Wednesday, November 30, 2011










O que é dito ou escrito reflete fielmente o que somos. Isto fica evidente à mais ligeira análise do que se disse ou escreveu. Se não formos sábios, por exemplo, de nada vai adiantar o uso de palavreado erudito para revelar suposta sabedoria. Nas entrelinhas, ficará evidente a artificialidade dessas palavras. O mesmo vale para a bondade, a fidelidade, a constância e demais virtudes. Se não formos otimistas e positivos, será inútil dizer ou escrever palavras de otimismo e positividade, porquanto elas irão soar falsas e vazias. Em vez de nos limitarmos a melhorar nosso linguajar, portanto, o mais sábio e honesto é melhorarmos o que somos. É acumularmos, preservarmos e difundirmos valores testados e comprovados pelo tempo e que se tornaram perpétuos. A esse propósito, o filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, nos lembra: “Você pode empregar a linguagem que quiser, mas nunca conseguirá expressar a não ser o que você é”.

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Presente de Natal


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Preço: R$ 23,90.

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(contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. –
Preço: R$ 20,90.

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É noite

Pedro J. Bondaczuk

Labirinto de sombras. É noite.
Caminho, com pés de chumbo,
por ruas lôbregas, tortuosas,
de fantasmagórica cidade,
de uma terra de ninguém.

Sigo só. Ensimesmado e sombrio,
trauteio um samba-canção
de Maysa (ou Dolores Duran?)
pungente, nostálgico, dorido.

Garoa fina e contínua
encharca esta rua vazia,
perdida no fim do mundo,
nesta noite escura e fria.

Um vulto assoma á vidraça.
Ágil, desvio de um carro.
Afogo-me com a fumaça
do oitavo ou nono cigarro.

Mas pela rua dos fantasmas,
indiferente e só, eu sigo,
molhado, trêmulo, com frio
ansiando por um abrigo.

Ao longe, um galo canta.
Já está raiando a manhã.
Um notívago se espanta.
Trauteio a canção de Duran.

Chuto uma lata vazia,
com toda força, sem dó.
A garoa aperta. Está fria.
É noite. Escuridão... Estou só...

(Poema composto em Campinas, em 17 de junho de 1966).

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Poeta das Gerais

Pedro J. Bondaczuk

Tenho a satisfação – porquanto fico feliz quando posso resgatar a memória de algum escritor que esteja esquecido – de apresentar, para quem não conhece e de recordar, para quem já teve contato com sua obra, um grande poeta de Minas Gerais. Trata-se de um veterano, com anos e anos de produção, que privou, inclusive, da amizade de um ilustre (diria, ilustríssimo) seresteiro de alma pura, da cidade mineira de Diamantina, que viria a se transformar num dos mais liberais, progressistas, democráticos e fascinantes presidentes da República brasileiros: Juscelino Kubitschek.
Refiro-me a Nilo Aparecido Pinto, que se destacou, notadamente, como trovador. Há poucas referências a seu respeito, fora de Minas Gerais, e sua obra consta de raras antologias, mas sempre com escassos dados biográficos, que não permitem que tracemos seu perfil com relativa precisão.
Ao ler seus maravilhosos sonetos e, sobretudo, suas especialíssimas trovas, que revelam um poeta da maior sensibilidade e grandeza, fica patente a injustiça com esse magnífico poeta das gerais. Fiquei sabendo, entre as poucas referências que consultei, que Nilo Aparecido Pinto integrou a chamada “Geração de 1945”, cujo expoente maior foi, sem dúvida, Ledo Ivo, vertente esta responsável direta pela renovação do Modernismo no Brasil.
Alguns outros nomes ilustres desta fase são: João Cabral de Mello e Neto, Afonso Félix de Sousa, Darcy Damasceno, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Marly de Oliveira, e vai por aí afora.
A primeira referência que tive de Nilo Aparecido Pinto (até então nunca havia ouvido falar dele), foi no discurso de posse de Juscelino Kubitschek na Academia Mineira de Letras, proferido em 1975, cuja cópia recebi de um amigo. Em determinado trecho de seu pronunciamento, JK cita estes versos do inspirado amigo e conterrâneo;

“Sou lírico, nasci de ignotas dores,
e a lua, suave mãe dos trovadores,
amamentou minha ventura escassa...”

Mais adiante, o ex-presidente da República cita esta pérola de Nilo Aparecido Pinto:

“Sinto que vais chegar: abro-te a porta.
Ouço, agoras, teu passo cristalino
No lajedo dos astros, e imagino
A tua lenda azul na noite morta...”

Como se nota, trata-se de poesia pura, fruto de genuína emoção! É o reflexo daquela inquietação, daquela melancolia, daquele nó na garganta que o poeta experimenta quando está “grávido” de uma criação. Quem escreve assim, convenhamos, mereceria maior visibilidade, para nos encantar com o seu talento e inspirar as novas gerações a seguirem seus passos. Sinta, paciente leitor, a beleza desta trova, cujo título desconheço:

“Amor é um diamante raro,
Namoro é um velho garimpo...
O enlace, se bem comparo,
É o amor passado a limpo”.

Ou desta, não menos expressiva:

“Eu, se de amor ando louco,
Culpados somos iguais:
Tu – me querendo tão pouco,
Eu – te querendo demais!”

Ou destes “Versos líricos”:


Sonhei com a Virgem Maria
--- no céu, num trono de flores –,
Nossa Senhora aplaudia
o canto dos trovadores.

Sinto que vais chegar: abro-te a porta,
ouço, agora, teu passo cristalino
no lajedo dos astros, e imagino
a tua lenda azul na noite morta.

Sou lírico, nasci de ignotas dores,
e a lua, suave mãe dos trovadores,
amamentou minha ventura escassa.


A leitura desta pequena, porém preciosa amostra do talento de Nilo Aparecido Pinto leva-me a dar razão ao nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, quando constata que “a obra de arte é o resultado feliz de uma angústia contínua”. Pode haver remota dúvida a respeito?!

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Tuesday, November 29, 2011










As pessoas, praticamente sem exceções, superestimam o que são e se julgam mais bondosas, sábias ou hábeis do que mostram na prática. Curiosamente, a essa super-estimação quase nunca corresponde a auto-estima:. nos estimamos menos do que mereceríamos. Quem acha que é mais do que de fato é corre o risco de sofrer imensas decepções, às vezes irreparáveis, quando seu verdadeiro “eu” vier à tona. Nessas circunstâncias, a baixa estima ficará ainda mais reduzida, gerando sofrimentos inúteis, que poderiam ser evitados. Antes de conhecermos o mundo, e as pessoas que nos cercam, deveríamos nos concentrar em conhecer o ser mais próximo a nós: nós mesmos, pois caso não nos amemos na devida medida, seremos incapazes de amar quem quer que seja. Afinal, Cristo colocou como parâmetro: “Ame o próximo como a você mesmo”. Johann Wolfgang Goethe constata, a propósito: “O homem crê, sempre, ser mais do que é e se estima menos do que merece”.


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Por dentro da TV


NOVA ESTRELA NO FIRMAMENTO DA SAUDADE

O rádio acaba de perder uma de suas mais gratas promessas, com o trágico acontecimento que envolveu a locutora da Jovem Pan II (FM) e Rádio Transamérica, ambas de São Paulo, Mírian Lane, na madrugada de sexta para sábado, quando ela foi alvejada a bala por dois marginais, vindo a falecer nesta terça-feira, em conseqüência dos ferimentos recebidos.

