Tuesday, March 08, 2011




Violência onipresente

Pedro J. Bondaczuk

A violência, nas suas várias formas de manifestação, é a maior realidade e, certamente, o maior dos males que afligem o ser humano. Está presente em praticamente toda a nossa vida, sutil ou ostensivamente, quer a física, quer a psicológica, mental e até moral. Nascemos com esse estigma. Desenvolvemo-la em nosso processo de desenvolvimento. Somos, em algum momento, ou vítimas dela, ou seus agentes. Nossa própria existência é conservada mediante seu recurso.
Alimentamo-nos, por exemplo, de seres que foram vivos (animais e vegetais). Portanto, para que uns sobrevivam, é necessário que outros pereçam. A sobrevivência é, pois, permanente luta, não apenas no sentido figurado que, via de regra, lhe emprestamos, mas no literal. A vida é e sempre foi violenta.
Nenhum animal se alimenta, por exemplo, de pedra, de terra ou de qualquer outro mineral (embora minerais também componham nossa dieta). Necessita eliminar outro ser vivo para se manter. Nesse aspecto, os vegetais nos são “superiores”. Afinal, prescindem da morte de outros seres para subsistirem.
Por causa dessa realidade, o tema onipresente em literatura é a violência em todas as suas variadas formas de manifestação. Raros são os textos em que ela não está presente, ou de forma ostensiva, ou apenas sugerida.
Até nos escritos religiosos ela aparece (ou para ser condenada, ou, então, como ameaça aos que infringirem normas de boa conduta que as religiões pregam. Afinal, o que vem a ser o tal do “castigo eterno” para os ímpios se não uma das formas mais cruéis e definitivas de violência?).
Estas considerações vêm a propósito de um gentil e muito bem-escrito e-mail do leitor José de Andrade, em que me pergunta se não acho que os escritores atuais fazem apologia da violência. Embora alguns, de fato, abusem, em linhas gerais, acho que eles não são diferentes dos seus colegas de outras épocas. Afinal, como destaquei no início destas considerações, essa é provavelmente a mais dura e cruel das realidades da vida. O tema, portanto, parece-me óbvio.
Ademais, não vejo nenhum escritor “defendendo” a violência, pelo contrário. Em geral, os “vilões”, violentos por excelência, sempre acabam se dando mal no final das histórias, o que deixa ao leitor a mensagem implícita que não se deve recorrer à força e à prepotência para se dar bem em sociedade.
Reitero, todavia, que alguns, de fato, exageram na dose. Mas não se trata da maioria. Veja só, as religiões, que pregam a concórdia, o amor e a solidariedade, são, através da história, pretextos para atos sumamente violentos. Num passado não tão remoto, eram comuns sacrifícios humanos, para “aplacar a ira dos deuses”. E quem eram os sacrificados? Quase sempre pessoas indefesas, como mulheres e crianças, imoladas à sua revelia nos altares.
Por outro lado, nem preciso lembrar o sem-número de guerras, no passado e em tempos muitos recentes, travadas tendo por pano de fundo as religiões. Por mais criativos que sejam os escritores, portanto, eles ficam milhões de anos-luz distantes da crueldade da realidade, quando se pensa em violência. Claro que, até por formação, prefiro temas mais amenos, como o amor, a bondade e o espírito de cooperação entre pessoas e povos. Nós, porém, que lidamos com idéias, não temos o direito de contribuir para a alienação de ninguém. E a violência, desgraçadamente, reitero, é a grande realidade da vida.

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