Unindo o útil ao agradável
Pedro J. Bondaczuk
Existe pouca coisa no mundo, para o escritor, que seja mais chata do que a necessidade de justificar o que escreve. Aliás, essa chatice é extensiva a todas as atividades. Perde-se um tempo imenso, e precioso, com justificativas, que não trazem qualquer proveito a ninguém. Para quem escreve, isso se torna ainda mais penoso e aborrecido.
A Literatura é, no que diz respeito à produção, atividade rigorosamente solitária. É feita por uma única pessoa e exclusivamente por ela. Nos momentos de apuro, não tem a quem recorrer. Ou tem “garrafa para vender” ou corre o risco de resvalar para o ridículo. Ele é que tem que “policiar” o que escreve. A ele compete não cometer erros de conceito e muito menos de grafia, de gramática etc.
Por mais que tentemos estabelecer diálogo com o leitor, nossos textos findarão por ser, sempre, sempre e sempre, meros monólogos. Nunca saberemos se o que escrevemos será interpretado exatamente como queremos. Aliás, raramente o é. É um risco que teremos que correr.
Escrever é, mais ou menos, o que o escritor Cesare Pavese concluiu acerca da poesia. Ele afirmou, certa ocasião: “Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada”. Redigir qualquer texto literário é mais ou menos assim também.
Quando aceitei a tarefa de redigir estas crônicas, por solicitação de vários amigos, minha intenção inicial era a de fazer delas mero bate-papo diário entre companheiros que exercem e amam a mesma atividade. Ou seja, era para ser conversa descontraída, como as que temos uma vez ou outra num botequim qualquer, regada, muitas vezes, a cerveja ou a uísque, dependendo do gosto e, principalmente do bolso de cada um. Não visava, pois, me aprofundar em nenhum tema específico, até por falta de tempo para a devida pesquisa.
Lá um certo dia, entretanto, tive a infeliz idéia de tentar unir “o útil ao agradável”, pelo menos na minha ótica pessoal. Cismei de abordar assuntos que julgava seriam de grande valia notadamente para os aspirantes a escritores, já que sabia da alta freqüência de estudantes de Letras e de Jornalismo nos espaços que ocupo.
Foi a pior besteira que cometi. Antes me limitasse ao bla-bla-blá vazio e sem conteúdo, como a infinidade que há internet afora, embora “bonitinho” de se ler, valendo-me do mesmo artifício de que muito pseudoliterato se vale. Ou seja, do que costumo classificar de “pirotecnia verbal”. De textos muito bem escritos, sonoros, atraentes, mas absolutamente sem conteúdo.
Prevaleceu, todavia, meu lado de professor, que nunca me abandonou. Sem tempo para pesquisa, baseado, apenas, na experiência pessoal e na memória (que amigos exagerados classificam de “prodigiosa”), meti-me a abordar os mais variados aspectos dessa complexa e decepcionante atividade, da qual sobrevivo, tendo o cuidado de não deixar de comentar nada.
Ora, por mais que haja coisas a escrever sobre Literatura, o tema não é inesgotável (nada é). Mesmo que tivesse tempo para pesquisa (o que, reitero, não tenho), chegaria um momento em que, fatalmente, precisaria me repetir. Para que vocês tenham uma idéia das minhas dificuldades para ser minimamente original (e para que?!), informo que apenas de março para cá (28 de novembro de 2009), já redigi mais de 240 crônicas. Impressas, elas perfazem por volta de 700 páginas!!!
Apontem-me quem consegue a façanha de escrever tudo isso, e reitero, sem tempo para pesquisar e baseado exclusivamente na memória, sem se tornar, em dado momento, repetitivo! Em que lugar vocês já viram isso? Quem foi o autor de tamanha (e hoje sinto que inútil) empreitada e, ainda mais, tendo que, volta e meia, se explicar?
