Pedro J. Bondaczuk
O sucesso e o fracasso, ambos bastante relativos, não dependem tanto de nós, como somos tentados a achar. Claro que temos que fazer a nossa parte, sem a qual não teremos a mínima chance de sermos bem-sucedidos no que quer que seja. Devemos nos aplicar aos estudos, nos esmerar em adquirir (e exercitar) virtudes, colecionar valores (testados e aprovados pelo tempo), ser solidários e participativos, amar o trabalho e nos tornarmos os melhores possíveis nas profissões que viermos a exercer.
Mas somente isso basta para termos sucesso na vida? Esse esforço, essa aplicação, essa sabedoria de conduta são suficientes para chegarmos às metas que traçarmos? São garantias absolutas de êxito? Claro que não! Dependemos, sempre e sempre, de algo que o filósofo José Ortega y Gasset chama de “circunstâncias” (e que, da minha parte, denomino de “acaso”).
Raras são as pessoas que, em determinado momento de suas vidas, não se sentem logradas, decepcionadas com os resultados que alcançaram, por maior que estes possam ser. Ou seja, sentem-se enganadas. Claro que nem todos saem apregoando isso aos quatro ventos. Muitos têm essa sensação e sequer sabem defini-la, expressá-la e, principalmente, verbalizá-la. Guardam consigo e ficam remoendo essa amargura do fracasso enquanto vivam.
Há os que se sentem completos derrotados e não mostram a menor vontade de reação. Outros tantos lançam todas as culpas de seus insucessos sobre terceiros e nunca assumem seus erros. Todavia, a atitude mais sábia é a de se analisar o que se fez, detectar onde se errou, definir o quanto o acaso influenciou nos tropeços que ocorreram e tocar a vida para a frente, na tentativa de reversão. Enquanto se está vivo, tudo, absolutamente tudo, é possível.
O mesmo acaso que nos surpreendeu, e nos derrubou, pode nos proporcionar êxitos que nunca cogitamos. Afinal, ele não acontece, somente, para o mal. Ocorre que quase sempre consideramos (erroneamente) nossas vitórias como ocorrências naturais, consequências exclusivas das nossas ações, sem qualquer intervenção das circunstâncias. Todavia, estas atuam mais, exatamente, em nossos sucessos, determinando-os de vez, do que em nossas derrotas.
Há muitos que, analisando suas trajetórias de vida e constatando o que hoje são, têm profunda sensação de fracasso, mesmo que aos olhos alheios sejam encarados como bem-sucedidos. Há, por exemplo, os que pretendiam seguir determinada profissão, para a qual se prepararam com afinco (no meu caso, sempre sonhei em ser médico), mas que acabaram em outra atividade, totalmente diferente da pretendida (acabei parando no jornalismo). Ressalto, porém, que, da minha parte, não me sinto fracassado por isso. Um pouquinho frustrado, talvez.
Há quem tenha sonhado constituir família com uma parceira ideal que, além de bela, fosse compreensiva e, sobretudo, companheira. No entanto, acabaram se juntando a uma mulher caprichosa, resmungona, exigente, dominadora, quando não infiel. Sentem-se enganados por isso, principalmente quando se lembram das tantas namoradas que tiveram, com o perfil ideal, e concluem que escolheram exatamente a mais inadequada. Por que? Não sabem responder.
Outros tantos surpreendem-se com sua visão negativa do mundo, e não compreendem como e porque mudaram tanto e deixaram os ideais e sonhos da juventude pelo caminho. Até nisso sentem-se logrados, como ademais também se sentem sobre o seu caráter, seus procedimentos, suas relações, seu status etc. etc. etc.
Alguns, poucos, após essa revisão, mudam de rumo, saem em busca de seus sonhos e se realizam. A maioria, porém, assume de vez a condição de perdedora e tem uma velhice amarga e curta. Sua amargura e autodepreciação lhes abreviam a vida. O pior é que essas pessoas não encontram, em nenhum lugar, qualquer explicação para as coisas terem ocorrido como ocorreram e não da maneira ideal, como haviam planejado. Provavelmente, isso seja inexplicável.
No meu caso, confesso, não me sinto frustrado pelas mudanças de rumo que ocorreram ao longo dos anos. Não, pelo menos, o tempo todo. Claro que há ocasiões em que me sinto enganado. Contudo, as circunstâncias jogaram em meu colo vitórias que, provavelmente, não obteria se as coisas ocorressem exatamente como eu planejava.
No caso da profissão, por exemplo, sinto-me plenamente realizado, ao cabo de 47 anos de carreira como jornalista. Quem me garante que eu seria um bom médico? Quanto à esposa... o acaso outorgou-me uma companheirona, que é minha “cúmplice” há já quase meio século, e que não trocaria por nenhuma outra mulher no mundo.
Por isso, sinto-me gratíssimo à vida por tudo o que ela me proporcionou. Poderia ser melhor? Claro que sim! Mas, provavelmente, escapei (por acaso) de algo muitíssimo pior. Sou, pois, um privilegiado. Na comparação entre logros e ótimas surpresas, o saldo, felizmente, é positivo. Por isso faço minhas as palavras do escritor argentino, Adolfo Bioy Casares, quando escreveu: “Se pudesse viver quinhentos anos aceitaria e pediria: não pode me dar mais alguns?”. E você, paciente leitor, aceitaria viver tanto?
