Por que o México de novo?
Pedro J. Bondaczuk
A re-escolha da sede da Copa do Mundo de 1986 foi um tremendo “imbróglio” para a Fifa, até esta optar pelo México. E por que esse prefixo “re”? É uma longa história. Prefiro dar voz ao veterano, experiente e eficiente jornalista Orlando Duarte para que nos explique o que ocorreu. Em sua “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol” ele relata como tudo começou (e como terminou):
“Os colombianos estavam determinados a sediar o Mundial-86 desde a Argentina. Foram à Espanha para estudar a organização dos dirigentes locais. Tinham estandes e publicidade: ‘Colômbia-86’. O governo Bettancourt disse ‘Não’ às pretensões da Federação Colombiana após consultar uma parcela do público e verificar as condições do Tesouro. A economia colombiana, em crise, não permitia que o país assumisse o compromisso”.
E agora, o que fazer? Como incumbir outro candidato, sem infraestrutura adequada pré-existente, a organizar, e a toque de caixa, uma Copa do Mundo? Isso parecia ser inviável. E qual seria a alternativa? Era a de convidar alguém que já houvesse sediado alguma Copa. Era isso o que a entidade que comanda o futebol mundial teria que decidir. Convidar quem? Optar por um país que nunca promoveu esse tipo de competição ou entregar a tarefa a quem já tinha experiência no assunto?
Orlando Duarte continua: “A Fifa voltou-se logo para novo candidato. O Brasil, através da CBF, pretendia o lugar. O governo Figueiredo disse ‘Não’, alegando problemas econômicos, semelhantes aos da Colômbia”.
Essa movimentação para a escolha da sede da Copa de 1986, esclareça-se, ocorreu toda em 1982. Ainda não havia, portanto, acontecido a eleição indireta de Tancredo Neves no Brasil e muito menos a surpreendente e dramática posse de José Sarney na Presidência da República, quando a economia ficou ainda mais instável do que no governo Figueiredo, principalmente depois que o ilusório Plano Cruzado naufragou.
Orlando Duarte relata como, finalmente, se deu a escolha do México, que superou vários outros postulantes (e ao cabo da Copa superou, também, todas as expectativas): “Os Estados Unidos fizeram uma campanha, contaram com o apoio de Ronald Reagan, colocaram Henry Kissinger, um amante do futebol, e Pelé na luta. Não houve sucesso, pois a Fifa mostrou certo desinteresse em atender à pretensão norte-americana sem tradição no futebol, desrespeito às regras do jogo (novidades em seus certames) e outras coisas mais. Também o Canadá quis sediar o Mundial-86, mas ficou só na vontade. Falou-se em um trabalho conjunto de Holanda e Bélgica. Pensou-se em repetir o certame na Alemanha (o de 74 foi um êxito). A Inglaterra também foi lembrada. Idem a Espanha. Até aparecer o México. Organizador do Mundial de 70, com sucesso; organizador dos Jogos Olímpicos de 1968; patrocinador de Pan-Americanos e torneios internacionais sempre com êxito. O México, com respaldo do governo de La Madrid, ganhou apoio da Fifa e foi escolhido”.
Ufa! Se eu quisesse fazer trocadilho, diria que se tratou de “dramalhão mexicano”, com algumas centenas de capítulos. Foi um “parto da montanha” até que a decisão final fosse tomada, aprovada, comunicada e homologada. E assim, a Copa do Mundo de 1986 foi realizada no país que nos trazia as melhores lembranças possíveis, no período de 31 de maio a 29 de junho, com a presença de 24 seleções, divididas em seis grupos de quatro na fase inicial da competição, a classificatória.
Ao término do Mundial, pôde-se constatar o acerto da Fifa ao optar pelo México. Houve consenso entre os participantes e entre a imprensa mundial de que essa Copa foi uma das mais bem-sucedidas da história, tanto no aspecto de organização, quanto de segurança, de hospedagem, de infraestrutura etc.etc.etc.
“Los hermanos”, todavia, têm mais, muito mais motivos do que nós, brasileiros, para se lembrarem dessa competição, a despeito do carinho que os mexicanos dispensaram à nossa Seleção ( embora não tão intenso quanto o de 1970). Afinal, a Argentina sagrou-se, no México, bicampeã mundial (com o famoso gol de mão de Maradona, lembram?). E nós... Bem, como diria Drummond, “tinha uma pedra no caminho”. Ou melhor, “tinha uma França no nosso caminho”.
