Wednesday, November 02, 2011







Células estanques

Pedro J. Bondaczuk

Irresistível desalento.
Vida fútil e vazia.
Tédio, imenso tédio:
mal sem remédio.

Olhar distraído e desatento
que se anuvia, e anuncia,
dia e noite, noite e dia,
mal disfarçada agonia
de um secreto tormento.

Angústia da solidão:
temor de estar só,
de ser sempre só,
de viver o tempo todo só
e de, quiçá, morrer só.

Fobias, cultivo fobias:
medo do silêncio,
receio de fracasso,
pavor das recordações.

Grilo do amanhã,
violando o silêncio
atormentando, sem cessar,
com cri-cris repetitivos
e ameaçando impor
novos silêncios totais,
mais e mais dias vazios,
renovadas frustrações.

Cubículos fechados,
células estanques,
compartimentos sombrios,
hermeticamente trancados
que açodam, com vigor,
pavorosa claustrofobia.

Quisera a luz dos seus olhos
para varrer as trevas da solidão.
Quisera a melodia da sua voz
para embalar sonhos encantados.
Quisera o calor do seu corpo
vigoroso, jovem, cálido,
para prover a redenção,
assegurar a imortalidade.


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