Início da “Era Dunga”
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 1990, na Itália, é a lembrada com menos (ou com nenhuma) saudade pela imensa maioria da torcida brasileira. Podem notar que poucos escrevem, ainda hoje, sobre ela. E quando o fazem, não conseguem esconder um certo repúdio encruado, no meu entender exagerado, mas generalizado.
Ao olhar para os jogadores brasileiros que participaram desse Mundial, tem-se que se admitir que, pelo menos no papel, era um grupo forte e respeitável. Muitos haviam conquistado a Medalha de Bronze nas Olimpíadas com a camisa amarelinha. Mas, na verdade, essa Seleção não deu liga. Não “se encaixou”, como os técnicos costumam dizer, no seu jargão característico. Não empolgou a imprensa e muito menos o torcedor comum, aquele que o carioca chama de “geraldino”, o que preenche as gerais dos estádios e costuma ser fiel e fanático.
Aquela Seleção ficou rotulada como a que inaugurou a chamada “Era Dunga”. Só que esse rótulo foi utilizado no sentido puramente pejorativo e não no de garra, empenho e vontade de vencer, características do volante que tinha esse apelido e que viria a fracassar em 2010, dessa vez no comando técnico do nosso time. Essa denominação destinava-se a estereotipar aquele grupo como praticante de um futebol excessivamente defensivo, duro, sem imaginação e nem criatividade, do tipo que brasileiro algum gosta de ver.
Ao contrário de Telê Santana, que era respeitado até pelos seus mais ferrenhos adversários, aqueles que o consideravam teimoso ou “pé frio”, havia massiva resistência nacional, praticamente unanimidade, contra o treinador Sebastião Lazaroni. Essa oposição e essa antipatia gerais ficaram ainda maiores depois que se soube que o técnico iria para a Copa de contrato já assinado com a Fiorentina, para dirigir o time de Firenze tão logo acabasse o Mundial. Isso era interpretado como oportunismo. Ou seja, dizia-se que o interesse de Sebastião Lazaroni não era fazer boa campanha na competição, mas manter seu nome em evidência, na “vitrine”, para obter vantagens contratuais.
Se a denúncia procedia, ou não, são outros quinhentos. Mas era o que se propalava então. A Seleção, como tantas outras, saiu desacreditada do Brasil, mas ao contrário de algumas, que retornaram com o caneco, esta regressou de mãos vazias e cercada de um descrédito ainda maior. Em momento algum chegou a empolgar o torcedor.
Acompanhei essa Copa pela televisão, na redação do Correio Popular. Na hora dos jogos do Brasil, todo o mundo parava o trabalho, para acompanhar as partidas. Jamais torci contra qualquer representante do meu país, seja em que competição for, política, esportiva ou militar (mesmo que se trate de mero campeonato mundial de palitinho) e não iria fazer isso justo com uma seleção tão vitoriosa quanto a nossa de futebol. Isso, contudo, teve um “custo” para mim.
No jornal cheguei, nessa Copa de 1990, a fazer papel de bobo, por minha fidelidade à equipe brasileira. Havia 83 funcionários, entre editores, repórteres e fotógrafos, assistindo os jogos na redação e todos, absolutamente todos torciam para que o Brasil se desse mal, perdesse e fosse eliminado logo de cara do Mundial (até hoje não entendo essa postura). Só eu, nesse universo de jornalistas, torcia pelo sucesso da equipe canarinho. Era, por isso, alvo de todas as gozações face à má performance brasileira.
Para complicar e deixar os comandados de Lazaroni ainda mais “marcados”, fomos eliminados dessa Copa justamente pelos “hermanos”! Aí já foi demais! Ainda bem que os alemães conquistaram aquele título, impedindo que a Argentina chegasse ao tri. Já pensaram o que teríamos que agüentar, em termos de arrogância e pose, se os argentinos vencessem esse Mundial? Afff!!!
Sebastião Lazaroni levou para a Itália o seguinte grupo:
Goleiros: Taffarel e Acácio.
Laterais: Mazinho, Jorginho e Branco.
Zagueiros: Mauro Galvão, Mozer, Ricardo Gomes e Ricardo Rocha.
Meios campistas: Alemão, Dunga, Silas, Valdo, Bebeto e Bismarck.
Atacantes: Careca, Romário, Müller e Renato.
Honestamente, eu acreditava nesse grupo. Achava-o com grande potencial técnico e que, com um pouquinho de sorte, poderia conquistar o tão sonhado tetra. Mas entendia que o treinador deveria ser outro.
Meu preferido, na ocasião, era Zagallo, que estava trabalhando no mundo árabe. Caso o “velho lobo”, por algum motivo, não pudesse comandar a Seleção, eu achava que Telê Santana deveria ser mantido no cargo e muita gente pensava como eu. Só não se queria (e eu também, claro, me opunha) que o treinador fosse Sebastião Lazaroni. Mas foi. E deu com os burros n’água, desagradando tanto a gregos, quanto a troianos.
