Pedro J. Bondaczuk
A beleza é um conceito bastante controvertido e em raros aspectos é consensual. Apresenta-se, basicamente, de duas formas: virtual e conceitual. A primeira é aquela efêmera, fugaz, passageira, que se transforma com o tempo e perde o seu encanto. É o caso da beleza física, de uma pessoa, uma flor, um animal.
Dura por somente alguns anos, quando não dias ou meras horas, e depois se decompõe, se corrompe, envelhece, murcha e desaparece. Já a conceitual, embora difícil de definir, tem o caráter de permanência. Impregna-se em nosso espírito e basta fecharmos os olhos para podermos vislumbrar seus reflexos.
A imaginação, pois, exerce papel preponderante – diria, decisivo – na definição do conceito de beleza. Como diligente escultora, desbasta as imperfeições das formas de pessoas e coisas, tornando-as simétricas, bem-proporcionadas e com aparência de perfeitas, quando de fato não o são.
Há uma certa confusão na determinação do que é belo ou, simplesmente, bonito, elegante, suntuoso, gracioso e/ou atraente. Não se tratam de palavras sinônimas, mas de nomeações de conceitos bem diferentes entre si, embora possam parecer iguais. O artista, todavia, sabe fazer bem essa distinção. Vive correndo, a vida toda, atrás dessa coisa arredia e sutil, que é a beleza, para perpetuá-la em versos, imagens ou sons.
O belo é o suprassumo da perfeição. É algo sem mácula, sem defeitos, sem nada a que se possa fazer a mínima restrição. Daí eu considerar que a verdadeira beleza, em toda a sua glória, majestade e esplendor, é atributo exclusivo de Deus. Nós, humanos, temos que nos contentar com seus meros reflexos, em menor ou maior intensidade, não importa.
É por essa razão que a imaginação é essencial para captarmos o belo e tentarmos reproduzir, com o máximo de autenticidade e veracidade, com o talento que eventualmente contarmos, em versos, imagens e sons.
O artista batalha a vida toda em busca desse pálido reflexo de beleza e, na maior parte das vezes, se frustra. Por que? Porque a beleza suprema é interdita a nós, humanos. É, como tudo o que é perfeito, atribuição e característica exclusivas de Deus.
Frise-se que o amor á beleza não faz de ninguém, automaticamente, um artista. Todos nós amamos o que entendemos que seja o belo que, na verdade, não resiste à mais superficial análise para revelar suas inúmeras imperfeições. Isso, contudo, não se trata de arte, porém de mero gosto.
A beleza que as pessoas comuns amam é a virtual, a aparente, a superficial, a que logo fenece, murcha, se decompõe e se desfaz, que revela a todo o momento toda sua efemeridade. O artista, porém, é dotado de certo talento interdito à maioria. Alguns consideram, até, essa característica que possui como maldição, pois faz dele eterno insatisfeito, sempre em busca do impossível: do perfeito, do irretocável, do verdadeiro e do sublime.
O pouco de beleza que consegue criar, todavia, lhe dá esse status, mais raro do que se pensa, que poucos mortais conseguem obter. O que cria, pode até despertar admiração nos que apreciam sua obra. Mas jamais satisfaz o artista, esse perpétuo obcecado pela beleza.
Somos (e nem seria preciso lembrar essa óbvia realidade), seres sumamente frágeis, efêmeros, mortais e passageiros. Nossa vida é tão curta, que sequer temos tempo de nos localizar em um universo imenso, provavelmente infinito, cheio de mistérios e grandeza, em perpétua mutação.
Tudo muda, a cada segundo, ao nosso redor. Por isso, tudo acaba um dia: os planetas, as estrelas, as constelações e as galáxias. É possível, por exemplo, que a Via Láctea – onde se situa o nosso sol e, por conseqüência, a Terra – tenha em seu centro um buraco negro, aspirando para o seu interior, de forma contínua e inflexível, matéria, energia e até a própria luz.
Se for um fato, é questão de tempo, não importa quanto, para que nossa galáxia, com tudo o que nela há, seja destruída e deixe de existir. E que, em seu lugar, reste, somente, minúsculo concentrado de matéria, energia e de luz, de peso e densidade absurdamente elevados. Daí ser impossível deixar de dar razão ao escritor Charles Ramuz, quando afirma: “É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo”.
Mas a beleza que o artista persegue, a conceitual e não a meramente virtual, é esquiva, caprichosa e escorregadia. Honoré de Balzac escreveu o seguinte sobre ela, no conto “Obra-prima ignorada”: “A beleza é uma coisa severa e difícil que não se deixa alcançar à vontade, é preciso esperar suas horas, espioná-la, acossá-la, enlaçá-la firmemente para obrigá-la a render-se”. Estes são meu empenho e meta.
Dedico cada dia da minha vida a essa inglória tarefa. Jamais chegarei onde quero – estou plenamente consciente das minhas limitações – mas nem por isso desisto de tentar. Espiono, o tempo todo, a beleza. Acosso-a. Faço-lhe incessante cerco. Quem sabe, um dia, vença-a pelo cansaço. Quem sabe consiga enlaçá-la firmemente, fazê-la sentir minha paixão, contagiá-la com minha excitação e obrigá-la a, finalmente, render-se, como se faz com a mulher que excite nossos desejos e se faça de difícil. Quem sabe...
