Friday, January 09, 2009

O que escrever?


Pedro J. Bondaczuk

Os candidatos a escritor questionam-me, amiúde, sobre o que escrever, para produzir um bom livro que encante os leitores e, por conseqüência, se torne campeão de vendas, daqueles best-sellers que esgotam sucessivas edições. Antes de tudo, devo esclarecer que, provavelmente, não sou o mais indicado para esse tipo de recomendação. Afinal, estou a relativamente pouco tempo no mercado editorial, há somente doze anos e, com o lançamento, em dezembro, de “Lance fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas), passarei a contar com apenas quatro obras em meu (ainda) pobre currículo.
Outra observação que se faz necessária é quanto à pretensão de ser tornar, logo de cara, pelo menos no curto prazo, sucesso de vendas. Queiram ou não, concordem ou discordem, por mais talentoso e criativo que você seja, será uma enorme zebra se você conseguir essa façanha. E se não contar com eficiente estrutura de divulgação e distribuição, que abranja, pelo menos, os principais centros do País (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Brasília, em especial), deverá se dar por satisfeitíssimo de conseguir o feito de esgotar reles edição de um mil exemplares. E isso com muita sorte e bastante tempo. Console-se. Escritores hoje consagrados passaram por isso e não apenas uma única vez
Preocupe-se, antes, com a qualidade do seu texto. Já nem digo que a preocupação fundamental deva ser com a correção da linguagem, porquanto isso é obrigação de qualquer redator que se preze. Se o seu livro for ruim, não conseguirá interessar nenhum editor a publicá-lo. Afinal, para ele, esse é um produto comercial como qualquer outro e precisa, portanto, contar com algum atrativo especial, com mínimo potencial de vendas.
Caso, portanto, a obra que você elaborou (e que na sua cabeça é, sempre “obra-prima”) não for reconhecida como de qualidade pelo menos razoável por nenhuma editora que você procurar (e lhe asseguro que serão dezenas), ela só terá condições de vir a público caso você banque a publicação do próprio bolso. E, convenhamos, esta não é nada barata.
Na redação do seu livro, evite palavras supérfluas, desnecessárias e que apenas aumentem o número de páginas, sem acrescentar absolutamente nada ao enredo ou conteúdo. Abjure os lugares-comuns. Fuja da tentação de exibir erudição, pois se estiver escrevendo apenas para pessoas eruditas, seu público-alvo será bastante diminuto, restritíssimo por sinal. E o leitor comum não tem tempo, paciência e nem cultura para decifrar o que você escreve. Seja simples, sem ser simplório. Seja claro, objetivo e direto. E, sobretudo, seja criativo e original.
Concluída a redação do livro – que você, certamente, considerará, bem no seu íntimo, um novo “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ou “Flores do Mal” ou, quem sabe, “Guerra e Paz” – não se deixe cegar pela vaidade. Dê os originais para outras pessoas lerem. Não, claro, para aqueles amigos puxa-sacos, os tais “baba-ovos”, que elogiam tudo o que você é (ou aparenta ser), diz e/ou faz. Opte pelos mais chatos, Por aqueles que o criticam nas mínimas coisas e de cuja amizade chegue, até, a duvidar. A opinião destes é a que mais conta, embora num primeiro momento você ache que não.
Caso se arrisque à aventura de tentar publicar sua obra, sem esse tipo de opinião prévia, poderá ter que engolir sapos, cobras e lagartos. E, pior, se mesmo criticado, em vez de tentar corrigir as falhas apontadas, ou até abortar esse livro e escrever outro, e se quiser bancar a publicação do seu bolso, os riscos a que estará exposto serão muito maiores. O menor deles é o de um monumental encalhe, ou seja, de um enorme prejuízo. O pior? O de se expor ao ridículo, quando não ao escárnio.
Indagado, certa feita, por um candidato a escritor, sobre o que deveria escrever para compor um bom livro, Ernest Hemmingway – que conquistou um Prêmio Nobel de Literatura e que, portanto, sabia o que dizia –, recomendou: “Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança”.
Você é capaz de fazer isso? Então, o que está esperando? Mãos à obra. Comece pelo planejamento, por um resumão do enredo. Desenvolva-o, atentando para a linguagem e tendo em mente seu público-alvo. Revise cuidadosamente o que escreveu. Corte o que for supérfluo, acrescente o que contribuir para um melhor entendimento do que quis dizer, e tudo isso não apenas uma vez, mas dez, vinte, cem, um mil se necessário. Você irá notar que haverá muito mais supressões do que acréscimos. As quinhentas e tantas páginas que você redigiu se resumirão a umas cento e dez, se tanto, o que estará de bom tamanho.
Procure os amigos e peça-lhes sua opinião. Mas, insisto, dê preferência àqueles chatos, com aguçado senso crítico, mas que pelo menos saibam o que dizem. Perceberá, tempos depois, a utilidade deles. Concluirá que, ao contrário do que sempre pensou, esses “cri-cris” é que são e sempre foram seus verdadeiros amigos.
Feito isso, revista-se da paciência de Jó, da pertinácia de Moisés, da coragem de Josué e vá à luta. Inicie a desgastante e na maior parte das vezes frustrante romaria às editoras. Prepare-se, sobretudo, para ouvir “não” como se fosse um mantra, repetido dez, vinte, cem, um mil vezes. Feito tudo isso, se algum editor resolver apostar na sua obra-prima, cruze os dedos, reze bastante e ponha a boca no trombone.
Fale do seu livro onde e para quem puder. Faça um forte assédio, marcação cerrada, homem a homem, aos editores de Cultura dos principais jornais e revistas (e até, por que não, dos jornaizinhos de bairro, de paróquias e de sindicatos). Nessa hora, vale tudo. Assim, quem sabe, conseguirá a façanha de transformar sua obra-prima, pela qual tantos não deram nada, em um surpreendente e glorioso best-seller. Tomara que sim!

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