Não há país rico de povo pobre
Pedro J. Bondaczuk
O economista escocês Adam Smith, cujo bicentenário de morte foi lembrado no dia 17 passado, mesmo tendo transcorrido 214 anos do lançamento da sua principal obra, “A Riqueza das Nações”, publicada em Londres em 1776, é mais atual do que nunca em suas colocações, principalmente ao afirmar: “Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre e miserável”.
Apesar do que aquilo que ele escreveu há tanto tempo ser absolutamente óbvio, há muito político, tecnocrata e economista que ainda não conseguiu entender isso. Sempre que se levanta a questão salarial em público, se apontando aberrações, imediatamente o crítico recebe o rótulo de esquerdismo, embora não seja esquerdista.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgaram, anteontem, sua mais recente pesquisa sobre desemprego e salário feita no centro nervoso do País, a região da Grande São Paulo.
E os dados demonstram que há muita gente que precisa ler Adam Smith se na verdade estiver pensando no futuro do País e não apenas no próprio. O estudo revela um crescimento, em junho passado, de 4,3% no número de desempregados apenas no cinturão industrial que cerca a capital paulista, alcançando, agora, a preocupante taxa de desocupação de 12,1%.
Como percentuais costumam enganar, troquemos a cifra em miúdos. Havia, em fins do mês passado, a “bagatela”de 1,002 milhão de pessoas sem emprego na Grande São Paulo! Um outro dado preocupante é o que revela que aqueles que conseguiram conservar seus postos estão recebendo salários cujo poder de compra vale dois terços do que valia em 1985 e metade daquele dos tempos iniciais do Plano Cruzado de 1986.
Como se vê, há algo de muito errado acontecendo na nossa economia, fazendo com que o discurso das autoridades econômicas atuais esteja muito distante de corresponder à prática. Foi Adam Smith quem escreveu, na sua clássica obra: “Assim como a remuneração generosa do trabalho estimula a propagação da espécie, da mesma forma aumenta a laboriosidade. Os salários representam o estímulo da operosidade, a qual, como qualquer outra qualidade humana, melhora em proporção ao estímulo que recebe”.
Não será, pois, com uma política que produza um quadro sombrio como o mostrado pela pesquisa conjunta do Dieese e Seade que o presidente Fernando Collor de Mello irá cumprir a meta que expôs, em 5 de fevereiro passado, em Roma, ao primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, oportunidade em que disse: “Um dos objetivos do meu governo é trocar essa posição de liderança na América Latina por outra que consideramos mais interessante: a de simples integrante do Primeiro Mundo”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de julho de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O economista escocês Adam Smith, cujo bicentenário de morte foi lembrado no dia 17 passado, mesmo tendo transcorrido 214 anos do lançamento da sua principal obra, “A Riqueza das Nações”, publicada em Londres em 1776, é mais atual do que nunca em suas colocações, principalmente ao afirmar: “Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a grande maioria de seus membros for pobre e miserável”.
Apesar do que aquilo que ele escreveu há tanto tempo ser absolutamente óbvio, há muito político, tecnocrata e economista que ainda não conseguiu entender isso. Sempre que se levanta a questão salarial em público, se apontando aberrações, imediatamente o crítico recebe o rótulo de esquerdismo, embora não seja esquerdista.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgaram, anteontem, sua mais recente pesquisa sobre desemprego e salário feita no centro nervoso do País, a região da Grande São Paulo.
E os dados demonstram que há muita gente que precisa ler Adam Smith se na verdade estiver pensando no futuro do País e não apenas no próprio. O estudo revela um crescimento, em junho passado, de 4,3% no número de desempregados apenas no cinturão industrial que cerca a capital paulista, alcançando, agora, a preocupante taxa de desocupação de 12,1%.
Como percentuais costumam enganar, troquemos a cifra em miúdos. Havia, em fins do mês passado, a “bagatela”de 1,002 milhão de pessoas sem emprego na Grande São Paulo! Um outro dado preocupante é o que revela que aqueles que conseguiram conservar seus postos estão recebendo salários cujo poder de compra vale dois terços do que valia em 1985 e metade daquele dos tempos iniciais do Plano Cruzado de 1986.
Como se vê, há algo de muito errado acontecendo na nossa economia, fazendo com que o discurso das autoridades econômicas atuais esteja muito distante de corresponder à prática. Foi Adam Smith quem escreveu, na sua clássica obra: “Assim como a remuneração generosa do trabalho estimula a propagação da espécie, da mesma forma aumenta a laboriosidade. Os salários representam o estímulo da operosidade, a qual, como qualquer outra qualidade humana, melhora em proporção ao estímulo que recebe”.
Não será, pois, com uma política que produza um quadro sombrio como o mostrado pela pesquisa conjunta do Dieese e Seade que o presidente Fernando Collor de Mello irá cumprir a meta que expôs, em 5 de fevereiro passado, em Roma, ao primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, oportunidade em que disse: “Um dos objetivos do meu governo é trocar essa posição de liderança na América Latina por outra que consideramos mais interessante: a de simples integrante do Primeiro Mundo”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de julho de 1990).
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