Os clássicos, ah, os clássicos!
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas, via de regra, equivocam-se em relação aos escritores chamados, genericamente, de “clássicos” da literatura. Quando se recomenda que os leiam, torcem o nariz, achando que se trata de obras arcaicas, chatas de se ler, com estilo empolado e que não prendem a atenção de ninguém, muito menos a sua. Não caia nessa armadilha. Esse é um prejulgamento estúpido e irresponsável. Afinal, um autor, para ser considerado “clássico”, precisa ter produzido textos que superam as barreiras do tempo e do esquecimento, se perpetuam e continuam influenciando o mundo das letras (e sobretudo das idéias) ainda hoje.
Ao longo da história, tivemos, mundo afora, escritores geniais, cuja leitura continua atrativa e mais fundamental do que nunca. Estão, neste caso, óbvio, por exemplo, os gregos Homero, Heródoto, Tucidides, Sófocles, Platão e Aristóteles. Claro que não são apenas estes, mas são os que me vêm à memória de imediato, sem precisar pensar muito.
Entre os romanos, destacam-se Petrônio, Ovídio, Plutarco, Sêneca e Virgílio. A Índia legou à humanidade os poetas Valmiki e Vyasa, autores, respectivamente, das epopéias “Ramayana” e “Mahabarata”. Quando se fala da China, é obrigatório citar Lao Tzu, Confúcio e Sun Tzu. E a lista vai crescendo, crescendo e crescendo exponencialmente, embora não me lembre de todos os escritores clássicos. Nem poderia. Haja memória!
Faz-se necessário citar, ainda, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Bocaccio, Dante Aligheri, Thomas Morus, Maquiavel, Cervantes, Shakespeare e Erasmo de Rotterdã. Chega? Claro que não! Goethe, Thomas Mann e Herrman Hesse também são clássicos. Assim como Flaubert, Proust, Hugo, Dumas (notadamente o pai), Baudelaire, Voltaire e Balzac. E como esquecer os russos Fedor Dostoievski, Gogol, Pushkin, Tolstoi e Gorki?!
E o que dizer dos autores de língua inglesa, como Henry David Thoreau, Joyce, Oscar Wilde, Hemmingway, Huxley, Jane Austen e George Orwell?! Seria inominável heresia omitir Rabindranath Tagore, Kafka, Borges ou Camus. E a relação poderia se estender por páginas e mais páginas e, ainda assim, algum escritor célebre acabaria esquecido.
Agora, digam, com sinceridade: estes escritores são chatos? A leitura de suas obras é monótona? Eles se consagraram por mero acaso, por um golpe de sorte? Não, não e não! Todos os citados (e inúmeros omitidos) foram gênios. Por isso, venceram a morte e o esquecimento.
Dia desses, estive relendo as “Cartas a Lucílio”, de Sêneca, já que a releitura enseja uma assimilação mais completa de determinado texto, e tornei a ficar admirado (já havia ficado na primeira vez que o li) com a fluência do seu estilo e a “modernidade” de suas idéias. E olhem que já faze praticamente três milênios que ele morreu. A maioria de nós, salvo uma ou outra exceção, será esquecida um ou dois anos após morrer. Isso se tal esquecimento não ocorrer muito antes, ainda em vida, o que é mais cruel.
Em determinado trecho, Sêneca acentua: “A virtude subdivide-se em quatro aspectos: refrear os desejos, dominar o medo, tomar as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe é devido. Concebemos, assim, as noções de temperança, de coragem, de prudência e de justiça, cada qual comportando seus deveres específicos”.
Esclareço: quando Sêneca recomenda que refreemos nossos desejos, se refere àqueles ostensivamente nocivos, que se atendidos nos trarão contratempos e sérios prejuízos físicos (às vezes até a morte), morais e afetivos. E, claro, os exagerados e não factíveis, que nos gerariam, somente, frustrações.
E por que recorri a Sêneca? Porque, pesquisando sobre a virtude em livros de escritores contemporâneos, muitos com vasta coleção de diplomas acadêmicos e títulos de doutorado, achei-os confusos, empolados, pedantes e, não raro, ininteligíveis. Já o que o escritor romano escreveu, de simplicidade franciscana, é claro, objetivo, direto e didático.
Na sequência, Sêneca concluiu: “A partir de que, então, concebemos nós a virtude? O que no-la revela a ordem por ela própria estabelecida, o decoro, a firmeza de princípios, a total harmonia de todos os seus atos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingências. A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz, fluindo segundo um curso inalterável, com total domínio sobre si mesmo”.
Querem um texto mais objetivo, claro, limpo e direto do que este?! Sêneca não utiliza um único jargão, não se propõe a esbanjar erudição (que, aliás, tinha de sobra) e dá uma aula de como comunicar, com clareza e precisão, uma idéia.
Você precisou recorrer a algum dicionário para entender o que ele quis expressar? Eu não! O texto é de suma objetividade, parâmetro de como escrever bem. Porquanto, a sabedoria, quase sempre, anda de mãos dadas com a simplicidade. Não torça, pois, o nariz quando lhe recomendarem que leia os clássicos. Eles são uma bênção a quem pretenda assimilar cultura, no mais lato sentido, com beleza, graça, alegria e exatidão.
