Sunday, January 25, 2009

REFLEXÃO DO DIA


O artista, sobretudo o escritor, como qualquer ser humano normal, com um mínimo de raciocínio, aspira à eternidade. Claro que tem consciência da impossibilidade física de chegar a ela. Busca-a, porém, através da sua obra. Se conseguirá ou não alcançar seu ousado objetivo, nunca saberá. Para ter sucesso depende de circunstâncias várias que lhe fogem por completo ao controle. Não depende, sequer, da qualidade do que produziu. Inúmeras manifestações artísticas perderam-se para sempre, ao longo do tempo e da história, em decorrência de guerras, convulsões sociais, catástrofes etc. Quanta coisa espetacular e original não se perdeu, por exemplo, no incêndio da Biblioteca de Alexandria, no Egito?! Ou na destruição da de Nínive! Ou por causas várias, nos mais variados tempos e lugares! A obra de arte, objetivamente, não é eterna. Eterno é o dom artístico, a necessidade do homem de interpretar o que é, sente, faz e tudo o que o rodeia. É esse talento, que se manifesta das formas mais variáveis (literatura, pintura, música etc.) que confere ao artista uma espécie de “miragem de eternidade”. Ela pode vir a se concretizar? Pode! Mas o que produziu pode, também, se perder para sempre e não deixar o menor vestígio em questão de parcos anos. O escritor Gaëtan Picon – autor, entre outros livros, de “O escritor e sua sombra” – escreveu a respeito: “A obra não é eterna, mas a continuidade da criação artística, que a submete ao jogo das revivescências e das metamorfoses, é como uma miragem de eternidade”. E não é?!

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