Sunday, July 12, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


Atrevimento intolerável

Pedro J. Bondaczuk

O atrevimento dos narcotraficantes colombianos não tem, mesmo, nenhum limite. Isto nós já afirmamos e reiteramos em inúmeras oportunidades, mas cumpre ressaltar novamente.
Até aqui, estiveram na sua mira juízes, policiais, políticos e jornalistas. Agora, sua bateria de ameaças volta-se contra as próprias Forças Armadas da Colômbia, mostrando que os chefes do tráfico estabeleceram, de fato, um poder paralelo e já contestam as autoridades oficiais.
Aliás, isto não é novidade para quem pretendia, a exemplo dos piratas do século XVI, criar um país na América Central, ou na do Norte, para centralizar suas atividades criminosas. Essa surpreendente revelação foi feita em um tribunal de Jacksonville, na Flórida, no ano passado, por um ex-comparsa do traficante Carlos Lehder Rivas, que está sendo julgado nos Estados Unidos.
O ex-sócio desse aventureiro, que antes dos 40 anos já é detentor de uma das maiores fortunas do mundo (amealhada às custas da desgraça de milhares, quiçá milhões, de famílias) assegurou que, em certa ocasião, se pretendeu ocupar Belize, a antiga colônia de Honduras Britânicas, para ali estabelecer um paraíso das drogas.
Esse centro de corrupção mundial teria, até mesmo, seu próprio exército e daria plena guarida ao comércio ilegal. Felizmente, o plano não foi levado adiante. Mas está, ainda, por ser revelada a infiltração dos chefões da máfia da cocaína em países tradicionais da América Latina, como Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru e Panamá.
Há suspeitas (embora isso seja, compreensivelmente, de dificílima comprovação) de que existe uma vasta rede de suborno e corrupção de autoridades nos Estados citados, para que façam vistas grossas às atividades dos narcotraficantes. No interior da Colômbia, onde os agricultores dispõem de pouquíssimos incentivos do governo, plantar coca é um alto negócio. Trata-se de uma atividade que absorve muita mão-de-obra, remunera muito bem e, por isso, acaba contando com o apoio dessa gente sofrida, que teme perder a ascensão obtida a duras penas, embora às custas de uma ação ilegal.
É preciso, pois, que os Estados Unidos, que estão empenhados nessa luta, por terem sua juventude afetada pela expansão do vício, deixem de gastar tanto dinheiro em armas (em causas geralmente perdidas ou nada edificantes) e criem um fundo, na Colômbia, a exemplo do que estão fazendo na Bolívia, para estimular os camponeses a plantar alimentos, e não coca.
Apenas ameaças não bastam, neste caso, pois os traficantes já mostraram, sobejamente, que não as temem. De qualquer forma, é preciso que se faça algo, e com urgência, para conter esses inimigos da espécie humana, antes que o seu poder adquira tamanhas proporções a ponto de não mais se conseguir deter sua expansão.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 31 de março de 1988)

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