Quando o erro pode ser didático
Pedro J. Bondaczuk
O sonho das pessoas ativas, dos sujeitos dinâmicos, criadores e que se dedicam, de corpo e alma, à produção (material e/ou artística e intelectual) é o da perfeição de suas obras. Há quem seja perfeccionista por natureza e que sofra face à mínima imperfeição no que faz, mesmo que não notada por ninguém. Esse fazer, refazer, tornar a fazer, emendar, burilar, melhorar etc. chega, em casos extremos, às raias da obsessão. E é errado esse comportamento? Claro que não. Só que não se recomenda que se descambe para tal exagero. Afinal, como já diziam sábios no passado, “a virtude está sempre no meio”.
Convivemos, no dia a dia, com erros de todos os tipos e tamanhos, nossos e dos outros, e nos afligimos com os que cometemos e nos irritamos com os alheios. Há casos em que achamos que essas falhas são irreparáveis. Nunca são! Alguns, porém, negam que erraram, mesmo quando é para lá de evidente que cometeram algum equívoco. Pagam um preço por essa irresponsabilidade: caem em ridículo. Outros admitem, mas se esquecem dos erros, como se não os houvessem cometido. Com isso, só os multiplicam. Há, porém, os que são sábios: extraem ensinamentos das suas falhas e as corrigem. Tiram preciosas lições, que lhes permitem não errar novamente e fazer o que lhes cabe cada vez melhor. Nossos erros, porém, não devem nos afligir. Até porque, tendem a ser sumamente didáticos se soubermos lidar com eles. E, ademais, só erra que faz alguma coisa, quem arrisca, atua, constrói e não é omisso.
Podemos (e devemos) ser sábios para transformar pequenos erros em maiúsculos acertos. A atitude correta, nesses casos, é o que John Maxwell observou, com pertinência: “Um homem deve ser grande o suficiente para admitir seus erros, esperto demais para tirar proveito deles e forte o bastante para corrigi-los”. Não é fácil? Claro que não! Mas é eficaz. Por mais que a busquemos (e devemos, de fato, buscar), a nós, humanos, frágeis e falíveis, é vedada a perfeição. Por mais completo que nos pareça um trabalho, manual ou intelectual, sempre haverá alguma coisa a ser burilada, revisada, corrigida e melhorada.
Esse exercício de correção de obras, de idéias e até mesmo de rumos, deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado. Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos, convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de minha parte, que “principalmente o amor” requer constante correção. Afinal, é como uma bela, porém, frágil flor: só manterá seu viço, sua beleza e sua vida, se for constantemente regada, adubada e podada.
Reitero, trilhões de vezes se for preciso, que só não erra nunca quem não faz nada e passa a vida como parasita, explorando o esforço de quem tenta melhorar o mundo, sem contribuir em nada para o bem-estar próprio e da comunidade. A vida não comporta espectadores, mas requer agentes, tanto para praticar os atos mais simples, quanto para as obras mais complexas, que exigem preparo e esforço. Nada é mais condenável do que a preguiça, o comodismo e, principalmente, a omissão. É preferível errar uma, duas, dez, cem, mil vezes, do que nunca cometer erros, por jamais tentar fazer o que quer que seja. Só que é necessário corrigir o mesmo tanto de vezes aquilo em que se falhou.
Nenhuma obra verdadeiramente valiosa, que sobreviva ao tempo e ao esquecimento, pode ser produzida se não colocarmos nela alma, talento e paixão. As grandes realizações são frutos de crença, empenho, vontade, persistência e de tamanha convicção, a ponto de deitarmos “chispas pelos olhos”. Nesse intenso empenho, todavia, sempre estaremos sujeitos a errar, por maiores que sejam nosso treinamento, perícia e conhecimento de causa. Devemos estar preparados para isso e para efetuar, claro, a devida correção. Mas precisamos encarar a empreitada sem excessivos temores. Um certo medinho todos temos (aquele clássico friozinho na barriga), principalmente face aos grandes desafios. Ele, porém, não pode e nem deve nos deter e paralisar.
