Saturday, November 19, 2011







Inteligência superior desafia a ciência


Pedro J. Bondaczuk


O homem dotado de grande inteligência, a considerada superior à média, desafia os estudiosos, que buscam determinar as causas dessa capacidade. Teorias vêm sendo estabelecidas, e superadas, sem que se chegue a qualquer conclusão cientificamente comprovável.

Psicólogos, psiquiatras, neurologistas, etólogos, antropólogos ou simples leigos tentam responder, de forma convincente, baseada em provas, a questão: Por que determinadas pessoas são mais inteligentes do que outras? Ou seja, por que têm raciocínio mais rápido e entendem com maior facilidade o que as cerca? Seria algum fator genético? Ou seria conseqüência de alimentação adequada, ou de estímulos durante a infância, ou do meio ambiente em que a pessoa é criada ou da forma que é educada?

Há quem ache que os bem-dotados, considerados gênios, contam com algum fator biológico especial. Mas qual ele seria, caso seja isso, realmente, o que determina sua superioridade de inteligência? O tamanho do cérebro teria alguma influência? Em caso positivo, em que medida? Quais os fatores que determinaram a genialidade, por exemplo, de um Albert Einstein, de um Beethoven, de um Salvador Dali ou de um Linus Pauling, entre tantos outros, em suas respectivas atividades? E, afinal, o que vem a ser inteligência?

Respostas conclusivas para essas questões ainda não existem. Mas desde fevereiro de 1985, um dado novo, descoberto pela professora de Anatomia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Marian Diamond, pode ser a pista que faltava para que o mistério seja, enfim, esclarecido.

Dissecando um pedaço do cérebro de Einstein, conservado em formol pelo patologista Thomas Harvey, do Hospital da Universidade de Princeton, desde que o físico morreu (em 18 de abril de 1955), a pesquisadora constatou que o pai da Teoria da Relatividade tinha 73% a mais do que o normal de um determinado tipo de células.

A constatação, frise-se, pode sequer ter significado especial, como a Dra. Marian admite. Mas pode, também, ser a pista que se procura há tanto tempo para explicar, do ponto de vista biológico, o fenômeno da genialidade. Antes de qualquer comentário a propósito, são necessárias algumas definições, para melhor entendimento da questão.

O que vem a ser a “inteligência”? Conforme o Novo Dicionário Aurélio, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, trata-se da “faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão, intelecto, intelectualidade”. Também é a “qualidade ou capacidade de compreender e adaptar-se facilmente; capacidade, penetração, agudeza, perspicácia; maneira de entender ou interpretar, interpretação”.

Em Psicologia, a inteligência é definida como a “capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação dos dados perceptivos”. Já a expressão “gênio”, é uma criação popular. Trata-se de gíria, de jargão relacionado ao termo que define as “entidades invisíveis que tudo podem”.

Figurativamente significa, de acordo com Aurélio, “altíssimo grau, ou o mais alto, de capacidade mental criadora em qualquer sentido”. O termo é usado, também, para caracterizar o “indivíduo de extraordinária potência intelectual”. Claro que para fazer jus à expressão, a pessoa precisa ser excepcionalíssima, integrar uma seletíssima minoria “anormal”.

É essa anormalidade, aliás, que leva as pessoas a situar os gênios no mesmo patamar do seu oposto – o dos que não conseguem apreender a realidade – os loucos. Um aforismo, muito popular, sentencia: “entre o gênio e o louco, o que os diferencia é muito pouco!”.

Albert Einstein, pouco antes de morrer, em 18 de abril de 1955, aos 76 anos, no Hospital da Universidade de Princeton, à qual estava ligado, deixou minuciosas instruções sobre o que deveria ser feito com o seu corpo e seus bens. Entre outras coisas, manifestou o desejo de que seu cérebro não fosse cremado, junto com seu cadáver, mas conservado em formol para estudos.