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas, via de regra, equivocam-se em relação aos escritores chamados, genericamente, de “clássicos” da literatura. Quando se recomenda que os leiam, torcem o nariz, achando que se trata de obras arcaicas, chatas de se ler, com estilo empolado e que não prendem a atenção de ninguém, muito menos a sua. Não caia nessa armadilha. Esse é um prejulgamento estúpido e irresponsável. Afinal, um autor, para ser considerado “clássico”, precisa ter produzido textos que superam as barreiras do tempo e do esquecimento, se perpetuam e continuam influenciando o mundo das letras (e sobretudo das idéias) ainda hoje.
Ao longo da história, tivemos, mundo afora, escritores geniais, cuja leitura continua atrativa e mais fundamental do que nunca. Estão, neste caso, óbvio, por exemplo, os gregos Homero, Heródoto, Tucidides, Sófocles, Platão e Aristóteles. Claro que não são apenas estes, mas são os que me vêm à memória de imediato, sem precisar pensar muito.
Entre os romanos, destacam-se Petrônio, Ovídio, Plutarco, Sêneca e Virgílio. A Índia legou à humanidade os poetas Valmiki e Vyasa, autores, respectivamente, das epopéias “Ramayana” e “Mahabarata”. Quando se fala da China, é obrigatório citar Lao Tzu, Confúcio e Sun Tzu. E a lista vai crescendo, crescendo e crescendo exponencialmente, embora não me lembre de todos os escritores clássicos. Nem poderia. Haja memória!
Faz-se necessário citar, ainda, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Bocaccio, Dante Aligheri, Thomas Morus, Maquiavel, Cervantes, Shakespeare e Erasmo de Rotterdã. Chega? Claro que não! Goethe, Thomas Mann e Herrman Hesse também são clássicos. Assim como Flaubert, Proust, Hugo, Dumas (notadamente o pai), Baudelaire, Voltaire e Balzac. E como esquecer os russos Fedor Dostoievski, Gogol, Pushkin, Tolstoi e Gorki?!
E o que dizer dos autores de língua inglesa, como Henry David Thoreau, Joyce, Oscar Wilde, Hemmingway, Huxley, Jane Austen e George Orwell?! Seria inominável heresia omitir Rabindranath Tagore, Kafka, Borges ou Camus. E a relação poderia se estender por páginas e mais páginas e, ainda assim, algum escritor célebre acabaria esquecido.
Agora, digam, com sinceridade: estes escritores são chatos? A leitura de suas obras é monótona? Eles se consagraram por mero acaso, por um golpe de sorte? Não, não e não! Todos os citados (e inúmeros omitidos) foram gênios. Por isso, venceram a morte e o esquecimento.
Dia desses, estive relendo as “Cartas a Lucílio”, de Sêneca, já que a releitura enseja uma assimilação mais completa de determinado texto, e tornei a ficar admirado (já havia ficado na primeira vez que o li) com a fluência do seu estilo e a “modernidade” de suas idéias. E olhem que já faze praticamente três milênios que ele morreu. A maioria de nós, salvo uma ou outra exceção, será esquecida um ou dois anos após morrer. Isso se tal esquecimento não ocorrer muito antes, ainda em vida, o que é mais cruel.
Em determinado trecho, Sêneca acentua: “A virtude subdivide-se em quatro aspectos: refrear os desejos, dominar o medo, tomar as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe é devido. Concebemos, assim, as noções de temperança, de coragem, de prudência e de justiça, cada qual comportando seus deveres específicos”.
Esclareço: quando Sêneca recomenda que refreemos nossos desejos, se refere àqueles ostensivamente nocivos, que se atendidos nos trarão contratempos e sérios prejuízos físicos (às vezes até a morte), morais e afetivos. E, claro, os exagerados e não factíveis, que nos gerariam, somente, frustrações.
E por que recorri a Sêneca? Porque, pesquisando sobre a virtude em livros de escritores contemporâneos, muitos com vasta coleção de diplomas acadêmicos e títulos de doutorado, achei-os confusos, empolados, pedantes e, não raro, ininteligíveis. Já o que o escritor romano escreveu, de simplicidade franciscana, é claro, objetivo, direto e didático.
Na sequência, Sêneca concluiu: “A partir de que, então, concebemos nós a virtude? O que no-la revela a ordem por ela própria estabelecida, o decoro, a firmeza de princípios, a total harmonia de todos os seus atos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingências. A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz, fluindo segundo um curso inalterável, com total domínio sobre si mesmo”.
Querem um texto mais objetivo, claro, limpo e direto do que este?! Sêneca não utiliza um único jargão, não se propõe a esbanjar erudição (que, aliás, tinha de sobra) e dá uma aula de como comunicar, com clareza e precisão, uma idéia.
Você precisou recorrer a algum dicionário para entender o que ele quis expressar? Eu não! O texto é de suma objetividade, parâmetro de como escrever bem. Porquanto, a sabedoria, quase sempre, anda de mãos dadas com a simplicidade. Não torça, pois, o nariz quando lhe recomendarem que leia os clássicos. Eles são uma bênção a quem pretenda assimilar cultura, no mais lato sentido, com beleza, graça, alegria e exatidão.
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