Quem teme se expor, por medo de fracasso, frustra-se, invariavelmente, e dessa frustração resulta intenso sofrimento, mental, que tende a se transformar em físico. Da minha parte, prefiro pecar por excesso a me omitir. Estou disposto, na busca dos meus ideais, a tentar, tentar e tentar, insistente e incansavelmente, até alcançar o objetivo. Mesmo que errando a cada passo, mas disposto a sempre consertar o que errar. Boa parte das pessoas talentosas, todavia, não age assim.
Como editor, trabalho em uma função em que o erro é meu maior inimigo. Sempre que cometo algum (e por mais que tente, erro bastante, porque executo grande volume de trabalho), sofro muito. Sinto-me humilhado, abatido, envergonhado e tenho que administrar (e me livrar de) uma sensação de impotência e de desânimo. Confesso, no entanto, que as coisas que mais sei e que executo com maior perfeição, aprendi a fazer e a acertar errando. Estou consciente que, por maior que seja meu empenho (e creiam, é imenso), cometerei ainda muitos erros, não apenas ao longo da carreira profissional, mas da vida. Vou errar no amor, nos relacionamentos sociais e profissionais, nas escolhas, nas decisões, na avaliação das amizades etc.etc.etc. E sofrerei com isso. Pudera, sou humano.
Saberei, no entanto (e espero saber mesmo), pedir perdão quando ofender alguém, perdoar quando ofendido, reconciliar-me com quem brigar, evitar celeumas desnecessárias, mas aprender, e aprender muito, se e quando cometer esses erros. Há, todavia, um equívoco que considero bastante grave, embora comum, e que certamente não cometerei: o de achar que os amigos têm que se entender, sempre, e em tudo, sem nenhuma divergência. Não é bem assim. Amigos também divergem, discutem e brigam, sem que a amizade seja abalada, comprometida, ou sequer arranhada. A esse respeito, George Eliot observou: “Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e, mesmo assim, muito afeto”. Comprovei, inúmeras vezes, isso na prática. Amizade que não resiste a um simples desentendimento? Estou fora! Sequer merece esse nome.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O sonho das pessoas ativas, dos sujeitos dinâmicos, criadores e que se dedicam, de corpo e alma, à produção (material e/ou artística e intelectual) é o da perfeição de suas obras. Há quem seja perfeccionista por natureza e que sofra face à mínima imperfeição no que faz, mesmo que não notada por ninguém. Esse fazer, refazer, tornar a fazer, emendar, burilar, melhorar etc. chega, em casos extremos, às raias da obsessão. E é errado esse comportamento? Claro que não. Só que não se recomenda que se descambe para tal exagero. Afinal, como já diziam sábios no passado, “a virtude está sempre no meio”.
Convivemos, no dia a dia, com erros de todos os tipos e tamanhos, nossos e dos outros, e nos afligimos com os que cometemos e nos irritamos com os alheios. Há casos em que achamos que essas falhas são irreparáveis. Nunca são! Alguns, porém, negam que erraram, mesmo quando é para lá de evidente que cometeram algum equívoco. Pagam um preço por essa irresponsabilidade: caem em ridículo. Outros admitem, mas se esquecem dos erros, como se não os houvessem cometido. Com isso, só os multiplicam. Há, porém, os que são sábios: extraem ensinamentos das suas falhas e as corrigem. Tiram preciosas lições, que lhes permitem não errar novamente e fazer o que lhes cabe cada vez melhor. Nossos erros, porém, não devem nos afligir. Até porque, tendem a ser sumamente didáticos se soubermos lidar com eles. E, ademais, só erra que faz alguma coisa, quem arrisca, atua, constrói e não é omisso.
Podemos (e devemos) ser sábios para transformar pequenos erros em maiúsculos acertos. A atitude correta, nesses casos, é o que John Maxwell observou, com pertinência: “Um homem deve ser grande o suficiente para admitir seus erros, esperto demais para tirar proveito deles e forte o bastante para corrigi-los”. Não é fácil? Claro que não! Mas é eficaz. Por mais que a busquemos (e devemos, de fato, buscar), a nós, humanos, frágeis e falíveis, é vedada a perfeição. Por mais completo que nos pareça um trabalho, manual ou intelectual, sempre haverá alguma coisa a ser burilada, revisada, corrigida e melhorada.
