Antes tarde...
Pedro J. Bondaczuk
Há livros que há anos quero ler, mas que, por um motivo ou outro, não consigo. E essas razões são várias. Vão desde o fato de estarem esgotados e serem impossíveis de encontrar até em sebos, até falta de dinheiro para a sua aquisição, já que minha verba para esse fim, embora expressiva para os padrões brasileiros, é curtíssima para satisfazer todos meus gostos, caprichos e necessidades. Como não estou nadando em reais, dólares, euros ou mesmo guaranis, sou muito cuidadoso na elaboração da minha lista mensal de compra de livros. E a prioridade são as obras de autores brasileiros. Só quando não há nada que me interesse de escritores nacionais é que me arrisco a adquirir de estrangeiros. Parece xenofobia, não é mesmo? Mas não é. É carência mesmo.
Há anos (diria, décadas), estava com vontade de ler o romance de estréia do amazonense, descendente de libaneses, Milton Hatoum, “Relato de um certo Oriente”, lançado em 1989 pela Companhia das Letras. Por uma razão ou por outra, ensaiei, ensaiei e ensaiei a compra desse livro, mas nunca deu certo. O tempo passava e eu ficava pelo caminho. Ou seja, deixava de comprar esse romance. Agora, felizmente, posso satisfazer mais uma das minhas vontades. Recentemente, a Editora Companhia de Bolso relançou o romance de Hatoum. Comprei-o, li-o avidamente e pude entender a razão dele fazer tanto sucesso. Esta é uma belíssima aquisição! Recomendo-lhe, amigo leitor, que leia esse livro, caso, lógico, não o tenha lido.
A história se passa em Manaus, cidade que o escritor amazonense conhece tão bem, por ter nascido nela, embora, aos 15 anos, tenha ido morar em Brasília, onde fez grande parte dos seus estudos, e posteriormente São Paulo, onde os completou. Já residiu, também, em Barcelona, Madri, Paris (onde fez pós-graduação) e teve a oportunidade de conhecer o Líbano, país de seus ascendentes.
A história de “Relato de um certo Oriente” é contada por uma mulher, narradora cujo nome não é revelado, embora se trate de figura central da trama. Ela regressa a Manaus, mais especificamente, à casa da sua infância, após um tempão de ausência, vinte anos se não me engano, e justo na ocasião da morte da mãe adotiva. A narradora, então, mantém um “diálogo” (na verdade, monólogo) por carta com o irmão, residente em Barcelona, resgatando, por esse meio, a memória da família.
Não, não se preocupe, caríssimo leitor. Pode comprar o livro tranquilamente, pois sequer esboçarei uma sinopse desse romance. Sou escritor e sei o quanto pesa o fator surpresa na apreciação de uma obra literária, notadamente de ficção. Daí evitar, sempre que posso, as sinopses, a menos que consiga redigi-las sumamente vagas, para não assumir o impopular papel do estraga-prazeres.
Milton Hatoum nasceu em 19 de agosto de 1952. Fará, portanto, na metade de 2011, 59 anos de idade. Tem, como se vê (e felizmente), muita, muitíssima lenha ainda para queimar. Depois de “Relato de um certo Oriente”, o romancista amazonense publicou mais três romances, os quais, estes sim, tive a oportunidade de ler na ocasião Dops respectivos lançamentos e cujos volumes ocupam lugar de destaque em minha biblioteca. São, pela ordem: “Dois irmãos”, “Cinzas da noite” (com o qual venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura) e “Órfãos do Eldorado”.
Conhecendo sua literatura, como já conheço, não vejo exagero nenhum em afirmar que Milton Hatoum se constitui, na atualidade, em um dos melhores escritores brasileiros, traduzido para diversas línguas e sem ter que provar mais coisíssima alguma a quem quer que seja (o que já não posso dizer a meu próprio respeito, porquanto minha obra ainda está na berlinda. Mas chegarei lá!).
Para dizer o de menos, desse relativamente jovem escritor, basta informar que já conquistou três Prêmios Jabuti, façanha que não é para qualquer um. Aos poucos, vai conquistando também um público cada vez mais numeroso e fiel. Seus livros já venderam ao redor de 300 mil exemplares, o que é considerável façanha, em se tratando de Brasil, onde, um escritor que esgote uma reles edição de 2 mil volumes já se considera (e com certa razão), um “best-seller”. Algum motivo deve haver para tanto sucesso, não é mesmo?. E há. Chama-se qualidade!
Milton Hatoum é, além de escritor, arquiteto e mestre em Letras pela Universidade de São Paulo. Lecionou língua e literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas. Foi, também, professor-visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos.
Agora que já conheço os quatro livros de Milton Hatoum, posso dizer que entre as várias características da sua literatura que me agradaram, está a ambientação das histórias na Amazônia, região que mexe muito com minha imaginação, homem típico do Sul do País que sou. Outro ponto que me agrada é o valor que dá às memórias, mesmo que seja impossível manter sua integridade. Estão vendo como, às vezes, vale a pena ser teimoso? E eu sou, e muito. Um livro que eu vinha cobiçando desde 1989, ou seja, há 22 anos, finalmente se incorporou ao meu acervo de conhecimentos, e com o destaque que tanto merece. Antes tarde...