O sucesso e o fracasso, ambos bastante relativos, não dependem tanto de nós, como somos tentados a achar. Claro que temos que fazer a nossa parte, sem a qual não teremos a mínima chance de sermos bem-sucedidos no que quer que seja. Devemos nos aplicar aos estudos, nos esmerar em adquirir (e exercitar) virtudes, colecionar valores (testados e aprovados pelo tempo), ser solidários e participativos, amar o trabalho e nos tornarmos os melhores possíveis nas profissões que viermos a exercer.
Mas somente isso basta para termos sucesso na vida? Esse esforço, essa aplicação, essa sabedoria de conduta são suficientes para chegarmos às metas que traçarmos? São garantias absolutas de êxito? Claro que não! Dependemos, sempre e sempre, de algo que o filósofo José Ortega y Gasset chama de “circunstâncias” (e que, da minha parte, denomino de “acaso”).
Raras são as pessoas que, em determinado momento de suas vidas, não se sentem logradas, decepcionadas com os resultados que alcançaram, por maior que estes possam ser. Ou seja, sentem-se enganadas. Claro que nem todos saem apregoando isso aos quatro ventos. Muitos têm essa sensação e sequer sabem defini-la, expressá-la e, principalmente, verbalizá-la. Guardam consigo e ficam remoendo essa amargura do fracasso enquanto vivam.
Há os que se sentem completos derrotados e não mostram a menor vontade de reação. Outros tantos lançam todas as culpas de seus insucessos sobre terceiros e nunca assumem seus erros. Todavia, a atitude mais sábia é a de se analisar o que se fez, detectar onde se errou, definir o quanto o acaso influenciou nos tropeços que ocorreram e tocar a vida para a frente, na tentativa de reversão. Enquanto se está vivo, tudo, absolutamente tudo, é possível.
O mesmo acaso que nos surpreendeu, e nos derrubou, pode nos proporcionar êxitos que nunca cogitamos. Afinal, ele não acontece, somente, para o mal. Ocorre que quase sempre consideramos (erroneamente) nossas vitórias como ocorrências naturais, consequências exclusivas das nossas ações, sem qualquer intervenção das circunstâncias. Todavia, estas atuam mais, exatamente, em nossos sucessos, determinando-os de vez, do que em nossas derrotas.
Há muitos que, analisando suas trajetórias de vida e constatando o que hoje são, têm profunda sensação de fracasso, mesmo que aos olhos alheios sejam encarados como bem-sucedidos. Há, por exemplo, os que pretendiam seguir determinada profissão, para a qual se prepararam com afinco (no meu caso, sempre sonhei em ser médico), mas que acabaram em outra atividade, totalmente diferente da pretendida (acabei parando no jornalismo). Ressalto, porém, que, da minha parte, não me sinto fracassado por isso. Um pouquinho frustrado, talvez.
Há quem tenha sonhado constituir família com uma parceira ideal que, além de bela, fosse compreensiva e, sobretudo, companheira. No entanto, acabaram se juntando a uma mulher caprichosa, resmungona, exigente, dominadora, quando não infiel. Sentem-se enganados por isso, principalmente quando se lembram das tantas namoradas que tiveram, com o perfil ideal, e concluem que escolheram exatamente a mais inadequada. Por que? Não sabem responder.
Outros tantos surpreendem-se com sua visão negativa do mundo, e não compreendem como e porque mudaram tanto e deixaram os ideais e sonhos da juventude pelo caminho. Até nisso sentem-se logrados, como ademais também se sentem sobre o seu caráter, seus procedimentos, suas relações, seu status etc. etc. etc.
Alguns, poucos, após essa revisão, mudam de rumo, saem em busca de seus sonhos e se realizam. A maioria, porém, assume de vez a condição de perdedora e tem uma velhice amarga e curta. Sua amargura e autodepreciação lhes abreviam a vida. O pior é que essas pessoas não encontram, em nenhum lugar, qualquer explicação para as coisas terem ocorrido como ocorreram e não da maneira ideal, como haviam planejado. Provavelmente, isso seja inexplicável.
No meu caso, confesso, não me sinto frustrado pelas mudanças de rumo que ocorreram ao longo dos anos. Não, pelo menos, o tempo todo. Claro que há ocasiões em que me sinto enganado. Contudo, as circunstâncias jogaram em meu colo vitórias que, provavelmente, não obteria se as coisas ocorressem exatamente como eu planejava.
No caso da profissão, por exemplo, sinto-me plenamente realizado, ao cabo de 47 anos de carreira como jornalista. Quem me garante que eu seria um bom médico? Quanto à esposa... o acaso outorgou-me uma companheirona, que é minha “cúmplice” há já quase meio século, e que não trocaria por nenhuma outra mulher no mundo.
Por isso, sinto-me gratíssimo à vida por tudo o que ela me proporcionou. Poderia ser melhor? Claro que sim! Mas, provavelmente, escapei (por acaso) de algo muitíssimo pior. Sou, pois, um privilegiado. Na comparação entre logros e ótimas surpresas, o saldo, felizmente, é positivo. Por isso faço minhas as palavras do escritor argentino, Adolfo Bioy Casares, quando escreveu: “Se pudesse viver quinhentos anos aceitaria e pediria: não pode me dar mais alguns?”. E você, paciente leitor, aceitaria viver tanto?
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