Preocupamo-nos, em demasia, com a aparência, que muda ao sabor do tempo, sem que possamos fazer nada para evitar. Ficamos aflitos se, a cada manhã, ao nos olharmos no espelho, encontrarmos um fio de cabelo branco que não tínhamos ontem, uma ruga nova a nos sulcar o rosto, uma espinha, uma olheira etc. Claro que devemos cuidar com zelo e capricho do nosso corpo, fortalecê-lo, asseá-lo, higienizá-lo e mantê-lo o mais saudável possível pelo tempo que der. Mas a aparência que deve nos preocupar não é a física, mas a espiritual. O tempo costuma fazer uma troca conosco: nos envelhece, mas, em contrapartida, nos dá vivência, lembranças, experiência. Por mais que busquemos evitar, o espelho nos deixa, diariamente, recados que não gostamos de saber. Em vez de consultá-lo, tão amiúde, todavia, por que não consultamos nosso coração para sabermos a quantas andam nossos sentimentos? O poeta Mauro Sampaio faz a seguinte confissão, neste poema “No espelho”: “Todos os dias encontro,/no silêncio do meu espelho,/um recado que não quero”. Deixemos, pois, o espelho de lado e consultemos, apenas, nossa memória.
No comments:
Post a Comment