Imorredoura paixão
Pedro J. Bondaczuk
A paixão é um sentimento controvertido, tido e havido como defeito por alguns, que não entendem o seu alcance e aÇão e como virtude por outros que as sentem irrestritamente. Depende, claro, do contexto em que ela é avaliada. Trata-se de uma apreciação extrema, sem meias medidas. Afinal, é pura emoção, com zero de razão. “Então é algo ruim?”, perguntarão, afirmando, os reducionistas. Reitero: depende.
É comum ouvir-se por aí, ou se ler em livros, artigos e crônicas, que a paixão cega as pessoas e as impedem de conquistar o que mais desejam, por falta de clarividência. Trata-se de mera generalização sem qualquer lógica. Depende de a qual tipo de paixão esses pseudo-especialistas se referem. As negativas, como ódio, cobiça e inveja, de fato têm a característica de ofuscar a visão dos que são possuídos por elas e têm que ser controladas, ou melhor, extirpadas. Já no caso do amor (por uma pessoa, ideal, causa ou entidade), porém, ocorre o contrário. As pessoas apaixonadas adquirem mais clarividência e enxergam melhor do que as que não amam. Nenhuma obra se aproxima da perfeição e adquire real valor se, na sua consecução, não houver forte dose de paixão.
Tenho muitas paixões. Sou, por temperamento, um sujeito apaixonado. E entre as tantas que me movem, destaco uma que é compartilhada por muitos e muitos, e já há algumas gerações. É um amor irrestrito, fiel e leal por uma entidade que é mais do que centenária. Mais especificamente, o objeto dessa poderosa paixão é uma associação, voltada para os esportes, mas que congrega os que comungam dos mesmos anseios e ideais mesmo fora da mera esfera esportiva, que os aproxima e que até os irmana. Tem o condão de fazer amigos e de consolidar amizades.
Refiro-me à Associação Atlética Ponte Pretas que, neste 11 de agosto de 2011, completa 111 memoráveis anos de fundação. Sou apaixonado por essa entidade, e há já meio século. Vibro com seu sucesso. Choro com suas perdas. Mas sigo, sejam quais forem as circunstâncias, fiel, fidelíssimo a ela. Por que? Sei lá! Afinal, paixão não se explica. Paixão não se racionaliza. Paixão não se justifica. Simplesmente se sente. E é o que eu sinto. Ademais, é algo que não se mede. É, por si só, desmedida, infinita, ilimitada. Ou é absoluta e irrestrita, ou não existe.
Nunca canso de afirmar, de reiterar e de enfatizar que devemos pôr paixão em tudo o que fizermos, e gostarmos, não importa o tamanho e a relevância da tarefa ou do objeto da nossa estima, desde que não se trate de algo mal. Temos que ser, sobretudo, apaixonados pela vida e viver cada segundo com máxima intensidade e vigor, valorizando o que somos e o que temos e, sobretudo, as pessoas com que convivemos e cuja convivência nos seja benigna.
Sou apaixonado pela Ponte Preta, sim, talvez não mais do que aquele torcedor que deixou de comparecer ao próprio casamento, por coincidir com um jogo do seu clube do coração. Mas, certamente, não menos. Talvez não mais do que aquele desvairadamente apaixonado que viajou, de Campinas a Bauru, no porta-malas de um carro popular, só para acompanhar de perto sua Ponte. Todavia, com certeza, não menos. Talvez não mais do que o grupo que, do nada, sem recurso financeiro algum, ergueu, com as próprias mãos, com o suor do rosto, com a puríssima vontade – ou doando mão de obra gratuita, ou um saco de cimento, ou ferragem ou até reles tijolo – um estádio de fazer inveja a muitos que, não por acaso, tem o nome de Majestoso. Mas de jeito nenhum, não menos.