Pedro J. Bondaczuk
A re-escolha da sede da Copa do Mundo de 1986 foi um tremendo “imbróglio” para a Fifa, até esta optar pelo México. E por que esse prefixo “re”? É uma longa história. Prefiro dar voz ao veterano, experiente e eficiente jornalista Orlando Duarte para que nos explique o que ocorreu. Em sua “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol” ele relata como tudo começou (e como terminou):
“Os colombianos estavam determinados a sediar o Mundial-86 desde a Argentina. Foram à Espanha para estudar a organização dos dirigentes locais. Tinham estandes e publicidade: ‘Colômbia-86’. O governo Bettancourt disse ‘Não’ às pretensões da Federação Colombiana após consultar uma parcela do público e verificar as condições do Tesouro. A economia colombiana, em crise, não permitia que o país assumisse o compromisso”.
E agora, o que fazer? Como incumbir outro candidato, sem infraestrutura adequada pré-existente, a organizar, e a toque de caixa, uma Copa do Mundo? Isso parecia ser inviável. E qual seria a alternativa? Era a de convidar alguém que já houvesse sediado alguma Copa. Era isso o que a entidade que comanda o futebol mundial teria que decidir. Convidar quem? Optar por um país que nunca promoveu esse tipo de competição ou entregar a tarefa a quem já tinha experiência no assunto?
Orlando Duarte continua: “A Fifa voltou-se logo para novo candidato. O Brasil, através da CBF, pretendia o lugar. O governo Figueiredo disse ‘Não’, alegando problemas econômicos, semelhantes aos da Colômbia”.
Essa movimentação para a escolha da sede da Copa de 1986, esclareça-se, ocorreu toda em 1982. Ainda não havia, portanto, acontecido a eleição indireta de Tancredo Neves no Brasil e muito menos a surpreendente e dramática posse de José Sarney na Presidência da República, quando a economia ficou ainda mais instável do que no governo Figueiredo, principalmente depois que o ilusório Plano Cruzado naufragou.
Orlando Duarte relata como, finalmente, se deu a escolha do México, que superou vários outros postulantes (e ao cabo da Copa superou, também, todas as expectativas): “Os Estados Unidos fizeram uma campanha, contaram com o apoio de Ronald Reagan, colocaram Henry Kissinger, um amante do futebol, e Pelé na luta. Não houve sucesso, pois a Fifa mostrou certo desinteresse em atender à pretensão norte-americana sem tradição no futebol, desrespeito às regras do jogo (novidades em seus certames) e outras coisas mais. Também o Canadá quis sediar o Mundial-86, mas ficou só na vontade. Falou-se em um trabalho conjunto de Holanda e Bélgica. Pensou-se em repetir o certame na Alemanha (o de 74 foi um êxito). A Inglaterra também foi lembrada. Idem a Espanha. Até aparecer o México. Organizador do Mundial de 70, com sucesso; organizador dos Jogos Olímpicos de 1968; patrocinador de Pan-Americanos e torneios internacionais sempre com êxito. O México, com respaldo do governo de La Madrid, ganhou apoio da Fifa e foi escolhido”.
Ufa! Se eu quisesse fazer trocadilho, diria que se tratou de “dramalhão mexicano”, com algumas centenas de capítulos. Foi um “parto da montanha” até que a decisão final fosse tomada, aprovada, comunicada e homologada. E assim, a Copa do Mundo de 1986 foi realizada no país que nos trazia as melhores lembranças possíveis, no período de 31 de maio a 29 de junho, com a presença de 24 seleções, divididas em seis grupos de quatro na fase inicial da competição, a classificatória.
Ao término do Mundial, pôde-se constatar o acerto da Fifa ao optar pelo México. Houve consenso entre os participantes e entre a imprensa mundial de que essa Copa foi uma das mais bem-sucedidas da história, tanto no aspecto de organização, quanto de segurança, de hospedagem, de infraestrutura etc.etc.etc.
“Los hermanos”, todavia, têm mais, muito mais motivos do que nós, brasileiros, para se lembrarem dessa competição, a despeito do carinho que os mexicanos dispensaram à nossa Seleção ( embora não tão intenso quanto o de 1970). Afinal, a Argentina sagrou-se, no México, bicampeã mundial (com o famoso gol de mão de Maradona, lembram?). E nós... Bem, como diria Drummond, “tinha uma pedra no caminho”. Ou melhor, “tinha uma França no nosso caminho”.
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