Pedro J. Bondaczuk
“A vida só é possível/reinventada./Anda o sol pelas campinas/e passeia a mão dourada/pelas águas, pelas folhas...”
“Sou raiz e vou caminhando/sobre as minhas raízes tribais...”
“É por aqui que passam meditando/que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,/neste celeste, límpido caminho//os seres virginais que vêm da Terra,/ensangüentados da tremenda guerra,/embebedados do sinistro vinho...”
“O que é isso?”, perguntará, atônito, o leitor. “É conversa de doido?!”. Não, não é! Aliás, pelo contrário, são palavras dos seres, provavelmente, os mais lúcidos do Planeta: os poetas. São estrofes de poemas célebres, colhidos a esmo, para ilustrar nossas considerações.
Os primeiros versos, por exemplo, são de Cecília Meirelles. Trazem, como se vê, belíssima metáfora do sol. Abrem seu tão conhecido poema “Cada palavra uma folha”. Já a segunda citação é de outra poetisa, não menos célebre, Cora Coralina, uma das mais inspiradas da Literatura Brasileira. A metáfora da raiz é outro inteligentíssimo achado. Foge, claro, ao senso comum. Quem não está habituado a ler poesia, e tenta interpretar essas palavras, literalmente, não vê sentido algum nelas. Classifica-as como conversa de doido. Pena! Deixa de usufruir belo momento de sabedoria e sensibilidade. Esses versos são os que abrem o poema “Sou raiz”.
Finalmente, a terceira citação é de um poeta que me toca fundo na alma, não apenas pelo seu tremendo talento, mas pela trajetória de vida que teve, filho que era de escravos, numa época em que a escravidão era coisa normal no Brasil (e os poetas é que são considerados loucos!). Refiro-me ao catarinense João Cruz e Sousa, lídimo representante da corrente literária que se convencionou chamar de “Parnasianismo”. São os dois tercetos com que encerra o soneto “Caminho da glória”.
Ler poesia, para quem não está preparado para tal, e interpretá-la ao pé da letra, é, de fato, o mesmo que ouvir conversa de doido. Parece não haver nenhum nexo. Evidentemente, há! E que nexo!
Em recente editorial que escrevi para a revista eletrônica “Literário”, da qual sou editor, intitulado “Jeito de ler”, afirmei: “A poesia é, sabidamente, um dos gêneros mais difíceis, se não for o mais difícil, da Literatura e exige do poeta talentos especiais para a produção de obras consistentes, duradouras e de real valor literário. O leigo não entende que seja assim. Escreve textinhos tacanhos, não raro eivados de erros de toda a sorte, e acha que se tratam de ‘poemas’ transcendentais, embora tenham rimas pobres (quando têm) e lugares-comuns em profusão”.
E não é o que ocorre? Quem não é do ramo, se espanta com a linguagem do poeta. Interpreta-a, reitero, como “conversa de doido”, que é o que de fato parece. Parece... mas, evidentemente, não é. Ali há talento, há visão e, sobretudo, há criatividade. E como se deve ler um poema? Como se lê qualquer outro texto – um jornal ou revista, por exemplo, ou mesmo uma placa de publicidade? Evidentemente, não!
No referido editorial, observei: “O poeta expressa seus sentimentos, via de regra, através de metáforas que, se forem interpretadas ao pé da letra, soarão como conversa de doido. Expressões como ‘brado dos sapos em lagoas de luz’ ou ‘lágrimas de estrelas’, claro, não podem ser interpretadas em sentido literal”. E nem “anda o sol pelas campinas/e passeia a mão dourada/pelas águas, pelas folhas...”, claro.
E prossegui no editorial: “Há um jeito diferente de se ler poesia. Requer-se uma predisposição emocional para se entender a mensagem que o poeta quis transmitir. É um tipo de texto para ser ‘sentido’ e não meramente interpretado pelo cérebro. A melhor forma de lê-lo, para ‘senti-lo’ em toda a sua grandeza e profundidade, é fazê-lo em voz alta, atentando para a pontuação (quando existir)”.
Recomendo-lhe, pois, leitor amigo, que “aprenda” a ler poesia. A primeira vantagem que terá com isso será um prazer estético como poucos outros que você já teve ou possa vir a ter. A segunda, é que aprenderá a enxergar a vida por um outro prisma, menos árduo, menos sofrido e violento e mais onírico, amoroso e casual.
Encerrei o citado editorial dessa forma: “Quem adquire o hábito de ler poesia, jamais o abandona. É um prazer estético como poucos. Vibra com cada metáfora bem-construída e chega a sentir na pele a emoção que o poeta transmite. É, de fato, um gênero difícil, mas também, dos mais belos (se não o mais belo) quando quem a ele recorre o faz com talento e competência”.
Conversa de doido? Palavras sem senso e sem nexo? Os poemas (os bons, evidentemente) podem até soar dessa forma àqueles que Nelson Rodrigues costumava classificar de “idiotas da objetividade”. Colocar um poeta na categoria dos loucos é, de fato, manifestar a própria insanidade. Ademais, admitindo que sejam, digamos, “um tanto fora de centro”, eu exclamaria, como fiz em relação a Vincent Van Gogh, ao mencionar que morreu em um hospício da Holanda: “Bendita loucura!!”