A triste ocorrência ganha mais relevo para nós, quando se sabe que essa excelente profissional militou no meio radiofônico campineiro. Para o público de Campinas, ouvinte da Educadora (ou como no meu caso, seu ex-companheiro de trabalho), ela era simplesmente Mírian Tavares, a "doce Mírian".

Os leitores, certamente, se lembram bem dela, principalmente em virtude do seu inesquecível programa das 17 horas, "Nossa Canção". Nele, além das músicas de Roberto Carlos, este fenômeno em termos de sucesso, estava surgindo para o rádio uma figura excepcional, cujas características marcantes eram a simpatia e o romantismo, típicos dos poetas.

Surgia uma apresentadora que trazia nova proposta para o microfone, se impondo pela voz suave e gostosa, quase uma carícia e por uma responsabilidade profissional rara nos dias que correm. Esses fatores, reunidos, redundaram, como era lógico de se esperar, em vastíssima audiência para o programa, não apenas em Campinas e Região, mas em todo o Sul de Minas, onde as potentes ondas da Educadora chegam com som local, fato que pude constatar, pelo número de cartas que a locutora recebia.

Lembro-me, nitidamente, da sua figura, morena, bonita, sempre sorrindo (Mírian sorria com os olhos, profundos, românticos e sonhadores), ora brincando com a turma do Departamento de Esportes e de Jornalismo, ora se divertindo com as piadas do Ari Costa, ou trocando idéias com a Lucinha de Fátima na discoteca, sobre determinada canção do seu ídolo, ou pedindo algum esclarecimento ao nosso chefe, o Alair Beline, quando não mexendo com o pessoal da Técnica, o Wagnaldo Silva, o Carioca, o Joãozinho ou o Marcelo de Almeida.

Ela irradiava simpatia, quebrando um pouco aquele clima sisudo, que muitas vezes nos dominava. Estava sempre bem-humorada e alegre, como se a vida não tivesse as coisas feias que a gente sabe que tem, como a ignorância, a cobiça, as desigualdades sociais e, principalmente, a violência. A cega e irracional violência, que acabou por subtraí-la (para nosso profundo desgosto), brutalmente, do nosso convívio, na flor dos seus promissores 21 anos de idade.

Falar da competência de Mírian Tavares chega a ser redundante. Basta afirmar que, em termos de FM, chegar à Jovem Pan é o grande objetivo de qualquer profissional que milite no rádio. Já é algo extremamente difícil e seletivo. Mas trabalhar no horário nobre dessa emissora é uma façanha reservada apenas àqueles profissionais de fantástica tarimba, adquirida ao longo de muitos anos de sacrifícios. Ou é coisa para quem conte com um talento fenomenal.

E Mírian conseguiu as duas coisas. Ingressou na emissora líder de audiência em São Paulo em FM no mês de abril do ano passado e em pouco tempo transformou-se na autêntica "namorada de São Paulo", conquistando o melhor horário e preenchendo de sonhos bonitos e fantasias alegres (coisas que só o rádio tem o condão de fazer) as madrugadas vazias e solitárias de tanta gente infeliz.

Hoje Mírian já não está mais no nosso convívio. Foi para o paraíso encantado que a sua presença permitiu que as pessoas idealizassem. Repito, agora, o que afirmei quando da morte de Altemar Dutra: um artista, esse modelador de sonhos, que transforma maravilhosas fantasias em realidades, nunca morre. Vira estrela no céu e permanece brilhando no firmamento da nossa saudade. E Mírian Tavares, na sua profissão, era mais do que uma simples locutora. Era musa inspiradora, que enchia com beleza o nosso mundo cinzento do dia a dia...

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 26, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 2 de fevereiro de 1984).

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Sonhar para chegar à verdade

Pedro J. Bondaczuk


O Estado de Minas Gerais é uma forja de talentos para a literatura brasileira, quer na poesia, quer no romance, quer no conto, memorialismo ou outro gênero qualquer. Pode-se citar, sem precisar pensar muito, de chofre, de dez a doze escritores mineiros de sucesso, como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Murilo Mendes, Otto Lara Resende, Pedro Nava, João Guimarães Rosa, Ciro dos Anjos e vai por aí afora.
Faço, porém, questão de destacar um que, embora conhecido em âmbito nacional, pelo valor da sua obra, não muito extensa, mas de alta qualidade – seu nome, inclusive, figura na “Enciclopédia dos Autores Brasileiros”, de Afrânio Coutinho), não tem, ainda, a projeção que, de fato, merece. Trata-se do poeta, jornalista, ensaísta e conferencista Maurício de Moraes, natural da cidade mineira de Ouro Fino.
Sua carreira no jornalismo, iniciada em 1950, é digna de nota. Trabalhou no “Diário de São Paulo” e “Jornal da Manhã”, em São Paulo, e no vespertino “A Manhã”, no Rio de Janeiro. Estagiou no “Paris Soir”, na capital francesa e no “La Nación”, em Buenos Aires. Viajou muito, a serviço da notícia, tendo visitado cerca de vinte países.
Em 1954, recebeu o prêmio “Orador Emérito”, instituído pela revista “Letras”, de São Paulo. Como redator, atuou, por anos, no Instituto Agronômico do Estado de São Paulo, em Campinas. Atuou, por muitos anos, no Correio Popular e recebeu o título de Cidadão Campineiro, por serviços prestados à cidade. Todavia, sua paixão era divulgar sua Ouro Fino natal, notadamente nas crônicas que publicou na imprensa campineira.
Está mais do que na hora, pois, de provar que “santo de casa” também faz “milagres”. Daí abordar, posto que de passagem, a obra desse sensível poeta, cujos textos os leitores do Correio Popular se acostumaram a ler, por pelo menos duas décadas, mas cuja poesia não tem recebido a divulgação que de fato merece.
Da mesma forma que Drummond imortalizou Itabira, Maurício tem feito o mesmo em relação a Ouro Fino (de cuja academia de letras é membro ilustre, assim como da de Poços de Caldas e da Campinense de Letras, entre tantas outras). Todavia merece mais, muito mais destaque e, por que não, reverência pela sensível e hábil forma com que pastoreia emoções.
Autor de cinco livros, dos quais três de poesia (“Quando as estrelas descerem”, 1942; “Canção perdida”, 1950 e “A lua sem dono”), esse poeta criativo não recebeu das editoras a devida atenção. Por isso, corre o risco de deixar uma vasta obra inédita (o que seria, convenhamos, desperdício de talento). Sem nenhum exagero, Maurício mereceria, pelo menos, idêntico destaque que teve seu conterrâneo de Itabira (e seu amigo de longa data), Carlos Drummond de Andrade. Quem perde com essa indiferença das editoras, evidentemente, é a cultura brasileira. Ou, para ser mais exato, a arte da poesia.
Maurício, como todo poeta que se preze, tem rasgos de profeta. Intui, em seus versos, o futuro e raramente suas previsões deixam de se concretizar. Por exemplo, meses depois de lançar seu livro “A lua sem dono”, em que dizia que esse satélite (que então havia recebido a visita dos primeiros homens, no Projeto Apolo), não deveria pertencer a quem quer que fosse, pessoa, empresa, organização ou país; a ONU aprovou resolução exatamente nesse sentido. Ou seja, considerando a lua patrimônio de toda a humanidade.
Essas pessoas tão especiais, que “nascem conscritas” e que “têm o estigma da liberdade”, como acentuou Murilo Mendes, enxergam longe, além do visível e do palpável, do passado ou do futuro. Vasculham a alma humana, matéria-prima dos seus versos, e de lá extraem beleza, além de exorcizar seus demônios.
O poeta francês Paul Valéry, em seu livro “Cartas sobre a crise do espírito”, escreveu: “A dificuldade de reconstruir o passado, mesmo o mais recente, é inteiramente comparável à dificuldade de construir o futuro, mesmo o mais próximo: ou melhor, é a mesma dificuldade. O profeta está no mesmo saco que o historiador. Deixêmo-los aí”.
Quem consegue essa síntese com perfeição, porém, é o poeta. E Maurício de Moraes comprova isso em sua obra, parte reminiscente (traçando o perfil de pessoas queridas, algumas inseridas em sua própria estrutura, como pais, irmãos e filhos) e parte futurista (através de imagens que são autênticos painéis “desenhados” com palavras).
Separei, a esmo, aleatoriamente, alguns poemas deste poeta das gerais para exemplificar o teor da sua obra. O primeiro deles, que tem um título comprido (chama-se “Na branca lua do mundo bandeiras de ventos tristes”) é este:

