Friday, August 12, 2011







Conquista pela emoção

Pedro J. Bondaczuk

O escritor, quando vai escrever uma história qualquer, tem que contar com o fator intuição, ou seja, com um “feeling” especial que o leve a encontrar a chave não somente para o cérebro, mas, principalmente, para o coração de um número máximo de leitores. Não existe nenhuma fórmula mágica, prontinha para isso, que funcione em todas as circunstâncias. Além de talento (muito talento), ele precisa contar com um fator aleatório, que podemos chamar de “sorte”, para produzir o enredo certo para determinada ocasião e para um público cativo.
O fator mais explorado por alguns escritores é o da compaixão, que procuram despertar nos que os lêem. Para isso, geralmente, recorrem a personagens doentes, não raro com doenças terminais, que pintam com cores simpáticas e que, mesmo condenados, despertam profunda paixão de heróis (ou heroínas, quando o caso). Esse tipo de enredo, contudo, é dos mais perigosos. Tende, via de regra, a descambar para a pieguice e o conseqüente ridículo.
Há os que acertam na mosca, brandem a emoção na dose certa e se consagram. A maioria se dá mal e se arrepende da escolha feita. Antes de tudo, é mister definir o significado de compaixão. Para tanto, recorro, como costumo fazer, à enciclopédia eletrônica Wikipédia, na qual confio. Conforme essa fonte, a palavra vem do latim “compassione”. “Pode ser descrita como uma compreensão do estado emocional de outrem”. Mas faz a ressalva que não deve ser confundida com “empatia”, embora tenda a despertá-la.
Em suma, conforme a Wikipédia, “a compaixão, frequentemente, combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem”. O escritor que escolher essa linha narrativa tem que ser preciso, diria cirúrgico, na dose, sem exageros nem para mais e nem para menos.
Um dos que mais souberam “misturar as tintas”, com extrema perícia, e encontrar a chave do coração do público, foi, sem dúvida, o norte-americano Erich Wolf Segal. Ele conta, em seu currículo, com pelo menos oito grandes sucessos editoriais, entre os quais a maioria usando esse ingrediente perigoso da compaixão. O maior deles, e duvido que haja quem nunca tenha ouvido falar dessa obra, é “Love Story” (publicada no Brasil com o título óbvio de “História de Amor”). A maioria, provavelmente, assistiu o filme, baseado em seu romance. Outro livro de Segal, na mesma linha (que li, reli e achei sensacional), foi “Apenas amor”, lançado, originalmente, pela Biblioteca Seleções de Reader’s Digest e, posteriormente, pela Editora Dom Quixote.
Convém dar algumas “pinceladas” acerca desse escritor. Ele nasceu em Nova York, em 16 de junho de 1937. Morreu em 17 de janeiro de 2010, em Londres, onde vivia há já bom tempo, às voltas com o Mal de Parkinson. Foi professor de Literatura na Universidade de Yale, ocasião em que escreveu “Love Story”.
Não tardou para que esse livro se tornasse best-seller mundial e se transformasse em verdadeira “febre romântica”, encabeçando as listas dos mais vendidos nos Estados Unidos em 1970 e traduzido para 33 línguas, inclusive, claro, o português. Segal tentou prolongar o sucesso lançando uma continuação do romance, expediente que raramente dá certo, intitulada “Oliver’s Story”, que não teve, óbvio, a mesma trajetória ou, pelo menos, repercussão nem de longe parecida.
“Love Story” foi adaptado pelo próprio autor (que já era reputado e requisitado roteirista) para o cinema e o filme, a exemplo do livro, fez furor, tornando-se campeão de bilheteria mundo afora, estrelado por Ryan O’Neal e Ali McGraw. De nada adiantou, pois, o rótulo impingido por críticos – tanto ao romance, quanto à produção cinematográfica – de história melosa, “água com açúcar”, de apelação etc. Aliás, li o livro e assisti ao filme e não considero justas ou pertinentes tais avaliações. Gostei de ambos. E olhem que não sou dado a sentimentalismos.
Segal, como informei, já era um bem-sucedido roteirista de Hollywood. Em um de seus roteiros anteriores, havia obtido o mesmo sucesso, ou quase, que obteve com “!Love Story”. Sabem qual foi? Foi “O submarino amarelo”, esse mesmo que vocês estão pensando, que ele escreveu em 1967, baseado em história de Lee Minotta. Pudera! O filme foi estrelado por ninguém menos que o mágico “Quarteto de Liverpool”, os Beatles, então no auge de popularidade mundial.
O curioso, e que merece ser mencionado, é que, antes de roteirizar “Love Story” para o cinema, Segal foi aconselhado por seu agente literário a desistir da idéia. Sabem sob qual alegação? Por temor de que isso arruinasse sua reputação de roteirista de ação. Isso só comprova e dá razão à afirmação popular de que, se conselho fosse bom, seria vendido e não dado. Quem fez essa revelação foi a filha mais velha do escritor, Francesca, num artigo que publicou em 2008.
Caso Erich Segal tivesse seguido a infeliz (mas provavelmente bem-intencionada) recomendação, “Love Story” não teria sido filmado e, portanto, não ganharia um Oscar (teve, ainda, mais seis indicações) e nem teria virado o ícone romântico que virou. Isso sem dizer que sua conta bancária não seria razoavelmente mais engordada, como fruto de uma história que rendeu dividendos em duas frentes, o que não deixa de ser raridade.
Como se vê, o filão da compaixão pode ser uma “galinha dos ovos de ouro”, caso o escritor que se valha dele o desenvolva com perícia, mas com moderação. Encontrar o ponto de equilíbrio, todavia, é que são elas. E nem me perguntem onde está, pois se eu soubesse, escreveria um romance que rivalizaria com “Love Story” ou até o superaria, não concordam?



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