Questão de status
Pedro J. Bondaczuk
A posição que as pessoas ocupam num determinado contexto social (ou profissional) é denominada, genericamente, de “status”. Já os componentes dos vários grupos com identidade de idéias, objetivos e/ou situações, inserem-se no que se convencionou chamar de “classes”. Estas distinguem-se, umas das outras, por uma série de características, como a atividade exercida por seus membros, a renda que ostentam, a origem familiar etc.
Numa democracia que se preze, por exemplo, alguém que nasceu numa família pobre tem chances (pelo menos em tese) de ascender a uma categoria superior à de seus pais e de chegar, até, ao topo da pirâmide social. Isso seria possível ou por sua capacidade inata, ou por seu talento, ou por seu esforço, ou pelas oportunidades que tem, entre outros fatores. Na prática, porém, essa ascensão, notadamente em sociedades mais atrasadas, não é tão comum e se constitui, mesmo, em raridade. O indivíduo pode, em contrapartida, também decair, o que, por sinal, é muito mais comum.
Desde que se formaram os primeiros grupos primitivos, em geral compostos por pessoas com laços comuns de sangue, na pré-história, os indivíduos procuraram, até instintivamente, juntar-se aos que tivessem gostos parecidos, idéias semelhantes e histórias, tradições e objetivos comuns. As classes surgiram, portanto, espontaneamente, sob o ideal da liberdade, igualdade e fraternidade.
Ocorre que os homens nunca foram iguais: nem física, nem mental e nem psicologicamente. Os mais aptos e, sobretudo, os mais fortes logo se destacaram e se impuseram. Assumiram liderança até natural e não tardou para que impusessem, em geral pela força bruta, suas preferências e desejos. Emergiram as chamadas “elites”.
As classes se dividiram, se multiplicaram, se consolidaram e, em algumas sociedades, até se cristalizaram, transformando-se em castas (por exemplo, como acontece na Índia, que se modernizou em diversos aspectos, menos neste) que se tornaram não só vitalícias, mas hereditárias. Acentuou-se a exploração do homem pelo homem, do fraco pelo forte, do ignorante pelo esclarecido.
Há determinados símbolos externos que caracterizam o status que alguém ostenta na sociedade em que vive. Estes, na maioria dos casos, são de caráter material, baseados, quase sempre (as exceções são raríssimas) no ter, em vez do ser. As ostentações mais comuns são, por exemplo, um luxuoso carro do ano (de preferência importado), o tipo de moradia em que a pessoa mora, o bairro em que reside, a cidade, o Estado e o País que integra, o tamanho da sua conta bancária etc. Mas há outros, como a escola em que estuda, a profissão que exerce e até como se diverte.
Tudo isso que citei aplica-se, também, a escritores. Alguns – e os motivos são os mais variados possíveis, e quase todos subjetivos – gozam de melhor status do que outros. Seus lançamentos de livros repercutem mais na imprensa, os críticos ficam mais atentos ao que escreveram, os leitores predispõem-se a esperar deles maior qualidade e eles são candidatos naturais, diria naturalíssimos, quase que automáticos, aos vários prêmios literários existentes mundo afora, notadamente o mais cobiçado de todos, aquele que confere maior notoriedade ao ganhador: o Nobel de Literatura. Isso significa que sejam melhores do que os outros? Às vezes sim. Mas nem sempre.
Há escritores cujos livros você lê e não entende a razão da sua fama e da sua popularidade. Seus estilos são cansativos e empolados, suas idéias são repetitivas, seus enredos inverossímeis, mas... ainda assim, vendem livros aos borbotões. São louvados pela crítica e alçados à condição de paradigmas.
No pólo oposto estão escritores não raro até geniais, com cujos livros você só topa casualmente, porquanto contam com pouca ou nenhuma divulgação, e que se mantêm obscuros. Nunca ganham o centro do palco. Prêmios? Nem pensar! Ficam relegados aos bastidores, isso quando ficam. Por que isso acontece? Não tenho explicação. Creio que ninguém a tenha. Embora possa comprovar, caso preciso, que isso existe mesmo e mais, que é muito mais comum do que se pensa.
O que esses escritores badalados têm, e os desconhecidos não, é maior prestígio. Sequer entro no mérito se merecido ou não. Via de regra, são os que melhor se comunicam, os que divulgam muito bem o que fazem e que, por isso, se dão bem. Óbvio que têm méritos literários, mesmo que não tantos quantos lhes atribuem e que lhes conferem tamanho prestígio. Ou seja, ostentam status mais elevado do que seus parceiros de atividade, muitas vezes até mais talentosos e hábeis na escrita, porém obscuros.
Quanto maior e mais amplo for o contato entre indivíduos e grupos, maiores são suas possibilidades de, senão ascender socialmente (ou em termos de status), pelo menos melhorar suas condições de vida. O isolamento, por seu turno, tende a manter a situação sempre igual e a perpetuar a posição que as pessoas têm até nos seus descendentes. E tudo isso vale, reitero, igualmente, para escritores, que é o que interessa abordar neste espaço, voltado à Literatura.
Nas grandes cidades há mais oportunidades de crescimento – a despeito de mais riscos, determinados pela violência e criminalidade, decorrentes, em grande parte, da miséria – daí o acelerado processo de urbanização pelo que o mundo passa. Hoje, por exemplo, dois terços dos mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta vivem em cidades. E o processo de concentração populacional segue se acelerando, ameaçando transformar toda a Terra numa única, gigantesca e caótica Babel. Pensem nisso.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A posição que as pessoas ocupam num determinado contexto social (ou profissional) é denominada, genericamente, de “status”. Já os componentes dos vários grupos com identidade de idéias, objetivos e/ou situações, inserem-se no que se convencionou chamar de “classes”. Estas distinguem-se, umas das outras, por uma série de características, como a atividade exercida por seus membros, a renda que ostentam, a origem familiar etc.