“Não teremos cavalos na lua,
nos seus caminhos sem verde,
nas sombras corpos de baile,
ah, não, nunca teremos!
Palavras de todas as línguas
gravaram ecos de prata
apenas inacessíveis
aos sonhos, às noivas
de todos os poetas.
Homens de todas as terras,
bandeiras de todas as cores,
conquista de todos os ritmos,
moldaram sítios na lua!
Quem é o dono da lua?
A lua, coitada, não tem,
não tem a lua seu dono,
nem cabras, nem rosas, nem estrelas,
a lua não tem meninos,
nem campos de futebol,
a lua perdeu namorados,
a lua ficou só areia,
sem flores, sem serenatas!”

O outro poema de Maurício de Moraes, que trago à apreciação do leitor de bom-gosto é este “Itinerário de um só caminho”:

“Tikara, o japonês,
Ivã, o russo,
William, o americano,
Genaro, o italiano,
Maurice, o francês,
Gilbert, o inglês,
Marcos, o judeu,
Luís, o brasileiro,
Pablo, o espanhol,
Nacif, o árabe.

Vê-los num mundo azul,
com fardas brancas e
iguais,
vestidos à forma dos
caçadores de pássaros,
cantando à alvorada
de todos os
heróis,
em amor e Deus!”

Este poema “A fazenda” é evocativo, com lembranças, sobretudo, da infância do poeta, vivida na liberdade do campo:


Lá está a casa grande da fazenda
do Morro Alto e em sua imensa varanda
ensolarada o banco de sentar, o retrato de
D. Pedro II (ídolo de vovó Júlia), os vasos
de flores silvestres, as janelas abertas para
o cafezal da serra, o cheiro de carne de porco assada,
a porta que dá para a banca de fazer queijo,
os pratos de ferro ágata, o coalho que corre
às canecas dos meninos felizes, o silêncio das
tardes de trópico, o zunido das mangagavas,
o canto triste dos sabiás no bambuzal, a voz
do feitor rompendo o ar: Zé Júlio, bota o café
na tulha que lá vem chuva!
A fazenda, a sala grande, a hora de pensar
e de sentir como hoje e agora o que ficou à distância.

Maurício é fascinado pelo movimento, pelas graciosas evoluções das bailarinas. Aliás, esse é um tema recorrente em sua obra. Sintam a naturalidade, a espontaneidade dos versos deste poema “O balé”:

Elas se afastam e se aproximam
e nas tessituras verdes dos braços
bailam como se tentassem bordar
em silhuetas melancólicas a paisagem da tarde.
As árvores soluçam silenciosas ao vento
e são como adolescentes se abraçando com
a ternura dos gestos que definem a graça do espaço.
Quero ficar de olhos postos nas árvores da tarde
e segui-las curiosamente em seus movimentos
de bailarinas esguias no escuro da quase noite
que envolve no pensamento
a triste e suave sensação de amar,
de amar e de amar.

Auguste Kekulé, o célebre químico e professor alemão, recomendou, em 1890: “Vocês devem aprender a sonhar. Então, talvez descubram a verdade”. E isto, ou seja, explorar o mundo dos sonhos e expressar o que “vii”, na linguagem mágica dos anjos, o poeta, cujo perfil tracei, emocionado, nestas considerações, sabem, e de sobejo. Por isso, antecipa o futuro, com mais graça e mais beleza (e, claro, com maior verdade), do que furibundos e enlouquecidos profetas. Por isso...reinventa a vida...

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Monday, November 28, 2011










A palavra é o mais miraculoso engenho que o cérebro humano engendrou para a comunicação com os semelhantes. E a criatividade do único animal racional da natureza extrapolou todos limites ao criar não apenas dez, ou mil, delas, mas bilhões, em centenas de idiomas. A palavra escrita, então, é o máximo de criatividade e fundamento de toda a evolução humana. Através dela, é possível preservar, indefinidamente, o que cérebros privilegiados pensaram e criaram, geração após geração, como herança dos antepassados à qual os homens de hoje acrescentam sua contribuição para os do futuro. E, apesar de tudo isso, as palavras são tão pobres para definir e descrever alguns pensamentos e sentimentos, como amor, amizade, saudade etc.! Giuseppe Ungaretti manifestou essa impotência, neste belíssimo poema: “Dias e noites/tangendo/em meus nervos/de harpa//vivo desta jóia/doentia do universo/e sofro/de não sabê-la/acender/na minha/palavra”.

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Romantismo está de novo no ar

Pedro J. Bondaczuk

A semana, em termos de programação de televisão, apresentou somente uma novidade nos últimos sete dias e esta aconteceu na Rede Globo, com a estréia de uma novela, a do horário das 18 horas, "Sinhá Moça", baseada num romance, de igual nome, da nossa conhecida escritora Maria Dezzone Pacheco Fernandes, aqui de Campinas. Trata-se de uma história de época, trazendo o romantismo de volta ao período vespertino da programação, ultimamente destinado às críticas de costume mais atuais, como foi o caso de "De Quina Pra Lua", que tratou das venturas e desventuras de uma família, cujo chefe ganhou um prêmio da Loto e veio a falecer em conseqüência de sua "boa sorte".

Outra abordagem pelos caminhos da recordação será a primeira minissérie nacional do corrente ano, que vai ser apresentada na mesma emissora, a partir desta segunda-feira, no horário das 22 horas, intitulada "Os Anos Dourados". Seu enfoque estará centralizado numa maneira de viver ainda muito familiar para boa parte dos brasileiros. Afinal, os anos 50 são, praticamente, um ontem recente.

Ao nosso ver, é saudável essa dosagem de passado e presente, na programação das novelas, feita pela Globo, permitindo que conheçamos (especialmente as gerações mais jovens) vários aspectos no tocante, não apenas ao comportamento das pessoas, mas à nossa história (muitas vezes distorcida por motivos ideológicos). O entendimento de muita coisa que estamos passando hoje depende da compreensão desses períodos, geralmente esquecidos pelos nossos principais novelistas.

O enredo de "Sinhá Moça" é duplamente oportuno, pelo tema em si e por passar-se há exatamente um século, dois anos antes da princesa Isabel haver assinado a "Lei Áurea", extinguindo, embora bastante tardiamente em relação aos outros povos, essa mancha lamentável em nosso passado, que foi a escravidão. Através dele, o público acaba inteirado não somente daquilo que pensavam nossos avós, acerca dessa prática (tão antiga quanto a própria espécie humana), mas também dos ideais que moviam os principais líderes abolicionistas.

No centro de tudo há uma maravilhosa e comovente história de amor, esse sentimento eterno que se manifesta de milhões de formas, mas que é o mais nobre e valioso de todos os que possuem os seres humanos.

