Thursday, June 30, 2011







Poesia concreta

Pedro J. Bondaczuk

O leitor Amauri de Oliveira pede minha opinião sobre a chamada poesia concreta. Considero essa forma de expressão válida e útil, como qualquer outra, desde que utilizada de maneira criativa e pertinente, que venha a transmitir a mensagem que o poeta pretendeu de sorte a não gerar dúvidas ou ambigüidades. O que conta, em literatura, não é somente a forma (embora, óbvio, essa seja importantíssima), mas, sobretudo, o conteúdo.
Só não concordo com quem lança mão desse meio de expressão como uma espécie de modismo. Oponho-me a qualquer tipo de “engessamento” do talento. Este tem que ser sempre e sempre e sempre livre, para brilhar em todo o seu esplendor.
Não é a forma, especificamente, que tende a tornar um poema bom ou ruim. É o sentimento, a emoção, a sensação que os ensejaram. Nada me impede, por exemplo, se o tema de que for tratar assim o exigir, que eu componha versos, digamos, nos moldes parnasianos (ou simbolistas), com rima métrica e ritmo, se isso enfatizar o conteúdo e sensibilizar o leitor.
Tenho escrito e reiterado, vezes sem conta, que poesia, para ter valor, não pode se limitar a ser lida. Tem, sobretudo, que ser “sentida”. Se o leitor não sentir absolutamente nada ao ler determinados versos, estes findam por se tornar ocos e vazios, meras palavras sem sentido ou coerência, lançadas ao léu, mesmo que formalmente pareçam a oitava maravilha do mundo.
Tenho lido poemas concretistas geniais, que me suscitam reflexão e emoção. Mas também, amiúde, topo com alguns que não dizem coisa com coisa, que não passam de mero engodo, de pura enganação e que sequer me sugerem algo que seja coerente e válido.
Repito: um bom poema não depende apenas da forma com que é expresso (embora esta, se inadequada, possa estragá-lo irremediavelmente), mas da mensagem que contém. Esta é que conta e que tornará esse texto imortal.
Entre os chamados concretistas tenho, claro, como todo bom leitor, minhas preferências. Li poemas geniais, entre outros, dos irmãos Augusto, Haroldo e Geir Campos e de Décio Pignatari, apenas para citar os exemplos mais óbvios, que são, simultaneamente, obras literárias de valor irretorquível e, ao mesmo tempo, telas de pinturas, com desenhos originais e criativos, posto que feitos com letras, que seriam assinadas, com orgulho, por qualquer artista plástico consagrado..
Embora muitos me contestem (e não dou a mínima para essas contestações), não acredito em literatura moderna ou arcaica. Há, isto sim, boa literatura e mera caricatura dela.
Já escrevi vários poemas concretos, mas apenas quando os temas não somente se adequavam a essa forma de expressão, como, e principalmente, a impunham. Não me considero, porém, mais moderno apenas por haver recorrido a essa forma de fazer poesia.
Reitero, a arte genuína e válida é, e sempre dever ser, absolutamente livre, a salvo de quaisquer imposições ou limitações, que não sejam, claro, aquelas naturais, inerentes à atividade literária. Ou seja, a absolutíssima e intransigente correção gramatical (e vocabular, lógico), além do bom-gosto e da criatividade. No mais... Tudo não passa de mera “perfumaria”.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: