Thursday, September 02, 2010




Convocação coerente, mas não consensual

Pedro J. Bondaczuk

A convocação do técnico Telê Santana, para a Copa do Mundo de 1986, foi rigorosamente lógica e coerente, apesar das inúmeras críticas que recebeu da imprensa. Chamou os jogadores que atravessavam melhor forma técnica, sem olhar passado, cor de camisa ou qualquer outra coisa que não fosse o bom futebol praticado naquele momento (ao contrário, frise-se, do que Dunga fez neste ano).
Muitos dos atletas convocados nem eram famosos na época. Não eram unanimidade da torcida e sequer cobiçados por grandes clubes europeus. Claro que convocou, também, craques experientes, com alta “rodagem” internacional. Mas fez isso, porque eles estavam jogando bem na ocasião. Foi, portanto, antes de tudo, coerente.
Talvez o reparo que se possa fazer refira-se à convocação de Zico, que ainda não havia se recuperado por completo da contusão que quase pôs fim (precocemente) à sua brilhante e vitoriosa carreira. Mas esse era craque! Mesmo com apenas 50% de condição, era dos raros mágicos da bola capazes de desequilibrar uma partida ao nosso favor. Eu, no lugar de Telê Santana, faria exatamente o que ele fez: levaria o Galinho de Quintino para o México, de olhos fechados, mesmo ele estando “meia boca”.
Outro jogador muito contestado era o lateral direito do Botafogo, Josimar. A gritaria contra a sua convocação se tornou maior ainda, e se transformou em alarido nacional, quando ele ganhou a condição de titular. “Um absurdo!”, exclamavam os que se opunham a essa decisão do treinador. Mas... mestre Telê estava mais uma vez certo.
Para queimar a língua dos críticos de plantão, Josimar deu conta do recado, sem comprometer e mais, fez, até, dois importantes gols na Copa, um dos quais parecidíssimo ao feito por Maicon, em 2010, contra a Coréia do Norte.
A relação dos convocados por Telê Santana para o Mundial do México foi a seguinte:
Goleiros: Carlos, Leão e Paulo Vítor.
Laterais: Josimar, Edson, Junior e Branco.
Zagueiros: Oscar, Mauro Galvão, Júlio Cesar e Edinho.
Meio de campo: Falcão, Elzo, Sócrates, Silas e Alemão.
Atacantes: Zico, , Müller, Casagrande, Careca, Valdo e Edvaldo.
Era um grupo que, embora bastante renovado, não ficava nada a dever ao tão badalado de 1982. E, em algumas posições, até, lhe era superior. No Brasil, onde cada cidadão se julga um técnico de futebol, nunca houve e jamais haverá consenso em relação às convocações da Seleção. Essa, de 1986, não deu certo? Paciência! Pelo menos deixou a Copa sem perder nenhum jogo no período regulamentar. Foi eliminada, apenas, na “loteria” dos pênaltis.
A torcida estava, na verdade, ressabiada com a Seleção de Telê Santana por causa da eliminatória, mais especificamente, por causa dos jogos de volta. E olhem que o Brasil manteve a tradição que vigia até então, de jamais perder alguma partida em que valesse vaga para Mundiais.
A disputa, desta feita, foi contra dois velhos “fregueses”, Bolívia e Paraguai. Como os bolivianos mandaram os seus jogos em Santa Cruz de La Sierra, e não na altitude de La Paz, não tivemos dificuldades em derrotá-los, por 2 a 0, em 2 de junho de 1985. Também “passeamos” em cima do Paraguai, em Assunção, em 16 de junho, igualmente por 2 a 0.
Mas quando recebemos esses mesmos adversários em nossos domínios... Que decepção! A Seleção não jogou bem em nenhum dos dois jogos e não venceu nem paraguaios e nem bolivianos. Em 23 de junho de 1985, empatou com o Paraguai, no Maracanã, por 1 a 1 e, em 30 de junho, voltou a empatar, desta vez com a Bolívia, no Morumbi, em São Paulo, pelo mesmo placar de 1 a 1. Conquistou a vaga, é verdade, mas não a confiança do exigente torcedor. Daí ter seguido para o México num clima tão ruim, quanto seguiu.

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