Sucesso buscado, mas inesperado
Pedro J. Bondaczuk
A época da disputa da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, coincidiu com um dos períodos mais sacrificados, corridos e trabalhosos, mas, também, mais compensadores e ricos em satisfações da minha vida. Foi uma época tão boa que é gratificante, até, de ser recordada. Meu trabalho, por exemplo, quer o jornalístico, quer o literário, ia de vento em popa. E, o que me é mais gratificante, começava a ser reconhecido. E eu recebia uma quantidade imensa de convites para proferir palestras, participar de debates e seminários e para partilhar minhas idéias, polêmicas, posto que originais e um tanto amalucadas, se analisadas pelo senso comum.
Originalidade é assim mesmo. É vista como coisa de doido pelos cultores e (pior) adoradores da mesmice. É confundida, amiúde, com mera excentricidade, extravagância, quando não com gratuito e vazio exotismo.
Jamais recusei qualquer convite para expor, a platéias variadas, minha maneira peculiar de encarar o mundo. Jamais, também, cobrei um só centavo que fosse nesses contatos que sempre considerei enriquecedores, pois se é verdade que ensinei muitas coisas aos expectadores, não é menos certo que aprendo muito com eles.
Precisava fazer uma ginástica enorme para conciliar minha agenda profissional com a, digamos, cultural. Estava mergulhado até o pescoço na minha profissão, que sempre amei e que tanto me empolgou e empolga, a de jornalista. Permanecia, então, por até 16 horas diárias na redação do Correio Popular, posto que não consecutivas. Muitos dos participantes aqui do Literário (os de Campinas, claro) são testemunhas disso. Entremeava minhas tarefas no jornal com freqüentes escapadas para proferir as tais palestras que citei em escolas, faculdades, centros culturais e até esportivos. Era uma roda-vida de endoidar.
Essa frenética atividade refletia-se no meu repouso, cada vez mais escasso, já que o dia (óbvio) tem somente 24 horas. Bem que gostaria que tivesse mais. Os filhos e a mulher viviam aflitos com o que classificavam de “imprudência”, temendo que essa minha vida atropelada fosse terminar numa baita estafa, ou seja, num estresse de conseqüências imprevisíveis. Felizmente, isso nunca aconteceu. Quando você faz as coisas com gosto e com convicção, não há exageros. A satisfação anula o cansaço. Quanto mais você se empenha, mais quer se empenhar.
Dizem que a melhor fase da vida de um homem é entre os trinta e os trinta e cinco anos. Discordo. Meu momento de ouro, o ápice da minha maturidade física, mental, afetiva e psicológica deu-se entre os cinqüenta e os sessenta anos. Não que eu me considere agora, que caminho para os sessenta e oito anos, em declínio. Longe disso. Continuo ativo, vibrante e com entusiasmo para dar e vender. Estou em pleno vigor, mas o pique é diferente. Mantenho agora um ritmo de vida que ainda pode ser classificado de frenético, mas, aos poucos, tudo vai ficando mais lento, desde o caminhar ao raciocinar.
Em 1992, período em que a Seleção Brasileira iniciava a dura caminhada que a levaria à Copa de 1994, com a disputa das eliminatórias, fui eleito para a Academia Campinense de Letras. Sequer ousei lançar minha candidatura. Quem a lançou foi o saudoso jornalista e escritor Maurício de Moraes, natural da cidade mineira de Ouro Fino, que fez brilhante carreira nos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Fiz história nessa instituição. Tornei-me, aos 49 anos, o acadêmico mais jovem a ser eleito para aquela augusta casa de letras. Isso deveu-se, basicamente, ao sucesso do meu livro de estréia, “Quadros de Natal”, de contos, que estou estudando relançar, com o acréscimo de novas historias e em edição mais caprichada do que aquela. Em três tempos, foram esgotadas três edições e não sei o que me deu na cabeça em não permitir que fosse rodada uma quarta. Provavelmente, foi falta de confiança no meu potencial.
O meu ciclo de palestras, que abrangia não apenas Campinas, mas várias cidades do interior, inclusive de outros Estados que não São Paulo, me valeu a conquista do título de “Cidadão Campineiro”, em 1993, aprovado por unanimidade pela Câmara de Vereadores local. A justificativa foi a de que eu divulgava o nome e as artes e a cultura desta magnífica metrópole.
Fazia isso, de fato, mas sem esperar reconhecimento. Já que ele veio, tanto melhor. Alardeio o nome de Campinas em todo o lugar que posso porque me sinto campineiro de fato, legítimo e genuíno, mesmo tendo nascido em outro lugar. Eu e esta cidade nos amamos reciprocamente. E foi paixão instantânea, fulminante e à primeira vista. Nenhuma das muitas homenagens que já recebi me é tão cara quanto a que me concedeu a honra de ser campineiro, embora não por nascimento, mas por decreto.
Meu inesperado sucesso pessoal, naqueles anos iniciais da última década do século XX, parecia prenunciar, também, o êxito talvez mais improvável ainda da Seleção Brasileira em gramados norte-americanos. Ambos foram surpreendentes (e talvez ambos, eu e os integrantes daquela equipe guerreira, tenhamos sido surpreendidos) e vieram depois de muito suspense e... de muita luta.
