Um Midas das letras
Pedro J. Bondaczuk
O escritor norte-americano Paul Auster é uma espécie de Rei Midas das letras. E, creiam-me, não há nenhum exagero da minha parte, ao dar-lhe essa designação. Recorde-se que o personagem mitológico que citei, como castigo dos deuses, transformava em ouro tudo o que tocava. Muita gente que conheço consideraria isso uma bênção. Mas não era. Tanto que Midas transformou, sem que o quisesse evidentemente, a filha que tanto amava numa estátua de ouro.
Sempre que se quer usar metáfora para caracterizar alguém que anda de mãos dadas com o sucesso, se recorre a esse personagem da mitologia grega, embora eu considere a comparação inadequada. Afinal, como citei, para Midas o fato de transformar tudo em ouro se tornou terrível castigo. Mas... deixa pra lá! A expressão, no entanto, de tão usada, já se transformou em clichê. Diz-se, nesses casos, que “fulano tem o toque de Midas”.
Mas, voltando a Paul Auster e abstraindo o aspecto negativo da metáfora, pode-se dizer que tudo o que o escritor norte-americano “toca”, vira ouro. Basta lançar um novo livro para que não tarde em se tornar best-seller. Na vida pessoal, fora da literatura, esse sujeito deve ser um figuraço! Afinal, além de escritor (o que já não é pouco), ele é, também, argumentista, tradutor, realizador, marinheiro e até inventor de um curioso jogo de cartas, entre outras coisas.
É o que costumamos de rotular de “homem dos sete instrumentos”, que é como caracterizamos os que têm múltiplas habilidades. A nós interessa, claro, seu talento de escritor. Informações sobre o que faz e como vive, porém, são sempre úteis para formar uma idéia mais clara sobre como é determinada pessoa, não importa sua ocupação.
Se não me engano (e não é nada difícil me enganar neste caso), Paul Auster já publicou 23 livros, dos quais quatro de não-ficção, inclusive ensaios. Não posso garantir, contudo, que seja “só” isso. Pode ter publicado muito mais.
Porém, Paul Auster, como observei, é também argumentista. E tem em seu currículo pelo menos cinco argumentos que produziu para o cinema. Só não entendo como esse sujeito encontra tempo para tudo isso. Deve ser um “mágico” ou o “the flash”, quem sabe.
Por falar em cinema, é evidente, nos livros de Paul Auster, a influência cinematográfica. A enciclopédia eletrônica Wikipédia, onde colhi mais informações sobre esse escritor, observa, a esse respeito: “As suas histórias desenrolam-se numa sucessão que faz lembrar um ‘thriller’ usando igualmente o método da ‘caixa chinesa’, sucessão de histórias no interior umas das outras”.
É possível que este seja o segredo do seu imenso sucesso. Convenhamos, essa técnica não é das mais usuais e das mais fáceis e, portanto, não é para qualquer um. Quem leu seus livros (ou todos, ou alguns), sabe do que estou falando. Wikipédia lembra, ainda: “Boa parte da sua história é contada por ele como se fosse uma autobiografia”.
E qual é o melhor dos livros de Paul Auster? Não sei! Creio ser impossível fazer esse tipo de avaliação. Da minha parte, gostei de todos os que li. Algumas pessoas, com as quais conversei a respeito, optaram pela “Trilogia de Nova York”, que reúne três contos longos (“Cidade de vidro”, “Fantasmas” e “O quarto fechado à chave”), que parecem independentes, mas que têm um elo comum que os une: a solidão e a perda da identidade numa “megalópole”, uma das maiores e mais cosmopolitas do mundo. Trata-se, sem dúvida, de uma obra genial, quer na concepção, quer na escrita em si. Só não garanto que seja a melhor.
Outros, todavia, apontam “No país das últimas coisas” como a grande obra, a maiúscula e decisiva de Paul Auster. De fato, é um livro intrigante. Destaco este trecho (entre tantos outros que mereceriam destaque) que me chamou, particularmente, a atenção: “Algo desaparece e, se você passar muito tempo sem pensar nele, nada haverá de trazê-lo de volta. Recordar não é um ato de vontade, afinal. É algo que ocorre a despeito de nós e, quando há muita coisa mudando ao mesmo tempo, o cérebro vacila e os objetos lhe escapam”.
Outros livros de Paul Auster são citados como os melhores que publicou, como “Timbuktu”, “O livro das ilusões”, “A noite do oráculo”, “A música do acaso”, “Dr. Vertigo” e “Palácio da lua”.
O que essa incerteza significa? Para mim, só tem um significado, que é sumamente revelador: que o conjunto da sua obra é uniforme, mantém um elevado padrão de qualidade, sem que nenhum destoe, o que explica e justifica o sucesso de crítica e de vendas, e simultaneamente, o que é uma admirável façanha, sem a menor dúvida.