Não é qualquer entidade, empresa, fábrica ou associação de qualquer espécie que consegue completar cem anos, sem solução de continuidade, e em pleno vigor, cada vez mais sólida e mais forte. Ou seja, sem interromper suas atividades em momento algum, superando todas e inúmeras dificuldades, muitas tidas como insuperáveis, porém superadas de fato com garra e com paixão. Vejam, por exemplo, quantas delas fecharam as portas e deixaram de existir nesse período. Foram inúmeras!!! São raríssimas as entidades centenárias, não só em Campinas ou no Brasil, mas em todo o mundo.
Se determinada associação logra este feito – e a Ponte Preta completa não somente o centenário, mas 111 anos de existência! – é porque tem algo de muito especial que atrai tanta gente que a sustenta, e com irrestrita paixão. Sem esse apoio, essa confiança, essa fé e esse amor sem limites, certamente, essa façanha seria não apenas improvável, mas impossível. Para que se tenha uma idéia mais precisa do significado da data de hoje basta lembrar que , esse clube fantástico foi fundado apenas menos de um mês depois de Campinas haver completado 125 anos. Hoje, a cidade tem 237 anos. A Ponte Preta, portanto, integra, praticamente, a metade (ou quase) da gloriosa história desta exuberante metrópole. E exatamente sua fase de maior progresso e pujança. É, pois, parte inseparável da rica e invejável tradição campineira.
Devemos colocar paixão em todos os afazeres, quer se trate da administração de um lar, quer de um relacionamento afetivo, do cultivo de um jardim, da partilha de uma amizade ou do amor por determinada entidade, compatível com a nossa maneira de ser. Nada é pequeno para quem tem grandeza de alma, para quem encara a vida como deve ser sempre encarada – com deleite e encantamento – e que põe chispas pelos olhos nos momentos de agir.
O dragão, ser mítico criado num tempo bastante remoto pela imaginação popular, teria a faculdade de expelir jatos de fogo pela boca. Claro que se trata de lenda e que jamais existiu ou poderia existir um animal assim. Em chinês, esse bicho imaginário leva o nome de long e, em japonês, de ryu. Mas o termo por nós utilizado deriva do grego “drakon”. Na mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku, o deus criador, para participarem da criação do mundo. A ele teria cabido criar a energia do fogo, que destrói, mas permite o renascimento (transformação).
Seria, porém, possível o homem expelir chamas do seu corpo? Figurativamente, sim. Quem é dotado do dom do raciocínio, potencializado pela paixão, expele fogo pelos olhos. Ou seja, é convicto do que fala, do que faz e do que gosta e nunca se limita a pensar, mas age, e com força, coragem e determinação.
A paixão, em si, é cega, e, a priori, nem é um bem e nem um mal. Cabe-nos direcioná-la, para que se torne força irresistível e benigna que atue a nosso favor. Sem ela, nada do que fizermos atingirá a excelência e a perfeição. A paixão é como um legítimo cavalo puro-sangue. Um animal desse tipo, forte, saudável e veloz, pode nos levar com mais rapidez e segurança a qualquer lugar que queiramos.
Para isso, porém, é indispensável que seja domado. Se for xucro, nos derrubará da sela antes que sequer consigamos piscar. Para nos ser útil, é indispensável que estabeleçamos com o animal relação de mútua confiança, até mesmo de amizade. A paixão também é assim. É mister que se lembre que ela pode ser definida como um comprometimento irrestrito e absoluto, sem dúvidas ou vacilações, com uma pessoa, uma idéia, uma causa ou uma entidade.
Antes de montarmos, portanto, no tal puro-sangue, é indispensável que tenhamos completa certeza da excelência de quem ou do que queremos conquistar. Ou seja, temos que “domá-la”. Estabelecida, porém, essa convicção, nada é mais seguro e rápido do que, no dorso do “cavalo” da paixão, galoparmos, livres e confiantes, rumo ao sucesso e à felicidade. É o que a coletividade da Ponte Preta fez, faz e certamente fará rumo ao segundo, terceiro, quarto centenários etc. e sabe-se lá quantos mais, vencendo o tempo e a efemeridade e contagiando gerações.