A adaptação do romance de Maria Dezzone está entregue a um dos mais hábeis de nossos redatores para a televisão, Benedito Ruy Barbosa, jornalista do interior de São Paulo (é originário de Gália) que já nos brindou com tanta coisa boa nos últimos anos. Como por exemplo, apenas para citar seus trabalhos mais conhecidos, "Cabocla", "À Sombra dos Laranjais", "Voltei Pra Você", "Os Imigrantes", "Paraíso", "Somos Todos Irmãos" e muitos e muitos outros textos líricos, humanos, carregados de sentimento, mas nem por isso com menor objetividade.

Não foi por acaso que a Globo escalou, para defender a novela, um elenco dos mais experientes e populares. Entre os atores e atrizes podemos destacar as presenças de Rubens de Falco, um autêntico mito nesse tipo de história; Lucélia Santos (conhecida e adorada até na China por seu inesquecível papel em "A Escrava Isaura"); Mauro Mendonça; Marcos Paulo, Grande Otelo (outra legenda do cinema, teatro e televisão nacionais); Norma Blum; Patrícia Pillar; Luiz Carlos Arutin; Tony Tornado; Luciana Braga e mais uma dezena de artistas de grande expressão. A direção nesse caso só poderia ser entregue a outro nome famoso: Nilton Travesso, que dessa forma retorna às novelas e em grande estilo.

O enredo se desenrola na cidadezinha de Araruna, no Vale do Paraíba, e se baseia não somente no romance "quase impossível" de dois jovens, a filha do capitão Ferreira (que havia se tornado barão) com o filho do Dr. Fontes. Centraliza-se nos ideais abolicionistas que então surgiam entre os intelectuais rebeldes, uma questão que na época equivalia à subversão do "status quo" reinante e que trazia grandes complicações para os que tinham a coragem de defender posições tão "estranhas".

Mas o empenho desses visionários acabaria vingando apenas dois anos depois. Aliás, as grandes conquistas são sempre assim. Quando surge a primeira chama, esta é cercada de uma aura de exotismo. A idéia é ridicularizada, perseguida e marcada pelos que se entendem seres privilegiados e não admitem nada que possa colocar em risco tais privilégios que apenas eles e os alienados que os apoiam entendem lógicos e válidos.

Quanto à minissérie, que estréia na segunda-feira, prometemos traçar algumas considerações no próximo sábado, por se tratar de um tema que a minha geração conheceu bem, já que ela foi diretamente afetada pelos preconceitos e manias então existentes. Mas é importante essa volta do romantismo à televisão e até bastante saudável, por temperar com bons exemplos a enxurrada de violência e mau-caratismo que os enlatados despejam em nossos lares com intensidade crescente. E para lembrar a cada um de nós, preocupados com a aspereza da realidade de um período rico de incertezas e de indagações quanto ao futuro deste Planeta, que existem outros caminhos para a convivência entre as pessoas. Que a despeito dos pilantras e das pilantragens, o amor sobrevive ao tempo, às guerras, aos desastres e à degradação dos costumes. Por mostrar que apesar de tudo, ainda resta um fio de esperança para todos nós.

(Artigo publicado na página 12, Arte & Variedades do Correio Popular, em 3 de maio de 1986)



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Fascínio que se renova


Pedro J. Bondaczuk


Estou cada vez mais fascinado pela literatura portuguesa. Não me refiro, aqui, aos clássicos, como Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Luiz Vaz de Camões, Júlio Diniz, Camilo Castelo Branco, José Maria Du Bocage, Fernando Pessoa e tantos e tantos outros. Esses leio, releio, estudo, analiso e comento vezes sem conta, com o mesmo entusiasmo e empolgação. São as raízes da literatura que amo e que busco fazer. Os escritores lusitanos que atualmente me embevecem são outros, são os contemporâneos. Seus livros estão expostos nas melhores livrarias de Lisboa, do Porto, de Coimbra e das demais cidades de Portugal. São atuais, atualíssimos, posto que alguns deles já tenham morrido.

Acabo de ler “O sal da língua”, do poeta lírico português Eugênio de Andrade (falecido em 13 de junho de 2005) – escritor sobre o qual tive a oportunidade de tratar recentemente – e ainda estou sem fôlego, abobalhado diante de tanta beleza, tanta maestria no manejo das palavras, tanta empatia que seus versos despertam, enfim, tanta sensibilidade e genialidade. Não sei se esse livro chegou a ser lançado no Brasil (desconfio que não). A edição que tenho em mãos é de uma editora portuguesa. Sua leitura suscita-me “n” reflexões, sobre a arte, sobre o homem, sobre a vida e sobre o amor, entre tantas outras.

Certamente ainda citarei muito este poeta, ganhador de um Prêmio Camões de Literatura (o de 2001), um dos nomes mais ilustres da literatura portuguesa contemporânea. Lembro que Eugênio de Andrade (cujo nome de batismo é José Fontinhas Rato), publicou, também, várias obras em prosa e foi ainda exímio e requisitado tradutor. Mas o que me fascina, encanta, embevece e entusiasma é a sua poesia. Ainda mais depois da leitura de “O sal da língua”.

O objetivo destas reflexões, é bom que se diga, não é o de fazer crítica literária e muito menos o de resenhar esse livro ou qualquer outro. Poderia fazê-lo, mas este não é espaço apropriado para este fim. A finalidade é a de manifestar, publicamente, o entusiasmo, a apreciação, o encantamento que seus versos mágicos e musicais me causaram e me causam quando os releio.

Filtrei, em textos esparsos, algumas das opiniões de Eugênio de Andrade, quer sobre o homem, quer sobre a vida e quer, sobretudo, sobre a arte poética. Noto nelas extrema coerência. Ou seja, a de quem viveu tudo o que pregou. Ele escreveu, por exemplo: “O mal é a ausência do homem no homem”. E não é?! Outra observação, na mesma linha, é esta: “É possível que só as árvores tenham raízes, mas o poeta sempre se alimentou de utopias. Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano”. Tomara que tenha.

Sobre sua arte, Eugênio de Andrade escreveu: “É possível que a poesia seja ficção, mas prefiro pensá-la como Goethe: inseparável da verdade”. Esta também é a minha preferência e a maneira de encarar a arte poética. Nada melhor, todavia, para ilustrar o estilo e a maneira de escrever de um poeta do que reproduzir sua poesia. É o que faço, pois, brindando a todos vocês com este poema, intitulado “Rosa do mundo”:

Rosa do Mundo

Rosa. Rosa do mundo.
Queimada
Suja de tanta palavra.

Primeiro orvalho sobre o rosto.
que foi pétala
a pétala lenço de soluços.

Obscena rosa. Repartida
Amada.
Boca ferida, sopro de ninguém.
Quase nada.


Gostaram? Eu gostei, e muito. Não resisto, todavia, à tentação e reproduzo outro dos poemas de Eugênio de Andrade, este um tantinho mais extenso, intitulado “Algumas reflexões sobre a mulher”:

Algumas Reflexões Sobre a Mulher



Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.

O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.

Entre os textos de Eugênio de Andrade, encontrei estas confidências, que considero surpreendentes, mas pitorescas: “Eu nem sequer gosto de escrever. Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida”. Imaginem, pois, se Eugênio de Andrade gostasse de escrever!



