Narrando e crendo com paixão
Pedro J. Bondaczuk
Ao narrar uma história, notadamente de amor (sentimento que propicia, sem dúvida, os melhores e os piores enredos), devemos colocar nela, além do talento narrativo, indispensável a qualquer escritor, paixão. Temos que desenvolver a narrativa como se fosse um fato que vivemos, como se o que estivermos narrando tenha ocorrido conosco e por isso, tenhamos pleno conhecimento de causa. Esse é o ingrediente básico e decisivo dos grandes livros, os que comovem e não se limitam a passar pelo cérebro dos leitores, mas cheguem direta e de forma impactante ao coração.
É certo que isso não garante que sua história atraia uma multidão de editores, brigando, a tapas, na porta de sua casa, para publicá-la. Você terá que ralar muito para conseguir um lugar ao sol, principalmente se seu livro for o primeiro, o de estréia, e isso vale tanto para o Brasil (mesmo que mais intensamente aqui), quanto para os Estados Unidos, a Europa e qualquer lugar. Duvidam? Tentarei provar que as dificuldades para estreantes são as mesmas, tanto aqui, quanto alhures.
Romances marcantes, que caem de imediato no gosto do público, esgotam edições e mais edições, são traduzidos para dezenas de línguas e até são adaptados para o cinema, onde, dependendo do trato que se lhe dê, se tornam campeões de bilheteria, são publicados, muitas vezes (ou quase sempre) por acaso. Principalmente quando se trata, reitero, da obra de estréia do autor.
Esse foi o caso de “O Diário de uma Paixão” (a versão que tenho em mãos, da Editora Objetiva e que também foi publicada pela Biblioteca Seleções do Reader’s Digest tem o título “O caderno de Noah”), do norte-americano Nicholas Sparks. O escritor ralou muito até ver seu sonho realizado. Conviveu um tempão com o fracasso. Antes de produzir essa obra-prima, hoje amplamente reconhecida e recompensada, havia escrito um romance de terror e um conto de mistério, que nenhum editor se arriscou a publicar.
“O caderno de Noah” (será com esse título que tratarei do seu livro nestas reflexões) encaminhava-se para idêntico destino. Nicholas Sparks ofereceu seu romance para 25 editoras! Não é exagero. Foram 25 mesmo! E todas, absolutamente todas, recusaram seu livro. Isso, certamente, deve soar bem familiar para a maioria dos freqüentadores desse espaço. Duvido, todavia, que haja alguém com tamanha persistência (ou seria teimosia?).
Ao, digamos, o terceiro “não”, são raros, raríssimos os que não desistem e não procuram fazer outra coisa qualquer, que não seja escrever livros. Raros mantêm um mínimo de autoconfiança. A reação mais esperada, posto que humana, é pôr em dúvida o próprio talento e achar-se a “porcaria das porcarias”, em termos de talento literário.
Nicholas Sparks, porém, topou com um acaso feliz. Aliás, alguém, com a sua persistência, bem que merecia isso. Na época em que escreveu “O caderno de Noah”, trabalhava como vendedor de produtos farmacêuticos. Não tinha, pois, à sua disposição, todo o tempo do mundo para escrever. Pelo contrário. Era forçado a fazer uma ginástica incrível para fazer o que, até então, encarava apenas como “hobby”. Além do mais, tinha duas filhas pequenas para alimentar, vestir, estudar e criar.
E qual foi esse acaso feliz, que mudou a sua vida e subitamente o tornou personalidade não só nacional, mas internacional, do mundo das letras? Foi o fato de uma determinada agente literária, que se emocionou às lágrimas ao ler sua história, acreditar nela e se dispor a arriscar seu prestígio, bancando-a junto a uma editora. Resultado? O livro foi publicado. Não tardou para que chovessem críticas favoráveis ao romance. Além disso, quem o lia, recomendava aos amigos, aos parentes, aos vizinhos etc. Daí para a consagração, foi um piscar de olhos.