Continuarei, pois, fazendo como faço ao escrever um conto, um poema, um romance ou uma crônica. Farei tudo da minha maneira, como e quando quiser. E como acontece em relação aos meus livros, aqui, também, me submeterei ao veredito implacável do leitor. Mas sem me explicar de novo, por nenhum motivo, a quem quer que seja.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Existe pouca coisa no mundo, para o escritor, que seja mais chata do que a necessidade de justificar o que escreve. Aliás, essa chatice é extensiva a todas as atividades. Perde-se um tempo imenso, e precioso, com justificativas, que não trazem qualquer proveito a ninguém. Para quem escreve, isso se torna ainda mais penoso e aborrecido.
A Literatura é, no que diz respeito à produção, atividade rigorosamente solitária. É feita por uma única pessoa e exclusivamente por ela. Nos momentos de apuro, não tem a quem recorrer. Ou tem “garrafa para vender” ou corre o risco de resvalar para o ridículo. Ele é que tem que “policiar” o que escreve. A ele compete não cometer erros de conceito e muito menos de grafia, de gramática etc.
Por mais que tentemos estabelecer diálogo com o leitor, nossos textos findarão por ser, sempre, sempre e sempre, meros monólogos. Nunca saberemos se o que escrevemos será interpretado exatamente como queremos. Aliás, raramente o é. É um risco que teremos que correr.
Escrever é, mais ou menos, o que o escritor Cesare Pavese concluiu acerca da poesia. Ele afirmou, certa ocasião: “Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada”. Redigir qualquer texto literário é mais ou menos assim também.
Quando aceitei a tarefa de redigir estas crônicas, por solicitação de vários amigos, minha intenção inicial era a de fazer delas mero bate-papo diário entre companheiros que exercem e amam a mesma atividade. Ou seja, era para ser conversa descontraída, como as que temos uma vez ou outra num botequim qualquer, regada, muitas vezes, a cerveja ou a uísque, dependendo do gosto e, principalmente do bolso de cada um. Não visava, pois, me aprofundar em nenhum tema específico, até por falta de tempo para a devida pesquisa.
Lá um certo dia, entretanto, tive a infeliz idéia de tentar unir “o útil ao agradável”, pelo menos na minha ótica pessoal. Cismei de abordar assuntos que julgava seriam de grande valia notadamente para os aspirantes a escritores, já que sabia da alta freqüência de estudantes de Letras e de Jornalismo nos espaços que ocupo.
Foi a pior besteira que cometi. Antes me limitasse ao bla-bla-blá vazio e sem conteúdo, como a infinidade que há internet afora, embora “bonitinho” de se ler, valendo-me do mesmo artifício de que muito pseudoliterato se vale. Ou seja, do que costumo classificar de “pirotecnia verbal”. De textos muito bem escritos, sonoros, atraentes, mas absolutamente sem conteúdo.
Prevaleceu, todavia, meu lado de professor, que nunca me abandonou. Sem tempo para pesquisa, baseado, apenas, na experiência pessoal e na memória (que amigos exagerados classificam de “prodigiosa”), meti-me a abordar os mais variados aspectos dessa complexa e decepcionante atividade, da qual sobrevivo, tendo o cuidado de não deixar de comentar nada.
Ora, por mais que haja coisas a escrever sobre Literatura, o tema não é inesgotável (nada é). Mesmo que tivesse tempo para pesquisa (o que, reitero, não tenho), chegaria um momento em que, fatalmente, precisaria me repetir. Para que vocês tenham uma idéia das minhas dificuldades para ser minimamente original (e para que?!), informo que apenas de março para cá (28 de novembro de 2009), já redigi mais de 240 crônicas. Impressas, elas perfazem por volta de 700 páginas!!!
Apontem-me quem consegue a façanha de escrever tudo isso, e reitero, sem tempo para pesquisar e baseado exclusivamente na memória, sem se tornar, em dado momento, repetitivo! Em que lugar vocês já viram isso? Quem foi o autor de tamanha (e hoje sinto que inútil) empreitada e, ainda mais, tendo que, volta e meia, se explicar?
Continuarei, pois, fazendo como faço ao escrever um conto, um poema, um romance ou uma crônica. Farei tudo da minha maneira, como e quando quiser. E como acontece em relação aos meus livros, aqui, também, me submeterei ao veredito implacável do leitor. Mas sem me explicar de novo, por nenhum motivo, a quem quer que seja.
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