Consciência, inteligência e ação
Pedro J. Bondaczuk
A exata percepção de todas as informações que recebemos (não importa por quais meios) – de tudo o que fazemos, do que nos fazem e, enfim, do que nos acontece ao longo da vida e se constitui no nosso acervo de experiências pessoais – e a sua conseqüente fixação na memória, é o que se convencionou chamar de consciência. A maioria das pessoas não sabe o que fazer com a maior parte do que aprende.
Determinados indivíduos, por exemplo, cometem, sempre e sempre e sempre os mesmos erros e afrontam, claro, as mesmas conseqüências, sem que se decidam a mudar de atitude. São incapazes de perceber que agindo dessa forma não chegarão a lugar algum. Sabem o que é certo, mas não o praticam. São experientes, no entanto, não são conscientes.
Quanto mais conseguirmos transformar um vasto cabedal de experiência em consciência, e usá-lo em nosso proveito, mais chances teremos de evitar aborrecimentos inúteis e desnecessários e de evoluir na vida, sem sustos ou sobressaltos. A constatação é do escritor francês, André Malraux, que escreveu, num de seus tantos ensaios, em forma de indagação (cuja resposta nos é, sobretudo, óbvia): “O que pode um homem fazer de melhor de sua vida que transformar em consciência a mais ampla experiência possível?” Já escrevi a esse respeito, mas nunca é demais voltar ao tema.
A consciência, no entanto, é uma espécie de espelho, ao qual recorremos, com freqüência, apenas quando nos consideramos “belos”. Ou seja, quando achamos que somos nobres, justos e bondosos. Em caso contrário... evitamo-la. E quando sentimos algum remorso, que é um dos aspectos da consciência, buscamos logo nos livrar dele, calando sua voz por todos os meios que conhecemos.
Deveríamos, contudo, consultá-la diariamente, como fazemos, aliás, com os espelhos de verdade. Machado de Assis fez uma constatação bastante interessante a esse propósito, no romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Escreveu: “Por que é que uma mulher bonita olha muitas vezes para o espelho, senão porque se acha bonita, e porque isso lhe dá uma certa superioridade sobre uma multidão de outras mulheres menos bonitas ou absolutamente feias? A consciência é a mesma coisa; remira-se, amiúde, quando se acha bela. Nem o remorso é outra coisa mais do que o trejeito de uma consciência que se vê hedionda”. E ele não está certo?
Não podemos nos fiar, apenas, na inteligência para tentarmos concretizar sonhos e/ou projetos. Esta ajuda, não há dúvidas, mas sozinha é inerme e não nos leva a lugar algum. Precisa do auxílio de uma série de sentimentos que a impulsionem e a faça efetiva. Por exemplo, precisamos de fé em nossas possibilidades. Se iniciarmos algum empreendimento, sem acreditarmos no seu sucesso, é melhor que sequer venhamos a despender energias. Ele estará, liminarmente, fadado ao fracasso.
Outra emoção valiosa é a esperança, desde que respaldada por ações. Se nada esperarmos da vida, senão seu complemento, a morte, já estaremos espiritualmente mortos, mesmo que isso não nos seja aparente. O escritor francês, Roger Gard, escreveu o seguinte a esse respeito: “A inteligência só conduz à inação. É a fé que dá ao homem o ímpeto indispensável para agir e o entendimento para perseverar”. Notem que o ilustre pensador não defendeu a burrice como forma de obter o sucesso em nossos empreendimentos. Longe disso! Apenas ressaltou que a inteligência, sem o respaldo de outras virtudes, é impotente para promover, sozinha, o êxito que tanto almejamos.
Estabelecida nossa convicção sobre o que planejamos fazer, e definido esse rumo com a máxima segurança e certeza, nada é mais conveniente e rápido do que, no dorso do “cavalo” da paixão, galoparmos, livres e confiantes, rumo ao sucesso e à felicidade. Não podemos, contudo, galopar no “puro-sangue” xucro, que não se deixa montar por ninguém. Devemos fazê-lo, isso sim, no da paixão que nos é benigna, precedida, invariavelmente, de irrestrita certeza do que pretendemos fazer e/ou conquistar e devidamente “domada”.
