Tuesday, February 21, 2012







Armadilha do desemprego


Pedro J. Bondaczuk


O grande problema do mundo, nesta virada do milênio, não são as doenças (apesar da pandemia de Aids), nem as guerras, nem a poluição, nem a devastação do meio ambiente, nem a poluição da terra, ar e água e nem mesmo o esgotamento dos recursos naturais do Planeta.

Todas essas questões --- e é até redundante frisar --- são de enorme relevância e desafiam a humanidade a encontrar uma solução. Mas não são, ainda, o que de pior pode acontecer aos homens. Há algo de muito mais fundamental, mais urgente, mais importante. Trata-se do desemprego.

Nas duas últimas semanas, o tema ganhou maior relevância em virtude de três notícias diferentes, todas tratando do mesmo assunto. A primeira foi o relatório da Organização Internacional do Trabalho, traçando um diagnóstico da situação trabalhista no mundo.

Trata-se, pois, de uma visão de conjunto do problema, a indicar que ele é muito mais grave do que os políticos querem fazer parecer.

O referido estudo constatou que 30% de todos os indivíduos válidos, potencialmente produtivos, estão desempregados no Planeta. Isso perfaz a cifra astronômica de 830 milhões de pessoas. Como assegurar a sobrevivência dessa gente e de seus dependentes? Que perspectiva esses homens e mulheres, no auge de sua capacidade produtiva, podem ter para suas vidas? Afinal, é pelo trabalho --- físico ou intelectual, não importa --- que mostramos o nosso valor, dizemos aos nossos pares a que viemos.

A segunda notícia foi a reunião realizada em Detroit, nos Estados Unidos, por ministros das sete maiores potências industriais do nosso tempo. Os líderes dos países ricos, igualmente, debruçaram-se sobre a angustiante questão do desemprego, que atinge 36 milhões de trabalhadores em seu âmbito.

A terceira, finalmente, trouxe o problema para o âmbito doméstico e traçou o mapa da miséria brasileira e de suas conseqüências sociais. Daí, justificar-se a constatação do economista norte-americano, John Kenneth Galbraith: "Nenhum sistema econômico foge à tentação de produzir serviços inúteis e mercadorias extravagantes".

Essa atitude chega a ser até uma inconsciente autodefesa da sociedade. Dessa inutilidade e extravagância é que nascem novas ocupações, surgem empregos, aparecem oportunidades para milhões e milhões de indivíduos que, caso houvesse absoluta racionalidade na economia, estariam à míngua, e sem ter o que fazer.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de março de 1994).



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