Sunday, November 13, 2011







Guerra que nos afeta

Pedro J. Bondaczuk

Os presidentes do chamado “Grupo dos Oito” (na verdade sete, com a exclusão temporária do Panamá enquanto o general Manuel Antonio Noriega permanecer no poder) deverão trazer à baila, na reunião que iniciam hoje, na cidade peruana de Ica, um tema que afeta a toda a região e que nunca foi levantado em diálogos desse tipo. Trata-se do tráfico de drogas, em âmbito continental, que começa a ganhar contornos dramáticos, principalmente com a guerra deflagrada pelos narcotraficantes colombianos contra o governo do seu país.

Este conflito, no entanto, apesar de na Colômbia estar assumindo matizes de grande dramaticidade, começou não foi de hoje. E nem está restrito apenas a essa República vizinha. Afinal, os barões da cocaína montaram um esquema onde todos os vizinhos têm o seu papel.

A Bolívia e o Peru (este último o maior produtor de coca, a planta de onde é extraído o pó), são os fornecedores por excelência de matéria-prima. As folhas são maceradas, em geral, em território boliviano e peruano e seguem semi-elaboradas, em forma de pasta, para o refino nos múltiplos laboratórios clandestinos colombianos.

Ali, está montada toda a “logística” do nefasto comércio, envolvendo verdadeiras fábulas em termos de dólares. Os grandes chefões, que decidem o que fazer com a droga, como a quem vender, usando quais rotas e a qual preço, são todos da Colômbia. São os todopoderosos “barões da cocaína” ligados aos cartéis de Cali e de Medellin.

O território brasileiro, por seu turno, pela sua vastidão, é usado com dupla função. Para esconder parte do narcótico, quando as batidas das autoridades do país produtor se intensificam. E como rota e mercado alternativos, para que o pó chegue aos grandes centros consumidores: os Estados Unidos e a Europa Ocidental.

Mas há, também, ramificações menores, que surgem aqui e ali, em nosso país, para distribuir resíduos, “pontas de estoque” do entorpecente entre nós. E viciados, convenhamos, não faltam também no Brasil. Basta que se olhe ao redor para perceber o perigo a que nós e nossas famílias estamos permanentemente expostos.

Por isso, é indispensável que os países que integram o “Grupo dos Oito” unam suas forças para combater essa sombra corruptora e maligna que ameaça nossas sociedades. Que corrompe pessoas, lhes prometendo maravilhosos “paraísos” onde elas podem refugiar suas neuroses, quando na verdade as lançam no inferno, sem caminho de volta.

A onda de terror deflagrada na Colômbia mostra até onde pode ir o atrevimento desses “gangsters”, que reduzem tudo e todos no mundo a meros cifrões. Por isso, todo o cuidado é pouco.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 11 de outubro de 1989).

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