Refiro-me à que moveu Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt, Velazquez, Rafael, Van Gogh, Monet, Manet, Beethoven, Tchaikowsky, Mozart, Virginia Woolf, Marguerite Yourcenar, Marie Curie e tantos e tantos outros artistas, gênios, cientistas e líderes vencedores, que sob seu domínio, jamais desistiram de suas causas e projetos e aproximaram-se da perfeição. Esses homens e mulheres talentosos e determinados foram apaixonados pelo que pretenderam ou defenderam. Domaram o “puro-sangue” xucro e puseram-no a seu serviço, galopando, confiantes e convictos, rumo aos objetivos que traçaram. Poderiam alcançar suas metas sem paixão? Talvez até pudessem, dada a grandeza dos seus talentos. Tenho, contudo, minhas dúvidas.
A ação, no meu modo de avaliar, é sempre um ato de fé. É fruto da crença em nossas forças, nossa capacidade e nossa criatividade. Não se age, convenhamos, quando não se acredita nos efeitos da ação, ou seja, nos resultados positivos dela. A menos, é verdade, que se esteja sob irresistível pressão, premido pelas circunstâncias, com risco iminente à integridade física, quando não à vida e, por isso, em sérios apuros.
Essa situação, porém, é diferente. Não se trata, propriamente, de uma ação, mas de “reação” a determinado perigo ou circunstância. Agir é sempre contar com a iniciativa. É atuar espontaneamente, sem que nada e ninguém nos induzam a essa atuação. É fazer o que tem quer ser feito à nossa maneira e no tempo que julgarmos apropriado para tal. E essa iniciativa só temos quando acreditamos nos resultados que irão decorrer da nossa ação. Ninguém se esforça para perder propositalmente. A derrota pode acontecer, mas se ocorrer, será à nossa revelia.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A exata percepção de todas as informações que recebemos (não importa por quais meios) – de tudo o que fazemos, do que nos fazem e, enfim, do que nos acontece ao longo da vida e se constitui no nosso acervo de experiências pessoais – e a sua conseqüente fixação na memória, é o que se convencionou chamar de consciência. A maioria das pessoas não sabe o que fazer com a maior parte do que aprende.
Determinados indivíduos, por exemplo, cometem, sempre e sempre e sempre os mesmos erros e afrontam, claro, as mesmas conseqüências, sem que se decidam a mudar de atitude. São incapazes de perceber que agindo dessa forma não chegarão a lugar algum. Sabem o que é certo, mas não o praticam. São experientes, no entanto, não são conscientes.
Quanto mais conseguirmos transformar um vasto cabedal de experiência em consciência, e usá-lo em nosso proveito, mais chances teremos de evitar aborrecimentos inúteis e desnecessários e de evoluir na vida, sem sustos ou sobressaltos. A constatação é do escritor francês, André Malraux, que escreveu, num de seus tantos ensaios, em forma de indagação (cuja resposta nos é, sobretudo, óbvia): “O que pode um homem fazer de melhor de sua vida que transformar em consciência a mais ampla experiência possível?” Já escrevi a esse respeito, mas nunca é demais voltar ao tema.
A consciência, no entanto, é uma espécie de espelho, ao qual recorremos, com freqüência, apenas quando nos consideramos “belos”. Ou seja, quando achamos que somos nobres, justos e bondosos. Em caso contrário... evitamo-la. E quando sentimos algum remorso, que é um dos aspectos da consciência, buscamos logo nos livrar dele, calando sua voz por todos os meios que conhecemos.
