Sunday, March 20, 2011




O flagelo do analfabetismo

Pedro J. Bondaczuk

O progresso material (e também o espiritual) deixou à margem cerca de dois terços da humanidade, quando estamos no limiar do terceiro milênio da Era Cristã. Desse contingente enorme, de 3,5 bilhões de seres humanos, perto de um terço vive uma situação muito pior (quase desesperadora) do que os outros. Está com as chances de mudar os rumos de suas vidas virtualmente bloqueadas, por se encontrar imerso nas trevas do desconhecimento quase absoluto. Sua cabeça ainda permanece numa fase de civilização anterior à invenção dessa maravilha das maravilhas, que é o alfabeto. Referimo-nos ao um bilhão de indivíduos analfabetos, que por falta de um talento maior, que não seja o de utilizar somente a força de seus músculos, estão condenados a uma vida de privações, de incertezas e de angústias.

Como conceber que num século tão pródigo de realizações científicas, em que o homem descobriu os segredos para transformar matéria em energia, desvenda os misteriosos genomas e até já passeou na Lua por diversas vezes, um em cada cinco habitantes do Planeta não saiba ler e nem escrever? E que um em três adultos seja analfabeto?

Ao contrário do que muitos pensam, porém, o analfabetismo não é somente pessoal, para quem está nesta triste condição. É um dano para a própria sociedade que ele integra, que deixa de contar com cérebros às vezes brilhantes, que não são aproveitados porque essas pessoas não encontraram chances reais de desenvolver suas aptidões, por terem nascido em países desorganizados e muitas vezes inviáveis, cujas lideranças não têm noção das autênticas prioridades.

A maior riqueza que uma nação pode ter é o seu povo. E quanto mais esclarecido ele for, mais apto será para atuar em conjunto, num esforço concentrado, que é o único e árduo caminho do desenvolvimento. No panorama internacional, não existem as loterias que tornam as pessoas ricas da noite para o dia, graças ao fator do acaso. Não há quinas ou senas para nações.

As sociedades nacionais fazem-se grandes, fortes e respeitadas pelo talento, pelo empenho e pela determinação de sua gente. Este é o único meio para se desenvolver. Não existem países poderosos com um povo fraco. Caso existissem, a injustiça (pois haveria uma concentração de riquezas absurda nas mãos de uma minoria) seria tão aberrante, que em pouco tempo eles se dissolveriam no caos e na anarquia.

Neste 1990, instituído pelas Nações Unidas para ser o Ano Internacional da Alfabetização, é indispensável que cada pessoa realmente consciente do sentido da sua nacionalidade, que além de leitura tenha o indispensável esclarecimento mental, faça alguma coisa, por mínima que seja, para conduzir esse bilhão de pessoas condenadas à ignorância à luz do esclarecimento.

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 6 de março de 1990)

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