Aos trancos e barrancos
Pedro J. Bondaczuk
Superada a fase inicial da Copa do Mundo de 1998, na França, com a dramática classificação brasileira para as oitavas de final, a Seleção, aos trancos e barrancos, ora jogando o fino da bola, ora na base da pura raça e da empolgação, foi galgando, pouco a pouco, degrau a degrau, as várias etapas da competição, rumo à chance disputar o penta. Esta foi conseguida. Mas... acabou desperdiçada.
Diga-se a bem da verdade que os anfitriões, os franceses, não fizeram nenhuma campanha esfuziante, dessas de ficar na história. Também penaram para se garantir nas finais. Mas essa é uma outra história, que será narrada na sequência.
Ademais, meu foco, nesta série de reminiscências, é o Brasil e apenas ele. Os outros, cito apenas incidentalmente, à medida que cruzam nosso caminho. A seleção do Chile cruzou, em 27 de junho de 1998. Levou azar. Pegou o Brasil inspirado e disposto a se redimir do vexame do jogo anterior, em que foi derrotado pela inexpressiva Noruega. Essas coisas acontecem.
A partida, válida pelas oitavas de final, foi disputada no Parc des Princes, em Paris, com arbitragem do francês Marc Batta. Os chilenos, que em toda a história nos venceram somente seis vezes, mas nunca em competições importantes, como copa do mundo ou eliminatórias, queriam quebrar essa escrita. “Se a Noruega pôde, nós também podemos”, deve ter raciocinado o seu técnico. Só que as coisas não são assim. Cada jogo tem a sua própria história e circunstâncias peculiares.
O Chile tinha boa seleção, com destaque para a dupla Salas e Zamorano, principalmente este último, que era astro do Real Madrid. Zagallo mandou a campo, nesse dia, os seguintes jogadores: Taffarel, Cafu, Junior Baiano, Aldair (Gonçalves) e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio, Leonardo e Rivaldo; Bebeto (Denilson) e Ronaldo.
Os chilenos deram muito azar. Pegaram o Brasil num daqueles dias inspirados que, quando acontecem, o tornam rigorosamente imbatível. Quem estava particularmente com a macaca naquela oportunidade era o volante César Sampaio, que fez dois gols em sequência, aos 11 e aos 26 minutos do primeiro tempo. Ronaldo, de pênalti, completou o marcador da primeira etapa. Os dois times foram para os vestiários com o placar marcando 3 a 0 para o Brasil.
Nos 45 minutos finais, os chilenos não tinham mais o que perder. Perdido por um, perdido por mil. Por esse motivo, lançaram-se ao ataque e até conseguiram diminuir a diferença aos 23 minutos, com gol de Salas. Mas Ronaldo acabou logo com a festa. Apenas dois minutos depois, aos 25, fez 4 a 1 e ainda foi pouco. Se o Brasil forçasse, teria feito um placar bem maior.
De qualquer forma, para a surpresa de muita gente, lá estava a nossa seleção nas quartas de final. O adversário era mais perigoso. Não que tivesse futebol brilhante, ou camisa de peso, nada disso. Mas era uma equipe fisicamente vigorosa, de forte marcação, doida para nos surpreender. E por pouco conseguiu. Era a tal da Dinamarca.
O jogo foi realizado em 3 de julho de 1998, em Nantes, no Estádio La Beaujoire – Louis Fonteneau, com arbitragem do egípcio Gamal Gandhour. Os dinamarqueses começaram de forma fulminante, surpreendendo nossa equipe, com um gol logo aos 2 minutos de jogo, o que, quando ocorre, tende a desestabilizar qualquer time. O autor da façanha foi Jorgensen. Ainda no primeiro tempo, contudo, Bebeto empatou aos 10 e Rivaldo virou a partida aos 26.
O Brasil jogou, nesse dia, com: Taffarel, Cafu, Junior Baiano, Aldair e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio (Zé Roberto), Leonardo (Emerson) e Rivaldo; Bebeto (Denilson) e Ronaldo. Os dinamarqueses voltaram a marcar, no comecinho do segundo tempo, aos 5 minutos, com Brian Laudrup. O jogo ficou aberto, diria escancarado, com as duas equipes se lançando ao ataque. Junior Baiano quase põe tudo a perder. Cometeu um pênalti bobo, agarrando um atacante dinamarquês pela camisa na pequena área, que para a nossa sorte, nem o árbitro viu e nem a câmera da TV que transmitia o jogo conseguiu captar. Mas um cinegrafista amador gravou o lance de um ângulo privilegiado e essa gravação rodou o mundo após a partida.
