Estética e conteúdo
Pedro J. Bondaczuk
A estética e o conteúdo são incompatíveis em um texto literário? Explico melhor, é possível escrever, digamos, um ensaio (ou crônica, não importa) profundo, denso, reflexivo, original e útil e, ainda por cima, belo? Muitos acham que não. Eu, contudo, entendo que sim.
É a condição pela qual batalho. Mas com uma ressalva: beleza e conteúdo têm que ser espontâneos. Não pode haver preocupação, a priori, do autor, com uma ou com outra dessas características. Elas têm que lhe ser intrínsecas. Que diabos, refiro-me a um “escritor”, não a alguém recém-alfabetizado, e muito mal!!
Quando faço referência ao “texto estético”, não utilizo a expressão para contrapor ao que seja mal-escrito, relaxado, eivado de erros conceituais e, principalmente, gramaticais. Cometer essas falhas é uma heresia. Caso uma pessoa não consiga se expressar por escrito de maneira correta, é melhor que não escreva nunca. A escrita certamente não será a sua praia. Textos “errados” podem ser tudo, menos literários. Chegam a ser até perigosos, por induzirem outras pessoas despreparadas também a erros.
Escrever “bonito” é ser criativo na escolha de metáforas. É saber utilizá-las oportunamente e na medida certa, nem demais e nem de menos. E estas devem ter uma função explicativa no texto. Ou seja, não podem ser meros penduricalhos. A prioridade tem que ser sempre, sempre e sempre o conteúdo, o que se quer dizer, o como conduzir o leitor ao aprendizado e à reflexão.
Leio, amiúde, textos à primeira vista belíssimos. Todavia, quando submetidos à mínima análise, revelam-se ocos, vazios, óbvios, redundantes e, sobretudo, inúteis. Melhor seria se não fossem escritos, para evitar perda de tempo: de quem escreveu e nossa, leitores.
Passados no “coador”, eles não deixam vestígios de idéias, o mínimo “resíduo”, nem de pensamentos, nem de sentimentos, nem de ensinamentos, nem de sugestões e sequer de insinuações. Ao cabo da leitura conclui-se, facilmente, que o autor não tinha o que escrever. E por que, então, escreveu? Certamente ele não saberia responder.
O gênero que me enseja mais oportunidades de escrever textos com conteúdo e, ocasionalmente, belos, é o ensaio. Modelos perfeitos desse tipo de escrita vamos encontrar em consagrados ensaístas, como, principalmente, Henry David Thoreau, meu preferido (e o da maioria dos norte-americanos, que estudam esse autor, na matéria Literatura inglesa, desde o curso secundário até a universidade) e no francês Montaigne, tido e havido como o seu criador. Há muitos outros, evidentemente, mas deixo por conta da memória de cada um lembrá-los.
Destaco que as reflexões suscitadas pelos bosques de Walden, em Thoreau, e que ele compartilhou com o mundo, são o melhor exemplo de texto com profundo conteúdo e, ainda assim, com inegável senso estético. E ele nunca se considerou poeta. Foi, isso sim, o inspirador de Mohandas Karamanchand Gandhi em sua tática de desobediência civil, ou seja, de resistência pacífica à opressão, que resultou na independência da Índia.
Li, também, crônicas belíssimas, contendo ambas as características, ou seja, beleza e conteúdo, com uma sempre ressaltando e valorizando a importância da outra. Curiosamente, as modelares foram escritas (salvo uma ou outra exceção) por poetas.
Cito, por exemplo, uma que me vem de imediato à memória, de Mário Quintana, com reflexões magníficas e belíssimas sobre o amor. Procurem na internet que vocês a acharão. Ela vale a pena ser lida. As crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna, também, são todas assim. Ou seja, inteligentes, provocativas, reflexivas e úteis. E sempre belas... Por isso, o invejo.
Antes que tentem me crucificar, apresso-me a esclarecer. Há dois tipos de inveja: um sumamente negativo e condenável e outro que na verdade é um elogio ao “invejado”, uma espécie de reverência ao seu talento e competência. O significado mau dessa palavra é aquele que levou Caim e matar Abel, conforme a alegoria bíblica. O bom, por seu turno, é o que sinto quando leio alguma crônica (ou algum poema, diga-se de passagem) de Affonso Romano, entre outros tantos escritores. Essa inveja consiste em sonhar em vir a ter seu talento para escrever textos como o que estou admirando.
Quem nunca se pilhou, já, desejando, secretamente, escrever como Drummond, como Guimarães Rosa ou como Érico Veríssimo? Se houver alguém, esse, com certeza, não aprecia literatura ou é um tremendo mentiroso. É a esse tipo de “inveja”, uma espécie de admiração superlativa, que me refiro. É o que me empenho em despertar em centenas, milhares, quiçá milhões de leitores, quem sabe. Caso tanta gente a sinta em relação à minha forma de escrever, será o indicativo mais seguro de que estou no caminho certo para me tornar excelente escritor. Ou seja, que consegui aliar conteúdo e beleza no que escrevo. Que, aliás, não são, como os medíocres entendem, incompatíveis.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A estética e o conteúdo são incompatíveis em um texto literário? Explico melhor, é possível escrever, digamos, um ensaio (ou crônica, não importa) profundo, denso, reflexivo, original e útil e, ainda por cima, belo? Muitos acham que não. Eu, contudo, entendo que sim.
