quase” perfeitos – já que a perfeição em qualquer coisa nos é interdita – e até bem fundamentadas. Quais as razões desse tipo destrutivo, diria arrasador, de “avaliação”? Vá saber! Talvez apenas esses críticos pudessem explicar seus motivos (ou não). Em contrapartida, também já me caíram em mãos análises bastante elogiosas, de obras nitidamente patéticas, não raro ate ridículas, que me deixaram a impressão de que, quem as fez, não as leu, mas se limitou a passar os olhos pelos prefácios ou pelas “orelhas” dos volumes que tinham em mãos. Isso é mais comum do que se pensa.
Por essa razão, não compro livros (nem outros objetos de arte, como pinturas, esculturas, CDs, DVDs etc.) com base em avaliações alheias. Deixo-me guiar pela intuição. Quando errar, prefiro errar sozinho. Nas raras vezes que comprei baseado em opiniões dos outros, me decepcionei (quando as críticas eram elogiosas) ou me surpreendi (quando negativas).
Meus livros receberam avaliações (poucas) nos dois extremos. Algumas deram a entender que eram obras de um rematado boçal, escrevendo baboseiras atrás de baboseiras que, no entanto, não apontavam quais eram. Outras, davam a entender que beiravam à genialidade.
Com quem está a verdade? Com nenhum deles! “Nem tanto ao céu e nem tanto à terra”. Fosse importar-me com a crítica (que não a minha, certamente mais severa do que as dos mais severos entre os severos), jamais me arriscaria a redigir qualquer texto. Nem mesmo um reles bilhete de recado eu escreveria. O escritor precisa, acima de tudo, confiar no que faz, desde que, óbvio, tenha se preparado devidamente para exercer essa atividade. Caso contrário... Corra para se preparar.
A criatividade é algo muito sutil. Escrevi, certa feita, em uma crônica o seguinte a esse propósito: “Criar, seja o que for, também é descobrir. É, sobretudo, ousar. É ter coragem para aceitar o risco do ridículo. É desafiar o sistema vigente com alguma novidade. É enriquecer o patrimônio da própria humanidade. É colher os frutos desse supremo ato com humildade. O norte-americano Michael Drury diz o seguinte a respeito: ‘A grande verdade, a verdade transformadora, é que ser criativo constitui uma descoberta – a descoberta de nós mesmos, de nossa maneira própria de reagir diante da vida. E descoberta é aquilo que ninguém sabia antes. É algo que se faz só, como nascer ou morrer’. Mantenho hoje a mesma opinião.
Tempos depois, voltei ao tema (e voltarei quantas vezes julgar necessário para firmar minha posição a propósito). E escrevi, em outra crônica: “O processo de criação literária e, principalmente, o teor do que é criado, dependem muito de cada escritor. Têm a ver com sua cultura, sua vivência, sua autodisciplina, seu talento e com os ambientes que freqüentou, as pessoas que conheceu e seu grau de observação, além do óbvio: sua técnica, seu estilo, seu domínio do idioma e sua visão de vida”. Estou errado? Creio que não!
Arrematei da seguinte forma esse texto: “... cada gênero (poesia, crônica, ensaio, conto, novela e romance) tem seus próprios macetes, suas peculiaridades, suas regras características. O que deve prevalecer, acima de tudo, é o bom gosto. Para ter sucesso, é necessário que a obra literária tenha a capacidade natural de prender a atenção do leitor. E, mais do que isso, fazer dele um cúmplice, uma espécie de parceiro do ato criativo, o que é muito mais difícil do que parece, porém é compensador”.
Convenhamos, por mais genial e preparado que determinado escritor seja, jamais conseguirá ser criativo o tempo todo. Quando não se sentir assim, o que deve fazer? Parar de escrever? Não, não e não. É nessas ocasiões que deve exercitar à exaustão a redação de textos. Só que não precisa divulgá-los. Se o fizer, desde que não sejam eivados de erros, formais e/ou conceituais, é possível, até, que encontre receptividade. Afinal, “gosto não se discute” e nem todos os leitores são preparados para avaliar com isenção e correção o que lêem. Mas estará se expondo sem necessidade e poderá macular um prestígio, uma imagem, uma posição conquistados, quase sempre, a duras (quando não duríssimas) penas.
Caso eu fosse um sujeito suscetível a críticas, jamais escreveria, por exemplo, estas reflexões de hoje. Tão certo quanto dois mais dois são quatro, muitos acharão este texto detestável, pedante, arrogante e uma baboseira só. Em contrapartida, tenho a mesma certeza que haverá quem “ame” de paixão o que escrevi. Quem estará certo? Talvez as duas partes, cada qual com a sua ótica. O critério, no final das contas, será o que prevalece na avaliação de qualquer obra artística: na base do “gostei” e do “não gostei”. E, para o bem e para o mal, “gosto não se discute”.
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