Thursday, August 04, 2011







Otimismo da Globo contagia o torcedor

Pedro J. Bondaczuk

A batalha pela audiência entre os canais de televisão brasileiros durante a Copa do Mundo, que se disputa atualmente no México, está sendo menos renhida do que a princípio se esperou. Embora todos os canais estejam tendo desempenhos que podem ser classificados de razoáveis para bons, a Rede Globo está levando nítida vantagem sobre os demais, principalmente por uma razão decisiva. Porque soube dar, desde o início, um tom diferente às suas transmissões, conquistando, com sabedoria, a simpatia do público.

A tônica dos comentários de TV, assim que a seleção embarcou para Guadalajara, foi de críticas a respeito do trabalho que foi desenvolvido pelos "cartolas". Até aí, não há novidade alguma para ninguém, já que em termos de organização, a CBF conseguiu bater todos os recordes negativos que se possa imaginar.

Entretanto, enquanto a maioria arriscava uma aposta definitiva no fracasso do selecionado (muitos comentaristas chegaram a dizer que o Brasil sequer passaria da fase classificatória), a Rede Globo apostou no otimismo, no talento e na força criativa do jogador brasileiro. Ao invés de prever a catástrofe do futebol nacional nos gramados mexicanos, procurou despertar aquilo que se convencionou chamar em 1970 de "corrente pra frente".

O time começou o certame incerto, claudicando e não dando qualquer esperança à crítica especializada. As previsões negativas só tenderam a aumentar. Mas as emissoras esqueceram-se de um detalhe: suas transmissões são destinadas ao público e não a uma meia dúzia de entendidos. E torcedor é torcedor. Não admite que a equipe para a qual empenha as suas simpatias seja inferior a nenhuma outra, mesmo que isso seja claro e cristalino.

Torcida é paixão, pura, irracional, absoluta. Não possui nem um pouquinho de razão para atrapalhar. A Globo, mui sabiamente, soube entender isso. Mesmo nos momentos em que seus convidados teciam as mais ásperas críticas ao selecionado, por suas performances decepcionantes, em momento algum deixaram de passar uma pontinha de esperança aos brasileiros de que finalmente as coisas acabariam por se acertar e de que o desempenho dos jogadores findaria por ser aquele que todos esperavam.

Com isso, a emissora que já contava com uma equipe bastante coesa para a cobertura da Copa e com recursos técnicos disparadamente maiores e melhores do que as demais, conseguiu o "algo mais" que determinou a sua massacrante preferência pública: a simpatia da torcida.

É preciso que certos "iluminados" entendam que apenas os masoquistas gostam de sofrer. E o pessimista sempre sofre duplamente: antes das desgraças que ele espera acontecer e depois que elas ocorrem. Ao passo que o otimista passa pelo dissabor (quando passa) apenas diante do fato consumado.

Os brasileiros recém acabaram de deixar para trás uma "sinistrose" incrível, onde tudo dava errado. Tudo o que crescia neste País, no período, era negativo: inflação, dívida externa, taxa de desemprego e vai por aí afora. Agora, que o astral melhorou a olhos vistos, qual a razão de conduzir o ânimo da população outra vez para essa fase, que todos querem esquecer, e justamente envolvendo a nossa paixão maior?

Se perdermos, por uma dessas contingências do esporte, esta Copa, tudo bem. Mas pelo menos teremos festejado alguns sucessos, com alegria e descontração. E se ganharmos (e o crítico aqui tem uma intuição de que isso de fato vai acontecer), melhor ainda. A vitória esportiva irá, apenas, coroar um ano que até aqui vem se mostrando dos mais positivos para o nosso país.

A Globo, portanto, está duplamente de parabéns. Tanto pelo excelente trabalho que seus profissionais vêm realizando na cobertura completa da Copa (a melhor de todas), quanto pela mensagem de otimismo que vem conseguindo passar. Nenhum sucesso na vida é possível se não houver quem creia nele. E o torcedor brasileiro, apesar de ainda um tanto desconfiado, acredita (embora muitos neguem enfaticamente, mais para fazer gênero), no tetra. E estamos seguros de que tudo vai terminar bem.

(Artigo publicado na página 12, Arte & Variedades, do Correio Popular, em 14 de junho de 1986)

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