Tuesday, February 28, 2012







Talento e mudanças

Pedro J. Bondaczuk

Administrar uma organização, não importa qual, de sorte a torná-la bem-sucedida e fazer com que atinja seus objetivos com segurança, e com o menor custo possível, é uma arte. Muitos assumem o papel de administradores. Poucos, no entanto, atingem o grau de excelência, por uma série de razões. A principal, a meu ver, é que não têm talento para a tarefa. Não sabem liderar grupos e muito menos extrair de cada um de seus membros o que têm de melhor. Não têm sensibilidade. Não entendem as pessoas, além de terem visão distorcida do conceito de “autoridade”, confundindo-o com “autoritarismo”.
O bom administrador é o que sempre tem em mente que tudo muda constantemente (o que, embora óbvio, nem todos, diria que raros, se dão conta). Caso administre uma empresa (industrial e/ou comercial), por exemplo, deve estar atento às mudanças que ocorrem a todo o momento no mercado, que é sempre dinâmico. Estas acontecem, não raro, subitamente, sem o menor aviso. Determinado produto que tenha, em dado momento, grande aceitação, dependendo de sua natureza, precisa ser melhorado ainda mais, sob o risco da concorrência fazê-lo e de ser preterido, não raro abruptamente, pelo do concorrente. Nada é bom o suficiente a ponto de não poder ser melhorado. Sempre pode.
Quem comanda pessoas precisa ser um tanto quanto psicólogo. Tem que “entender” seus comandados, conhecer suas virtudes e fraquezas, saber qual seu verdadeiro potencial e quais suas vulnerabilidades e, com sabedoria e muito tato, extrair o que cada qual tem de melhor. Caso haja no grupo quem destoe, que não dê o rendimento que dele se espera, mesmo após receber todas as oportunidades para tal, deve ser imediatamente trocado.
O bom administrador é justo e coerente. Não personaliza os relacionamentos, mantendo-os, sempre, no estrito âmbito profissional. Não premia e nem pune ninguém com base em critérios meramente pessoais, de simpatia ou de antipatia. É racional. Tem em mente sempre o sucesso do grupo e não o próprio. Afinal, se este for bem-sucedido, o êxito será também, ou principalmente “seu”, como seu comandante.
O administrador dotado de talento é o que não somente detecta com grande antecedência as mudanças em andamento – o que requer conhecimento de causa e muita sensibilidade – mas o que se mostra apto a ter o seu controle. Ou seja, que tem a capacidade de orientá-la no rumo que lhe seja favorável. É a tais “comandantes” que Michael J. Kami chama de “intrapreneurs”, em seu livro “Um... Dois... Três... Ação!! Momento de Decisão” (Editora McGraw Hill).
Esses administradores (ou mesmo funcionários subalternos de cargos chaves) talentosos são tão raros, que recebem designações especiais, características, no âmbito das grandes corporações. Em algumas (como na IBM, por exemplo), são conhecidos como “Meninos de Ouro”. Em outras, são apelidados de “Gorilas”, por causa de sua “uma tonelada de aptidões excepcionais”. E vai por aí afora. São pessoas raras, por isso precisam ser valorizadas e estimuladas a darem o seu melhor rendimento.
As grandes e bem-sucedidas empresas, que adotam métodos modernos e racionais de administração – e que por isso nunca perdem o passo das mudanças, detectando previamente as tendências e investindo seguramente nelas – já se conscientizaram que não podem manter a efetividade sem essas “jóias raras”.
Michael J. Kami, valendo-se do método socrático, ou seja, mediante perguntas pertinentes, indica um caminho para que as organizações que não dão a devida atenção aos seus talentos internos, “castrando-os” literalmente, ou até mesmo demitindo-os por razões de somenos, não cometam esse erro de avaliação que, não raro, equivale ao suicídio empresarial.
Três questões se destacam:
1ª) A empresa fornece treinamento especializado ao pessoal da Administração?
2ª ) A empresa dispõe de um programa que forneça motivação individual aos seus administradores?
3ª) A empresa proporciona oportunidades reais de rápido progresso?
Caso a resposta a essas três perguntas seja negativa, a “luz vermelha”, de alerta, certamente estará acesa. Os métodos de administração estarão errados já a partir da própria base. Dificilmente essas empresas – apenas por improvável acaso – contarão em seus quadros com esses talentos capazes de detectar e comandar as mudanças em andamento.
Há as que sequer percebem o quanto é importante contar com “intrapreneurs”. Há, também, as que têm em seus quadros vários deles, mas os mantêm sob freios. Nos dois casos, são empresas fadadas a marcarem passo e a operarem no vermelho. É o que via de regra acontece. No longo prazo (às vezes nem isso), correm o risco de se tornarem obsoletas e inviáveis. Não raro, acabam, até, indo à falência.
Mas há, em contrapartida, empresas que avançaram muito nesse aspecto e que, por isso, contam com funcionários talentosos, aplicados, motivados e que colocam seu imenso talento a seu serviço. Não por acaso, são as que ocupam a liderança em seus respectivos ramos de atividade.
Kami alerta, no entanto: “Constitui erro grave procurar criar um grupo homogêneo de personalidades e comportamentos similares na tentativa de conseguir um funcionamento harmônico da empresa. O resultado será uma plácida mediocridade, pois seus funcionários realmente talentosos não tolerarão um ambiente desse tipo. Irão embora”. Talento é coisa rara e não pode ser desperdiçado por nenhuma razão. Tenha isso em mente, e sempre.


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