A agente literária foi mais do que recompensada pelo seu excelente faro para textos de qualidade. Editores de todo o mundo passaram a fazer fila à porta do seu escritório, desembolsando milhões de dólares pelos direitos de publicação do romance. E em todos os lugares que o livro foi publicado, o resultado foi o mesmo: sucesso.
Foi assim que um jovem vendedor de produtos farmacêuticos e uma experiente agente literária ficaram ricos e famosos. E por que trago à baila essa história? Porque tenho visto obras-primas, com potencial imenso, muitas das quais não somente li, mas tive o privilégio de prefaciar, serem recusadas, sem mais e nem menos, por editores no mínimo desatentos. É uma situação em que ambas as partes saem perdendo. E os autores, abalados em sua autoconfiança, desistem ao terceiro “não” e nem tentam uma quarta, uma quinta ou sabe-se lá quantas mais investidas. Uma pena!
Sparks tentou 26 vezes. Em 25 editoras, foi recusado, na maioria das vezes sem, até, as surradas, falsas e meramente protocolares desculpas de sempre. Na última tentativa (e desconfio que tentaria uma 27ª, 28ª, 29ª e sabe-se lá quantas vezes mais), a fortuna sorriu para todos os envolvidos. Foi uma situação em que todos saíram ganhando, principalmente os leitores. Se você não leu o livro, procure-o num sebo (creio q ue há anos esteja esgotado) e leia. Não irá se arrepender. Mas aproveite, sobretudo, a lição que esse caso nos traz.
Se você tiver um livro em cuja qualidade confie, que tenha recebido apreciação favorável não de parentes e amigos (pois estas, saem querer, distorcem a verdade), mas dos mais sisudos, ranzinzas e frios críticos (de preferência, que antipatizem com você, para que fatores subjetivos não influenciem no seu julgamento) e que tenha sido recusado por uma (ou por várias) editoras, não dê a batalha por perdida. Tente, tente e tente, quantas vezes for necessário. Afinal, não há nada mais triste do que vermos um sonho morrer sem fazermos nada (ou não o suficiente) para ele se tornar realidade.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Ao narrar uma história, notadamente de amor (sentimento que propicia, sem dúvida, os melhores e os piores enredos), devemos colocar nela, além do talento narrativo, indispensável a qualquer escritor, paixão. Temos que desenvolver a narrativa como se fosse um fato que vivemos, como se o que estivermos narrando tenha ocorrido conosco e por isso, tenhamos pleno conhecimento de causa. Esse é o ingrediente básico e decisivo dos grandes livros, os que comovem e não se limitam a passar pelo cérebro dos leitores, mas cheguem direta e de forma impactante ao coração.
É certo que isso não garante que sua história atraia uma multidão de editores, brigando, a tapas, na porta de sua casa, para publicá-la. Você terá que ralar muito para conseguir um lugar ao sol, principalmente se seu livro for o primeiro, o de estréia, e isso vale tanto para o Brasil (mesmo que mais intensamente aqui), quanto para os Estados Unidos, a Europa e qualquer lugar. Duvidam? Tentarei provar que as dificuldades para estreantes são as mesmas, tanto aqui, quanto alhures.
Romances marcantes, que caem de imediato no gosto do público, esgotam edições e mais edições, são traduzidos para dezenas de línguas e até são adaptados para o cinema, onde, dependendo do trato que se lhe dê, se tornam campeões de bilheteria, são publicados, muitas vezes (ou quase sempre) por acaso. Principalmente quando se trata, reitero, da obra de estréia do autor.
Esse foi o caso de “O Diário de uma Paixão” (a versão que tenho em mãos, da Editora Objetiva e que também foi publicada pela Biblioteca Seleções do Reader’s Digest tem o título “O caderno de Noah”), do norte-americano Nicholas Sparks. O escritor ralou muito até ver seu sonho realizado. Conviveu um tempão com o fracasso. Antes de produzir essa obra-prima, hoje amplamente reconhecida e recompensada, havia escrito um romance de terror e um conto de mistério, que nenhum editor se arriscou a publicar.