“A vida só é possível/reinventada./Anda o sol pelas campinas/e passeia a mão dourada/pelas águas, pelas folhas...”
“Sou raiz e vou caminhando/sobre as minhas raízes tribais...”
“É por aqui que passam meditando/que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,/neste celeste, límpido caminho//os seres virginais que vêm da Terra,/ensangüentados da tremenda guerra,/embebedados do sinistro vinho...”
“O que é isso?”, perguntará, atônito, o leitor. “É conversa de doido?!”. Não, não é! Aliás, pelo contrário, são palavras dos seres, provavelmente, os mais lúcidos do Planeta: os poetas. São estrofes de poemas célebres, colhidos a esmo, para ilustrar nossas considerações.
Os primeiros versos, por exemplo, são de Cecília Meirelles. Trazem, como se vê, belíssima metáfora do sol. Abrem seu tão conhecido poema “Cada palavra uma folha”. Já a segunda citação é de outra poetisa, não menos célebre, Cora Coralina, uma das mais inspiradas da Literatura Brasileira. A metáfora da raiz é outro inteligentíssimo achado. Foge, claro, ao senso comum. Quem não está habituado a ler poesia, e tenta interpretar essas palavras, literalmente, não vê sentido algum nelas. Classifica-as como conversa de doido. Pena! Deixa de usufruir belo momento de sabedoria e sensibilidade. Esses versos são os que abrem o poema “Sou raiz”.
Finalmente, a terceira citação é de um poeta que me toca fundo na alma, não apenas pelo seu tremendo talento, mas pela trajetória de vida que teve, filho que era de escravos, numa época em que a escravidão era coisa normal no Brasil (e os poetas é que são considerados loucos!). Refiro-me ao catarinense João Cruz e Sousa, lídimo representante da corrente literária que se convencionou chamar de “Parnasianismo”. São os dois tercetos com que encerra o soneto “Caminho da glória”.
Ler poesia, para quem não está preparado para tal, e interpretá-la ao pé da letra, é, de fato, o mesmo que ouvir conversa de doido. Parece não haver nenhum nexo. Evidentemente, há! E que nexo!
Em recente editorial que escrevi para a revista eletrônica “Literário”, da qual sou editor, intitulado “Jeito de ler”, afirmei: “A poesia é, sabidamente, um dos gêneros mais difíceis, se não for o mais difícil, da Literatura e exige do poeta talentos especiais para a produção de obras consistentes, duradouras e de real valor literário. O leigo não entende que seja assim. Escreve textinhos tacanhos, não raro eivados de erros de toda a sorte, e acha que se tratam de ‘poemas’ transcendentais, embora tenham rimas pobres (quando têm) e lugares-comuns em profusão”.
E não é o que ocorre? Quem não é do ramo, se espanta com a linguagem do poeta. Interpreta-a, reitero, como “conversa de doido”, que é o que de fato parece. Parece... mas, evidentemente, não é. Ali há talento, há visão e, sobretudo, há criatividade. E como se deve ler um poema? Como se lê qualquer outro texto – um jornal ou revista, por exemplo, ou mesmo uma placa de publicidade? Evidentemente, não!
No referido editorial, observei: “O poeta expressa seus sentimentos, via de regra, através de metáforas que, se forem interpretadas ao pé da letra, soarão como conversa de doido. Expressões como ‘brado dos sapos em lagoas de luz’ ou ‘lágrimas de estrelas’, claro, não podem ser interpretadas em sentido literal”. E nem “anda o sol pelas campinas/e passeia a mão dourada/pelas águas, pelas folhas...”, claro.
E prossegui no editorial: “Há um jeito diferente de se ler poesia. Requer-se uma predisposição emocional para se entender a mensagem que o poeta quis transmitir. É um tipo de texto para ser ‘sentido’ e não meramente interpretado pelo cérebro. A melhor forma de lê-lo, para ‘senti-lo’ em toda a sua grandeza e profundidade, é fazê-lo em voz alta, atentando para a pontuação (quando existir)”.
Recomendo-lhe, pois, leitor amigo, que “aprenda” a ler poesia. A primeira vantagem que terá com isso será um prazer estético como poucos outros que você já teve ou possa vir a ter. A segunda, é que aprenderá a enxergar a vida por um outro prisma, menos árduo, menos sofrido e violento e mais onírico, amoroso e casual.
Encerrei o citado editorial dessa forma: “Quem adquire o hábito de ler poesia, jamais o abandona. É um prazer estético como poucos. Vibra com cada metáfora bem-construída e chega a sentir na pele a emoção que o poeta transmite. É, de fato, um gênero difícil, mas também, dos mais belos (se não o mais belo) quando quem a ele recorre o faz com talento e competência”.
Conversa de doido? Palavras sem senso e sem nexo? Os poemas (os bons, evidentemente) podem até soar dessa forma àqueles que Nelson Rodrigues costumava classificar de “idiotas da objetividade”. Colocar um poeta na categoria dos loucos é, de fato, manifestar a própria insanidade. Ademais, admitindo que sejam, digamos, “um tanto fora de centro”, eu exclamaria, como fiz em relação a Vincent Van Gogh, ao mencionar que morreu em um hospício da Holanda: “Bendita loucura!!”
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