Rivaldo, todavia, se encarregou, aos 15 minutos, de acabar com a nossa angústia. Fez o gol salvador que garantiu a seleção na semifinal. Parecia um sonho. Mais uma vez, o Brasil chegava longe, mesmo sem uma equipe tida como ideal e sem jogar nenhuma maravilha.
Faltava somente vencer um obstáculo para qualificar-se à disputa do penta. Esse, porém, consistia num adversário temível, traiçoeiro, diria fatalista: a Holanda. De novo?! Os holandeses, certamente, buscariam revanche da derrota que sofreram para nós quatro anos antes, em 1994, nos Estados Unidos. Contavam com uma das melhores seleções que já conseguiram formar, que tinha o goleiro Van der Sar (ainda em plena atividade), os irmãos De Boer (Frank e Ronald), Cocu, Davids, Seedorf, Bergkamp e Kluivert. Era um timaço!
Quando Ronaldo fez o gol brasileiro logo no primeiro minuto de partida, pareceu que desta vez a história seria diferente. Mas quem esperava facilidade, não tardou a cair na realidade. Kluivert empatou o jogo ainda no primeiro tempo, aos 42 minutos. No segundo, ambas seleções levaram perigo uma à meta da outra, mas não conseguiram mexer no placar. O jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. E nessa, também, as defesas não permitiram coisa alguma aos ataques.
E lá foi o Brasil para a terceira decisão por pênaltis em sua história em mundiais. A primeira, havia ocorrido em 1986, diante da França. Perdemos. A segunda aconteceu há quatro anos, nos Estados Unidos, contra a Itália. Ganhamos e conquistamos o tetra. E agora, como seria?
Brilhou intensamente a estrela de Taffarel, um goleiraço! O Brasil converteu todas as suas quatro cobranças através de Ronaldo, Rivaldo, Emerson e Dunga. Frank de Boer e Bergkamp marcaram para os holandeses. Mas nosso goleiro defendeu os pênaltis chutados por Cocu e Ronald de Boer.
Aos trancos e barrancos, alternando boas e más partidas, a Seleção Brasileira chegava à sua sexta final de Copa do Mundo. Nesse dia jogaram, contra a Holanda: Taqffarel, Zé Carlos, Junior Baiano, Aldair E Roberto Carlos; Du8nga, César Sampaio, Leonardo (Emerson) e Rivaldo. Bebeto (Denilson) e Ronaldo. Esse grupo guerreiro estava a um passo, um único e reles passo, do pentacampeonato. Mas...
Pedro J. Bondaczuk
Superada a fase inicial da Copa do Mundo de 1998, na França, com a dramática classificação brasileira para as oitavas de final, a Seleção, aos trancos e barrancos, ora jogando o fino da bola, ora na base da pura raça e da empolgação, foi galgando, pouco a pouco, degrau a degrau, as várias etapas da competição, rumo à chance disputar o penta. Esta foi conseguida. Mas... acabou desperdiçada.
Diga-se a bem da verdade que os anfitriões, os franceses, não fizeram nenhuma campanha esfuziante, dessas de ficar na história. Também penaram para se garantir nas finais. Mas essa é uma outra história, que será narrada na sequência.
Ademais, meu foco, nesta série de reminiscências, é o Brasil e apenas ele. Os outros, cito apenas incidentalmente, à medida que cruzam nosso caminho. A seleção do Chile cruzou, em 27 de junho de 1998. Levou azar. Pegou o Brasil inspirado e disposto a se redimir do vexame do jogo anterior, em que foi derrotado pela inexpressiva Noruega. Essas coisas acontecem.
A partida, válida pelas oitavas de final, foi disputada no Parc des Princes, em Paris, com arbitragem do francês Marc Batta. Os chilenos, que em toda a história nos venceram somente seis vezes, mas nunca em competições importantes, como copa do mundo ou eliminatórias, queriam quebrar essa escrita. “Se a Noruega pôde, nós também podemos”, deve ter raciocinado o seu técnico. Só que as coisas não são assim. Cada jogo tem a sua própria história e circunstâncias peculiares.
O Chile tinha boa seleção, com destaque para a dupla Salas e Zamorano, principalmente este último, que era astro do Real Madrid. Zagallo mandou a campo, nesse dia, os seguintes jogadores: Taffarel, Cafu, Junior Baiano, Aldair (Gonçalves) e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio, Leonardo e Rivaldo; Bebeto (Denilson) e Ronaldo.
Os chilenos deram muito azar. Pegaram o Brasil num daqueles dias inspirados que, quando acontecem, o tornam rigorosamente imbatível. Quem estava particularmente com a macaca naquela oportunidade era o volante César Sampaio, que fez dois gols em sequência, aos 11 e aos 26 minutos do primeiro tempo. Ronaldo, de pênalti, completou o marcador da primeira etapa. Os dois times foram para os vestiários com o placar marcando 3 a 0 para o Brasil.