“O caderno de Noah” (será com esse título que tratarei do seu livro nestas reflexões) encaminhava-se para idêntico destino. Nicholas Sparks ofereceu seu romance para 25 editoras! Não é exagero. Foram 25 mesmo! E todas, absolutamente todas, recusaram seu livro. Isso, certamente, deve soar bem familiar para a maioria dos freqüentadores desse espaço. Duvido, todavia, que haja alguém com tamanha persistência (ou seria teimosia?).
Ao, digamos, o terceiro “não”, são raros, raríssimos os que não desistem e não procuram fazer outra coisa qualquer, que não seja escrever livros. Raros mantêm um mínimo de autoconfiança. A reação mais esperada, posto que humana, é pôr em dúvida o próprio talento e achar-se a “porcaria das porcarias”, em termos de talento literário.
Nicholas Sparks, porém, topou com um acaso feliz. Aliás, alguém, com a sua persistência, bem que merecia isso. Na época em que escreveu “O caderno de Noah”, trabalhava como vendedor de produtos farmacêuticos. Não tinha, pois, à sua disposição, todo o tempo do mundo para escrever. Pelo contrário. Era forçado a fazer uma ginástica incrível para fazer o que, até então, encarava apenas como “hobby”. Além do mais, tinha duas filhas pequenas para alimentar, vestir, estudar e criar.
E qual foi esse acaso feliz, que mudou a sua vida e subitamente o tornou personalidade não só nacional, mas internacional, do mundo das letras? Foi o fato de uma determinada agente literária, que se emocionou às lágrimas ao ler sua história, acreditar nela e se dispor a arriscar seu prestígio, bancando-a junto a uma editora. Resultado? O livro foi publicado. Não tardou para que chovessem críticas favoráveis ao romance. Além disso, quem o lia, recomendava aos amigos, aos parentes, aos vizinhos etc. Daí para a consagração, foi um piscar de olhos.
A agente literária foi mais do que recompensada pelo seu excelente faro para textos de qualidade. Editores de todo o mundo passaram a fazer fila à porta do seu escritório, desembolsando milhões de dólares pelos direitos de publicação do romance. E em todos os lugares que o livro foi publicado, o resultado foi o mesmo: sucesso.
Foi assim que um jovem vendedor de produtos farmacêuticos e uma experiente agente literária ficaram ricos e famosos. E por que trago à baila essa história? Porque tenho visto obras-primas, com potencial imenso, muitas das quais não somente li, mas tive o privilégio de prefaciar, serem recusadas, sem mais e nem menos, por editores no mínimo desatentos. É uma situação em que ambas as partes saem perdendo. E os autores, abalados em sua autoconfiança, desistem ao terceiro “não” e nem tentam uma quarta, uma quinta ou sabe-se lá quantas mais investidas. Uma pena!
Sparks tentou 26 vezes. Em 25 editoras, foi recusado, na maioria das vezes sem, até, as surradas, falsas e meramente protocolares desculpas de sempre. Na última tentativa (e desconfio que tentaria uma 27ª, 28ª, 29ª e sabe-se lá quantas vezes mais), a fortuna sorriu para todos os envolvidos. Foi uma situação em que todos saíram ganhando, principalmente os leitores. Se você não leu o livro, procure-o num sebo (creio q ue há anos esteja esgotado) e leia. Não irá se arrepender. Mas aproveite, sobretudo, a lição que esse caso nos traz.
Se você tiver um livro em cuja qualidade confie, que tenha recebido apreciação favorável não de parentes e amigos (pois estas, saem querer, distorcem a verdade), mas dos mais sisudos, ranzinzas e frios críticos (de preferência, que antipatizem com você, para que fatores subjetivos não influenciem no seu julgamento) e que tenha sido recusado por uma (ou por várias) editoras, não dê a batalha por perdida. Tente, tente e tente, quantas vezes for necessário. Afinal, não há nada mais triste do que vermos um sonho morrer sem fazermos nada (ou não o suficiente) para ele se tornar realidade.
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