É a condição pela qual batalho. Mas com uma ressalva: beleza e conteúdo têm que ser espontâneos. Não pode haver preocupação, a priori, do autor, com uma ou com outra dessas características. Elas têm que lhe ser intrínsecas. Que diabos, refiro-me a um “escritor”, não a alguém recém-alfabetizado, e muito mal!!
Quando faço referência ao “texto estético”, não utilizo a expressão para contrapor ao que seja mal-escrito, relaxado, eivado de erros conceituais e, principalmente, gramaticais. Cometer essas falhas é uma heresia. Caso uma pessoa não consiga se expressar por escrito de maneira correta, é melhor que não escreva nunca. A escrita certamente não será a sua praia. Textos “errados” podem ser tudo, menos literários. Chegam a ser até perigosos, por induzirem outras pessoas despreparadas também a erros.
Escrever “bonito” é ser criativo na escolha de metáforas. É saber utilizá-las oportunamente e na medida certa, nem demais e nem de menos. E estas devem ter uma função explicativa no texto. Ou seja, não podem ser meros penduricalhos. A prioridade tem que ser sempre, sempre e sempre o conteúdo, o que se quer dizer, o como conduzir o leitor ao aprendizado e à reflexão.
Leio, amiúde, textos à primeira vista belíssimos. Todavia, quando submetidos à mínima análise, revelam-se ocos, vazios, óbvios, redundantes e, sobretudo, inúteis. Melhor seria se não fossem escritos, para evitar perda de tempo: de quem escreveu e nossa, leitores.
Passados no “coador”, eles não deixam vestígios de idéias, o mínimo “resíduo”, nem de pensamentos, nem de sentimentos, nem de ensinamentos, nem de sugestões e sequer de insinuações. Ao cabo da leitura conclui-se, facilmente, que o autor não tinha o que escrever. E por que, então, escreveu? Certamente ele não saberia responder.
O gênero que me enseja mais oportunidades de escrever textos com conteúdo e, ocasionalmente, belos, é o ensaio. Modelos perfeitos desse tipo de escrita vamos encontrar em consagrados ensaístas, como, principalmente, Henry David Thoreau, meu preferido (e o da maioria dos norte-americanos, que estudam esse autor, na matéria Literatura inglesa, desde o curso secundário até a universidade) e no francês Montaigne, tido e havido como o seu criador. Há muitos outros, evidentemente, mas deixo por conta da memória de cada um lembrá-los.
Destaco que as reflexões suscitadas pelos bosques de Walden, em Thoreau, e que ele compartilhou com o mundo, são o melhor exemplo de texto com profundo conteúdo e, ainda assim, com inegável senso estético. E ele nunca se considerou poeta. Foi, isso sim, o inspirador de Mohandas Karamanchand Gandhi em sua tática de desobediência civil, ou seja, de resistência pacífica à opressão, que resultou na independência da Índia.
Li, também, crônicas belíssimas, contendo ambas as características, ou seja, beleza e conteúdo, com uma sempre ressaltando e valorizando a importância da outra. Curiosamente, as modelares foram escritas (salvo uma ou outra exceção) por poetas.
Cito, por exemplo, uma que me vem de imediato à memória, de Mário Quintana, com reflexões magníficas e belíssimas sobre o amor. Procurem na internet que vocês a acharão. Ela vale a pena ser lida. As crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna, também, são todas assim. Ou seja, inteligentes, provocativas, reflexivas e úteis. E sempre belas... Por isso, o invejo.
Antes que tentem me crucificar, apresso-me a esclarecer. Há dois tipos de inveja: um sumamente negativo e condenável e outro que na verdade é um elogio ao “invejado”, uma espécie de reverência ao seu talento e competência. O significado mau dessa palavra é aquele que levou Caim e matar Abel, conforme a alegoria bíblica. O bom, por seu turno, é o que sinto quando leio alguma crônica (ou algum poema, diga-se de passagem) de Affonso Romano, entre outros tantos escritores. Essa inveja consiste em sonhar em vir a ter seu talento para escrever textos como o que estou admirando.
Quem nunca se pilhou, já, desejando, secretamente, escrever como Drummond, como Guimarães Rosa ou como Érico Veríssimo? Se houver alguém, esse, com certeza, não aprecia literatura ou é um tremendo mentiroso. É a esse tipo de “inveja”, uma espécie de admiração superlativa, que me refiro. É o que me empenho em despertar em centenas, milhares, quiçá milhões de leitores, quem sabe. Caso tanta gente a sinta em relação à minha forma de escrever, será o indicativo mais seguro de que estou no caminho certo para me tornar excelente escritor. Ou seja, que consegui aliar conteúdo e beleza no que escrevo. Que, aliás, não são, como os medíocres entendem, incompatíveis.
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