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Sunday, November 27, 2011










Nada nos impede de sonhar e de esperar o aparentemente impossível. Não há mal nenhum nisso, desde que não nos limitemos ao sonho e à esperança. Até porque, não raro, as aparências enganam. O que nos parecia, à primeira vista, irrealizável, com empenho, preparo e determinação pode vir a se concretizar. Para isso, porém, é preciso fazer tudo o que estiver em nossas possibilidades para alcançar o que tanto esperarmos. Se ainda assim não conseguirmos, nos restará o consolo de havermos tentado. Agindo dessa forma, certamente conseguiremos, na pior das hipóteses, melhorar nossa condição anterior e aumentar a capacidade de sonhar e de esperar coisas cada vez maiores. O sonho e a esperança podem (e devem) nos servir de molas-propulsoras. O poeta alemão, Johann Wolfgang Goethe, nos lembra: “Cada novo dia repete: espere o impossível, faça o possível”. Os resultados dessa prática, certamente, nos surpreenderão (positivamente).

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Presente de Natal


Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.


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Reconciliação familiar


Pedro J. Bondaczuk


Os nicaragüenses obtiveram, ontem, na pequena localidade de Sapoa (que vai entrar, definitivamente, para a história do país), sua primeira grande vitória na guerra civil que travam há seis anos, que já matou 40 mil pessoas, arrasou sua economia e criou sérios antagonismos entre irmãos.
A batalha vencida não exaltou grandes guerreiros, e nem foi marcada por atos sanguinários e repletos de temeridade, equivocadamente tidos como de heroísmo. O campo onde ela se desenvolveu não ficou coberto de cadáveres, de corpos mutilados, de homens agonizantes.
Ademais, ela não foi decidida pelo fogo de artilharia, por baterias de mísseis ou por ousadas operações aéreas. A vitória não coube a nenhuma das facções em luta. A batalha a que nos referimos foi a saudável e civilizada prática da diplomacia entre as partes em conflito, que obtiveram um louvável cessar-fogo, numa demonstração de boa vontade dos dois lados.
O secretário de Estado norte-americano, George Shultz, disse que o pacto firmado na madrugada de ontem foi um êxito dos “contras”. Grande equívoco! Quem ganhou, de fato, foi a Nicarágua. O sucesso, posto que parcial (a trégua definitiva ainda vai ser negociada), foi do Grupo de Contadora, que em primeiro lugar tomou a peito a tarefa de não deixar a controvérsia centro-americana descambar para algo pior.
O vitorioso foi o Grupo de Apoio, criado anos após, para respaldar o magnífico esforço de panamenhos, mexicanos, colombianos e venezuelanos em busca da paz. Foi, sobretudo, desse jovem estadista centro-americano, que hoje é orgulho não apenas da Costa Rica, mas de toda a América Latina, pela sua ampla visão: Oscar Arias Sanchez.
Quem o viu discursas em Oslo, na oportunidade em que recebeu um justíssimo Prêmio Nobel, pôde sentir a convicção e até a paixão com que defendeu o plano pacificador que elaborou. A vitória tem que ser dividida com outros mais. Como, por exemplo, com a Igreja Católica, na figura do cardeal Dom Miguel Obando y Bravo, arcebispo de Manágua, que mediou as negociações. Com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, o brasileiro João Baena Soares, que os Estados Unidos não desejam que seja reeleito para o posto. E com outros mais.
Nomes, felizmente, há em profusão. O que se espera, somente, é que as superpotências, agora, não atrapalhem o processo que não ajudaram a criar. Se puderem ajudar, muito bem, que ajudem, se quiserem. Mas que a ajuda seja de caráter humanitário, e não político.
Se não tiverem condições para isso, que fiquem à margem. Afinal, trata-se de uma família, que se está reconciliando. E tais reconciliações são atos muito íntimos e com enorme carga de emotividade para que estranhos, mesmo que muito bem intencionados, se imiscuam.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 25 de março de 1988)

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Obsessão pela fama

Pedro J. Bondaczuk

"A fama é a soma de equívocos criados em torno de uma pessoa". Essa afirmação não é minha. É de um poeta, aliás famoso, e que, portanto, sabe bem o que diz. Ou sabia, pois já morreu. Isso foi escrito pelo austríaco, Rainer Marie Rilke, a propósito de quem tive a oportunidade de tecer alguns comentários num recente texto. Embora se trate de evidente verdade, não se pode generalizar. Todavia, em boa parte das vezes, muitas pessoas tornam-se, de fato, famosas por motivos errados. Ou seja, por causa de uma soma de equívocos.
A fama é um dos temas recorrentes sobre os quais me debruço há muito. Daí várias das minhas constatações a propósito soarem familiares, quando não repetitivas, aos leitores que me prestigiam com sua leitura. Duvido que haja alguém que nunca tenha pelo menos sonhado em ser famoso, sem levar em conta o lado ruim dessa condição. Certamente, não foi a fama (ou seria recompensa?) que os intelectuais engajados na solução dos problemas do seu tempo buscaram (ou buscam) da sociedade. Almejam, isto sim, o "reconhecimento" das gerações futuras, pelo que fizeram e deixaram como patrimônio cultural. Nem sempre (ou quase nunca) conseguem.
Nem é preciso que alguém me lembre que já escrevi tudo isso, talvez com as mesmíssimas palavras, em outras ocasiões, posto que em diferentes contextos. A reiteração, desde que não exagerada, é a melhor maneira de fixar na memória do leitor alguns conceitos básicos e importantes. Almejar a fama é atitude normal. Mas há quem vá além e tenha obsessão por isso.
Muitos (e põe muitos nisso!), têm consciência que suas possibilidades de se tornarem famosos são ínfimas, irrisórias ou quase nulas (se não nulas mesmo). Todavia, se tiverem filhos que sejam prodígios em alguma coisa (ou que os considerem como tal, o que é mais comum), apostam todas suas fichas neles, sufocando-os, fazendo-lhes exigências não raro descabidas, enchendo-os de compromissos e exaustivas atividades e arruinando, quase sempre, sua infância.
Se os “pimpolhos” forem, mesmo, o que esses pais obcecados acham, ou esperam que sejam, findam por conquistar a fama, às vezes por caminhos tortuosos. Pouco lhes importa se essa condição faz os “filhotes” felizes ou não. Geralmente tornam-se infelizes e sumamente incomodados com o lado ruim do ser famoso: a perda da privacidade e da liberdade individual, entre outras tantas inconveniências.
Por que estou tratando novamente dessa questão já tão batida? Para enfatizar o lançamento, no Brasil, do novo livro da escritora norte-americana Joyce Carol Oates, “Minha irmã, meu amor”, publicação da Editora Alfaguara. O romance em tela trata, justamente, dessa questão: fama. Ou, mais especificamente, obsessão pela fama. Mas não propriamente de quem se torna famosa, uma garotinha prodígio de apenas seis anos de idade, mas de seus pais. E a coisa termina em tragédia.
A história, posto que se trate de ficção, baseia-se em um fato real. Todos os livros de Oates seguem essa linha. Ela romanceia acontecimentos reais, mesclando fatos a criações ficcionais. “Minha irmã, meu amor” trata do assassinato de uma garotinha de seis anos, que em tão tenra idade se tornou fenômeno na patinação no gelo. A menininha prodígio foi encontrada no porão de sua casa, com os braços amarrados às costas e o crânio arrebentado. Quem fez isso? Por que? Até hoje tudo isso é um mistério para a polícia e para o público. O assassinato aconteceu em 1996, mas permanece, até hoje, sem solução. O caso, provavelmente, foi arquivado como insolúvel.
Embora trate de um episódio trágico (óbvio, a morte sempre é trágica, ainda mais de uma criança e naquelas circunstâncias), Joyce Carol Oates não raro apresenta cenas cômicas ao longo do livro (às vezes até abusa delas, para surpresa do leitor). Seu foco é a desestabilização da família da vítima, que vivia em função do sucesso e da fama da garotinha. Com sua morte, perdeu todos os objetivos e referenciais.
Em entrevista dada ao jornal “O Estado de São Paulo”, por e-mail, a escritora explica o que a levou a escrever o romance e, sobretudo, com o enfoque que lhe deu: “Minha intenção era dramatizar a agudeza e o pathos particulares de uma vítima de um tablóide”, explicou. Joyce referiu-se à imprensa sensacionalista, e não apenas dos Estados Unidos, mas do mundo todo (e, claro, também do Brasil), que nunca se importa com as conseqüências e explora a desgraça alheia em manchetes tonitruantes, apenas para vender jornal. Ou, se for televisão, por altos índices de audiência.
Queiram ou não, são os meios de comunicação que fabricam, e não raro também destroem, celebridades, desestabilizando vidas e causando profunda dor e sofrimento, não raro irreparáveis. Mas isso lhes importa? Claro que não! Desde que seus programas sensacionalistas alcancem altos índices de audiência ou as notícias apresentadas com crueza e até sadismo redundem em esgotamento de edições nas bancas de jornais. Como jornalista, este é o lado que me repugna em minha profissão e me causa mais mal-estar.
Muito leitor desavisado (ou mal-informado, o que seria o caso), pode estar se perguntando: “Afinal de contas, quem é esta tal de Joyce Carol Oates?”. Bem, vou adiantando que se trata de uma celebridade do mundo editorial norte-americano. Há já alguns anos, vem sendo tida e havida como candidata natural (naturalíssima) ao Prêmio Nobel de Literatura. Aos 73 anos de idade (completados em 16 de junho deste 2011), permanece em plena atividade, não apenas literária, mas como titular de uma cátedra na Universidade de Princeton, no Estado de Nova Jersey, onde atua desde 1978.
Não é inédita no Brasil. Fez sucesso, não faz muito, com o romance “Blonde”, traçando a trajetória, na maior parte ficcional, da mais famosa loira do cinema norte-americano, o mito Marilyn Monroe. O lançamento em questão, em dois volumes, foi da Editora Globo. Ademais, Joyce já conquistou importantes prêmios literários nos Estados Unidos, como o “National Book Award” e o “The Pen/Malamud Award for Excellence in Short Fiction”. Além disso, é membro da Academia Americana de Letras e Artes. Como se nota, é famosa (pelo menos em seu país). Todavia, na minha concepção, não chegou à fama por motivos errados. Aliás, convenhamos, muito pelo contrário.

