Escolha a catástrofe
Pedro J. Bondaczuk
Muitas pessoas se manifestaram, achando que a mais recente crônica que escrevi sobre questões ambientais foi, digamos, “desequilibrada”. Contestam-me quando afirmo que estamos à beira de um desastre sem precedentes e de conseqüências imprevisíveis, atribuindo o que escrevi a eventual equívoco na interpretação de dados sobre o efeito-estufa. Respondo que nunca tive vezo catastrofista. Que sou um sujeito otimista e de bem com a vida. Que creio na capacidade humana de criar alternativas para seus problemas. Mas sou, sobretudo, bem-informado.
Peço licença ao leitor para transcrever trecho de um recente ensaio que escrevi em que (creio) minha postura quanto ao futuro do Planeta fica um pouco mais clara:
“Um dos livros mais impressionantes que já li, sobre os perigos que ameaçam a Terra e, por conseqüência, a vida, tem o sugestivo título de “Escolha a catástrofe”. Foi escrito pelo cientista e escritor de ficção científica Isaac Asimov. No Brasil, a obra teve várias edições, de editoras diferentes, embora não tenha se constituído em nenhum best-seller. A que li é a da Editora Melhoramentos, com tradução de Amarílis Miazzi Pereira Lima. O livro tem 334 páginas e pode fornecer uma infinidade de argumentos aos catastrofistas de carteirinha (embora estes até os dispensem para suas neuróticas elucubrações).
Apesar do título sombrio do livro, Isaac Asimov mostra otimismo quanto à sobrevivência, não somente a humana, mas da vida, como a conhecemos. E não só isso, como até derruba alguns mitos a propósito. Por se tratar de um cientista, sua análise, meticulosa, é baseada, rigorosamente, em dados científicos, o que não comporta sequer contestações.
Isaac Asimov divide em cinco graus os eventos catastróficos que ameaçam a vida na Terra. Nas de primeira, analisa a hipótese do fim do universo, tal como o conhecemos hoje. Trata-se de possibilidade remota, posto que não impossível. Se (ou quando) ocorrer, terão passado bilhões, quiçá trilhões de gerações, caso os homens não se destruam antes.
Nesta parte do livro, Asimov aborda algumas das mudanças no universo que, se ocorrerem, tornarão inviável qualquer possibilidade de existir algum tipo de vida. Por conseqüência, esta se extinguiria, lógico, também aqui na Terra.
A catástrofe de 2º grau é mais particular, restrita às nossas proximidades. Também não afetaria milhões de gerações do nosso Planeta. São os desastres localizados, aqueles em que o universo permaneceria intacto, tal como é hoje, mas o Sol seria destruído, ou mudaria suas características, de sorte a tornar inviável a existência de vida na Terra.
As catástrofes de 3º grau são mais plausíveis e, portanto, possíveis de ocorrer a qualquer momento, até mesmo sem aviso. São as que afetam, somente, o nosso Planeta, com o Sistema Solar, a Via Láctea e o universo permanecendo intactos no seu curso. Na seqüência, comentarei cada uma dessas possibilidades. Por enquanto, limito-me a enumerar cada uma das cinco categorias citadas por Asimov.
Na catástrofe de 4º grau, somente algumas espécies que vivem na Terra e, principalmente, a humana, seriam extintas. As demais talvez até sofram mutações, mas permanecem quase intactas (quando não intactas). São inúmeras as possibilidades que podem levar a humanidade à extinção, quer por sua própria ação, quer por conseqüência de agentes (ou de condições) externas.
Finalmente, nas catástrofes de 5º grau, Asimov levanta a hipótese de que nenhum tipo de vida, nem mesmo a humana, se extinga, mas ocorra o colapso da civilização, tal como a conhecemos. Ou seja, que por alguma razão qualquer, a humanidade sofra um imenso retrocesso e retorne à condição de fera bronca, com o império da lei da selva, do “cada um por si”.
Embora improvável, essa hipótese não é descartável. Pode vir a ocorrer, dependendo das circunstâncias. Se você, caro leitor, é pessimista empedernido, se não acredita na grandeza do espírito humano e entende que o melhor é que tudo acabe mesmo, para que não haja mais tanto sofrimento e angústia, escolha a catástrofe da sua preferência.
Chego à conclusão que o maior perigo a que estamos expostos é o de sermos tragados por um “buraco-negro”. Não o que os cientistas supõem que exista bem no meio da Via Láctea e que, se de fato existir, no espaço de alguns bilhões de anos, haverá de sugar, inexoravelmente, todos os bilhões de estrelas da galáxia (entre elas o sol e seu sistema de planetas, a Terra no meio), enfim, toda a matéria para o seu interior, não deixando de fora sequer a luz.
Trata-se, porém, de um outro vórtice, muito mais próximo de nós e, portanto, mais iminente. É o que o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa alertou que nos ameaça, de forma crescente, ao escrever, num dos seus tantos e lúcidos textos: “Nós estamos caminhando para um buraco-negro: não sabemos amar, não nos ouvimos e estamos de cabeça para baixo em nossos valores”. Esse sim é o perigo com o qual devemos nos preocupar. Os demais...’
