Friday, March 18, 2011




O melhor da TV

Pedro J. Bondaczuk


Esportes e jornalismo estão mantendo a boa qualidade da programação de TV no corrente mês que, tirando a série nacional da Globo (as duas que foram ao ar, ou seja, “Padre Cícero” e “Anarquistas graças a Deus”, foram muito boas), e as tradicionais novelas, anda meio fraquinha, para não dizer sonolenta. Isso acontece especialmente na área de filmes, com inúmeras reprises, algumas até pela terceira vez.
A proximidade dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, que embora um pouco esvaziados com a ausência dos soviéticos, alemães orientais e outros países do Leste Europeu, continuam polarizando as atenções, favorece bons eventos e, conseqüentemente, boas transmissões. E, principalmente, as finais do Campeonato Brasileiro de Futebol, a um pouco desprestigiada Copa Brasil, que vem proporcionando partidas memoráveis (é de se notar o aumento dos gols marcados nessa fase, em relação a anos anteriores), proporcionando grande vibração das torcidas.
Exatamente pensando nas Olimpíadas, todos os canais (à exceção da TVS) reforçaram seus departamentos esportivos. Algumas emissoras foram buscar no rádio grandes nomes, outras chegaram, mesmo, a revelar (ou pelo menos projetar) novos talentos, propiciando uma saudável competição, na qual o ganhador é, sem dúvida, o telespectador.
Na área do jornalismo a nova onda, no momento, é a dos programas tipo “Fantástico”, abordando temas variados da vida cultural do País, enfocando temas que vão desde a música popular até a política. E será nessa área, e nesse esquema, que vão ocorrer os dois próximos lançamentos em TV, o “Brasil urGENTE”, da Rede Bandeirantes, e o “Programa Goulart de Andrade”, que a TV Record estréia amanhã, às 23 horas, com apresentações semanais de quatro horas de duração.
Pelos nomes que integram ambas promoções jornalísticas, espera-se razoável qualidade. Apenas fica a torcida para que não venha a ocorrer um fenômeno típico desse tipo de lançamento: o seu esvaziamento, após uma série de apresentações, quase sempre motivado pela repetitividade.
Aliás, a esse respeito, um leitor, dia destes, fez uma observação muito judiciosa. Nos chamou a atenção para o fato que, tanto em rádio, quanto na TV, as boas idéias, em termos de programação, acabam “estioladas”, por falta de continuidade.
A maior parte dos lançamentos, no princípio, demonstra boa qualidade. Alguns, têm, até, nível surpreendente, tanto de comunicação, quanto de produção. Lá pela quinta ou sexta apresentação, tais programas começam a se repetir. A audiência, conseqüentemente, cai, o patrocínio periga, até que um dia eles morrem de morte natural, substituídos por outras fórmulas, que acabam, no final, tendo o mesmo trajeto e destino.
Estamos com o release de apresentação do “Programa Goulart de Andrade”, da TV Record, em mãos. A equipe que se propõe a levar adiante essa promoção cultural é das mais brilhantes, todos nomes consagrados em rádio, jornal ou mesmo em televisão. Por exemplo, o radialista Fausto Silva, que vai comandar o quadro “Perdidos na Noite”. Ou o brilhante jornalista Mino Carta que, por sua trajetória em vários jornais e revistas (muitos dos quais ajudou a criar), firmou uma imagem (justíssima) de originalidade e, sobretudo, de competência.
Ele será o responsável pelo “Discurso do Absurdo”. Tema é que, certamente, não lhe vai faltar, neste momento angustiante, e até de impasse, que toda a sociedade planetária atravessa. Não se pode omitir, ainda, nomes como o de Sílvio Lancelotti, cuja fama de gourmet é muito conhecida e que passará aos telespectadores segredos da culinária; como o do jornalista esportivo Carlos Aimar, falando, logicamente, da sua especialidade, ou seja, esportes, e do publicitário Francisco Alberto Madia, cuja atração será um quadro enfocando Merchandising e Propaganda, elementos culturais vivos, cada vez mais atuantes no panorama cultural, não apenas brasileiro, mas em todas as sociedades evoluídas.
O “Brasil urGENTE”, original já no seu logotipo, que traz as duas primeiras letras (“ur”) da palavra “urgente” em minúsculas e as cinco restantes em maiúsculas, para ressaltar, no próprio nome, a sua proposta, ou seja gente, pelas informações fornecidas pela Rede Bandeirantes, segue mais ou menos o mesmo esquema do “Programa Goulart de Andrade”.
Provavelmente, por envolver a participação das emissoras componentes da rede, será um pouco mais dinâmico. Entretanto, por ser diário, corre maiores riscos de tornar-se repetitivo. Tudo vai depender da sua equipe de produção. Afinal, com uma proposta destas, assunto vai existir para décadas e não apenas para dias e semanas.
Quanto às coisas ruins da nossa TV, assunto que estamos repisando há vários meses, preferimos, nesta oportunidade, não abordar. Até porque isso seria desnecessário, pois os baixos índices de audiência que elas apresentam são a maior crítica que o telespectador poderia fazer à sua qualidade.
Queremos, apenas, frisar que os responsáveis pela programação de filmes poderiam ter um pouquinho mais de imaginação, e não repetir obras já exibidas, inclusive neste ano.

(Comentário publicado na página 10, Variedades, do Correio Popular, em 18 de maio de 1984).

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