A beleza é um conceito bastante controvertido e em raros aspectos é consensual. Apresenta-se, basicamente, de duas formas: virtual e conceitual. A primeira é aquela efêmera, fugaz, passageira, que se transforma com o tempo e perde o seu encanto. É o caso da beleza física, de uma pessoa, uma flor, um animal.
Dura por somente alguns anos, quando não dias ou meras horas, e depois se decompõe, se corrompe, envelhece, murcha e desaparece. Já a conceitual, embora difícil de definir, tem o caráter de permanência. Impregna-se em nosso espírito e basta fecharmos os olhos para podermos vislumbrar seus reflexos.
A imaginação, pois, exerce papel preponderante – diria, decisivo – na definição do conceito de beleza. Como diligente escultora, desbasta as imperfeições das formas de pessoas e coisas, tornando-as simétricas, bem-proporcionadas e com aparência de perfeitas, quando de fato não o são.
Há uma certa confusão na determinação do que é belo ou, simplesmente, bonito, elegante, suntuoso, gracioso e/ou atraente. Não se tratam de palavras sinônimas, mas de nomeações de conceitos bem diferentes entre si, embora possam parecer iguais. O artista, todavia, sabe fazer bem essa distinção. Vive correndo, a vida toda, atrás dessa coisa arredia e sutil, que é a beleza, para perpetuá-la em versos, imagens ou sons.
O belo é o suprassumo da perfeição. É algo sem mácula, sem defeitos, sem nada a que se possa fazer a mínima restrição. Daí eu considerar que a verdadeira beleza, em toda a sua glória, majestade e esplendor, é atributo exclusivo de Deus. Nós, humanos, temos que nos contentar com seus meros reflexos, em menor ou maior intensidade, não importa.
É por essa razão que a imaginação é essencial para captarmos o belo e tentarmos reproduzir, com o máximo de autenticidade e veracidade, com o talento que eventualmente contarmos, em versos, imagens e sons.
O artista batalha a vida toda em busca desse pálido reflexo de beleza e, na maior parte das vezes, se frustra. Por que? Porque a beleza suprema é interdita a nós, humanos. É, como tudo o que é perfeito, atribuição e característica exclusivas de Deus.
Frise-se que o amor á beleza não faz de ninguém, automaticamente, um artista. Todos nós amamos o que entendemos que seja o belo que, na verdade, não resiste à mais superficial análise para revelar suas inúmeras imperfeições. Isso, contudo, não se trata de arte, porém de mero gosto.
A beleza que as pessoas comuns amam é a virtual, a aparente, a superficial, a que logo fenece, murcha, se decompõe e se desfaz, que revela a todo o momento toda sua efemeridade. O artista, porém, é dotado de certo talento interdito à maioria. Alguns consideram, até, essa característica que possui como maldição, pois faz dele eterno insatisfeito, sempre em busca do impossível: do perfeito, do irretocável, do verdadeiro e do sublime.
O pouco de beleza que consegue criar, todavia, lhe dá esse status, mais raro do que se pensa, que poucos mortais conseguem obter. O que cria, pode até despertar admiração nos que apreciam sua obra. Mas jamais satisfaz o artista, esse perpétuo obcecado pela beleza.
Somos (e nem seria preciso lembrar essa óbvia realidade), seres sumamente frágeis, efêmeros, mortais e passageiros. Nossa vida é tão curta, que sequer temos tempo de nos localizar em um universo imenso, provavelmente infinito, cheio de mistérios e grandeza, em perpétua mutação.
Tudo muda, a cada segundo, ao nosso redor. Por isso, tudo acaba um dia: os planetas, as estrelas, as constelações e as galáxias. É possível, por exemplo, que a Via Láctea – onde se situa o nosso sol e, por conseqüência, a Terra – tenha em seu centro um buraco negro, aspirando para o seu interior, de forma contínua e inflexível, matéria, energia e até a própria luz.
Se for um fato, é questão de tempo, não importa quanto, para que nossa galáxia, com tudo o que nela há, seja destruída e deixe de existir. E que, em seu lugar, reste, somente, minúsculo concentrado de matéria, energia e de luz, de peso e densidade absurdamente elevados. Daí ser impossível deixar de dar razão ao escritor Charles Ramuz, quando afirma: “É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo”.
Mas a beleza que o artista persegue, a conceitual e não a meramente virtual, é esquiva, caprichosa e escorregadia. Honoré de Balzac escreveu o seguinte sobre ela, no conto “Obra-prima ignorada”: “A beleza é uma coisa severa e difícil que não se deixa alcançar à vontade, é preciso esperar suas horas, espioná-la, acossá-la, enlaçá-la firmemente para obrigá-la a render-se”. Estes são meu empenho e meta.
Dedico cada dia da minha vida a essa inglória tarefa. Jamais chegarei onde quero – estou plenamente consciente das minhas limitações – mas nem por isso desisto de tentar. Espiono, o tempo todo, a beleza. Acosso-a. Faço-lhe incessante cerco. Quem sabe, um dia, vença-a pelo cansaço. Quem sabe consiga enlaçá-la firmemente, fazê-la sentir minha paixão, contagiá-la com minha excitação e obrigá-la a, finalmente, render-se, como se faz com a mulher que excite nossos desejos e se faça de difícil. Quem sabe...
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Satta king
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