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
Muitas pessoas se manifestaram, achando que a mais recente crônica que escrevi sobre questões ambientais foi, digamos, “desequilibrada”. Contestam-me quando afirmo que estamos à beira de um desastre sem precedentes e de conseqüências imprevisíveis, atribuindo o que escrevi a eventual equívoco na interpretação de dados sobre o efeito-estufa. Respondo que nunca tive vezo catastrofista. Que sou um sujeito otimista e de bem com a vida. Que creio na capacidade humana de criar alternativas para seus problemas. Mas sou, sobretudo, bem-informado.
Peço licença ao leitor para transcrever trecho de um recente ensaio que escrevi em que (creio) minha postura quanto ao futuro do Planeta fica um pouco mais clara:
“Um dos livros mais impressionantes que já li, sobre os perigos que ameaçam a Terra e, por conseqüência, a vida, tem o sugestivo título de “Escolha a catástrofe”. Foi escrito pelo cientista e escritor de ficção científica Isaac Asimov. No Brasil, a obra teve várias edições, de editoras diferentes, embora não tenha se constituído em nenhum best-seller. A que li é a da Editora Melhoramentos, com tradução de Amarílis Miazzi Pereira Lima. O livro tem 334 páginas e pode fornecer uma infinidade de argumentos aos catastrofistas de carteirinha (embora estes até os dispensem para suas neuróticas elucubrações).
Apesar do título sombrio do livro, Isaac Asimov mostra otimismo quanto à sobrevivência, não somente a humana, mas da vida, como a conhecemos. E não só isso, como até derruba alguns mitos a propósito. Por se tratar de um cientista, sua análise, meticulosa, é baseada, rigorosamente, em dados científicos, o que não comporta sequer contestações.
Isaac Asimov divide em cinco graus os eventos catastróficos que ameaçam a vida na Terra. Nas de primeira, analisa a hipótese do fim do universo, tal como o conhecemos hoje. Trata-se de possibilidade remota, posto que não impossível. Se (ou quando) ocorrer, terão passado bilhões, quiçá trilhões de gerações, caso os homens não se destruam antes.
Nesta parte do livro, Asimov aborda algumas das mudanças no universo que, se ocorrerem, tornarão inviável qualquer possibilidade de existir algum tipo de vida. Por conseqüência, esta se extinguiria, lógico, também aqui na Terra.
A catástrofe de 2º grau é mais particular, restrita às nossas proximidades. Também não afetaria milhões de gerações do nosso Planeta. São os desastres localizados, aqueles em que o universo permaneceria intacto, tal como é hoje, mas o Sol seria destruído, ou mudaria suas características, de sorte a tornar inviável a existência de vida na Terra.
As catástrofes de 3º grau são mais plausíveis e, portanto, possíveis de ocorrer a qualquer momento, até mesmo sem aviso. São as que afetam, somente, o nosso Planeta, com o Sistema Solar, a Via Láctea e o universo permanecendo intactos no seu curso. Na seqüência, comentarei cada uma dessas possibilidades. Por enquanto, limito-me a enumerar cada uma das cinco categorias citadas por Asimov.
Na catástrofe de 4º grau, somente algumas espécies que vivem na Terra e, principalmente, a humana, seriam extintas. As demais talvez até sofram mutações, mas permanecem quase intactas (quando não intactas). São inúmeras as possibilidades que podem levar a humanidade à extinção, quer por sua própria ação, quer por conseqüência de agentes (ou de condições) externas.
Finalmente, nas catástrofes de 5º grau, Asimov levanta a hipótese de que nenhum tipo de vida, nem mesmo a humana, se extinga, mas ocorra o colapso da civilização, tal como a conhecemos. Ou seja, que por alguma razão qualquer, a humanidade sofra um imenso retrocesso e retorne à condição de fera bronca, com o império da lei da selva, do “cada um por si”.
Embora improvável, essa hipótese não é descartável. Pode vir a ocorrer, dependendo das circunstâncias. Se você, caro leitor, é pessimista empedernido, se não acredita na grandeza do espírito humano e entende que o melhor é que tudo acabe mesmo, para que não haja mais tanto sofrimento e angústia, escolha a catástrofe da sua preferência.
Chego à conclusão que o maior perigo a que estamos expostos é o de sermos tragados por um “buraco-negro”. Não o que os cientistas supõem que exista bem no meio da Via Láctea e que, se de fato existir, no espaço de alguns bilhões de anos, haverá de sugar, inexoravelmente, todos os bilhões de estrelas da galáxia (entre elas o sol e seu sistema de planetas, a Terra no meio), enfim, toda a matéria para o seu interior, não deixando de fora sequer a luz.
Trata-se, porém, de um outro vórtice, muito mais próximo de nós e, portanto, mais iminente. É o que o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa alertou que nos ameaça, de forma crescente, ao escrever, num dos seus tantos e lúcidos textos: “Nós estamos caminhando para um buraco-negro: não sabemos amar, não nos ouvimos e estamos de cabeça para baixo em nossos valores”. Esse sim é o perigo com o qual devemos nos preocupar. Os demais...’
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