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Saturday, November 26, 2011











Nada no ser humano é mais nobre e maior do que a razão. Nada se compara à sua capacidade de raciocinar, de analisar e entender tudo e todos que o cercam e de criar, com a simples força do pensamento, o abstrato, ou seja, o que não existe. Não fora sua racionalidade, e esse animal, fatalmente, já teria desaparecido da Terra. Sua força física, por exemplo, é muito inferior à de tantas feras, como o tigre. Sua audição nem de longe se aproxima da do morcego. Sua visão é ínfima perto da do lince ou da águia. Mas graças ao raciocínio, este ser, complexo e maravilhoso, é o único que tem a capacidade de pensar, de criar, de transformar o ambiente em que vive e de dominar todos os outros animais. Daí não ser possível deixar de dar razão ao filósofo e pacifista inglês, Bertrand Russel, que constatou: “O pensamento é grande, livre e rápido: é a luz do mundo e a glória mais alta do ser humano”.


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Dor de cotovelo

Pedro J. Bondaczuk


Confuso até a raiz dos cabelos,
já ébrio, quis fugir da solidão.
Fiz-lhe reiterados apelos:
“Volte, amada, volte!”. Em vão!

Em minha dor de cotovelo,
refugio-me em sombra espessa
e num copo de uísque com gelo.
Você não me sai da cabeça!

Lembro, tim tim por tim tim,
- ah traiçoeira memória! –
o que procuro esquecer,
nossa turbulenta história...
Não, não consigo me conter!

Deliro, trôpego e embriagado,
a vagar às tontas pela casa,
e num oceano do passado
sou peixe de ferro em brasa.

Dialogo com o abismo,
com uma ilha que se ergue
tonto, faço malabarismo,
e sinto-me instável iceberg.

A lua da minha rua
parece-me tão sem graça!
Vejo-a tão bela, nua
nas espirais de fumaça.

“Ah, velho poeta aloprado,
fique atento por onde pisa”.
Cada vez mais embriagado,
ouço uma canção de Maysa.

Solidão... Mágoa... Desespero...
Gigante ébrio... de pés de barro!
Acumulam-se no cinzeiro
cinzas, muitas cinzas de cigarro.

Tomo outro uísque com gelo.
Treme, instável, minha mão.
Maldita dor de cotovelo!
Amanhã pedir-lhe-ei perdão...

(Poema composto em Campinas, em 13 de dezembro de 1966).