Numa democracia que se preze, por exemplo, alguém que nasceu numa família pobre tem chances (pelo menos em tese) de ascender a uma categoria superior à de seus pais e de chegar, até, ao topo da pirâmide social. Isso seria possível ou por sua capacidade inata, ou por seu talento, ou por seu esforço, ou pelas oportunidades que tem, entre outros fatores. Na prática, porém, essa ascensão, notadamente em sociedades mais atrasadas, não é tão comum e se constitui, mesmo, em raridade. O indivíduo pode, em contrapartida, também decair, o que, por sinal, é muito mais comum.
Desde que se formaram os primeiros grupos primitivos, em geral compostos por pessoas com laços comuns de sangue, na pré-história, os indivíduos procuraram, até instintivamente, juntar-se aos que tivessem gostos parecidos, idéias semelhantes e histórias, tradições e objetivos comuns. As classes surgiram, portanto, espontaneamente, sob o ideal da liberdade, igualdade e fraternidade.
Ocorre que os homens nunca foram iguais: nem física, nem mental e nem psicologicamente. Os mais aptos e, sobretudo, os mais fortes logo se destacaram e se impuseram. Assumiram liderança até natural e não tardou para que impusessem, em geral pela força bruta, suas preferências e desejos. Emergiram as chamadas “elites”.
As classes se dividiram, se multiplicaram, se consolidaram e, em algumas sociedades, até se cristalizaram, transformando-se em castas (por exemplo, como acontece na Índia, que se modernizou em diversos aspectos, menos neste) que se tornaram não só vitalícias, mas hereditárias. Acentuou-se a exploração do homem pelo homem, do fraco pelo forte, do ignorante pelo esclarecido.
Há determinados símbolos externos que caracterizam o status que alguém ostenta na sociedade em que vive. Estes, na maioria dos casos, são de caráter material, baseados, quase sempre (as exceções são raríssimas) no ter, em vez do ser. As ostentações mais comuns são, por exemplo, um luxuoso carro do ano (de preferência importado), o tipo de moradia em que a pessoa mora, o bairro em que reside, a cidade, o Estado e o País que integra, o tamanho da sua conta bancária etc. Mas há outros, como a escola em que estuda, a profissão que exerce e até como se diverte.
Tudo isso que citei aplica-se, também, a escritores. Alguns – e os motivos são os mais variados possíveis, e quase todos subjetivos – gozam de melhor status do que outros. Seus lançamentos de livros repercutem mais na imprensa, os críticos ficam mais atentos ao que escreveram, os leitores predispõem-se a esperar deles maior qualidade e eles são candidatos naturais, diria naturalíssimos, quase que automáticos, aos vários prêmios literários existentes mundo afora, notadamente o mais cobiçado de todos, aquele que confere maior notoriedade ao ganhador: o Nobel de Literatura. Isso significa que sejam melhores do que os outros? Às vezes sim. Mas nem sempre.
Há escritores cujos livros você lê e não entende a razão da sua fama e da sua popularidade. Seus estilos são cansativos e empolados, suas idéias são repetitivas, seus enredos inverossímeis, mas... ainda assim, vendem livros aos borbotões. São louvados pela crítica e alçados à condição de paradigmas.
No pólo oposto estão escritores não raro até geniais, com cujos livros você só topa casualmente, porquanto contam com pouca ou nenhuma divulgação, e que se mantêm obscuros. Nunca ganham o centro do palco. Prêmios? Nem pensar! Ficam relegados aos bastidores, isso quando ficam. Por que isso acontece? Não tenho explicação. Creio que ninguém a tenha. Embora possa comprovar, caso preciso, que isso existe mesmo e mais, que é muito mais comum do que se pensa.
O que esses escritores badalados têm, e os desconhecidos não, é maior prestígio. Sequer entro no mérito se merecido ou não. Via de regra, são os que melhor se comunicam, os que divulgam muito bem o que fazem e que, por isso, se dão bem. Óbvio que têm méritos literários, mesmo que não tantos quantos lhes atribuem e que lhes conferem tamanho prestígio. Ou seja, ostentam status mais elevado do que seus parceiros de atividade, muitas vezes até mais talentosos e hábeis na escrita, porém obscuros.
Quanto maior e mais amplo for o contato entre indivíduos e grupos, maiores são suas possibilidades de, senão ascender socialmente (ou em termos de status), pelo menos melhorar suas condições de vida. O isolamento, por seu turno, tende a manter a situação sempre igual e a perpetuar a posição que as pessoas têm até nos seus descendentes. E tudo isso vale, reitero, igualmente, para escritores, que é o que interessa abordar neste espaço, voltado à Literatura.
Nas grandes cidades há mais oportunidades de crescimento – a despeito de mais riscos, determinados pela violência e criminalidade, decorrentes, em grande parte, da miséria – daí o acelerado processo de urbanização pelo que o mundo passa. Hoje, por exemplo, dois terços dos mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta vivem em cidades. E o processo de concentração populacional segue se acelerando, ameaçando transformar toda a Terra numa única, gigantesca e caótica Babel. Pensem nisso.
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