Pedro J. Bondaczuk
A paixão é um sentimento controvertido, tido e havido como defeito por alguns, que não entendem o seu alcance e aÇão e como virtude por outros que as sentem irrestritamente. Depende, claro, do contexto em que ela é avaliada. Trata-se de uma apreciação extrema, sem meias medidas. Afinal, é pura emoção, com zero de razão. “Então é algo ruim?”, perguntarão, afirmando, os reducionistas. Reitero: depende.
É comum ouvir-se por aí, ou se ler em livros, artigos e crônicas, que a paixão cega as pessoas e as impedem de conquistar o que mais desejam, por falta de clarividência. Trata-se de mera generalização sem qualquer lógica. Depende de a qual tipo de paixão esses pseudo-especialistas se referem. As negativas, como ódio, cobiça e inveja, de fato têm a característica de ofuscar a visão dos que são possuídos por elas e têm que ser controladas, ou melhor, extirpadas. Já no caso do amor (por uma pessoa, ideal, causa ou entidade), porém, ocorre o contrário. As pessoas apaixonadas adquirem mais clarividência e enxergam melhor do que as que não amam. Nenhuma obra se aproxima da perfeição e adquire real valor se, na sua consecução, não houver forte dose de paixão.
Tenho muitas paixões. Sou, por temperamento, um sujeito apaixonado. E entre as tantas que me movem, destaco uma que é compartilhada por muitos e muitos, e já há algumas gerações. É um amor irrestrito, fiel e leal por uma entidade que é mais do que centenária. Mais especificamente, o objeto dessa poderosa paixão é uma associação, voltada para os esportes, mas que congrega os que comungam dos mesmos anseios e ideais mesmo fora da mera esfera esportiva, que os aproxima e que até os irmana. Tem o condão de fazer amigos e de consolidar amizades.
Refiro-me à Associação Atlética Ponte Pretas que, neste 11 de agosto de 2011, completa 111 memoráveis anos de fundação. Sou apaixonado por essa entidade, e há já meio século. Vibro com seu sucesso. Choro com suas perdas. Mas sigo, sejam quais forem as circunstâncias, fiel, fidelíssimo a ela. Por que? Sei lá! Afinal, paixão não se explica. Paixão não se racionaliza. Paixão não se justifica. Simplesmente se sente. E é o que eu sinto. Ademais, é algo que não se mede. É, por si só, desmedida, infinita, ilimitada. Ou é absoluta e irrestrita, ou não existe.
Nunca canso de afirmar, de reiterar e de enfatizar que devemos pôr paixão em tudo o que fizermos, e gostarmos, não importa o tamanho e a relevância da tarefa ou do objeto da nossa estima, desde que não se trate de algo mal. Temos que ser, sobretudo, apaixonados pela vida e viver cada segundo com máxima intensidade e vigor, valorizando o que somos e o que temos e, sobretudo, as pessoas com que convivemos e cuja convivência nos seja benigna.
Sou apaixonado pela Ponte Preta, sim, talvez não mais do que aquele torcedor que deixou de comparecer ao próprio casamento, por coincidir com um jogo do seu clube do coração. Mas, certamente, não menos. Talvez não mais do que aquele desvairadamente apaixonado que viajou, de Campinas a Bauru, no porta-malas de um carro popular, só para acompanhar de perto sua Ponte. Todavia, com certeza, não menos. Talvez não mais do que o grupo que, do nada, sem recurso financeiro algum, ergueu, com as próprias mãos, com o suor do rosto, com a puríssima vontade – ou doando mão de obra gratuita, ou um saco de cimento, ou ferragem ou até reles tijolo – um estádio de fazer inveja a muitos que, não por acaso, tem o nome de Majestoso. Mas de jeito nenhum, não menos.
