A palavra preguiça tem, com razão, conotação bastante negativa. Caracteriza a indolência, a falta de vontade de trabalhar, de agir e até de pensar. Em última análise, rotula o máximo da omissão. O sujeito preguiçoso quer tudo pronto ao seu dispor, sem se dispor a fazer coisíssima nenhuma, se possível nem se mover para comer, exigindo que outros lhe ponham comida na boca. Fosse o mundo depender de pessoas assim, estaríamos perdidos. Há, porém, um sentido nobre para o termo, que raramente alguém utiliza, por causa do seu significado mais popular e pejorativo. É aquele estado de descontração total, de absoluto relaxamento, ideal para nos reparar as forças físicas e/ou mentais. É nele que surgem algumas idéias, impossíveis de nos visitar quando estamos tensos, ativos e/ou excitados. Foi a ele que Mário de Andrade dedicou um instigante texto, que denominou de “A divina preguiça”. Em certo trecho dessa crônica, o escritor paulistano chega a sugerir: “A arte nasceu porventura de um bocejo sublime, assim como o sentimento do belo deve ter surgido duma contemplação da natureza”. E respondam-me, com sinceridade: “Quem nunca teve esse tipo de ‘preguiça’”?!
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