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Da glória à ruína


Pedro J. Bondaczuk

Há escritores cujas biografias são mais dramáticas (algumas descambam para o rocambolescos), mais repletas de circunstâncias curiosas, dramáticas e até mesmo trágicas, do que as obras literárias que produziram, por melhores que estas possam ter sido. Pode-se citar, nesse caso, por exemplo, o poeta norte-americano Ezra Pound, a quem me referi em recente texto, que passou anos em um manicômio, mesmo contado com muito maior lucidez do que aqueles que o encerraram nesse lugar. Ou seu conterrâneo Ernest Hemmingway, com suas tantas e tantas aventuras, que culminaram com seu trágico e até hoje inexplicável suicídio, ocorrido em Cuba, onde residia, amigo pessoal que era do líder cubano Fidel Castro.
O russo Fedor Dostoievski enquadra-se a caráter nesse perfil, havendo passado um bom tempo em um campo de trabalhos forçados na Sibéria, assim como o discreto, mas genial, Graciliano Ramos, preso, injustamente, durante a ditadura de Getúlio Vargas.
Forçando só um pouquinho a memória, a relação dos escritores com vidas, digamos, “complicadas” aumenta exponencialmente. Há, pois, muitos e muitos outros que podem ser citados. Aliás, tenho trazido à baila (vocês são testemunhas), e com certa frequência, dezenas de menções a esse tipo de homem de letras, aventureiro e inquieto e que, de lambuja, conta com talento fenomenal para a literatura. Em geral, o que escrevem e o que vivem têm ou idêntico interesse, ou as peripécias de suas vidas ultrapassam bastante os frutos de sua imaginação.
Dos vários literatos, cujas biografias conheço (umas mais, outras menos), a que mais me fascina é a do irlandês Oscar Wilde. Dizer que se tratou de escritor sumamente criativo e original, chega a ser redundante. Sua biografia, no entanto, supera, e muito, tudo o que escreveu. E olhem que ele é o autor do célebre “O retrato de Dorian Gray”, aliás seu único romance, já que se notabilizou como exímio novelista, contista, dramaturgo, além de poeta. É o caso típico do sujeito que sobe ao teto do mundo, ao pico do Everest, e de lá se lança no abismo. Não que ele realizasse essa façanha. Não realizou. Mas é uma figura de linguagem que cabe a caráter para ilustrar o que foi a sua vida.
Wilde foi criado por uma família protestante (embora tenha se convertido, no leito de morte, ao catolicismo). Estudou nas melhores escolas, primeiro de Dublin na Irlanda, e depois, de Londres. Foi tido e havido como “garoto prodígio”, iniciando precocemente uma vitoriosa carreira literária que o levou rapidamente ao topo do prestígio. Fundou, até, um movimento estético, o “esteticismo”, ou “dandismo”. Foi convidado a ir aos Estados Unidos para dar palestras a esse respeito. Recusou. Podia dar-se a esse luxo. Casou (com a filha de um rico advogado de Dublin, Constance Lloyd), teve dois filhos e fixou residência em Chelsea, o bairro elegante, então dos artistas e intelectuais de Londres.
Sua carreira ia de vento em popa. Tudo o que escrevia – notadamente após 1892, quando estava com 36 anos de idade – virava sucesso. Tanto que a maioria de suas histórias de então é tida e havida, hoje, como de clássicos da dramaturgia britânica, uma das de melhor qualidade do mundo. São os casos de “O leque de Lady Windermere”, “Uma mulher sem importância”, “Um marido ideal” ou “A importância de ser prudente”, entre tantos. Publicou contos que até hoje são reproduzidos nas melhores antologias, como “O príncipe feliz”, “O rouxinol e a rosa” e “O crime de lord Artur Saville”, por exemplo.
Oscar Wilde, que considero um dos melhores frasistas de todos os tempos, tanto que há uma profusão de suas frases, pinçadas dos seus livros, nos vários sites especializados em citações internet afora. Nadava de braçada no sucesso. Tinha prestígio, respeito e consideração. E excelente condição social. Tinha família, era pai, freqüentava os mais sofisticados círculos londrinos e era paparicado por colegas de letras do seu país e do exterior. Mas... Tudo, de repente, mudou. Sua vida foi, subitamente, virada pelo avesso.
Em maio de 1895, após três julgamentos, o escritor foi condenado a dois anos de prisão, e com trabalhos forçados. Sua reputação, claro, foi para o espaço. E não somente em decorrência da pena, mas do delito de que foi acusado e que lhe valeu essa condenação: homossexualismo. Na Inglaterra vitoriana de então, essa prática era tida como “crime hediondo”. Imaginem o que isso significou para sua família, notadamente para seus filhos!
O autor da acusação foi uma pessoa poderosa e influente, o Marquês de Queensberry, cujo filho, Lorde Alfred Douglas, conhecido pelo apelido de “Bosie”, era tido e havido como amante do escritor. Nunca se soube se de fato foi. É provável que sim. Vários outros rapazes foram citados como tendo mantido relações homossexuais com o réu. A condenação arruinou Oscar Wilde. E não apenas sua reputação e seu prestígio, mas sua saúde e sua (e seu) moral. É verdade que ainda produziu, na prisão, duas obras que hoje são consideradas clássicas, mas que na época foram ignoradas: “De profundis” e “Balada do cárcere de Reading”.
Após cumprir a pena, em 19 de maio de 1897, quando reconquistou a liberdade, poucos amigos o esperavam na saída do complexo penitenciário. Ninguém queria contato com um ex-condenado, e ainda por cima por um delito como aquele que, reitero, na época era considerado hediondo. Seu talento, a partir de então, não mais luziu. Pudera! Embora tenha se tornado mais culto e mais filosófico, foi completamente ignorado pelo mundo das letras, como se jamais houvesse produzido obras consistentes e valiosas.
Mudou de cidade. Foi residir em Paris. Decaiu na condição econômica, já que na social estava praticamente na sarjeta. Passou a residir em uma casa modesta, pobre mesmo, em um bairro decadente da periferia da capital francesa. Deixou, a partir de então, de assinar suas obras com o próprio nome, adotando o pseudônimo de Sebastian Melmoth. Perdeu, provavelmente, o interesse pelas letras, a julgar por sua baixa produtividade literária. Portanto, acho pertinente a figura que utilizei, a do sujeito que escalou o Pico do Everest e de lá se lançou no abismo. E que abismo!
Oscar Wilde tornou-se alcoólatra, para tentar afogar as mágoas e frustrações. Para complicar, adquiriu sífilis, o que acelerou o seu fim. Mas não morreu dessa moléstia e nem de alguma outra relacionada ao alcoolismo. O que o matou foi um violento e fulminante ataque de meningite. Morreu no final do primeiro ano do século XX, ou seja, em 30 de novembro de 1900. Não testemunhou, portanto, a própria reabilitação literária. Sua biografia, ao contrário de muitas de suas novelas, contos e peças literárias, não teve o tão esperado (certamente por ele desejado) “happy end”. Convenhamos, a vida real dificilmente tem.


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Friday, November 25, 2011











A vida é constituída de escolhas, cuja exatidão vai determinar nosso sucesso ou fracasso, felicidade ou amargura, bem ou mal. Escolhemos profissões, companhias, amizades etc. e até clubes de futebol para torcer. Somos sempre instados a escolher alguém ou alguma coisa, e não nos é permitido errar. Essas escolhas têm que ser estudadas, ponderadas e, sobretudo, cautelosas. Se escolhermos uma profissão para a qual não tenhamos talento ou habilitação, por exemplo, ficaremos à margem do mercado de trabalho. Se a escolha de uma companhia não for feita por amor, o resultado será de frustração e infelicidade. E isso vale para tudo o mais na vida. William Shakespeare adverte: “Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”. Se forem corretas e adequadas, o resultado será o sucesso, a alegria e a plena realização. Se equivocadas... esses equívocos vão gerar, com certeza, fracassados, marginalizados e seres amargos e infelizes.

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Anote e Confira

A
s opções de programação para esta noite (à tarde há quase uma padronização dos programas, sendo a maioria de auditório), está mais na área de filmes. Sugerimos o seguinte para este sábado:

VIVA A NOITE

Entre as atrações da TVS, você terá que se contentar com o show de Gugu Liberato, se quiser escapar das novelas. É uma apresentação pelo menos movimentada, com musical, variedades, prêmios, competições e vários quadros sugestivos, como “Cabine Milionária” e “Dançarino Mascarado”. TVS, canal 4, às 21h20.

PROGRAMA GOULART DE ANDRADE

Uma opção diferente para a sua madrugada, com participação de Fausto Silva e seu “Perdidos na Noite”, Sílvio Lancelotti, Mino Carta e muito mais. TV Record, canal 6, a partir das 23h30.

SALA VIP

Um filme inédito em TV para quem prefere esse tipo de diversão. Em cartaz, “O outro lado da Meia-Noite” que, pela sinopse, parece ser um drama de razoáveis qualidades, apresentando, no elenco, o veterano Ralf Vallone e Clu Galagher. Rede Manchete, às 22h15.

OS ASTROS

Grande Otelo comanda essa apresentação semanal, enfocando a vida e a carreira de algum astro popular. Nesta semana você poderá conhecer aspectos da personalidade e da obra do cineasta Roberto Farias. Uma boa opção. Confira. Cultura, canal 10, às 23 horas.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, TEVÊ, do Correio Popular, em 23 de junho de 1984).



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Consciência ecológica

Pedro J. Bondaczuk

A preservação do meio ambiente é tarefa de todos e não apenas de meia dúzia dos que se autodenominam (ou são denominados) de “ambientalistas”. Compete, pois, também aos escritores tratarem do tema, pondo a força de seu talento comunicativo a serviço de uma causa que se faz a cada dia mais premente, mais urgente, mais momentânea face às dramáticas (e nocivas) mudanças climáticas que já se observam em várias partes da Terra. Sei que na maior parte do tempo isso é o mesmo que malhar em ferro frio. Poucos, ou raros, lhes darão ouvidos. Mas nossa obrigação é a de tentar, tentar e tentar até que, quem sabe, haja um surto coletivo de lucidez.

