Inesquecíveis amigos de quatro patas
Pedro J. Bondaczuk
Os animais domésticos, há muito – provavelmente desde os tempos das cavernas – tornaram-se presenças obrigatórias em boa parte dos lares das pessoas, mundo afora. Eles são vários, mas os mais comuns são cães e gatos. Ambos têm características muito diferentes, mas com uma coisa em comum: a capacidade de receber e de retribuir afeto. Os felinos são “temperamentais” e sente-se “donos” das pessoas, e não o contrário. Já os cães, têm comportamento oposto ao dos gatos.
Há animais domésticos que se apegam tanto às pessoas (ou estas se apegam tanto a eles), que passam a ser considerados (e tratados) como membros das famílias que os têm. Acho isso um tanto exagerado, mas não nego a necessidade de um tratamento digno a esses seres vivos e sensíveis.
Hoje, há toda uma indústria girando em torno desses bichinhos, gerando empregos e fazendo girar grandes riquezas. Os petshops, que se multiplicam e se espalham por todas as partes, têm de tudo para assegurar a boa alimentação, a saúde e o bem estar desses nossos amigos de quatro patas, companheiros de viagem nesta nave cósmica, que singra o espaço da Via Láctea, que é a Terra.
Já foi comprovado que a posse de animais de estimação, por parte de pessoas doentes, atenua os sintomas de determinadas doenças e acelera sua recuperação. Sua companhia, para pessoas idosas, melhora sua qualidade de vida e lhes faz companhia com fidelidade e afeto, pouco, ou quase nada exigindo em troca, a não ser reciprocidade e bom tratamento.
Em literatura, são comuns, e com excelente aceitação, livros tratando dessa amizade milenar entre o homem e animais ditos “irracionais”, muitos dos quais, convenhamos, com “racionalidade” maior e mais aguçada do que a de muita gente com que cruzamos por aí diariamente. Lideram o “ranking” dos personagens os cães, tidos e havidos como os melhores amigos dos humanos, embora haja relatos de outros tantos bichos.
Leio, quando tenho condições de adquirir, os vários livros publicados com essas características e me divirto, ou até me comovo (dependendo do teor das histórias e da perícia de seus autores em narrá-las) com esses enredos. Agora, caiu-me em mãos, outro exemplar relatando essa convivência de humanos com animais domésticos. Trata-se de “Huck”, de autoria de Janet Elder, lançado pela Editora Globo.
O livro narra a história de uma família que aprendeu uma lição de coragem, persistência e generosidade, por causa de um cãozinho. Até aí, nada de novo no front. Quase todas as histórias do gênero, se não sua totalidade, narram algo do gênero. Então, onde a “novidade”, a que fez com que me fixasse exatamente nessa obra e não em outra qualquer, do tipo? Respondo: o personagem.
Trata-se de um “poodle anão”, que recebeu o nome de “Huck” (aliás, o título do livro). Talvez ele tenha sido chamado assim em referência ao famoso personagem de Mark Twain, Hucleberry Finn, chamado apenas por Huck em suas aventuras com seu inseparável parceiro Tom Sawyer. Claro que não posso garantir que seja por isso. Mas a presunção faz sentido.
E o que tem a ver a raça do tal cãozinho com a minha fixação nesse livro? Tem tudo! Há catorze anos, habita conosco um temperamental, mas fidelíssimo “poodle toy”, de pelagem de cor champagne, com pedigree e tudo, chamado Nick. Esse animalzinho não apenas é inesgotável fonte de afeto, amigão inseparável, que nada exige e nada cobra, a não ser bom tratamento, mas já deu mostras de extrema coragem e lealdade em uma circunstância dramática que envolveu minha família.
No penúltimo dia de 2001, ou seja, em 29 de dezembro, há, portanto, quase dez anos, minha residência foi invadida por três ladrões armados, que fizeram, a mim, à minha esposa, à sogra e a três dos meus filhos seus reféns. Estavam nervosos, exigiam nossos “dólares” (como se os tivéssemos!) e nos ameaçavam a todo o momento com armas em punho. Não reagimos, claro. E nem poderíamos. Mas “alguém” reagiu e com extrema bravura (e também brabeza). Quem foi esse imprudente? Foi exatamente o pequenino, porém ousado “Nick”.
O cãozinho partiu para o ataque, distribuindo dentadas e mais dentadas, a torto e a direito, nas pernas dos meliantes. Foi chutado várias vezes e arremessado à distância, mas não desistiu. A cada chute, fazia novas investidas, ainda mais ferozes e certeiras. Em suma, tanto incomodou os marginais, que estes resolveram se mandar. Foram embora sem ferir ninguém da família e sem levar nada, absolutamente nada, nem um único objeto nosso, por menos valioso que fosse.