Não é qualquer entidade, empresa, fábrica ou associação de qualquer espécie que consegue completar cem anos, sem solução de continuidade, e em pleno vigor, cada vez mais sólida e mais forte. Ou seja, sem interromper suas atividades em momento algum, superando todas e inúmeras dificuldades, muitas tidas como insuperáveis, porém superadas de fato com garra e com paixão. Vejam, por exemplo, quantas delas fecharam as portas e deixaram de existir nesse período. Foram inúmeras!!! São raríssimas as entidades centenárias, não só em Campinas ou no Brasil, mas em todo o mundo.
Se determinada associação logra este feito – e a Ponte Preta completa não somente o centenário, mas 111 anos de existência! – é porque tem algo de muito especial que atrai tanta gente que a sustenta, e com irrestrita paixão. Sem esse apoio, essa confiança, essa fé e esse amor sem limites, certamente, essa façanha seria não apenas improvável, mas impossível. Para que se tenha uma idéia mais precisa do significado da data de hoje basta lembrar que , esse clube fantástico foi fundado apenas menos de um mês depois de Campinas haver completado 125 anos. Hoje, a cidade tem 237 anos. A Ponte Preta, portanto, integra, praticamente, a metade (ou quase) da gloriosa história desta exuberante metrópole. E exatamente sua fase de maior progresso e pujança. É, pois, parte inseparável da rica e invejável tradição campineira.
Devemos colocar paixão em todos os afazeres, quer se trate da administração de um lar, quer de um relacionamento afetivo, do cultivo de um jardim, da partilha de uma amizade ou do amor por determinada entidade, compatível com a nossa maneira de ser. Nada é pequeno para quem tem grandeza de alma, para quem encara a vida como deve ser sempre encarada – com deleite e encantamento – e que põe chispas pelos olhos nos momentos de agir.
O dragão, ser mítico criado num tempo bastante remoto pela imaginação popular, teria a faculdade de expelir jatos de fogo pela boca. Claro que se trata de lenda e que jamais existiu ou poderia existir um animal assim. Em chinês, esse bicho imaginário leva o nome de long e, em japonês, de ryu. Mas o termo por nós utilizado deriva do grego “drakon”. Na mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku, o deus criador, para participarem da criação do mundo. A ele teria cabido criar a energia do fogo, que destrói, mas permite o renascimento (transformação).
Seria, porém, possível o homem expelir chamas do seu corpo? Figurativamente, sim. Quem é dotado do dom do raciocínio, potencializado pela paixão, expele fogo pelos olhos. Ou seja, é convicto do que fala, do que faz e do que gosta e nunca se limita a pensar, mas age, e com força, coragem e determinação.
A paixão, em si, é cega, e, a priori, nem é um bem e nem um mal. Cabe-nos direcioná-la, para que se torne força irresistível e benigna que atue a nosso favor. Sem ela, nada do que fizermos atingirá a excelência e a perfeição. A paixão é como um legítimo cavalo puro-sangue. Um animal desse tipo, forte, saudável e veloz, pode nos levar com mais rapidez e segurança a qualquer lugar que queiramos.
Para isso, porém, é indispensável que seja domado. Se for xucro, nos derrubará da sela antes que sequer consigamos piscar. Para nos ser útil, é indispensável que estabeleçamos com o animal relação de mútua confiança, até mesmo de amizade. A paixão também é assim. É mister que se lembre que ela pode ser definida como um comprometimento irrestrito e absoluto, sem dúvidas ou vacilações, com uma pessoa, uma idéia, uma causa ou uma entidade.
Antes de montarmos, portanto, no tal puro-sangue, é indispensável que tenhamos completa certeza da excelência de quem ou do que queremos conquistar. Ou seja, temos que “domá-la”. Estabelecida, porém, essa convicção, nada é mais seguro e rápido do que, no dorso do “cavalo” da paixão, galoparmos, livres e confiantes, rumo ao sucesso e à felicidade. É o que a coletividade da Ponte Preta fez, faz e certamente fará rumo ao segundo, terceiro, quarto centenários etc. e sabe-se lá quantos mais, vencendo o tempo e a efemeridade e contagiando gerações.
PARABÉNS, PONTE PRETA QUERIDA, PELOS SEUS 111 ANOS!!!
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