Friday, November 11, 2011







Estão tirando nosso prazer de torcer

Pedro J. Bondaczuk

A televisão brasileira, como de resto a de todos os países que vão disputar, dentro de exatas duas semanas, a 13ª Copa do Mundo de futebol, no México, já vive o clima dessa competição. A publicidade veiculada, em boa parte, refere-se ao evento. O noticiário envolvendo a seleção ocupa cada vez maiores espaços e mesmo não acreditando muito numa boa performance dos jogadores selecionados por Telê Santana, o brasileiro esgota os estoques de televisores nas lojas.

Este é um período de autêntica festa nacional, que se repete, religiosamente, a cada quatro anos, quer estejamos bem ou estejamos em condições não muito desejáveis, em termos técnicos. O que causa estranheza, entretanto, no crítico que acompanha televisão, é a atitude negativista assumida por determinados profissionais da área.

Um conceito elementar de jornalismo diz que o papel de qualquer órgão informativo é ser, sobretudo, o veículo da notícia e não ele próprio o agente do acontecimento noticiado. Entretanto, o que determinados repórteres e comentaristas vêm fazendo, é exatamente cometer essa verdadeira heresia, fomentando revolta entre os jogadores, aumentando os fatos e lançando a opinião pública contra a direção do selecionado, com base somente em alguns jogos amistosos ou treinamentos. E, infelizmente, vêm conseguindo o seu intento.

Recorde-se que no mês de janeiro passado, o técnico Telê Santana era verdadeira unanimidade nacional, embora os cariocas, mais por uma questão de bairrismo do que por fatores objetivos, quisessem impor Zagallo. Quando saiu a relação dos convocados, nem mesmo a costumeira "chiadeira", falando acerca de possíveis injustiças cometidas na convocação, que sempre acontece, se fez presente. Tudo estava bonito, maravilho, genial e vai por aí afora. Quem duvidar, é só colocar as fitas dos noticiários esportivos de então em seu vídeocassete e conferir.

Pois bem, bastaram apenas duas derrotas, as únicas sofridas em dois amistosos inoportunos, para não dizer "burros", disputados em gramados europeus (quando os atletas sequer ainda haviam se integrado no chamado "clima de seleção"), para que as aves de mau agouro começassem a tumultuar tudo. Para iniciar um processo em que desejavam aparecer mais do que o técnico e todos os vinte e oito convocados. Ou seja, consciente ou inconscientemente, deixaram de lado o seu papel de agentes transmissores da informação, para se transformarem na própria notícia.

Com isso, sem que se apercebam (pois ainda estão agindo assim), esvaziam a própria publicidade das emissoras que lhes pagam os salários e, ao pretenderem roubar para si o espetáculo, buscando chamar a atenção para a sua presciência e conhecimento de táticas (o que não é nenhuma vantagem, pois qualquer brasileiro que se preze é um técnico de futebol frustrado), correm o risco de levar seus telespectadores, que não possuem qualquer vocação masoquista, a simplesmente desligarem seus receptores e não acompanharem a competição.

Jogo é jogo, não importa do que e o que conta é o empenho ali em campo. Essa história de táticas, de 4-2-4, 4-4-2, 4-3-3 ou simplesmente 9-1, cai por terra na hora do "vamos ver". É tudo "papo furado". O que conta, nesses instantes, é a vontade de ganhar, a garra e o talento. E isso, ninguém conseguirá nos convencer que o brasileiro não possui.

As "cassandras de mau agouro" deram-se mal em 1958, 1962 e 1970. Algumas vezes acertaram. Afinal, é impossível ganhar sempre. Mas o desejável é que pelo menos elas não estraguem agora o nosso prazer de torcer. Se não têm nada de útil para dizer, que calem a boca.

(Artigo publicado na página 12, Arte & Variedades do Correio Popular, em 17 de maio de 1986)

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