Claro que, desde então, o Nick, que já tinha status privilegiado e boa vida aqui em casa, passou a ter vida digna de rei. Hoje, está velhinho e feio. Perdeu quase toda aquela bela pelagem que o caracterizava. A dança que fazia, para nos recepcionar, quando voltávamos da rua para casa, sobre as duas patas traseiras, ficando literalmente de pé, agora é coisa do passado. Está meio cego, anda com extrema dificuldade, mas resiste bravamente. Tratamo-lo da melhor maneira possível, o que, certamente, aumenta tanto a sua longevidade. Mas o Nick merece isso e muito mais!
Quanto ao Huck, teve papel de imensa importância para Janet. Ela teve diagnosticado um cancro de mama. Passou, por isso, pelo desgaste físico e emocional não somente da doença (o que não é pouco), mas do longo e doloroso tratamento. Superado esse drama, ela e o marido, Richard, decidiram atender os constantes (e põe constante nisso) pedidos do filho Michael para ganhar um cachorrinho. E foi assim que Huck entrou em suas vidas.
A família logo se apegou ao simpático bichinho. Quem não se apegaria? Um dia, no entanto, Janet, o marido e o filho partiram de férias para as praias quentes e ensolaradas da Flórida. Claro que não podiam levar o animalzinho. Deixaram-no, pois, na casa da irmã de Janet, em Nova Jersey. O bichinho, “não consultado” a respeito, não se conformou. Não concordou com a mudança e, quando teve oportunidade, fugiu. A família, quando soube da fuga, interrompeu de imediato as férias e retornou a Nova Jersey, pondo-se de imediato à procura de “Huck”.
As buscas pelo animalzinho (que então tinha apenas nove meses), mobilizaram mundo e fundo. Envolveram, literalmente, toda a cidadezinha de Ramsey, onde a família residia – desde o chefe de polícia às crianças das escolas primárias locais. Essa união da comunidade, para ajudar os Elmer a encontrar um simples e pequeno animal de estimação, foi uma comovente lição de humanidade e de solidariedade do povo local, tão bem narrada pela escritora.
E fica, claro, no ar, a pergunta óbvia: Huck foi encontrado? Foi devolvido à família? O que vocês acham? Claro que não vou revelar o desfecho do livro. Se quiserem matar a curiosidade, comprem-no e leiam-no. Só posso dizer que se trata de uma narrativa interessante, fluente, humana e muito bem escrita da qual podemos extrair preciosas lições para nossas vidas.
Pedro J. Bondaczuk
Os animais domésticos, há muito – provavelmente desde os tempos das cavernas – tornaram-se presenças obrigatórias em boa parte dos lares das pessoas, mundo afora. Eles são vários, mas os mais comuns são cães e gatos. Ambos têm características muito diferentes, mas com uma coisa em comum: a capacidade de receber e de retribuir afeto. Os felinos são “temperamentais” e sente-se “donos” das pessoas, e não o contrário. Já os cães, têm comportamento oposto ao dos gatos.
Há animais domésticos que se apegam tanto às pessoas (ou estas se apegam tanto a eles), que passam a ser considerados (e tratados) como membros das famílias que os têm. Acho isso um tanto exagerado, mas não nego a necessidade de um tratamento digno a esses seres vivos e sensíveis.
Hoje, há toda uma indústria girando em torno desses bichinhos, gerando empregos e fazendo girar grandes riquezas. Os petshops, que se multiplicam e se espalham por todas as partes, têm de tudo para assegurar a boa alimentação, a saúde e o bem estar desses nossos amigos de quatro patas, companheiros de viagem nesta nave cósmica, que singra o espaço da Via Láctea, que é a Terra.
Já foi comprovado que a posse de animais de estimação, por parte de pessoas doentes, atenua os sintomas de determinadas doenças e acelera sua recuperação. Sua companhia, para pessoas idosas, melhora sua qualidade de vida e lhes faz companhia com fidelidade e afeto, pouco, ou quase nada exigindo em troca, a não ser reciprocidade e bom tratamento.
Em literatura, são comuns, e com excelente aceitação, livros tratando dessa amizade milenar entre o homem e animais ditos “irracionais”, muitos dos quais, convenhamos, com “racionalidade” maior e mais aguçada do que a de muita gente com que cruzamos por aí diariamente. Lideram o “ranking” dos personagens os cães, tidos e havidos como os melhores amigos dos humanos, embora haja relatos de outros tantos bichos.
Leio, quando tenho condições de adquirir, os vários livros publicados com essas características e me divirto, ou até me comovo (dependendo do teor das histórias e da perícia de seus autores em narrá-las) com esses enredos. Agora, caiu-me em mãos, outro exemplar relatando essa convivência de humanos com animais domésticos. Trata-se de “Huck”, de autoria de Janet Elder, lançado pela Editora Globo.