Pedro J. Bondaczuk
O escritor norte-americano Paul Auster é uma espécie de Rei Midas das letras. E, creiam-me, não há nenhum exagero da minha parte, ao dar-lhe essa designação. Recorde-se que o personagem mitológico que citei, como castigo dos deuses, transformava em ouro tudo o que tocava. Muita gente que conheço consideraria isso uma bênção. Mas não era. Tanto que Midas transformou, sem que o quisesse evidentemente, a filha que tanto amava numa estátua de ouro.
Sempre que se quer usar metáfora para caracterizar alguém que anda de mãos dadas com o sucesso, se recorre a esse personagem da mitologia grega, embora eu considere a comparação inadequada. Afinal, como citei, para Midas o fato de transformar tudo em ouro se tornou terrível castigo. Mas... deixa pra lá! A expressão, no entanto, de tão usada, já se transformou em clichê. Diz-se, nesses casos, que “fulano tem o toque de Midas”.
Mas, voltando a Paul Auster e abstraindo o aspecto negativo da metáfora, pode-se dizer que tudo o que o escritor norte-americano “toca”, vira ouro. Basta lançar um novo livro para que não tarde em se tornar best-seller. Na vida pessoal, fora da literatura, esse sujeito deve ser um figuraço! Afinal, além de escritor (o que já não é pouco), ele é, também, argumentista, tradutor, realizador, marinheiro e até inventor de um curioso jogo de cartas, entre outras coisas.
É o que costumamos de rotular de “homem dos sete instrumentos”, que é como caracterizamos os que têm múltiplas habilidades. A nós interessa, claro, seu talento de escritor. Informações sobre o que faz e como vive, porém, são sempre úteis para formar uma idéia mais clara sobre como é determinada pessoa, não importa sua ocupação.
Se não me engano (e não é nada difícil me enganar neste caso), Paul Auster já publicou 23 livros, dos quais quatro de não-ficção, inclusive ensaios. Não posso garantir, contudo, que seja “só” isso. Pode ter publicado muito mais.
Porém, Paul Auster, como observei, é também argumentista. E tem em seu currículo pelo menos cinco argumentos que produziu para o cinema. Só não entendo como esse sujeito encontra tempo para tudo isso. Deve ser um “mágico” ou o “the flash”, quem sabe.
Por falar em cinema, é evidente, nos livros de Paul Auster, a influência cinematográfica. A enciclopédia eletrônica Wikipédia, onde colhi mais informações sobre esse escritor, observa, a esse respeito: “As suas histórias desenrolam-se numa sucessão que faz lembrar um ‘thriller’ usando igualmente o método da ‘caixa chinesa’, sucessão de histórias no interior umas das outras”.
É possível que este seja o segredo do seu imenso sucesso. Convenhamos, essa técnica não é das mais usuais e das mais fáceis e, portanto, não é para qualquer um. Quem leu seus livros (ou todos, ou alguns), sabe do que estou falando. Wikipédia lembra, ainda: “Boa parte da sua história é contada por ele como se fosse uma autobiografia”.
E qual é o melhor dos livros de Paul Auster? Não sei! Creio ser impossível fazer esse tipo de avaliação. Da minha parte, gostei de todos os que li. Algumas pessoas, com as quais conversei a respeito, optaram pela “Trilogia de Nova York”, que reúne três contos longos (“Cidade de vidro”, “Fantasmas” e “O quarto fechado à chave”), que parecem independentes, mas que têm um elo comum que os une: a solidão e a perda da identidade numa “megalópole”, uma das maiores e mais cosmopolitas do mundo. Trata-se, sem dúvida, de uma obra genial, quer na concepção, quer na escrita em si. Só não garanto que seja a melhor.
Outros, todavia, apontam “No país das últimas coisas” como a grande obra, a maiúscula e decisiva de Paul Auster. De fato, é um livro intrigante. Destaco este trecho (entre tantos outros que mereceriam destaque) que me chamou, particularmente, a atenção: “Algo desaparece e, se você passar muito tempo sem pensar nele, nada haverá de trazê-lo de volta. Recordar não é um ato de vontade, afinal. É algo que ocorre a despeito de nós e, quando há muita coisa mudando ao mesmo tempo, o cérebro vacila e os objetos lhe escapam”.
Outros livros de Paul Auster são citados como os melhores que publicou, como “Timbuktu”, “O livro das ilusões”, “A noite do oráculo”, “A música do acaso”, “Dr. Vertigo” e “Palácio da lua”.
O que essa incerteza significa? Para mim, só tem um significado, que é sumamente revelador: que o conjunto da sua obra é uniforme, mantém um elevado padrão de qualidade, sem que nenhum destoe, o que explica e justifica o sucesso de crítica e de vendas, e simultaneamente, o que é uma admirável façanha, sem a menor dúvida.
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