O cinema pode ser ótimo coadjuvante da literatura, mas jamais seu substituto. Filmes baseados em livros famosos auxiliam muito, por exemplo, no entendimento do enredo de determinado romance ou novela, mas têm o defeito de omitir as reflexões do autor, feitas, geralmente, à margem do desenrolar da história, quando da descrição de personagens e/ou cenários. E aí é que está a essência da obra literária, embora o leigo nem desconfie que assim seja. Quando me refiro a cinema, claro, pressuponho o de qualidade, não o chamado “trash”, mal-feito técnica e conceitualmente, que esbanja violência e sexo. O mesmo vale para literatura. Um bom filme valoriza um livro apenas mediano e o oposto também é verdadeiro. Ou seja, um mau, arrebenta com a obra até de um Balzac, um Eça de Queiroz ou um Machado de Assis, entre tantos. A escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís – grande nome das letras de Portugal na atualidade, ganhadora do Prêmio Camõs de 2004 – abordou a relação dessas duas artes, em entrevista publicada em 18 de junho de 2000, no caderno “Mais!”, do jornal Folha de S. Paulo, e constatou: “O cinema é uma forma de respirar da literatura. Bergman queria ser escritor, mas a linguagem literária é outra. A linguagem cinematográfica é puramente emotiva e mais sintética. Mostra, mas não demonstra, ilumina, mas não informa”. São, como afirmei, artes complementares, mas não exclusivas.
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