O patologista Thomas Harvey foi incumbido da tarefa de guarda e preservação. O médico, porém, não tomou as necessárias cautelas para preservar tão preciosa peça anatômica. Guardava, por exemplo, o recipiente, contendo o cérebro de Einstein mergulhado em formol, numa gaveta de seu escritório, embrulhado em trapos e em jornais velhos. O procedimento pode ter provocado profundas alterações nas delicadas e frágeis células do órgão, conservado, como se constatou, de forma tecnicamente inadequada, ou seja, sem a indispensável refrigeração.

Por três anos, a professora de Anatomia da Universidade da Califórnia, Marian Diamond, insistiu com Harvey para que lhe cedesse um fragmento do cérebro de Einstein, que ela desejava estudar. A pesquisadora não revelou como ficou sabendo da existência dessa peça, mas o fato é que não desistiu do intento enquanto não teve êxito. Depois de várias tentativas frustradas, finalmente a médica conseguiu o que queria.

No final de 1984, Harvey concordou em partilhar com ela uma fatia do órgão, por estar convencido de que aquela massa cinzenta, de má-aparência, escondia um segredo que a ciência há anos vinha tentando desvendar. Queria, acima de tudo, tirar uma dúvida que o incomodava: se anatomicamente o genial físico alemão, de origem, judia (naturalizado norte-americano), guardava diferenças tão marcantes, quanto as intelectuais, em relação às pessoas de inteligência mediana. Vários outros neurologistas também receberam fatias do cérebro de Einstein.

A Dra. Marian, tão logo recebeu o fragmento, iniciou suas pesquisas, que iriam se estender por um longo tempo. Programou uma série de testes, notadamente os histológicos, que durariam pelo menos seis meses. Retalhou aquela massa cinzenta mole e inconsistente em diversos pedaços, para compor múltiplas lâminas, que analisou ao microscópio. Dia após dia repetiu, pacientemente, todos procedimentos laboratoriais, sem encontrar nada de novo.

Finalmente, a pesquisadora viu sua persistência ser premiada. Descobriu algo inusitado, em seus meticulosos relatórios de pesquisa, que poderia ser a “chave” daquilo que estava procurando. Constatou, nas contagens e comparações celulares que fez nas várias lâminas, que o fragmento do cérebro de Einstein apresentava quantidade maior do que a normal de um determinado tipo de células: as “gliais”, cuja função é a de alimentação e de manutenção neuronial.

Para alguns, a constatação da Dra. Marian está longe de resolver a questão da inteligência. Para outros, no entanto, pode ser a tão procurada chave do mistério. Há tempos os pesquisadores divergem sobre as verdadeiras funções das células gliais. Nos compêndios de Anatomia, por exemplo, seu papel nunca foi relacionado com o raciocínio.

Os patologistas acham que elas servem apenas como suportes, como alimentadoras dos neurônios, estes sim considerados fatores do pensamento e controladores das habilidades humanas. E mesmo assim, nem a quantidade destes terminais nervosos é considerada determinante da inteligência. O termo médico “glia” foi emprestado do grego, e significa “cola”.

As células gliais formam o tecido intersticial dos centros nervosos do cérebro. Além da tarefa de alimentação, exercem papel excretor e reparador de neurônios avariados ou envelhecidos. Retalhando um fragmento do lado esquerdo do cérebro de Einstein, Marian encontrou 73% a mais de células gliais para cada neurônio, do que as normalmente encontradas em outros cérebros que estudou.

E concluiu, em entrevista que concedeu em 12 de fevereiro de 1985: “As células gliais podem estar ligadas ao mecanismo cerebral e sua abundância no cérebro de Einstein pode ser uma pista para se entender porque ele era tão inteligente”. A conclusão, ao que tudo indica, não é meramente especulativa. Está fundamentada em pesquisas paralelas anteriores que a pesquisadora realizou.

Durante anos a Dra. Marian Diamond estudou o relacionamento entre os neurônios e as células gliais em ratazanas. Constatou que as cobaias que eram obrigadas a se equilibrar sobre tambores e a utilizar brinquedos desenvolviam maior quantidade de células gliais por neurônio do que as outras, que não eram submetidas a esses exercícios. E eram, por conseguinte, senão mais inteligentes, pelo menos mais adestradas e mais ativas.

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