O livro narra a história de uma família que aprendeu uma lição de coragem, persistência e generosidade, por causa de um cãozinho. Até aí, nada de novo no front. Quase todas as histórias do gênero, se não sua totalidade, narram algo do gênero. Então, onde a “novidade”, a que fez com que me fixasse exatamente nessa obra e não em outra qualquer, do tipo? Respondo: o personagem.
Trata-se de um “poodle anão”, que recebeu o nome de “Huck” (aliás, o título do livro). Talvez ele tenha sido chamado assim em referência ao famoso personagem de Mark Twain, Hucleberry Finn, chamado apenas por Huck em suas aventuras com seu inseparável parceiro Tom Sawyer. Claro que não posso garantir que seja por isso. Mas a presunção faz sentido.
E o que tem a ver a raça do tal cãozinho com a minha fixação nesse livro? Tem tudo! Há catorze anos, habita conosco um temperamental, mas fidelíssimo “poodle toy”, de pelagem de cor champagne, com pedigree e tudo, chamado Nick. Esse animalzinho não apenas é inesgotável fonte de afeto, amigão inseparável, que nada exige e nada cobra, a não ser bom tratamento, mas já deu mostras de extrema coragem e lealdade em uma circunstância dramática que envolveu minha família.
No penúltimo dia de 2001, ou seja, em 29 de dezembro, há, portanto, quase dez anos, minha residência foi invadida por três ladrões armados, que fizeram, a mim, à minha esposa, à sogra e a três dos meus filhos seus reféns. Estavam nervosos, exigiam nossos “dólares” (como se os tivéssemos!) e nos ameaçavam a todo o momento com armas em punho. Não reagimos, claro. E nem poderíamos. Mas “alguém” reagiu e com extrema bravura (e também brabeza). Quem foi esse imprudente? Foi exatamente o pequenino, porém ousado “Nick”.
O cãozinho partiu para o ataque, distribuindo dentadas e mais dentadas, a torto e a direito, nas pernas dos meliantes. Foi chutado várias vezes e arremessado à distância, mas não desistiu. A cada chute, fazia novas investidas, ainda mais ferozes e certeiras. Em suma, tanto incomodou os marginais, que estes resolveram se mandar. Foram embora sem ferir ninguém da família e sem levar nada, absolutamente nada, nem um único objeto nosso, por menos valioso que fosse.
Claro que, desde então, o Nick, que já tinha status privilegiado e boa vida aqui em casa, passou a ter vida digna de rei. Hoje, está velhinho e feio. Perdeu quase toda aquela bela pelagem que o caracterizava. A dança que fazia, para nos recepcionar, quando voltávamos da rua para casa, sobre as duas patas traseiras, ficando literalmente de pé, agora é coisa do passado. Está meio cego, anda com extrema dificuldade, mas resiste bravamente. Tratamo-lo da melhor maneira possível, o que, certamente, aumenta tanto a sua longevidade. Mas o Nick merece isso e muito mais!
Quanto ao Huck, teve papel de imensa importância para Janet. Ela teve diagnosticado um cancro de mama. Passou, por isso, pelo desgaste físico e emocional não somente da doença (o que não é pouco), mas do longo e doloroso tratamento. Superado esse drama, ela e o marido, Richard, decidiram atender os constantes (e põe constante nisso) pedidos do filho Michael para ganhar um cachorrinho. E foi assim que Huck entrou em suas vidas.
A família logo se apegou ao simpático bichinho. Quem não se apegaria? Um dia, no entanto, Janet, o marido e o filho partiram de férias para as praias quentes e ensolaradas da Flórida. Claro que não podiam levar o animalzinho. Deixaram-no, pois, na casa da irmã de Janet, em Nova Jersey. O bichinho, “não consultado” a respeito, não se conformou. Não concordou com a mudança e, quando teve oportunidade, fugiu. A família, quando soube da fuga, interrompeu de imediato as férias e retornou a Nova Jersey, pondo-se de imediato à procura de “Huck”.
As buscas pelo animalzinho (que então tinha apenas nove meses), mobilizaram mundo e fundo. Envolveram, literalmente, toda a cidadezinha de Ramsey, onde a família residia – desde o chefe de polícia às crianças das escolas primárias locais. Essa união da comunidade, para ajudar os Elmer a encontrar um simples e pequeno animal de estimação, foi uma comovente lição de humanidade e de solidariedade do povo local, tão bem narrada pela escritora.
E fica, claro, no ar, a pergunta óbvia: Huck foi encontrado? Foi devolvido à família? O que vocês acham? Claro que não vou revelar o desfecho do livro. Se quiserem matar a curiosidade, comprem-no e leiam-no. Só posso dizer que se trata de uma narrativa interessante, fluente, humana e muito bem escrita da qual podemos extrair preciosas lições para nossas vidas.
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