Pedro J. Bondaczuk
Há livros que há anos quero ler, mas que, por um motivo ou outro, não consigo. E essas razões são várias. Vão desde o fato de estarem esgotados e serem impossíveis de encontrar até em sebos, até falta de dinheiro para a sua aquisição, já que minha verba para esse fim, embora expressiva para os padrões brasileiros, é curtíssima para satisfazer todos meus gostos, caprichos e necessidades. Como não estou nadando em reais, dólares, euros ou mesmo guaranis, sou muito cuidadoso na elaboração da minha lista mensal de compra de livros. E a prioridade são as obras de autores brasileiros. Só quando não há nada que me interesse de escritores nacionais é que me arrisco a adquirir de estrangeiros. Parece xenofobia, não é mesmo? Mas não é. É carência mesmo.
Há anos (diria, décadas), estava com vontade de ler o romance de estréia do amazonense, descendente de libaneses, Milton Hatoum, “Relato de um certo Oriente”, lançado em 1989 pela Companhia das Letras. Por uma razão ou por outra, ensaiei, ensaiei e ensaiei a compra desse livro, mas nunca deu certo. O tempo passava e eu ficava pelo caminho. Ou seja, deixava de comprar esse romance. Agora, felizmente, posso satisfazer mais uma das minhas vontades. Recentemente, a Editora Companhia de Bolso relançou o romance de Hatoum. Comprei-o, li-o avidamente e pude entender a razão dele fazer tanto sucesso. Esta é uma belíssima aquisição! Recomendo-lhe, amigo leitor, que leia esse livro, caso, lógico, não o tenha lido.
A história se passa em Manaus, cidade que o escritor amazonense conhece tão bem, por ter nascido nela, embora, aos 15 anos, tenha ido morar em Brasília, onde fez grande parte dos seus estudos, e posteriormente São Paulo, onde os completou. Já residiu, também, em Barcelona, Madri, Paris (onde fez pós-graduação) e teve a oportunidade de conhecer o Líbano, país de seus ascendentes.
A história de “Relato de um certo Oriente” é contada por uma mulher, narradora cujo nome não é revelado, embora se trate de figura central da trama. Ela regressa a Manaus, mais especificamente, à casa da sua infância, após um tempão de ausência, vinte anos se não me engano, e justo na ocasião da morte da mãe adotiva. A narradora, então, mantém um “diálogo” (na verdade, monólogo) por carta com o irmão, residente em Barcelona, resgatando, por esse meio, a memória da família.
Não, não se preocupe, caríssimo leitor. Pode comprar o livro tranquilamente, pois sequer esboçarei uma sinopse desse romance. Sou escritor e sei o quanto pesa o fator surpresa na apreciação de uma obra literária, notadamente de ficção. Daí evitar, sempre que posso, as sinopses, a menos que consiga redigi-las sumamente vagas, para não assumir o impopular papel do estraga-prazeres.
Milton Hatoum nasceu em 19 de agosto de 1952. Fará, portanto, na metade de 2011, 59 anos de idade. Tem, como se vê (e felizmente), muita, muitíssima lenha ainda para queimar. Depois de “Relato de um certo Oriente”, o romancista amazonense publicou mais três romances, os quais, estes sim, tive a oportunidade de ler na ocasião Dops respectivos lançamentos e cujos volumes ocupam lugar de destaque em minha biblioteca. São, pela ordem: “Dois irmãos”, “Cinzas da noite” (com o qual venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura) e “Órfãos do Eldorado”.
Conhecendo sua literatura, como já conheço, não vejo exagero nenhum em afirmar que Milton Hatoum se constitui, na atualidade, em um dos melhores escritores brasileiros, traduzido para diversas línguas e sem ter que provar mais coisíssima alguma a quem quer que seja (o que já não posso dizer a meu próprio respeito, porquanto minha obra ainda está na berlinda. Mas chegarei lá!).
Para dizer o de menos, desse relativamente jovem escritor, basta informar que já conquistou três Prêmios Jabuti, façanha que não é para qualquer um. Aos poucos, vai conquistando também um público cada vez mais numeroso e fiel. Seus livros já venderam ao redor de 300 mil exemplares, o que é considerável façanha, em se tratando de Brasil, onde, um escritor que esgote uma reles edição de 2 mil volumes já se considera (e com certa razão), um “best-seller”. Algum motivo deve haver para tanto sucesso, não é mesmo?. E há. Chama-se qualidade!
Milton Hatoum é, além de escritor, arquiteto e mestre em Letras pela Universidade de São Paulo. Lecionou língua e literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas. Foi, também, professor-visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos.
Agora que já conheço os quatro livros de Milton Hatoum, posso dizer que entre as várias características da sua literatura que me agradaram, está a ambientação das histórias na Amazônia, região que mexe muito com minha imaginação, homem típico do Sul do País que sou. Outro ponto que me agrada é o valor que dá às memórias, mesmo que seja impossível manter sua integridade. Estão vendo como, às vezes, vale a pena ser teimoso? E eu sou, e muito. Um livro que eu vinha cobiçando desde 1989, ou seja, há 22 anos, finalmente se incorporou ao meu acervo de conhecimentos, e com o destaque que tanto merece. Antes tarde...
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