Pedro J. Bondaczuk
A época da disputa da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, coincidiu com um dos períodos mais sacrificados, corridos e trabalhosos, mas, também, mais compensadores e ricos em satisfações da minha vida. Foi uma época tão boa que é gratificante, até, de ser recordada. Meu trabalho, por exemplo, quer o jornalístico, quer o literário, ia de vento em popa. E, o que me é mais gratificante, começava a ser reconhecido. E eu recebia uma quantidade imensa de convites para proferir palestras, participar de debates e seminários e para partilhar minhas idéias, polêmicas, posto que originais e um tanto amalucadas, se analisadas pelo senso comum.
Originalidade é assim mesmo. É vista como coisa de doido pelos cultores e (pior) adoradores da mesmice. É confundida, amiúde, com mera excentricidade, extravagância, quando não com gratuito e vazio exotismo.
Jamais recusei qualquer convite para expor, a platéias variadas, minha maneira peculiar de encarar o mundo. Jamais, também, cobrei um só centavo que fosse nesses contatos que sempre considerei enriquecedores, pois se é verdade que ensinei muitas coisas aos expectadores, não é menos certo que aprendo muito com eles.
Precisava fazer uma ginástica enorme para conciliar minha agenda profissional com a, digamos, cultural. Estava mergulhado até o pescoço na minha profissão, que sempre amei e que tanto me empolgou e empolga, a de jornalista. Permanecia, então, por até 16 horas diárias na redação do Correio Popular, posto que não consecutivas. Muitos dos participantes aqui do Literário (os de Campinas, claro) são testemunhas disso. Entremeava minhas tarefas no jornal com freqüentes escapadas para proferir as tais palestras que citei em escolas, faculdades, centros culturais e até esportivos. Era uma roda-vida de endoidar.
Essa frenética atividade refletia-se no meu repouso, cada vez mais escasso, já que o dia (óbvio) tem somente 24 horas. Bem que gostaria que tivesse mais. Os filhos e a mulher viviam aflitos com o que classificavam de “imprudência”, temendo que essa minha vida atropelada fosse terminar numa baita estafa, ou seja, num estresse de conseqüências imprevisíveis. Felizmente, isso nunca aconteceu. Quando você faz as coisas com gosto e com convicção, não há exageros. A satisfação anula o cansaço. Quanto mais você se empenha, mais quer se empenhar.
Dizem que a melhor fase da vida de um homem é entre os trinta e os trinta e cinco anos. Discordo. Meu momento de ouro, o ápice da minha maturidade física, mental, afetiva e psicológica deu-se entre os cinqüenta e os sessenta anos. Não que eu me considere agora, que caminho para os sessenta e oito anos, em declínio. Longe disso. Continuo ativo, vibrante e com entusiasmo para dar e vender. Estou em pleno vigor, mas o pique é diferente. Mantenho agora um ritmo de vida que ainda pode ser classificado de frenético, mas, aos poucos, tudo vai ficando mais lento, desde o caminhar ao raciocinar.
Em 1992, período em que a Seleção Brasileira iniciava a dura caminhada que a levaria à Copa de 1994, com a disputa das eliminatórias, fui eleito para a Academia Campinense de Letras. Sequer ousei lançar minha candidatura. Quem a lançou foi o saudoso jornalista e escritor Maurício de Moraes, natural da cidade mineira de Ouro Fino, que fez brilhante carreira nos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Fiz história nessa instituição. Tornei-me, aos 49 anos, o acadêmico mais jovem a ser eleito para aquela augusta casa de letras. Isso deveu-se, basicamente, ao sucesso do meu livro de estréia, “Quadros de Natal”, de contos, que estou estudando relançar, com o acréscimo de novas historias e em edição mais caprichada do que aquela. Em três tempos, foram esgotadas três edições e não sei o que me deu na cabeça em não permitir que fosse rodada uma quarta. Provavelmente, foi falta de confiança no meu potencial.
O meu ciclo de palestras, que abrangia não apenas Campinas, mas várias cidades do interior, inclusive de outros Estados que não São Paulo, me valeu a conquista do título de “Cidadão Campineiro”, em 1993, aprovado por unanimidade pela Câmara de Vereadores local. A justificativa foi a de que eu divulgava o nome e as artes e a cultura desta magnífica metrópole.
Fazia isso, de fato, mas sem esperar reconhecimento. Já que ele veio, tanto melhor. Alardeio o nome de Campinas em todo o lugar que posso porque me sinto campineiro de fato, legítimo e genuíno, mesmo tendo nascido em outro lugar. Eu e esta cidade nos amamos reciprocamente. E foi paixão instantânea, fulminante e à primeira vista. Nenhuma das muitas homenagens que já recebi me é tão cara quanto a que me concedeu a honra de ser campineiro, embora não por nascimento, mas por decreto.
Meu inesperado sucesso pessoal, naqueles anos iniciais da última década do século XX, parecia prenunciar, também, o êxito talvez mais improvável ainda da Seleção Brasileira em gramados norte-americanos. Ambos foram surpreendentes (e talvez ambos, eu e os integrantes daquela equipe guerreira, tenhamos sido surpreendidos) e vieram depois de muito suspense e... de muita luta.
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