Direito de crer
Pedro J. Bondaczuk
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, entre outras homenagens que vai recer em Washington, cidade à qual chegou ontem à noite, para a reunião de cúpula com seu colega George Bush, será agraciado com um prêmio muito especial e bastante oportuno. É o de “Homem da História”.
Realmente, pela sua corajosa ação política, desafiando riscos de toda espécie, esse estadista modificou, da noite para o dia, não apenas o mapa político europeu, mas as expectativas do mundo em relação ao futuro. Hoje, mercê de seu empenho, a guerra nuclear, embora não seja uma ameaça completamente afastada, já não é algo que pareça iminente.
A cada novo contato de Gorbachev com os líderes do Ocidente e do Oriente, a cada ousada nova iniciativa que toma no campo do desarmamento, esse perigo fica bem mais distante, para alívio geral.
Entre as mudanças que fez em seu país e nos territórios outrora considerados “feudos” soviéticos, está uma nem sempre mencionada, mas nem por isso menos importante. O líder do Cremlin devolveu aos moradores de uma vasta região o direito de crença. A possibilidade dos cidadãos exercitarem sua religião, sem que isso venha a ser considerado delituoso, como ocorria até a sua ascensão ao poder.
Hoje, igrejas das mais variadas denominações religiosas espalham-se por todo o território da União Soviética. É verdade que essa concessão teve um sentido prático, pelo menos em relação à população islâmica que habita a superpotência do Leste. E ela não é nada desprezível, chegando aos 50 milhões de fiéis.
Sua predisposição em respeitar a consciência alheia valeu-lhe, no início do ano passado, um providencial elogio. Foi o do aiatolá Ruhollah Khomeini, que inclusive sugeriu a Gorbachev que se convertesse ao islamismo.
Tal inesperado apoio rendeu dividendos um ano depois. Em fevereiro passado, quando o Azerbaijão, predominantemente muçulmano, se sublevou, não encontrou o respaldo que esperava do Irã. Nem a pátria dos aiatolás, portanto, desejou criar mais embaraços ao estadista soviético, às voltas com tantos problemas para resolver em decorrência de ter tido a coragem de deflagrar o mais amplo processo pacífico de mudanças deste século.
Por isso, nada mais justo que ele seja o primeiro ganhador do prêmio “Homem da História”, instituído pela Fundação Apelo à Consciência, uma organização ecumênica, voltada à promoção da liberdade religiosa no mundo.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 31 de maio de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, entre outras homenagens que vai recer em Washington, cidade à qual chegou ontem à noite, para a reunião de cúpula com seu colega George Bush, será agraciado com um prêmio muito especial e bastante oportuno. É o de “Homem da História”.
Realmente, pela sua corajosa ação política, desafiando riscos de toda espécie, esse estadista modificou, da noite para o dia, não apenas o mapa político europeu, mas as expectativas do mundo em relação ao futuro. Hoje, mercê de seu empenho, a guerra nuclear, embora não seja uma ameaça completamente afastada, já não é algo que pareça iminente.
A cada novo contato de Gorbachev com os líderes do Ocidente e do Oriente, a cada ousada nova iniciativa que toma no campo do desarmamento, esse perigo fica bem mais distante, para alívio geral.
Entre as mudanças que fez em seu país e nos territórios outrora considerados “feudos” soviéticos, está uma nem sempre mencionada, mas nem por isso menos importante. O líder do Cremlin devolveu aos moradores de uma vasta região o direito de crença. A possibilidade dos cidadãos exercitarem sua religião, sem que isso venha a ser considerado delituoso, como ocorria até a sua ascensão ao poder.
Hoje, igrejas das mais variadas denominações religiosas espalham-se por todo o território da União Soviética. É verdade que essa concessão teve um sentido prático, pelo menos em relação à população islâmica que habita a superpotência do Leste. E ela não é nada desprezível, chegando aos 50 milhões de fiéis.
Sua predisposição em respeitar a consciência alheia valeu-lhe, no início do ano passado, um providencial elogio. Foi o do aiatolá Ruhollah Khomeini, que inclusive sugeriu a Gorbachev que se convertesse ao islamismo.
Tal inesperado apoio rendeu dividendos um ano depois. Em fevereiro passado, quando o Azerbaijão, predominantemente muçulmano, se sublevou, não encontrou o respaldo que esperava do Irã. Nem a pátria dos aiatolás, portanto, desejou criar mais embaraços ao estadista soviético, às voltas com tantos problemas para resolver em decorrência de ter tido a coragem de deflagrar o mais amplo processo pacífico de mudanças deste século.
Por isso, nada mais justo que ele seja o primeiro ganhador do prêmio “Homem da História”, instituído pela Fundação Apelo à Consciência, uma organização ecumênica, voltada à promoção da liberdade religiosa no mundo.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 31 de maio de 1990).
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