Esse exercício de correção de obras, de idéias e até mesmo de rumos, deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado. Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos, convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de minha parte, que “principalmente o amor” requer constante correção. Afinal, é como uma bela, porém, frágil flor: só manterá seu viço, sua beleza e sua vida, se for constantemente regada, adubada e podada.
Reitero, trilhões de vezes se for preciso, que só não erra nunca quem não faz nada e passa a vida como parasita, explorando o esforço de quem tenta melhorar o mundo, sem contribuir em nada para o bem-estar próprio e da comunidade. A vida não comporta espectadores, mas requer agentes, tanto para praticar os atos mais simples, quanto para as obras mais complexas, que exigem preparo e esforço. Nada é mais condenável do que a preguiça, o comodismo e, principalmente, a omissão. É preferível errar uma, duas, dez, cem, mil vezes, do que nunca cometer erros, por jamais tentar fazer o que quer que seja. Só que é necessário corrigir o mesmo tanto de vezes aquilo em que se falhou.
Nenhuma obra verdadeiramente valiosa, que sobreviva ao tempo e ao esquecimento, pode ser produzida se não colocarmos nela alma, talento e paixão. As grandes realizações são frutos de crença, empenho, vontade, persistência e de tamanha convicção, a ponto de deitarmos “chispas pelos olhos”. Nesse intenso empenho, todavia, sempre estaremos sujeitos a errar, por maiores que sejam nosso treinamento, perícia e conhecimento de causa. Devemos estar preparados para isso e para efetuar, claro, a devida correção. Mas precisamos encarar a empreitada sem excessivos temores. Um certo medinho todos temos (aquele clássico friozinho na barriga), principalmente face aos grandes desafios. Ele, porém, não pode e nem deve nos deter e paralisar.
Quem teme se expor, por medo de fracasso, frustra-se, invariavelmente, e dessa frustração resulta intenso sofrimento, mental, que tende a se transformar em físico. Da minha parte, prefiro pecar por excesso a me omitir. Estou disposto, na busca dos meus ideais, a tentar, tentar e tentar, insistente e incansavelmente, até alcançar o objetivo. Mesmo que errando a cada passo, mas disposto a sempre consertar o que errar. Boa parte das pessoas talentosas, todavia, não age assim.
Como editor, trabalho em uma função em que o erro é meu maior inimigo. Sempre que cometo algum (e por mais que tente, erro bastante, porque executo grande volume de trabalho), sofro muito. Sinto-me humilhado, abatido, envergonhado e tenho que administrar (e me livrar de) uma sensação de impotência e de desânimo. Confesso, no entanto, que as coisas que mais sei e que executo com maior perfeição, aprendi a fazer e a acertar errando. Estou consciente que, por maior que seja meu empenho (e creiam, é imenso), cometerei ainda muitos erros, não apenas ao longo da carreira profissional, mas da vida. Vou errar no amor, nos relacionamentos sociais e profissionais, nas escolhas, nas decisões, na avaliação das amizades etc.etc.etc. E sofrerei com isso. Pudera, sou humano.
Saberei, no entanto (e espero saber mesmo), pedir perdão quando ofender alguém, perdoar quando ofendido, reconciliar-me com quem brigar, evitar celeumas desnecessárias, mas aprender, e aprender muito, se e quando cometer esses erros. Há, todavia, um equívoco que considero bastante grave, embora comum, e que certamente não cometerei: o de achar que os amigos têm que se entender, sempre, e em tudo, sem nenhuma divergência. Não é bem assim. Amigos também divergem, discutem e brigam, sem que a amizade seja abalada, comprometida, ou sequer arranhada. A esse respeito, George Eliot observou: “Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e, mesmo assim, muito afeto”. Comprovei, inúmeras vezes, isso na prática. Amizade que não resiste a um simples desentendimento? Estou fora! Sequer merece esse nome.
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