Nos 45 minutos finais, os chilenos não tinham mais o que perder. Perdido por um, perdido por mil. Por esse motivo, lançaram-se ao ataque e até conseguiram diminuir a diferença aos 23 minutos, com gol de Salas. Mas Ronaldo acabou logo com a festa. Apenas dois minutos depois, aos 25, fez 4 a 1 e ainda foi pouco. Se o Brasil forçasse, teria feito um placar bem maior.
De qualquer forma, para a surpresa de muita gente, lá estava a nossa seleção nas quartas de final. O adversário era mais perigoso. Não que tivesse futebol brilhante, ou camisa de peso, nada disso. Mas era uma equipe fisicamente vigorosa, de forte marcação, doida para nos surpreender. E por pouco conseguiu. Era a tal da Dinamarca.
O jogo foi realizado em 3 de julho de 1998, em Nantes, no Estádio La Beaujoire – Louis Fonteneau, com arbitragem do egípcio Gamal Gandhour. Os dinamarqueses começaram de forma fulminante, surpreendendo nossa equipe, com um gol logo aos 2 minutos de jogo, o que, quando ocorre, tende a desestabilizar qualquer time. O autor da façanha foi Jorgensen. Ainda no primeiro tempo, contudo, Bebeto empatou aos 10 e Rivaldo virou a partida aos 26.
O Brasil jogou, nesse dia, com: Taffarel, Cafu, Junior Baiano, Aldair e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio (Zé Roberto), Leonardo (Emerson) e Rivaldo; Bebeto (Denilson) e Ronaldo. Os dinamarqueses voltaram a marcar, no comecinho do segundo tempo, aos 5 minutos, com Brian Laudrup. O jogo ficou aberto, diria escancarado, com as duas equipes se lançando ao ataque. Junior Baiano quase põe tudo a perder. Cometeu um pênalti bobo, agarrando um atacante dinamarquês pela camisa na pequena área, que para a nossa sorte, nem o árbitro viu e nem a câmera da TV que transmitia o jogo conseguiu captar. Mas um cinegrafista amador gravou o lance de um ângulo privilegiado e essa gravação rodou o mundo após a partida.
Rivaldo, todavia, se encarregou, aos 15 minutos, de acabar com a nossa angústia. Fez o gol salvador que garantiu a seleção na semifinal. Parecia um sonho. Mais uma vez, o Brasil chegava longe, mesmo sem uma equipe tida como ideal e sem jogar nenhuma maravilha.
Faltava somente vencer um obstáculo para qualificar-se à disputa do penta. Esse, porém, consistia num adversário temível, traiçoeiro, diria fatalista: a Holanda. De novo?! Os holandeses, certamente, buscariam revanche da derrota que sofreram para nós quatro anos antes, em 1994, nos Estados Unidos. Contavam com uma das melhores seleções que já conseguiram formar, que tinha o goleiro Van der Sar (ainda em plena atividade), os irmãos De Boer (Frank e Ronald), Cocu, Davids, Seedorf, Bergkamp e Kluivert. Era um timaço!
Quando Ronaldo fez o gol brasileiro logo no primeiro minuto de partida, pareceu que desta vez a história seria diferente. Mas quem esperava facilidade, não tardou a cair na realidade. Kluivert empatou o jogo ainda no primeiro tempo, aos 42 minutos. No segundo, ambas seleções levaram perigo uma à meta da outra, mas não conseguiram mexer no placar. O jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. E nessa, também, as defesas não permitiram coisa alguma aos ataques.
E lá foi o Brasil para a terceira decisão por pênaltis em sua história em mundiais. A primeira, havia ocorrido em 1986, diante da França. Perdemos. A segunda aconteceu há quatro anos, nos Estados Unidos, contra a Itália. Ganhamos e conquistamos o tetra. E agora, como seria?
Brilhou intensamente a estrela de Taffarel, um goleiraço! O Brasil converteu todas as suas quatro cobranças através de Ronaldo, Rivaldo, Emerson e Dunga. Frank de Boer e Bergkamp marcaram para os holandeses. Mas nosso goleiro defendeu os pênaltis chutados por Cocu e Ronald de Boer.
Aos trancos e barrancos, alternando boas e más partidas, a Seleção Brasileira chegava à sua sexta final de Copa do Mundo. Nesse dia jogaram, contra a Holanda: Taqffarel, Zé Carlos, Junior Baiano, Aldair E Roberto Carlos; Du8nga, César Sampaio, Leonardo (Emerson) e Rivaldo. Bebeto (Denilson) e Ronaldo. Esse grupo guerreiro estava a um passo, um único e reles passo, do pentacampeonato. Mas...
No comments:
Post a Comment