Hendrick Willelm Von Loon nos fornece excelente justificativa para assumir essa tarefa de “arautos do preservacionismo”. Escreveu, certa ocasião: “Somos todos companheiros de viagem no mesmo planeta, e somos todos igualmente responsáveis pela felicidade e bem-estar no mundo em que vivemos”. E estava errado? Obviamente que não! Aliás, o significado da palavra “planeta” é exatamente “viajante”. Ou, para ser mais específico, é o de uma espécie de nave espacial que singra o imenso (infinito?) oceano do espaço, composto não de água, mas de vácuo, ou, de acordo com nova teoria dos físicos, de “matéria negra”.

Não me peçam explicações a respeito. Não saberei dar! Não passo de mero “escrevinhador”, ou de rabiscador de idéias, posto que curioso por todos os assuntos, tanto dos que entendo, quanto dos que tento entender. Meu papel é o de provocar a inteligência e a imaginação alheias e de induzir as pessoas a pensarem. Não lido com certezas, mas com dúvidas e com possibilidades.

Mas, a propósito da depredação do meio ambiente por parte do homem, constato, ou concluo, que ninguém faz isso de forma deliberada, com a intenção específica de destruir em minutos o que a natureza levou milhões, bilhões de anos para criar. Age assim de forma inconsciente, achando que a mata que derrubou, por exemplo, para criar um pasto, não fará falta ao Planeta. Claro que fará! Ou que a queimada que fez não trará nenhum prejuízo ao solo e que até pode torná-lo mais fértil. Quem pensa assim está enganado, obviamente, mas não convencido do engano.

Monteiro Lobato escreveu um artigo a propósito, intitulado “Uma velha praga”, publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, em 12 de novembro de 1944. Em determinado trecho do seu arguto texto opinativo, o genial escritor acentua: “Preocupa a toda gente o conhecer em quanto fica, em francos e cêntimos, um soldado em guerra e por dia; mas quem cuida de calcular os prejuízos de toda a ordem, provindos de uma queima destas? – em velhas camadas de humus destruídas; em sais preciosos que, em breve, as enxurradas deitarão fora, rio abaixo, vai ao oceano; no rejuvenescimento florestal da terra paralisado e retrogradado; na destruição das aves silvestres e possível advento conseqüente de pragas insetiformes; na alteração para pior do clima, pela agravação crescente das secas; em vedos, cercas e aramados perdidos; em gado morto ou depreciado pela falta de pastos; em mil e uma particularidades que dizem respeito a esta ou àquela zona, e, dentro dela, a esta ou aquela situação agrícola”.

Monteiro Lobato referia-se à “praga” das queimadas, procedimento, aliás, ainda muito comum Brasil afora (e provavelmente em outras tantas partes do mundo), a despeito do que se conhece hoje e das campanhas e alertas para que as pessoas não recorram a esse procedimento. Além dos prejuízos citados pelo escritor, há a poluição da atmosfera, causada pela fumaça da queima de madeira, de capim verde ou, o que é muito mais comum, notadamente em vastas áreas do Nordeste brasileiro e do Estado de São Paulo, de cana, antes do início do seu corte.

Em 1º de janeiro de 1974, a Rede Globo exibiu um “Globo Repórter” especial – e então o programa já era tradicional e um dos campeões de audiência na telinha – em que foram entrevistadas personalidades de diversas áreas de conhecimento, cientistas, sociólogos, filósofos, historiadores etc.. Elas foram instadas para que fizessem um diagnóstico o mais realista possível da situação mundial na ocasião. E que extrapolassem, tentando prever o que poderia acontecer caso as coisas não mudassem para melhor e, dessa forma, sugerissem as providências que deveriam ser adotadas.

Tive o capricho de gravar esse programa (em áudio, pois então o videotape não era acessível ao público). E mais, vislumbrando o caráter histórico das entrevistas, decalquei-as, todas, em textos, que tenho ainda hoje arquivados na memória do meu computador. Não me enganei quanto à sua importância. Entre essas entrevistas, por exemplo, consta, entre umas dez ou doze outras, a do historiador britânico Arnold Toynbee. Mas não é a dele que trago à baila hoje. É a de Marshall McLuhan. E o badalado e controvertido pensador canadense disse, em determinado momento, textualmente, o seguinte:

“Um velho ditado afirma que a fonte de esperança é eterna em nosso peito. O homem nunca é abençoado, mas sempre espera ser. A esperança parece estar sempre à frente. E o homem tem o mau hábito de estar constantemente olhando pelo retrovisor. E o que ele vê é o que está vindo por trás, como um enorme caminhão na estrada. Talvez não seja a imagem perfeita da esperança, porque eu, pessoalmente, como religioso que sou, acho que a minha não está neste mundo”.

E prosseguiu: “Sob o efeito da eletricidade, o homem transforma-se numa espécie de espírito sem corpo. Estamos no ar. Através do telefone, por exemplo, estamos, ao mesmo tempo, em Nova York, Tóquio e aqui (Toronto). Na era da eletricidade, o homem tornou-se uma espécie de espírito etéreo. Passou a ser informação e está em todos os lugares. Ele é parte do novo ambiente. E este novo ambiente da informação inclui a gente que habita o mundo”.

E concluiu o seguinte, nesta parte de tão preciosa entrevista: “Quando no dia 17 de outubro de 1957 o Sputnik foi colocado em órbita da Terra, isto pôs o Planeta dentro de um ambiente conquistado pelo homem. Naquele momento, a Terra tornou-se uma responsabilidade humana programada, tornando-se "ecológica". Com a chegada do Sputnik, o simples planeta deixou de existir. Tornou-se o Planeta Terra. Uma espécie de Terra espacial. Uma nave espacial onde toda a humanidade é a tripulação”. McLuhan já havia expressado o mesmo raciocínio, com outras palavras, em seus livros. Mas este depoimento foi feito de viva voz.

Questiono: o homem tem capacidade para zelar pelo seu “lar cósmico”? Entendo que sim! Sua capacidade, queiram ou não, está muito além da imaginação. No prefácio de um livro de astronomia que li há algum tempo, o astrônomo espanhol, Antonio Paluzie Burrel, escreveu (com o que concordo plenamente, por expressar a caráter o que penso a propósito): “Maravilhoso e singular contraste. No homem que povoa a Terra, nesse pigmeu de absurda e incompreensível pequenez, vibra um espírito gigantesco, capaz de igualar-se à imensidade do universo real, posto que tem sido capaz de descobri-lo e compreendê-lo. E outro contraste, revelador, é entre a pequenez física da matéria que forma o homem e a grandeza espiritual de sua alma, inteligente, soberana e imensa”.

Essas palavras complementam uma constatação do escritor francês, André Malraux, em um artigo (ou ensaio, não me lembro bem), em que afirmou: “O maior mistério não é que estejamos jogados ao acaso entre a profusão da matéria e a dos astros: é que, nessa prisão, tiremos de nós mesmos imagens bastante poderosas para negar o nosso nada”. E não é?!

Por isso, apesar de parecer que pregamos no deserto, ao chamarmos as pessoas à racionalidade e bom-senso e ao pedir-lhes (na verdade, exigir-lhes) cuidados extremos com o meio ambiente, temos, sim, possibilidades de sucesso. Pequenas? Talvez. Mas reais. Entendo que “ainda” há esperança. Porque, como o próprio Malraux observou: “Alguma coisa de eterno permanece no homem...alguma coisa que chamarei sua parte divina”.

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