Deveríamos, contudo, consultá-la diariamente, como fazemos, aliás, com os espelhos de verdade. Machado de Assis fez uma constatação bastante interessante a esse propósito, no romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Escreveu: “Por que é que uma mulher bonita olha muitas vezes para o espelho, senão porque se acha bonita, e porque isso lhe dá uma certa superioridade sobre uma multidão de outras mulheres menos bonitas ou absolutamente feias? A consciência é a mesma coisa; remira-se, amiúde, quando se acha bela. Nem o remorso é outra coisa mais do que o trejeito de uma consciência que se vê hedionda”. E ele não está certo?
Não podemos nos fiar, apenas, na inteligência para tentarmos concretizar sonhos e/ou projetos. Esta ajuda, não há dúvidas, mas sozinha é inerme e não nos leva a lugar algum. Precisa do auxílio de uma série de sentimentos que a impulsionem e a faça efetiva. Por exemplo, precisamos de fé em nossas possibilidades. Se iniciarmos algum empreendimento, sem acreditarmos no seu sucesso, é melhor que sequer venhamos a despender energias. Ele estará, liminarmente, fadado ao fracasso.
Outra emoção valiosa é a esperança, desde que respaldada por ações. Se nada esperarmos da vida, senão seu complemento, a morte, já estaremos espiritualmente mortos, mesmo que isso não nos seja aparente. O escritor francês, Roger Gard, escreveu o seguinte a esse respeito: “A inteligência só conduz à inação. É a fé que dá ao homem o ímpeto indispensável para agir e o entendimento para perseverar”. Notem que o ilustre pensador não defendeu a burrice como forma de obter o sucesso em nossos empreendimentos. Longe disso! Apenas ressaltou que a inteligência, sem o respaldo de outras virtudes, é impotente para promover, sozinha, o êxito que tanto almejamos.
Estabelecida nossa convicção sobre o que planejamos fazer, e definido esse rumo com a máxima segurança e certeza, nada é mais conveniente e rápido do que, no dorso do “cavalo” da paixão, galoparmos, livres e confiantes, rumo ao sucesso e à felicidade. Não podemos, contudo, galopar no “puro-sangue” xucro, que não se deixa montar por ninguém. Devemos fazê-lo, isso sim, no da paixão que nos é benigna, precedida, invariavelmente, de irrestrita certeza do que pretendemos fazer e/ou conquistar e devidamente “domada”.
Refiro-me à que moveu Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt, Velazquez, Rafael, Van Gogh, Monet, Manet, Beethoven, Tchaikowsky, Mozart, Virginia Woolf, Marguerite Yourcenar, Marie Curie e tantos e tantos outros artistas, gênios, cientistas e líderes vencedores, que sob seu domínio, jamais desistiram de suas causas e projetos e aproximaram-se da perfeição. Esses homens e mulheres talentosos e determinados foram apaixonados pelo que pretenderam ou defenderam. Domaram o “puro-sangue” xucro e puseram-no a seu serviço, galopando, confiantes e convictos, rumo aos objetivos que traçaram. Poderiam alcançar suas metas sem paixão? Talvez até pudessem, dada a grandeza dos seus talentos. Tenho, contudo, minhas dúvidas.
A ação, no meu modo de avaliar, é sempre um ato de fé. É fruto da crença em nossas forças, nossa capacidade e nossa criatividade. Não se age, convenhamos, quando não se acredita nos efeitos da ação, ou seja, nos resultados positivos dela. A menos, é verdade, que se esteja sob irresistível pressão, premido pelas circunstâncias, com risco iminente à integridade física, quando não à vida e, por isso, em sérios apuros.
Essa situação, porém, é diferente. Não se trata, propriamente, de uma ação, mas de “reação” a determinado perigo ou circunstância. Agir é sempre contar com a iniciativa. É atuar espontaneamente, sem que nada e ninguém nos induzam a essa atuação. É fazer o que tem quer ser feito à nossa maneira e no tempo que julgarmos apropriado para tal. E essa iniciativa só temos quando acreditamos nos resultados que irão decorrer da nossa ação. Ninguém se esforça para perder propositalmente. A derrota pode acontecer, mas se ocorrer, será à nossa revelia.
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