Pedro J. Bondaczuk
A Copa do Mundo de 1990, na Itália, é a lembrada com menos (ou com nenhuma) saudade pela imensa maioria da torcida brasileira. Podem notar que poucos escrevem, ainda hoje, sobre ela. E quando o fazem, não conseguem esconder um certo repúdio encruado, no meu entender exagerado, mas generalizado.
Ao olhar para os jogadores brasileiros que participaram desse Mundial, tem-se que se admitir que, pelo menos no papel, era um grupo forte e respeitável. Muitos haviam conquistado a Medalha de Bronze nas Olimpíadas com a camisa amarelinha. Mas, na verdade, essa Seleção não deu liga. Não “se encaixou”, como os técnicos costumam dizer, no seu jargão característico. Não empolgou a imprensa e muito menos o torcedor comum, aquele que o carioca chama de “geraldino”, o que preenche as gerais dos estádios e costuma ser fiel e fanático.
Aquela Seleção ficou rotulada como a que inaugurou a chamada “Era Dunga”. Só que esse rótulo foi utilizado no sentido puramente pejorativo e não no de garra, empenho e vontade de vencer, características do volante que tinha esse apelido e que viria a fracassar em 2010, dessa vez no comando técnico do nosso time. Essa denominação destinava-se a estereotipar aquele grupo como praticante de um futebol excessivamente defensivo, duro, sem imaginação e nem criatividade, do tipo que brasileiro algum gosta de ver.
Ao contrário de Telê Santana, que era respeitado até pelos seus mais ferrenhos adversários, aqueles que o consideravam teimoso ou “pé frio”, havia massiva resistência nacional, praticamente unanimidade, contra o treinador Sebastião Lazaroni. Essa oposição e essa antipatia gerais ficaram ainda maiores depois que se soube que o técnico iria para a Copa de contrato já assinado com a Fiorentina, para dirigir o time de Firenze tão logo acabasse o Mundial. Isso era interpretado como oportunismo. Ou seja, dizia-se que o interesse de Sebastião Lazaroni não era fazer boa campanha na competição, mas manter seu nome em evidência, na “vitrine”, para obter vantagens contratuais.
Se a denúncia procedia, ou não, são outros quinhentos. Mas era o que se propalava então. A Seleção, como tantas outras, saiu desacreditada do Brasil, mas ao contrário de algumas, que retornaram com o caneco, esta regressou de mãos vazias e cercada de um descrédito ainda maior. Em momento algum chegou a empolgar o torcedor.
Acompanhei essa Copa pela televisão, na redação do Correio Popular. Na hora dos jogos do Brasil, todo o mundo parava o trabalho, para acompanhar as partidas. Jamais torci contra qualquer representante do meu país, seja em que competição for, política, esportiva ou militar (mesmo que se trate de mero campeonato mundial de palitinho) e não iria fazer isso justo com uma seleção tão vitoriosa quanto a nossa de futebol. Isso, contudo, teve um “custo” para mim.
No jornal cheguei, nessa Copa de 1990, a fazer papel de bobo, por minha fidelidade à equipe brasileira. Havia 83 funcionários, entre editores, repórteres e fotógrafos, assistindo os jogos na redação e todos, absolutamente todos torciam para que o Brasil se desse mal, perdesse e fosse eliminado logo de cara do Mundial (até hoje não entendo essa postura). Só eu, nesse universo de jornalistas, torcia pelo sucesso da equipe canarinho. Era, por isso, alvo de todas as gozações face à má performance brasileira.
Para complicar e deixar os comandados de Lazaroni ainda mais “marcados”, fomos eliminados dessa Copa justamente pelos “hermanos”! Aí já foi demais! Ainda bem que os alemães conquistaram aquele título, impedindo que a Argentina chegasse ao tri. Já pensaram o que teríamos que agüentar, em termos de arrogância e pose, se os argentinos vencessem esse Mundial? Afff!!!
Sebastião Lazaroni levou para a Itália o seguinte grupo:
Goleiros: Taffarel e Acácio.
Laterais: Mazinho, Jorginho e Branco.
Zagueiros: Mauro Galvão, Mozer, Ricardo Gomes e Ricardo Rocha.
Meios campistas: Alemão, Dunga, Silas, Valdo, Bebeto e Bismarck.
Atacantes: Careca, Romário, Müller e Renato.
Honestamente, eu acreditava nesse grupo. Achava-o com grande potencial técnico e que, com um pouquinho de sorte, poderia conquistar o tão sonhado tetra. Mas entendia que o treinador deveria ser outro.
Meu preferido, na ocasião, era Zagallo, que estava trabalhando no mundo árabe. Caso o “velho lobo”, por algum motivo, não pudesse comandar a Seleção, eu achava que Telê Santana deveria ser mantido no cargo e muita gente pensava como eu. Só não se queria (e eu também, claro, me opunha) que o treinador fosse Sebastião Lazaroni. Mas foi. E deu com os burros n’água, desagradando tanto a gregos, quanto a troianos.
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