Tuesday, March 29, 2011



Embalos de sábado à tarde


Pedro J. Bondaczuk


Os "embalos de sábado" à tarde, do telespectador, são caracterizados pela monotonia, pela completa ausência de opções em termos de programação. Dessa forma, após o almoço, o sujeito que já trabalhou pela manhã e quer um pouco de entretenimento, para desanuviar a cabeça dos problemas que enfrentou no correr da semana, tem como escolha ou "uma pelada" de futebol, nos raros campinhos que ainda restam, ou nada.

Muitos destinam essa faixa de horário para lavar e lustrar seus carros. Outros, optam por uma soneca. Raros, muito poucos, escolhem a TV nesse horário, que vai das 13 às 18h, como programa para o seu descanso. Não é necessária nenhuma pesquisa de Ibope para se chegar a essa conclusão. Basta que você, leitor, analise sua tarde de sábado, para concluir que aquilo que estamos afirmando é rigorosamente verdadeiro.

E qual a explicação para manter o televisor desligado nessa faixa de horário? É simples: a falta de opções. Os nossos programadores, talvez fanáticos amantes de programas de auditório, acham que todos os telespectadores possuem gostos iguais. E tome programinhas de calouros, sempre com os mesmos "cartazes", a maior parte deles autênticos "prêt-à-porter", consumíveis e largados de lado, frutos mais da promoção da indústria fonográfica do que de um real talento.

Aliás, a esse respeito (embora poucos tenham a coragem de afirmar publicamente) a grande verdade é que a música popular brasileira atravessa um de seus períodos mais negros de falta de criatividade. Depois da Bossa Nova, na década de 50, da Jovem Guarda, na de 60 e do movimento dos baianos, na de 70, nada de novo apareceu na praça. Não bastasse a poluição sonora das principais emissoras de rádio, "entupidas" de composições de má qualidade, produzidas em série e cujo destino fatal é o esquecimento perpétuo, após passageiro período de brilho, o telespectador, que porventura tiver a infelicidade de querer preencher suas tardes de sábado assistindo TV, receberá em seu lar essa mesma mediocridade (salvo raríssimas e honrosas exceções), através de esquemas ultrapassados, que já deram seus frutos à época de César Ladeira, Ary Barroso, Jaime Barcelos, César de Alencar e tantos outros, hoje aposentados, porém que souberam movimentar platéias.

Mas eles tinham atrações para apresentar: cantores e cantoras realmente de talento, que deixaram seus nomes marcados na história da música popular brasileira. Compositores que eram criativos de verdade e que legaram ao nosso cancioneiro páginas inesquecíveis e imortais.

Admitamos que os programas de auditório tenham o seu público apreciador. Mas será que os programadores de nossa televisão acham que todo o brasileiro, sem nenhuma exceção, gosta desse tipo de espetáculo? Pelo menos é o que parece.

Quem porventura não aprecia esse gênero de apresentação (e são muitos, para não dizer a maioria), não tem outra opção senão desligar seu aparelho e buscar outra atividade qualquer para preencher sua tarde de sábado. Alguns acham que estamos exagerando. Pois aí vai a prova.

A programação vespertina de sábado, dos cinco canais comerciais sintonizados em nossa cidade, é a seguinte: Rede Bandeirantes, "Clube do Bolinha"; TV Record, "Programa Barros de Alencar"; TVS, "Programa Raul Gil" e TV Gazeta, "Programa Carlos Aguiar". Todos estes estão concorrendo com alguém imbatível no gênero na atualidade, ou seja, o "Velho Guerreiro", Chacrinha, na Globo, que ninguém pode negar, tem o seu público fiel e inarredável.

Quais desses programas têm condições de competir com o veterano apresentador? Por que não distribuir, então, os demais por outros dias e horários e dar ao telespectador uma variedade maior de atrações? Todos os outros têm lá o seu valor, senão não estariam onde estão. São dignos de respeito e possuem (por que não?), as suas legiões de fãs. Mas estes seriam a maioria? Duvido! E é justo destinar-se toda uma programação, no veículo de maior penetração em todo o País, a uma inexpressiva minoria?

Outro aspecto a considerar é que as pessoas que gostam dos artistas que freqüentam esses espetáculos, têm outras opções para vê-los e ouvi-los. Apesar da crise econômica que o País está vivendo, os shows em clubes e ginásios de esportes, por este imenso Brasil, se multiplicam. As emissoras de rádio não cansam de rodar os seus sucessos. Indo seguidamente aos programas de auditório (e os senhores certamente já notaram que são quase sempre os mesmos), eles estarão, na verdade, "queimando" suas imagens.

A TV, não ser pode negar, traz esse risco. É um veículo onde apenas aqueles que realmente têm um imenso talento conseguem aparecer durante anos a fio, sem cansar, sempre com o mesmo interesse por parte dos telespectadores. E esses, é possível de se contar nos dedos. E de uma só mão!

Que tal se alguma emissora fizesse uma experiência e lançasse algo de novo nesse dia e horário? Mas que ela não se restringisse apenas ao lançamento. Que fizesse uma grande promoção, através da mídia impressa e por meio de chamadas em seus horários nobres, e que esse programa fosse anteriormente pesquisado junto ao público, tivesse um bom tratamento na sua produção e que, além de entreter, trouxesse alguma instrução ao telespectador.

Podem estar certos que uma providência assim faria com que os aparelhos de TV ficassem ligados em maior quantidade, por mais tempo e os nossos "embalos de sábado" à tarde não seriam tão monótonos e descoloridos. A sugestão é gratuita e fica aí para quem tiver a coragem de tentar.


(Comentário publicado na página 16, Artes, do Correio Popular, em 17 de fevereiro de 1984).


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